ESCÂNDALO DO COROINHA
Luiz Alberto Machado
Uma máquina de calcular
disparava somas abundantes em fitas quilométricas que serpenteavam pelo piso da
repartição durante o fechamento do expediente que fora, naquele dia, dos mais
exaustivos. Pelo volume que fazia pelos cantos do estabelecimento, parecia mais
uma decoração de festa carnavalesca ou de virada de ano. Parecia, mas não era,
pois dia de branco, de trabalho duro. Numa mesa, acompanhando a dinâmica do
ambiente, os dedos se confundiam no teclado de quase se embaralharem com a
habilidade do executor que não desgarrava um só segundo dos seus afazeres. Os
documentos mais se espalhavam principalmente por haver se enquadrado, justo
naquela segunda-feira, o último dia do mês, no maior vavavu, quando os
contribuintes dos diversos impostos e contas a pagar, haviam acorrido
maciçamente às filas para saldar seus compromissos. Uma farta papelada se
amontoava sobre os guichês, birôs e balcões de forma tumultuada. Um punhado de
papéis desordenados em vias de arrumação relacionados aos slips, documentos,
caixa, extra caixa, taxas, cheques, transferências, canhotos, contas mortas,
cadastros, boletins, ordens de pagamento, sustações, implantações, listagens,
diários, planilhas, todos numa balbúrdia geral, ganhavam, ali, metodicamente,
disposições ordenadas e minuciosamente selecionadas por um funcionário que
arrolava aquilo segundo sua categoria funcional na burocracia interna da
instituição. Cada formulário representava uma transação, ou uma quitação, ou
uma reclamação, ou implantação, ou uma corrigenda, ou coisa que valha,
atendendo os interesses da clientela. As bobinas das máquinas, por isso,
desdobravam-se ao lado de papelada vária, formando aquelas serpentinas por toda
repartição. Não que se aproximasse das festividades carnavalescas, como
dissera, era que era muito serviço mesmo, na última hora, no momento em que
todos se apressavam para largar do expediente, ávidos por se esgueirar pela
noite ao descanso noturno, ou aos encontros, aos desencontros, às futilidades
ocasionais. As de escrever sincronizavam-se ao trinado dos telefones, campainhas,
registradoras, tossidas, pigarros, alardes, esparros, cuspidas, engasgos, tudo
num buliçoso ruído, levantando um barulho exclusivo, uma barulhada presa pela
vedação das portas e dos condicionadores de ar. Quem passava pelo lado de fora,
nem dava conta da turba rumorosa que se sucedia ali. E ali, diligentemente e
alheio ao clima de guerra, Zé Targino separava um a um os formulários
espalhados sobre a sua mesa, arranjando-os aos montinhos organizados, em
colunas ajeitadas, cada qual, ao tipo e espécie, entre si. Apesar da
heterogeneidade dos formulários, todos obedeciam rigorosamente uma ordem ao seu
análogo de registro, uns aos outros enfileirados, grampeados e, por
conseguinte, separados dos ainda por averiguar. Era este um ritual sacrossanto
para aquele funcionário que realizava com prazer desmedido seus afazeres,
satisfeito por se encontrar muito bem empregado, justo ele que passara pelas
aperturas estreitíssimas das necessidades e as inférias da pobreza, tendo
agarrado pelos cornos esta oportunidade, velando como se fosse a única salvação
para sua sobrevivência. Ufa! - exclamava ao se lembrar de passado tão recente.
Por isso era rigoroso consigo mesmo e caxia com todos. Deus que o livrasse de perder
aquele emprego, não podendo passar de novo por todo aquele infortúnio da
carência, da ansiedade, da impotência de fazer e ter as coisas que precisasse
e, por isso, rezava sempre em agradecimentos nas mais calorosas preces. Terminada
a adição, por exemplo, o cauteloso extraia uma segunda soma adicional para
confronto, na prova dos nove, conferindo, certificando-se da exatidão do
resultado. E anexando-a ao lote arrumado, todo em número de cem, perfilados e
grampeados com uma habilidade peculiar àqueles empregados exemplares, ciosos de
seu ofício e atribuído de uma competência cabal, com tudo bem arrumadinho.
