INFORTÚNIO DE AMOR – Imagem: arte visual de Sílvio Hansen. - Zoélio e o amor na corda bamba. Apelidado Zoé, lá
ia ele entre elas, aquelas, aqueloutras, escolhia a dedo: nenhuma. Sabia que o
amor era lindo, demais. Tanto é que ao ver Biloca Cocoroca, disse: a nora da
mamãe. E foi ter com ela. Uma libriana solitária até então – pela foto, achou
Zoé parecido com artista de cinema, não lembro qual, mas algo assim meio Rambo.
Os olhos dele nos dela, o par ideal. Apresentou-se aquariano e pra ela um cara
bonito, coisa mais linda de se ver, os dois. Amaram como se fosse pela primeira
vez e à primeira vista. Dele o estremecimento, nem tomava banho para manter o
cheiro dela na carne. Amaram e como, se fundiram dele tecer mil sonhos, castelos,
sucumbindo aos seus encantos de sua Miss Universo. Suspirava aos zis
pensamentos: desposá-la, rainha do seu lar. Devotou-lhe todos os presentes e
desejos. Isso até o dia de vê-la deslumbrada nos braços de Zulmiro, o namorado
da melhor amiga dela, a Genuína. Traição dupla. Como é? E ela: nem tudo que se
vê é verdade. Foi pra lá, pra cá; chamou na grande, coisa passageira: amaram o
que tinham direito. E como. De outra vez, dera certo: ele e ela, dois pombinhos
enamorados. E a vida passa, de novo Zulmiro na área. Assim não dá, mas era
primo dela, dizia e batia o pé: Largue de ser ciumento. E Genuína? Ah, a coisa
ia pegar fogo. De saber e não, as coisas mudaram mesmo, Biloca reiterando
paixão exclusiva por ele. Como é que pode? Da terceira vez, o flagra, o pneu de
trator entre outros na carroceria do caminhão, a leviana nos braços do outro,
aos beijos e ele arrasado, o carrasco ali nos braços dela. De longe, entre o
sapo e o príncipe, já ouvia que ela dissesse qualquer desculpa: Não era eu ali,
você viu coisas. Mas a dor foi maior, ela disse: Você não é o homem da minha
vida, o mundo não vai acabar por causa disso. Ficou biruta, queria se matar. Não
faça besteira, a sua vai chegar. A cena remoendo no juízo, o pneu que lá vinha
ladeira abaixo. Estava certo: ela não era, antes felizardo, agora com o nó na
garganta, era só o passatempo dela. A punhalada em riste, ia fazer mesmo uma
besteira, contou até dez, não sabia e não fosse o pneu apanhá-lo na calçada, a
coisa tinha sido feita. Até hoje não se sabe se vivo ou enfermo, nunca mais
fora visto. Coitado do Zoé, diziam. Dele, dali em diante, nada mais sabiam. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio
Tataritaritatá especial
com a música do violonista, compositor e musicólogo Turíbio
Santos:
Suíte Nordestina de Luis Gonzaga, 12 estudos para violão de Villa-Lobos, com
Maria Haro & Orquestra de Violão & muito mais nos mais de 2
milhões & 600
mil acessos ao
blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir
é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] O
cristal revela uma imagem-tempo direta, e não mais uma imagem indireta do tempo
que decorre do movimento. Ele não abstem o tempo, ele faz melhor, inventa a
subordinação em relação ao movimento. O cristal é como uma ratio cognocendi, e
o tempo, inversamente, uma ratio essendi. O que o cristal revela ou faz ver, é
o fundamento oculto do tempo, isto é, sua diferença em dois jatos, o dos
presentes que passam e o dos presentes se conservam [...]. Trecho extraído
da obra Imagem-tempo (Minuit, 1981), do filósofo francês Gilles Deleuze
(1925-1995). Veja mais aqui.
O ESPAÇO LITERÁRIO – [...] O
escritor escreve um livro, mas o livro não é ainda a obra, a obra só é obra
quando se declara por ela, na violência de um começo que lhe é próprio, a
palavra ser, acontecimentos que se realiza quando a obra é a intimidade de
alguém que a escreve e a alguém que ler. [...]. Trecho extraído da obra O
espaço literário (Galimard/Idées, 1978), do escritor,
ensaísta, romancista e crítico literário Maurice Blanchot (1907-2003).
Veja mais aqui e aqui.
A VIAGEM DA PALAVRA – No
ano de 208, Serenus Sammonicus escreveu em Roma um livro, Assuntos secretos, em
que revelava seus descobrimentos na arte da cura. Esse médico de dois
imperadores, poeta, dono da melhor biblioteca do seu tempo, propunha, entre
outros remédios, um infalível método para evitar a febre terçã e espantar a
morte: era preciso pendurar no peito uma palavra e se proteger com ela noite e
dia. Era a palavra Abracadabra, que em hebraico queria dizer, e continua
dizendo: Envia o teu fogo até o final. Extraído da obra Os filhos dos dias (LPM, 2012). do
jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015). Veja mais aqui.
CORAÇÃO A CORAÇÃO - Enfim
aqui estou de pé / Passei por ali / Alguém passa por lá agora / Como eu / Sem
saber onde vai / Eu tremia / Ao fundo do quarto a parede era negra / Ele tremia
também / Como pude eu transpor o limiar dessa porta / Poder-se-ia gritar / Ninguém
ouve / Poder-se-ia chorar / Ninguém
entende / Encontrei a tua sombra na obscuridade / Era mais doce do que tu / Antigamente
/ Estava triste a um canto / A morte trouxe-te essa tranquilidade / Mas tu
falas ainda / Queria abandonar-te / Se entrasse ao menos um pouco de ar / Se o
exterior nos deixasse ainda ver claro / Sufoca-se / O teto pesa-me na cabeça e
empurra-me / Onde vou eu meter-me para onde partir / Não tenho espaço que
chegue para morrer / Onde vão os passo que se afastam e que escuto / Longe
muito longe / Estamos sós a minha sombra e eu / A noite cai. Poema da
obra Trocar a rosa (FEA, 1995), do
poeta francês Pierre Reverdy
(1889-1960).
A ARTE DE SÍLVIO HANSEN
Imagens extraídas da obra Arte & linguagem: 40 anos de arte visual (Autor, 2012),
reunindo a arte de Sílvio Hansen,
texto de Raul Córdula, projeto gráfico, ilustrações, capa e finalização de
Marcus ASBarr, fotografia de Léo Caldas, tradução de Camila Paiva. Veja mais
aqui.
AGENDA
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No coração da cidade, Pedro Demo, Françoise Dolto, Hélio Pellegrino, A arte
de Leonid Afrenov, Transversalidade,
Inclusão & Pluralidade Cultural, Margarida de Mesquita, BRAPO & Manoel Carvalho aqui.