AMÉM
E AMEM, COMO DIZIA NANÁ VASCONCELOS!
(Imagem da artista plástica Lucélia D’ Roquet) - Houvera tantos desencontros, a ponto
de Delcilda vê-se quase sempre no desamparo, indefesa. Nesses anos todos, tudo
se fizera de alegrias efêmeras, descontentamentos perenes. E pra ela tudo isso
era injusto, seu quinhão insatisfeito. A vida lhe devia a felicidade e disso,
tinha certeza, era credora. Não sabia como. Só sabia de aversões, conflitos,
tudo terrivelmente dando errado. Não havia um só momento sequer que não fosse
de verdadeiro caos à espreita, derrotas simultâneas, frustrações compulsórias.
O que teria feito ela para merecer desenganos, fracassos, não sabia. Só restava
a solidão devastadora. Nada mais: o olhar perdido, a vida monótona, sem sentido
algum, tudo vazio e insosso. Onde haveria de ter falhado, jamais soubera. Será
que não estava lidando direito com seus anseios e relações, não haveria como
discernir. Tudo fizera para que a vida fosse um mar de rosas, mas pra ela todos
eram escravos da cobiça, do egoísmo. Não havia sintonia, reciprocidade. Não.
Ninguém entendia sua dor, muito menos seus quereres. Sentia-se impotente para
enfrentar as incompreensões, as feridas abertas, os ressentimentos vigentes, e
ninguém jamais lhe dera um aceno de menor que fosse o afeto. Aos que dedicou
seu amor, perderam-se. E ela que sempre dera tudo de si, sucumbira aos
desastres, desamarrara todos os seus laços afetivos. Ela sempre se viu inteira
e plena com tudo e com todos, mesmo com alguns segredos só de seu e de algumas
verdades suas inauditas. Tinha de ser assim. Não dá pra ser cristalina em tudo
nem com todos, ora. Temia trapaças, traições. Guardava-se de si, jamais
desnudar a alma. Nudez do corpo no escuro, encobrindo suas falhas que eram só
suas, com seus rangeres de dentes mudos, seus remorsos e ojerizas profundas,
seus infernos tenebrosos. Tudo isso era só seu e difícil até de conciliar,
compartilhar. Tinha de valer na passagem, longe do espelho. Não queria ser
infeliz, apenas amar e ser amada, como se na paixão não houvesse de ter
sacrifícios. Queria a vida inteira, como se ela não fosse feita de provas e
privações. Queria a felicidade a qualquer custo, como se só ela merecesse essa
felicidade. Ah, claro, a dos outros é dos outros, ela só queria a dela, a que
lhe cabe, mais nada. Assim, fechou pra balanço! Até que vira naquele instante
um olhar amante cruzar seu o caminho. Remoçou na hora, sorriu-lhe a vida. E
quando deu o primeiro passo, sabia que de perto nada seria como sonhara, mas
arriscou. Havia de ser assim. Do contrário, passaria batida, perdia a hora. O
afeto tocou-lhe a alma de quase desvelar-se inteira. Quase. Não fosse a simples
menção com um sorriso largo: amém e amem. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui e aqui.
Imagem:
a arte da professora e artista plástica paraibana radicada em Curitiba, Lucélia D’ Roquet.
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CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
Imagem
da artista plástica Lucélia
D’ Roquet.