Targino, um exímio manipulador de teclas, destro de seus afazeres, hábil em
cumprir suas responsabilidades, não se cansava. Para ele, aquele empreendimento
possuía um rigor inarredável, não se permitindo erros, embaraços ou
desatenções. Era fiscal dele próprio e dos outros. Metódico, irredutível. Assim
agia em tudo que se determinasse fazer. Se fosse para sacar um cheque, se
apropriava do talonário elegantemente acomodado em sua carteira impecável;
desdobrava a folha, limpando-a com o polegar, no mínimo, umas dez vezes, sem
afobamento, antes de iniciar a escrita. Tudo dele era feito com muita
consciência evitando arrependimentos. Após tal cerimônia, começava a escrever
na folha com uma caligrafia engenhosa e bem desenhada, sempre pelo valor em
números manuscritos em algarismos arábicos, de forma arredondada, não
desprezando nenhum centavo e fiscalizando-os sob a comparação com o valor
expresso por extenso, reconferindo palavra por palavra a cada número de
cruzeiros correlatos, checando, finalmente, a exatidão da importância
requerida. Ainda mais, nominava a si próprio ou a outrem, nunca emitindo nada
ao portador, apondo, pacientemente, o local e data e, finalmente, exibindo uma
assinatura caprichada, cheia de meneios e contornos, rente a linha da ordem de
crédito a vista correspondente. Concluindo, pois, anexando na folha sacadora as
contas pagáveis e exagerava na formalidade ao solicitar dos colegas a respectiva
autenticação mecânica. Menor não era a zombaria de todos mediante tal
solenidade, gerando gracejos insolentes que sucederiam até a dispersão dos
colegas no final do expediente.
- Esse coroinha é cheio de
pantim, cheio de munganga, rárárárárá!
Era ele assim, fruto
rotineiro de piadas e comentários maledicentes. Assim mesmo, exatamente,
fielmente autenticado por qualquer pessoa que tivera a oportunidade de
conhecê-lo. Esta descrição corresponde fotograficamente, cagado e cuspido, como
era Targino, funcionário exemplar, dedicado, carola, vaidoso, xodó da mãe e
irmão de três trepeças que indignavam sua honradez e a própria família. O que
possuía ele de santidade católica, os irmãos traduziam em demoníacas atitudes
sempre se confrontando com a sua gabolice. Como exemplo ainda mais amplo de sua
conduta ilibada, veja-se que o expediente da instituição onde trabalhava,
iniciava as atividades de segunda à sexta, sempre às oito da manhã e, já por
volta das sete em ponto, Targino estava ali, distinto, arrumando a mesa,
limpando máquinas, batendo correspondências, somando valores e adiantando o
serviço. Ninguém se lembra até hoje de haver registrado qualquer falta ou
atraso dele ao trabalho nos últimos dezesseis anos, tratando-se, assim, de um
pontualíssimo servidor, nem inglês. Afora isso, quando largava do banco,
esgueirava-se à sua residência, onde se dirigia para o quarto, se despia
calmamente, envolvendo-se numa toalha para um banho demorado, não antes haver
se prostrado em oração nos agradecimentos aos santos de sua devoção por mais um
dia cumprido e pela manutenção de seu labor diário naquela agência.
Segundo relato amiudado de um
de seus irmãos, a demora dele no banheiro se dava pela fiscalização atenta em
cada parte do corpo, não se permitindo o menor alojamento de grude. Um outro
irmão seu, mais despudorado, alegava que ele passava horas e horas lavando o cu
e a remover o fedor de bosta do ânus, odor este que ele detestava, repugnando a
criação de um procto, numa imagem e semelhança de Deus. Por isso, era todo tipo
de shampoo, sabonete, perfume, colônia, essências, seivas, tudo para deixar o
furico dele cheirosinho.
- Se Deus é perfeito, a única
imperfeição humana é o ânus, prova que Deus por ser santo não possui orifício
tão abjeto, ige! -, sabia ele.
Pois bem, fuxicos a parte,
banho tomado, se aboletava na mesa, manipulando bem os talheres a ponto de não
se ouvir o mais inaudível barulho de sua parte. Denunciavam seus irmãos, ser
ele uma bicha enrustida e cheia de trique-trique pelo fato dele, elegantemente,
ingerir a comida, saboreando cada iguaria engolida, mastigada lenta e
devidamente triturada para não danificar o seu metabolismo orgânico, num
trabalho elegante da mandíbula, quando seus irmãos se apropriavam sujos, mãos
podres, das guloseimas da mesa. Enquanto Targino estava sempre a limpar a boca
com um guardanapo comprado com o seu salário, não permitindo que ninguém se
apossasse de tão importante acessório para assepsia pessoal, os outros
arrochavam a toalha da mesa para remover retraços de alimentos que figuravam
dos cabelos até a caixa dos peitos, tudo enfeitado de fiapos de comidas, grãos,
restos. Após a ceia, enquanto seus irmãos arrotavam, peidavam e lascavam um
taco de madeira qualquer para tirar o que tivesse enganchado nos dentes, Targino
escovava demoradamente e, depois, um fio dental removia detritos alimentares
alojados na sua arcada dentária, enxugando o rosto com uma toalha felpuda. Esmeradamente,
conduzia-se para o quarto onde trajava uma camisa bem engomada, ensacada por
dentro da calça igualmente com vinco impecável. A fivela do cinturão
acompanhando a estética da braguilha, o mesmo se dando com a linha dos botões
da camisa, alinhado assim do colarinho às meias que combinavam com o listrado
da peça do vestuário masculino até o lenço. O cabelo pixaim, delicadamente
repartido da esquerda para a direita, bem arrumadinho com uma trunfa de lembrar
os topetes audaciosos. Um perfume exalando aroma forte para dar-lhe um impacto
perante outros fedorentos. E, por fim, completando a indumentária, uma bíblia
socada no sovaco para se iluminar nos caminhos da religião. Pisando forte, saía
deixando o aroma forte por onde passasse. Nascia, contudo, uma nova gozação.
