
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com o violonista, maestro e compositor Antonio José Madureira: Violão, Instrumentos populares do Nordeste & Rosa
Armorial; a cantora, compositora, guitarrista e multi-instrumentista Thathi: Recomece, Um dia a mais & Jardim japonês; & muito
mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA –[...] Tal como os artistas, os
cientistas criadores precisam, em determinadas ocasiões, ser capazes de viver
um mundo desordenado [...] essa necessidade
[...] é a “tensão essencial” implícita na
pesquisa científica. [...]. as
mudanças de paradigma realmente lebam os cientistas a ver o mundo definido por
seus compromissos de pesquisa de uma maneira diferente. Na medida em que seu
único acesso a esse mundo dá-se através do que vêem e fazem, poderemos ser
tentados a dizer que, após uma revolução, os cientistas reagem a um mundo
diferente. [...]. Trechos extraídos da obra A estrutura das revoluções científicas (Perspectiva, 1998), do
físico e filósofo da ciência estadunidense Thomas
Kuhn (1922-1996). Veja mais aqui.
USO DA LÍNGUA NA ESCOLA – [...] A
sua missão não é a de fazwer com que os educandos abandonem o uso de sua
gramática “errrada” para a substituírem pela gramática “certa”, e sim a de
auxili´-alos a adquirirem, como se fora uma segunda língua, competência no uso
das formas lingüísticas da norma socialmente prestigiada, à guisa de um
acrescimento aos usos lingüísticos regionais e coloquiais que já domunam. A
noção essencial aí é a de adequação: existem usos adequados a um dado ato de
comunicação verbal, e usos que são socialmente estighmatizados quando usados
fora do contexto apropriado. A comparação com as regras de uso de vestimenta é
esclarecedora: assim como difere o tipo de roupa a ser usada segundo o tpo de
ocasião social, também diferem segundo a ocasião social as características da
linguagem apropriada. Ficam socialmente estigmatizados os falantes
inadimplentes às regras tácitas do jogo, tal como as pessoas que não cumprem as
convenções sociais. Trecho de Heterogeneidade
dialetal: um apelo à pesquisa (Tempo Brasileiro, abr/sey, 1978), da
linguista e professora Miriam Lemle.
Veja mais aqui.
MONÓLOGO DE POPULAR – Eu
pensava que era pobre. Aí, disseram que eu não era pobre, eu era necessitado.
Aí, disseram que era autodfesa eu me considerar necessidade, eu era deficiente.
Aí, disseram que deficiente era uma péssima imagem, eu era carenta. Aí,
disseram que carente era um termo inadequado. Eu era desprivilegiado. Até hoje
eu não tenho um tostão, mas tenho já um grande vocabulário. Extraído de cartum
do humorista, escritor, cenógrafo e cartunista estadunidense Jules Feiffer.
Veja mais aqui.
MÃE & FILHO NO ÔNIBUS – Primeiro
diálogo - Mãe: Segure firme, querido. Criança: Por quê? Se você não segurar,
vai ser jogado para a frente e vai cair. Por quê? Porque se o ônibus parar de
repente, você vai ser jogado no banco da frente. Por quê? Agora, querido,
segure firme e não crie caso. Segundo diálogo - Mãe: Segure firme. Criança: Por
quê? Segure firme. Por quê? Segure firme. Por quê. Você vai cair. Por quê? Eu
mande você segurar firme, não mandei? Trecho da obra Estrutura social, linguagem e aprendizagem (Queiroz, 1982), do
sociólogo britânico Basil Bernstein
(1924-2000).
O PRIMEIRO BEIJO –[...] De olhos
fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava
a água. O primeiro hole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era
a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se
saciar. Agora podia abrir os olhos. Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois
olhos de estatua fitando-o e viu que era a estatua de uma mulher e que era a
boca da mulher que saia a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole
sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água. E soube então
que havia colado sua boca na boca da estatua da mulher de pedra. A vida havia
jorrado dessa boca, de uma boca para outra. Intuitivamente, confuso na sua
inocência, sentia-se intrigado: mas não é de uma mulher que sai o liquido
vivificador, o liquido germinador da vida... olhou a estátua nua. Ele a havia
beijado. [...] Perturbado, atônito,
percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com
uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido. Estava de pé,
docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo,
espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era
outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil. Até que,
vinda da profundeza de seu ser, jorrou uma fonte oculta nele a verdade. Que
logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...
Ele se tornara homem. Trechos extraídos da obra O primeiro beijo & outros contos: antologia (Ática, 1995), da
escritora e jornalista Clarice Lispector
(1920-1977). Veja mais aqui e aqui.
