segunda-feira, agosto 27, 2018

REVERDY, GALEANO, TURÍBIO SANTOS, DELEUZE, BLANCHOT, SÍLVIO HANSEN & PICA PAU


INFORTÚNIO DE AMOR – Imagem: arte visual de Sílvio Hansen. - Zoélio e o amor na corda bamba. Apelidado Zoé, lá ia ele entre elas, aquelas, aqueloutras, escolhia a dedo: nenhuma. Sabia que o amor era lindo, demais. Tanto é que ao ver Biloca Cocoroca, disse: a nora da mamãe. E foi ter com ela. Uma libriana solitária até então – pela foto, achou Zoé parecido com artista de cinema, não lembro qual, mas algo assim meio Rambo. Os olhos dele nos dela, o par ideal. Apresentou-se aquariano e pra ela um cara bonito, coisa mais linda de se ver, os dois. Amaram como se fosse pela primeira vez e à primeira vista. Dele o estremecimento, nem tomava banho para manter o cheiro dela na carne. Amaram e como, se fundiram dele tecer mil sonhos, castelos, sucumbindo aos seus encantos de sua Miss Universo. Suspirava aos zis pensamentos: desposá-la, rainha do seu lar. Devotou-lhe todos os presentes e desejos. Isso até o dia de vê-la deslumbrada nos braços de Zulmiro, o namorado da melhor amiga dela, a Genuína. Traição dupla. Como é? E ela: nem tudo que se vê é verdade. Foi pra lá, pra cá; chamou na grande, coisa passageira: amaram o que tinham direito. E como. De outra vez, dera certo: ele e ela, dois pombinhos enamorados. E a vida passa, de novo Zulmiro na área. Assim não dá, mas era primo dela, dizia e batia o pé: Largue de ser ciumento. E Genuína? Ah, a coisa ia pegar fogo. De saber e não, as coisas mudaram mesmo, Biloca reiterando paixão exclusiva por ele. Como é que pode? Da terceira vez, o flagra, o pneu de trator entre outros na carroceria do caminhão, a leviana nos braços do outro, aos beijos e ele arrasado, o carrasco ali nos braços dela. De longe, entre o sapo e o príncipe, já ouvia que ela dissesse qualquer desculpa: Não era eu ali, você viu coisas. Mas a dor foi maior, ela disse: Você não é o homem da minha vida, o mundo não vai acabar por causa disso. Ficou biruta, queria se matar. Não faça besteira, a sua vai chegar. A cena remoendo no juízo, o pneu que lá vinha ladeira abaixo. Estava certo: ela não era, antes felizardo, agora com o nó na garganta, era só o passatempo dela. A punhalada em riste, ia fazer mesmo uma besteira, contou até dez, não sabia e não fosse o pneu apanhá-lo na calçada, a coisa tinha sido feita. Até hoje não se sabe se vivo ou enfermo, nunca mais fora visto. Coitado do Zoé, diziam. Dele, dali em diante, nada mais sabiam. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violonista, compositor e musicólogo Turíbio Santos: Suíte Nordestina de Luis Gonzaga, 12 estudos para violão de Villa-Lobos, com Maria Haro & Orquestra de Violão & muito mais nos mais de 2 milhões & 600 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aquiaqui.

PENSAMENTO DO DIA – [...] O cristal revela uma imagem-tempo direta, e não mais uma imagem indireta do tempo que decorre do movimento. Ele não abstem o tempo, ele faz melhor, inventa a subordinação em relação ao movimento. O cristal é como uma ratio cognocendi, e o tempo, inversamente, uma ratio essendi. O que o cristal revela ou faz ver, é o fundamento oculto do tempo, isto é, sua diferença em dois jatos, o dos presentes que passam e o dos presentes se conservam [...]. Trecho extraído da obra Imagem-tempo (Minuit, 1981), do filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995). Veja mais aqui.

O ESPAÇO LITERÁRIO – [...] O escritor escreve um livro, mas o livro não é ainda a obra, a obra só é obra quando se declara por ela, na violência de um começo que lhe é próprio, a palavra ser, acontecimentos que se realiza quando a obra é a intimidade de alguém que a escreve e a alguém que ler. [...]. Trecho extraído da obra O espaço literário (Galimard/Idées, 1978), do escritor, ensaísta, romancista e crítico literário Maurice Blanchot (1907-2003). Veja mais aqui e aqui.

A VIAGEM DA PALAVRA No ano de 208, Serenus Sammonicus escreveu em Roma um livro, Assuntos secretos, em que revelava seus descobrimentos na arte da cura. Esse médico de dois imperadores, poeta, dono da melhor biblioteca do seu tempo, propunha, entre outros remédios, um infalível método para evitar a febre terçã e espantar a morte: era preciso pendurar no peito uma palavra e se proteger com ela noite e dia. Era a palavra Abracadabra, que em hebraico queria dizer, e continua dizendo: Envia o teu fogo até o final. Extraído da obra Os filhos dos dias (LPM, 2012). do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015). Veja mais aqui.

CORAÇÃO A CORAÇÃO - Enfim aqui estou de pé / Passei por ali / Alguém passa por lá agora / Como eu / Sem saber onde vai / Eu tremia / Ao fundo do quarto a parede era negra / Ele tremia também / Como pude eu transpor o limiar dessa porta / Poder-se-ia gritar / Ninguém ouve / Poder-se-ia chorar /           Ninguém entende / Encontrei a tua sombra na obscuridade / Era mais doce do que tu / Antigamente / Estava triste a um canto / A morte trouxe-te essa tranquilidade / Mas tu falas ainda / Queria abandonar-te / Se entrasse ao menos um pouco de ar / Se o exterior nos deixasse ainda ver claro / Sufoca-se / O teto pesa-me na cabeça e empurra-me / Onde vou eu meter-me para onde partir / Não tenho espaço que chegue para morrer / Onde vão os passo que se afastam e que escuto / Longe muito longe / Estamos sós a minha sombra e eu / A noite cai. Poema da obra Trocar a rosa (FEA, 1995), do poeta francês Pierre Reverdy (1889-1960).

A ARTE DE SÍLVIO HANSEN
Imagens extraídas da obra Arte & linguagem: 40 anos de arte visual (Autor, 2012), reunindo a arte de Sílvio Hansen, texto de Raul Córdula, projeto gráfico, ilustrações, capa e finalização de Marcus ASBarr, fotografia de Léo Caldas, tradução de Camila Paiva. Veja mais aqui.

AGENDA
Lançamento do livro Nordestino sim senhor, do poeta Pica Pau & muito mais na Agenda aqui.
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A poesia de Pica Pau aqui e aqui
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No coração da cidade, Pedro Demo, Françoise Dolto, Hélio Pellegrino, A arte de Leonid Afrenov, Transversalidade, Inclusão & Pluralidade Cultural, Margarida de Mesquita, BRAPO & Manoel Carvalho aqui.