A missa nem começara e ele já
ali, coroinha aplicado, papa-hóstia, beato de marca maior, arrumando o altar,
os cálices, os paramentos e ajudando o vigário a subir os degraus,
enfatizando-se durante a liturgia afora com ave-marias, pai-nosso, creio-em-Deus-pai,
hozana-nas-alturas, salve-raínha, anjos-do-senhor, os dez mandamentos, o ato da
fé, da caridade, da esperança e da contrição, aleluias e orações, obedecendo,
sem pestanejar, o congraçamento católico. Assim se dera desde tenra idade
quando sua mãe obrigava-o a ir todos os dias para igreja mode não se perder em
mau caminho nem se misturar aos outros da rua, ditos diabinhos do mundo pela
doce e santa boca maternal. Dessa forma era a sua vida: o expediente no banco,
os rituais católicos e as leituras obrigatórias dos livros sagrados da santa
igreja. Seu intento maior era conseguir alcançar o absoluto cordeiro de deus,
capaz de propagar a fé, exemplo de bom samaritano, filho do senhor, irmão de
Jesus e guiado pelo Espírito-Santo. É certo que ninguém é perfeito, tanto que
na instituição onde ele desempenhava suas aptidões profissionais de
escriturário júnior, quando era importunado por alguma solicitação ou
colaboração para os colegas, desleixava um não categórico, seguido de uma ordem
do vagabundo procurar emprego para se sustentar, que ele não era pai de gato
barbado. Ou mesmo se algum companheiro seu propusesse certa quantia em dinheiro
a título de empréstimo, o seguidor inarredável da dogmática cristã negava
peremptoriamente, alegando não ser nenhuma instituição de crédito que
dispusesse de empréstimos assim tão abertamente, nem tampouco solidificaria a
caridade pública para um incréu ingresiento que jamais saldaria a dívida. No
entanto, quando, fato muito raro, cedesse às imprecações do solicitante,
deveria incidir na quantia requerida alguns percentuais a mais na compensação
do resgate para o dia marcado. Ou seja, agiotava na baixa, discretamente. E
justificava ao seu coração ou nas orações nos pés dos santos que cobrava tais
juros para dificultar a preguiça alheia de trabalhar, não fomentando a miséria
pública que andava grassando na sua comunidade. Tratava, então, ele os
miseráveis como uns vagabundos destroçados, incapazes de se ocupar em alguma
coisa para mudar sua vida. Negava-se sempre a dar esmolas ou donativos vez que
dizia viciar qualquer cidadão, fato apreendido ao ouvir uma música de Luís
Gonzaga, pois que detestava ter que passar por favelas, ruas sem saneamento
básico, bairros maltrapilhos, cadeias, asilos, ou por onde se amontoasse gente
esquálida, decrépita e esfomeada. Pior ainda: ficava encolerizado quando
aparecia um padre socialista que levava aquela gente maltrapilha e fedorenta
para a casa do santíssimo. - Uma ofensa! -, questionando a atitude daquele
padreco, muito diferente do vigário, todo moderninho e com umas ideias
comunistas na missa. As gozações às suas atitudes de escorropicha-galhetas se
generalizavam. Referiam-se a ele como sendo um filho do padre, enteado do
bispo, sacristão deslavado, beato de merda, entre outros cognomes infamantes.
Defendia-se sob a alegação de uns por inveja, outros por incredulidade. E
enfrentava as suas adversidades com a firmeza dos fiéis: incólume.
Até então ninguém soubera de
namorico, enxerimento, safadeza, libidinagem, despudor ou falta de respeito
dele com qualquer mocinha da cidade. Eremita que era, dispensava o prazer da
carne seguindo o ditame de um verdadeiro asceta na resignação do deleite. Isso,
talvez, pela sua determinação para se tornar um verdadeiro padre no futuro. Houve
quem dissesse até, fato inclusive avalizado por um de seus irmãos que, às
escondidas, ainda hoje ele se atém com revistinhas de mulheres peladas. Eita!
Dúvidas na sua abstinência, areia na sua castidade. Esse zunzunzum tomou
grandes proporções chegando aos ouvidos do titular paroquiano que, investido de
tamanha ira, derramou admoestações ao noviço para seguir o bom comportamento e
a conduta com a retidão de sempre.