VERSOS AO BEM AMADO – Se
me disseres que se pressente / o hálito sutil da borboleta / ao adejar sobre as
flores; / que foi achada a sandália de cristal / que, em sua fuga, Cendrillon
perdeu... / se me disseres que a poesia é prosa; / que à mulher se pode confiar
segredos; / que os lírios falam; / que o azul é róseo... / se me disseres que o
astro luminoso / ao vagalume rouba o seu lugar; / que o Sol não passa de uma
joia rara / que a Noite usa presa em seus véus;/ se me disseres que não existe
mais / uma só amora à bera das estrdas; / que as penas d’um beija-flor são mais
pesadas / que as penas dum coração... / quando me falas foge a tristeza,
vencida, escravizada. / Se me disseres que a Ventura existe, e que me adoras... - / Vê que absurdo, amor! / eu te crerei. Poema da poeta e atriz francêsa Rosemonde Gérard (1866-1953).
YARA: O FASCINIO IRRESTIVEL DA MULHER
Yara, linda mulher cor de jambo, de traços finos e de figura soberba,
vivia passeando pelas praias do Amazonas. Gostava de banhar-se em igarapés
tranqüilos e de águas claras. Os jovens seguiam para conquistar-lhe a atenção
e, com a atenção, o coração. Os velhos a olhavam com olhares languidos, sabendo
de antemão da impossibilidade de qualquer favor. Yara via e sentia tudo. mas se
dava demasiada importância, negando-se a todos. Passva, altaneira, como se
desfilasse, solitária, diante de uma multidão de admiradores. Fazia ouvidos moucos tanto aos elogios
educados de alguns quanto aos assobios atrevidos de outros. Certo dia, o sol já
posto, estava a linda Yara divertindo-se inatenta nas águas corredias do
igarapé que mais apreciava. O tempo corria e ela se entregava ao prazer do
corpo que emergia, ainda mais fascinante, do borbulhar das águas. Eis que
escutou vozes barulhentas se aproximando. Não eram de seus irmãos e irmãs da
tribo. Voltando-se, viu que eram homens brancos. Falavam uma língua estranha,
com sons de agressividade. Traziam botas pesadas e roupas rudes. Seus olhares
eram de cobiça e não de enternecimento. Pareciam animais famintos. As vozes em
sua direção se faziam ameaçadorass. Yara, feminina, tudo pressentiu. Tentou
fugir. Seu corpo era escorregadio e ela ágil. Mas mãos fortes a agarraram. Eram
muitas. Todas a tocavam em todas as partes. A intimidade foi ameaçada. Com
violência foi jogada ao chão. as areaias, antes macias, agora pareciam
espinhos. Yara foi amordaçada e imobilizada. Por fim, violada por todos, um
após o outro, em fila. Yara desmaiou. Parecendo morta, foi jogada ao rio. Os
homens animalizados se afastaram no escuro da mata. Fez-se noite. O Espírito
das águas teve imensa pena de Yara. Acolheu seu corpo machucado. Inspirou-lhe
vida e devolveu-lhe todo o esplendor de sua beleza. Mas, para que não pudesse
nunca mais ser violada, transformou-a em sereia. Metade do seu corpo, a parte
de cima, de mulher, fascinante, de olhos de mel e de cabelos longos luzidios.
Os homens sentir-se-ão atraídos por eçla. Jogar-se-ão atrevidos e loucos às
águas para agarrá-la, abraçá-la e beijá-la. Mas a outra metade do corpo, a de
baixo, escondida nas águas, tem a forma de peixe. Com isso pode viver sempre
nas águas como em sua casa. Conversa com os peixes grandes e pequenos, que
brincam ao seu redor, beliscando-lhe inocentemente a pele cor de jambo. Mas ai
daqueles que lhe quiserem fazer mal, agarrá-la com violência e arrancar-lhe o
afeto. Yara os tome, firme, pelas mãos e os leva, como se estivessem
enfeitiçados para as águas profundas. E nunca se ouviu dizer que alguém voltou
de lá vivo.
Entraído da obra O casamento entre o céu e a terra: contos dos povos indígenas do Brasil
(Salamandra, 2001), do escritor, teólogo e professor universitário Leonardo Boff. Imagem: Art by Yara
Damian. Veja mais aqui e aqui.
Veja mais:
Reflexões
de jornada à sombra da amendoeira, o pensamento de Albert Einstein, a música de William
Byrd, a pintura de Jeff
Kolker & Otgo aqui.
Mulher
& Solidariedade, Sêneca,
Molière, a música de Joyce & Julia Crystal, a pintura de Paulo Paede, a literatura de
Nilza Amaral, a poesia de Dilercy Adler, o cinema de Neil Jordan & Ruth
Negga, a arte de Claudinha Cabral & A mulher medieval aqui.
Zygmunt
Bauman, Filosofia & Psicologia de Ken Wilber, a literatura de Kenzaburo Oe, A música de Franz Schubert & Maria João Pires,
Kate Beckinsale, a pintura de Tereza
Costa Rego & Tunga aqui.
Papa Highhirte de Oduvaldo Vianna Filho aqui.
Wilson cantarolando pé de serra, Direito
& Psicologia da Saúde aqui.
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Sexual, Psicologia & Sociologia aqui.
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Dalmacchio, Fernanda Guimarães, Jussanam, Consiglia Latorre, Aline Calixto
& Fátima Lacerda aqui.
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A ARTE DE ROSANA PAULINO
A arte da artista visual
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