- O proibido aguça o dente! –,
sentenciou o pároco, não aliviando no esparro de deixá-lo confuso quanto à
santidade do reclamante. Entretanto, os comentários a seu respeito mais
granjeavam antipatias nos asseclas, mormente outro de seus irmãos confidenciar
a tímpanos vários que, vez por outra, ao sair do banheiro, Targino deixava
vestígios de um líquido viscoso nos azulejos, espirrado na parede, no teto, na
tampa da bacia sanitária ou mesmo noutros lugares irreconhecíveis, levantando
suspeita de que andara secretamente se masturbando. Bruta celeuma. Destá.
Entre o banco e a igreja se
dedicava o devoto, até que um dia, resolvera matricular-se numa faculdade,
tencionando formar o corpo discente do curso de História, onde se habilitaria a
perseguir seus intentos religiosos, ampliando o seu conteúdo intelectual. Lá,
coitado, se defrontava com verdadeiros atos de perdição, insistindo aos ímpios
colegas, a conversão ao mundo religioso e à fé cristã, corrigindo atos
pecaminosos e para longe das trilhas do inferno, alcançando, finalmente, o
caminho único da verdade, levando-os ao céu e à presença dos santos e arcanjos.
Seus discursos enérgicos tornavam-se invariavelmente ridículos, a ponto extremo
tal de instigarem o professor da cadeira de História Geral, a uma aula
detalhada sobre o catolicismo. O negócio fedeu para as bandas do Targino, cada
vez que se abordava a santíssima inquisição, as atrocidades, as vendas dos
cargos eclesiásticos, as indulgências, fatos que ele se arrepiava todo, irado.
Escândalo maior quando lhe presentearam um livro de certo filósofo por nome de
Bertrand Russel que arreava a ripa sobre a sua religião, num opúsculo
denominado “Porque não sou cristão”. Revoltado com aquela presepada, saíra da
aula embaixo dos maiores apupos que se conhecera naquele educandário. Viu-se
perdido, vilipendiado. Sentou-se num banco da praça próximo ao restaurante
universitário, condoído, puto da vida como nunca! Tentando se recompor, matutou
sobre tudo que ouvira naquela sala de aula, contada pelo fariseu do professor.
Condenou-se por não ter tido o tino de defender a sua santa casa que, naquela
ocasião, estava sendo seviciada e maculada por um bocado de fajutos
intelectuais de merda, maloqueiros anticristos, cretinos safados. Respirou
fundo por horas e horas, sentado naquele banco para livrar-se da humilhante
situação em que se metera. Verdadeiramente vexatória. Foi aí que surgiu do
inopinado a figura cândida e altaneira de Marinícila, roubando suas elucubrações.
Sem querer, olhou para a mulher e um novo momento invadiu seus pensamentos,
descobrindo que, na verdade, aquela mulher combinara com ele: o porte idêntico,
a altura, a mesma; pintada até da cabeça aos pés, colorida que só um arco-íris
cheguei, comprida que nem uma bengala e bem-feita que só adoração de imagens.
Já viram, por acaso, um pé de cedro? E de eucalipto? Era ela. Cupido ferira seu
coração com a flecha primeira da paixão. Tratava-se do primeiro amor na vida de
um sujeito casto, cara de tacho, donzelo e à primeira vista. Naquele instante
esquecera de vez a quizília da classe, sepultando definitivamente o mal-estar
que lhe acompanhava. A jovem, encantadora aos seus olhos, foi logo envolvendo o
beócio numa curiosa euforia, só amainada na manhã seguinte, qual ressaca das
brabas. E ela nem sequer ainda lhe dirigira qualquer palavra. Só a presença
dela causava rebuliço nas suas veias, no seu sangue, no seu coração. Era um
frio constante na barriga, na espinha dorsal. Era o laço do amor pregando uma
peça no sujeito, tentando, portanto, logo uma aproximação. Urgente. Apesar do
ímpeto, não conseguira. O cidadão desencaminhou-se. Foi um deus-nos-acuda!
- Onde andava essa deusa que
nunca havia percebido?
Nos dias seguintes, as
aparições dela se tornaram mais frequentes. Targino, então, proporcionou-lhe
tácito espanto ao presentear, sem mais nem menos, um ramalhete de flores. Foi a
maior risadagem. Qual não fora a estranheza dela frente a postura cavalheiresca
dele que se insurgira, assim, do nada, com brinde tão salutar e, ao mesmo
tempo, desproposital. Uma atitude piegas como aquela aflorou certo desdém nela.
Grata, assim mesmo, Marinícila não dispensou um riso sardônico diante da
audácia do enamorado, dispensando-lhe, a partir de então, uma atenção, não
raro, diferenciada. Naturalmente que ele embevecido de paixão, não notara a
indiferença da púbere varapau diante do seu jeito desfigurado e apalermado,
ansioso por agradar-lhe. Fora, mesmo assim, uma primeira tentativa e não
objetivava a plenitude logo assim de cara, de supetão, não, admitindo que o seu
comedimento nutriria êxito irreparável.
Depois de outros tantos dias
seguintes, as aproximações foram amiudadamente repetidas. O neófito amante
usara do expediente estratégico de ofertar ao alvo dos seus sentimentos, os
mais improváveis motivos para uma conquista plena, prova maior do seu
proselitismo. Dedicava livros a quem não possuía o hábito de ler, claro,
principalmente por se tratar de volumes permeados de assuntos religiosos. Bem
educada Marinícila agradecia sua investida, largando o volume na primeira
lixeira que encontrasse. Insistentemente ele acossava com uma verdadeira
variedade de bugigangas como confeitos, chicletes, pastilhas, chocolates,
lenços, recorte de revistas, escapulários, convites para retiros, comunicações
da igreja, fotos de Jesus, agenda religiosa, um terço, uma oração de São
Francisco de Assis, uma imagem de Santo Antônio casamenteiro, um volume do Novo
Testamento, uma blusa da comunidade carismática, uma bandeira dos capuchinhos,
uma flâmula das irmãs carmelitas, um quadro com Moisés, coisas do tipo, eram
oferecidas pelo mancebo àquela jovem moderninha. Tudo isso era um verdadeiro
tiro pela culatra. Atenciosa, ela tomava nas mãos as oferendas, no entanto,
desleixava todos os presentes à primeira oportunidade de se livrar de todas
aquelas baboseiras. Foram tantas investidas para a conquista que ela já se
aborrecia com a sua fisiologista presença. Algumas vezes ela até se escondia do
seu flerte. Ele irredutível, perseguindo insanamente.
Dia vai, noite vem, e demorou
muito para ele ter coragem de expor seus sentimentos para ela. Resolvera mesmo
não declará-los sob hipótese alguma. Soubera, todavia, que a dita cuja não era
lá muito católica, tampouco dada às coisas de religião. Ele mediante isso
dissimulara tal situação, almejando, apenas, o coração dela e, naturalmente, a
sua posterior conversão. Enquanto isso, ele se mantinha inquieto e instou
algumas pessoas de sua confiança, obtendo informações mais precisas sobre as
preferências e gostos daquela que poderia vir a ser a sua futura esposa. Tomou
ciência dela se tratar de uma militante do hedonismo, metida a marxista
inveterada, ateia, feminista e que detestava bancário cabrestado. Eita!
Despencara o mundo para ele. Lamentou copiosamente a sua falta de sorte.
Contudo, como perseverante e crente em Deus, jogou de lado todas as dicotomias
que, segundo seu próprio juízo, eram aparentes e investiu de cabeça naquele
romance, até agora, com uma das partes, apenas, cientificadas. Uma verdadeira
revolução se procedera na cabeça dele: abdicou das roupas sociais e
fora-de-moda e das coisas que o caracterizavam como sendo um careta e cafona,
modernizando-se a olhos vistos numa jaqueta jeans, cabelos desalinhados, tênis,
um vocabulário recheado de gírias para habilitação aos frequentes assustados,
bailes, formaturas, inferninhos, comemorações ocasionais além de conversas
apimentadas de imbróglios com uma terminologia esotérica da própria conversa
com outros colegas das praças da cidade, tudo o que convinha à moda do seu
tempo. Todo sacrifício fizera então ele para conseguir aquela mulher, valendo,
inclusive, transformar-se num jeito nunca antes seu. E até agora nenhum
resultado obtivera, apenas o achincalhe que resultara numa verdadeira repreensão
por parte da gerência do banco, pelo uso de seus trajes avançadinhos, não
condizentes com a responsabilidade do cargo que ocupara perante a sociedade.
Foi um baque. Habilidoso, no banco de uma coisa; de noite, rodava a baiana. Um
verdadeiro conflito. Isto é, o primeiro dos conflitos que viriam assolar sua
pobre alma. Obstinadamente danou-se ele a se esfolar na vida ousando, em não
sei quantas prestações, adquirir um automóvel usado e em bom estado,
endividando-se até a próxima encarnação, só para impressioná-la. O pior é que
não entendia nada de veículos, cursando numa autoescola por correspondência e
aprendendo a guiar em tempo recorde, não antes atropelar dois, subir cinquenta
calçadas, levar umas quinhentas multas por motivos diversos e capotar umas duas
vezes em lugares inapropriados para tal proeza. Mesmo assim, fez instalar um
som incrementado e, todo metido às pregas, meteu-se a conduzir o veículo
visando comovê-la, flertando a torto e a direito. Nada. Nem um olhar ela
dispensava. Fez estripulia, danou-se a beber, dava discurso e, no fim,
constatava que ela não estava nem por perto para testemunhar sua pavoneada
expressão.
Devido seu estado deplorável
naquela circunstância, quando se recolhia à cama, era comum levar uns bregues
desconcertantes da genitora. Nada dava jeito e ninguém lhe entendia. E como
estava difícil aquela empreitada, foi até a igreja, ajoelhou-se aos pés da
imagem de Santo Antônio e largou para mais de mil rezas, bem como uma promessa
pesada de construir uma capela para o devotado, caso conseguisse a graça de se
casar com aquela princesa. Promessa feita, justa e concordada, lavrada e
registrada em sua veneração de fé, dias se passando e nada. Não aguentou a
demora, revisitou os pés do santo, refez a jura, chorou, esperneou, pediu por
tudo no mundo e nos céus, perdendo as estribeiras, se viu obrigado a uma
extravagância que não era de sua natureza: depositou várias cédulas pecuniárias
nos pés do protetor para ver se agradava mais, reiterando a promessa,
subornando o santo e prometendo se daquele jeito não desse fruto ameaçaria não
mais guardar respeito pelo santo. Dez dias, nada. Engicou-se e chutou o pau da
barraca admitindo atender o conselho de alguns maldizentes: mandou o santo para
a puta-que-o-pariu e foi ter com um pai-de-santo renomado, na atitude mais
atrabiliária de sua vida. Foi aí que no maior exorcismo bateu bombo, pulou de
cócoras, dançou xangô, no fim: nada. Mais alguns dias, deu de voltar para o
babalorixá reivindicando seu atendimento acertado. Fez tudo de novo, pagou sob
a garantia de que, no máximo em oito dias, ela estaria perdidamente apaixonada
pelo sofredor. Nada. Revoltou-se com isso, virou protestante, primeiro batista,
posteriormente pentecostal, adventista, calvinista, luterano, batista
independente, cristão decidido, ortodoxo, israelita, maometano, budista, daí
passou por igreja evangélica da Assembleia de Deus, da igreja reformada, da
brasileira; da congregação cristã, dos santos dos últimos dias; dos luteranos
da santa cruz; do exército da salvação; da Legião da Boa Vontade; a shinshu
otani; a Universal do Reino de Deus; metodista; darbista, mórmon, menonita;
quaker, hinduísta, confucionista, taoísta; vudu, ñañiguista; totemista;
animista; xintoísta; kardecista; pregou o Upanichades, o Rig-Veda, o Tao, os Vedas,
o Mahabarata; a Bíblia, tudo, nada. Procurou centro espírita, fez mesa branca,
recebeu passes, baixou espírito, tirou encosto, falou com mortos, esperou um
mês, nada. Deu-se incansavelmente então com uma tal de Madame Cristalda. Deitou
cartas, bola de cristal, búzios, mais leitura de mãos decifrando o destino e
saiu feliz. Mais um mês, nada. Aí foi além. Já estava na dança e tome:
pomba-gira, orixás, entidades, candomblés, cangas, pacto com o demônio, magia
negra, rezou, orou, pintou e bordou. Nada. O desespero chegou ao ápice com o
término do primeiro semestre escolar, todavia, pensou melhor e assentiu que
poderia reunir mais forças e tentar a sua grande chance no segundo período
letivo, se regenerando e conseguindo alcançar o seu sonho. E foi durante as
férias escolares que voltou para os pés do santo, pediu perdão, se confessou
mais de duzentas vezes e jejuou para mais de oito dias. Quase morre o
desgraçado. Enquanto isso passava o tempo contando os dias, as horas, as
semanas, esconjurando a mulher, amaldiçoando a vida, desafiando Deus e, quase
louco, tentou suicídio, o que não acontecera devido intervenção na hora agá de
uns parentes. Que vexame! Preocupando muita gente foi aconselhado pelos bons
corações dos vizinhos a não cometer loucura e, sob a vigilância da mãe, voltou
ao oratório, rezou muito, se reconverteu enfim católico apostólico romano. E
imbuído do espírito da bondade cristã fez jejum de novo, obrou caridade,
transformou-se num devoto exemplar e arquitetou, misteriosamente, um plano em
sã consciência. Em seus olhos um brunido estranho perpassava. Meteu-se em
contrição, reviu seu batismo, crisma, sua santa figura pensando em
circuncidar-se para não ter que se humilhar a um ser tão desprezível quanto
aquela mulher, metendo-se num celibato incomum aos olhos alheios. Regenerado
ninguém notara, entretanto, que reluzia um ar estranho em seu olhar. Algo
sinistro, vingativo. A financeira tomou o carro por falta de pagamento. Tal
inadimplência levou-lhe a receber duas amarelinhas, uma de advertência e outra,
de repreensão, quase lhe demitindo por justa causa do emprego. Liso e
endividado, sem ter para onde ir, sem apoio de ninguém, retornou às suas
atividades normais de cidadão pacato, funcionário exemplar e cristão
verdadeiro.
Chegando, então, o primeiro
dia de aula do segundo semestre, adentrou cautelosamente na sala com o estilo
de antes: arrumadinho que só meio fio, cabisbaixo e envergonhado. Todo mundo
soubera de sua paixão por Marinícila e, pior ainda, mangavam do insucesso dele
para consegui-la. Taxaram-no de camaleão, numa dessas pechas peculiares à
zombaria extrema. Não pouparam gozações. Sentou-se calmamente na primeira fila
da sala de aula, assistindo atento às explicações do professor. Inerte,
silente. Alguma coisa martelava sua cabeça.
Assim foi até o término da
aula quando no maior alvoroço, desembestou até a saída da faculdade,
prostrando-se próximo de uma árvore na passagem escura do portão. Ali ficara
com pensamentos mirabolantes a criar um plano urgente para captura dela. Seu
coração arfava; seus nervos tremiam. Não havia nenhum pensamento capaz de
concatenar o que estava por acontecer. Nem sabia ele nada na sua louca
empreitada. Seus olhos não paravam, fitavam em todas as direções. Era uma
tremedeira sem fim. O que fazer? Friccionava com intensidade uma mão na outra,
caracterizando seu excêntrico nervosismo. Nada previa. Ali, procurando não ser
notado, tentando não fazer barulho algum, ficara de forma a criar um
mirabolante plano. As ideias se misturavam umas às outras, ora sua mãe ralhando;
outra, o pároco reprovando; amigos, achincalhando; colegas, aos apupos. Ora,
contra tudo e todos desejava satisfazer, apenas, seu coração. Se os outros não
entendiam, paciência. Havia de ter sacrifícios múltiplos aos montes para que se
possibilitasse uma harmonização entre seus anseios e medos, ou de nada
adiantaria satisfazer seu ego em detrimento de todas as convenções possíveis,
ou mesmo, doutra forma, frustrar-se em nome de uma vida sadia e segundo os
cânones convencionais que só atenderia as exigências alheias e não as suas
vulnerabilidades passionais. Não, seu corpo hesitava numa tremedeira medonha.
Sua cabeça rodava ora por sonhos belos, ora por tonturas atinentes as dúvidas
que perseguiam-no naquela ocasião. Não, seria ele capaz de romper as suas
próprias amarras, seus próprios princípios, seu passado, sua família, sua
crença em nome de uma patética e absoluta paixão? Ou deixaria seu coração à
margem de tudo e morreria, um dia, recalcado por não ter tido a coragem de
assumir sua iniciativa volúvel? Pairavam questionadoras todas as inquisições
possíveis. Atormentavam, assim, seu ser, decompondo seu cérebro, sua alma, seus
sentimentos.
Ao chegar o final da aula o
lugar foi ficando ermo. Àquela hora os estudantes saiam aos trambolhões pelo
portão principal da faculdade. Menos ela, todos, menos ela cruzara as portas
dali. Chinelos, calçados, sandálias pesunhavam o calçamento de acesso, agitando
as suas batidas cardíacas, apressando-as a cada possibilidade dela se aproximar
daquele inusitado momento, não podia, devia acontecer agora, sim, com ela
chegando, ninguém viria atrapalhar sua empreitada, ninguém possuía esse direito
de desmanchar seu devaneio, ninguém! Alguns passos vinham na direção da saída.
Espreitou melhor, notara não ser Marinícila. Outras pessoas vieram e se
acomodavam no interior da condução, do cata-corno, dirigindo-se ao centro da
cidade. Ela, realmente, ainda não havia passado. Escondido, ofegante, de
súbito, novos passos. Era ela. Era! Era! Agora era. E se certificou, realmente,
era dela. Então, armou-se de um bote certeiro e tum! Apossou-se do seu braço,
arrastando-a pelo matagal limítrofe dali. Afastou-se cada vez mais da estrada
de acesso. Ela, aos gritos, seguia puxada pelo incansável amante, varando
matos, árvores, arames farpados, touceiras, brejos, mata-burros, porteiras,
adversidades, chuvas, lamas, pantanais, morros, ribanceiras, tudo no peito até
chegar nalgum lugar que julgasse seguro para sua façanha. E tome pé na bunda.
Zás. Local escolhido, parou, pensou um pouco, cansado, coração saindo pela
boca; ela, com o dela, nas mãos. Sem forças, recompondo a respiração, avançou
sobre ela, tapou-lhe a boca e a respiração, não permitindo novos gritos para
atrapalhar sua investida, acaso alguém interceptasse a sua fúria. Fez-se silêncio
sob o aguçado do ouvido. Ninguém seguira seus passos. Nada, apenas a respiração
sôfrega do seu grande amor, agora, ali, exposta, pronta para ser servida, a seu
bel-prazer, era possível! Era possível! Ajoelhou-se, agradeceu a Deus em uma
oração incógnita, causando estranhamento nela a atitude daquele energúmeno,
tarado de uma figa, que queria ele? Ela não entendia nada. Ele levantou-se,
removeu as manchas deixadas pelo chão em seu joelho, com as mãos e, de forma
apressada, acorreu ao seu alcance, sentiu de perto a respiração dela, o perfume
dela, o hálito dela, o nervosismo, os seios já pulando pelo decote da blusa, o
batom lambuzando as faces, as mãos finas e trêmulas, as coxas roliças e
gostosas ensacadas numa calça apertadíssima delineando suas formas, suas
intimidades, o realce do corpo torneado, obra de um artista, tudo perfeito,
rente ao seu desejo latente, dilatando seus nervos, endemoninhando suas
entranhas, seus poros, seu membro enrijecido, a volúpia, o frio na barriga, o
mundo a girar doidamente, era o ápice da emoção. Abriu os braços e com o
rompimento das correntes da timidez fez menção de envolvê-la, sentindo o
impacto da repulsa, o não gélido da rejeição, negando-lhe. Investiu e foi se
aproximando com fervor, insistentemente irresponsável do que poderia ocorrer,
impensavelmente louco varrido por aquela figura tão dele, tão real, tão nos
seus moldes, alma-gêmea dos seus sonhos, cara metade perfeita, absolutamente no
mesmo tope, mesmo tipo, mesmo biotipo, mesma altura, feitos um para o outro. E
mais chegava perto sentindo a respiração nas suas narinas, um só oxigênio, um
só universo, ela bruscamente empurrou-lhe com toda força, estatelando-o ao chão
quando investiu numa carreira desabalada, ele ao seu encalço, segurou-a pelo
pescoço, chaveou-lhe os braços e com a mão esquerda apalpou seus seios, sua
vagina, suas coxas. Ela gritou e ele tapou sua boca, rasgou a blusa, os seios à
mostra, agarrou e abocanhou-lhe o peito, chupou imensamente, ela empurrando-o
para longe, ele agarrado por inteiro, abriu-lhe o zíper da calça expondo a
calcinha fina com rendas vermelhas, teve dificuldades em remover a calça jeans
dela de tão bem amoldada ao corpo, ela esperneou, ele esbofeteava, reprimindo
suas atitudes de tentar desvencilhar-se da insana e selvagem vontade dele de
possuí-la ali a céu aberto no meio do matagal, somente estrelas por
testemunhas, a avareza do prazer, a estupidez da concupiscência. Já sem forças
ela cedeu às investidas dele e pôs-se a chorar profusamente. Ele fitou-lhe o
choro e acompanhou o rolar das lágrimas. Tudo tranquilo, tudo a seu favor.
Pleno céu aberto e escuridão de breu ao seu redor. Novamente, indomável,
apossou-se do seu corpo, beijando-lhe avidamente. Ela, imóvel, só chorava. Ao
deixá-la nuazinha, criou ânimo e revelou sua paixão maluca, capaz de contrair
matrimônio ali mesmo com ela, seguindo o altar, a vida a dois, santo casamento,
abençoada união. Incrédula, mais uma vez ela ousou gritar, quando foi
persuadida a fazer silêncio já que ele só queria o seu bem, o seu amor, para viverem
juntos e para sempre. Aquele era o sonho dele e ela não queria partilhar desse
futuro, narrando com detalhes sua luta para conquistá-la, seus pesadelos, sua
busca incansável por encontrá-la como agora, do jeito dele, da forma dele. Suas
mãos tremiam incontroláveis, não se conteve e despencou aos prantos. Conhecida
a sua intenção, a moça gritou o mais que pôde, soluçando, investigando uma
fórmula de se livrar de suas garras. Tanto se concentrou em sua fuga, ele
percebeu, se acercou dos seus movimentos e inquiriu a razão de sua insistente
negação aos carinhos dele. Muda estava, calada ficou. De repente, o olhar dela
ficou malicioso. Ela abriu os braços, nua, arreganhou as pernas e gritou:
- Vem, filho da puta! Vem,
vem me foder, vem!!! Vem, porra!!! Chega, vem, me fode toda, safado! Vem!
Ele assustou-se com aquele
jeito desbocado dela de chamá-lo para o coito sonhado. Não, não era assim que
queria, e quanto mais ela exigia que ele lhe fodesse a alma, mas ele ficava
arredio, desconfiado, mas mergulhando-se em seus pensamentos, será que ela está
endemoniada? Será que ela seria mais uma provação para sua sofrência nesta
vida? O que diria o pároco depois de uma loucura dessas? O que a mãe diria numa
circunstância dessas? O que todos diriam? Ririam, apenas. Enquanto ele estava
mergulhado na sua culpa, mais ela remexia gestos obscenos provocando-lhe,
sensualmente sussurrando:
- Venha, safadinho, venha
foder minha alma, chegue! Venha...
Assustado mais, uma lágrima
caiu-lhe no rosto ao que ela começou a estranhar...
- Você não é viado não, né?
- Não.
- E o que é que falta, seu
porra, depois duma correria dessas, pra gente foder? O que falta?
- Papai do céu vai castigar
eu e você!
- Caralho!!!.... © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
Imagem: a arte do pintor suíço Ferdinand Hodler (1853-1918).
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DE AMOR POR ELA
As eternas musas Tataritaritatá: Aldine Müller, Helena Ramos e Zaira Bueno.