VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? O DIA FORA DO TEMPO – Amanheceu. Era vinte e cinco de julho dos meus
calendários tzolkin e haab. Naquele instante entoei vinte vezes o Hino de
Akhenaton. Depois me sentei, ereto, mãos sobre as coxas, e contemplei os
primeiros raios que emergiam da aurora rósea, o espetáculo dos primeiros sinais
da manhã. E fechei os olhos para viver aquele momento. Logo percebi a aproximação
dos invisíveis sábios que se formavam diante de mim e ao meu lado. Um deles
empunhava o Popol-vuh, o Códice de Dresde e a lição de cinquenta e dois anos
num gnômon que trazia a indicação do cômputo numerado do tempo no zero, uma
data origem da última entre as quatro Criações do Mundo. Pude perceber um
cenário que emergia por meio de figuras geométricas que se formavam como círculos,
algarismos que sinalizam o tempo galáctico, cifras expressando ciclos lineares
e aspectos multidimensionais, datas, lunações, eclipses, o ritmo das estações,
ângulos cambiantes, triangulações, mensuração de sombras. Nessas imagens
formadas, havia uma mensagem subjacente que pude interpretar nas ameias
heliocoidais, trazendo as determinações de solstícios e equinócios, revelando o
cumprimento de lavrar, semear, colher nos períodos propícios e favoráveis. Foi quando
uma Luz Cósmica iluminou sobre o tempo e a existência humana. Ao lado surgiu a
Lua Planetária Vermelha e ouvi uma voz inaudível num idioma insólito que me
falava à compreensão: os dias são seres vivos e patrocinados por um deus de
natureza dupla. Ao entender isso, logo vi a estrela do Pastor – a primeira a
luzir, a última a se pagar. E era como se eu visse o tempo transportado para o
futuro, por deuses que se revezavam e se substituíam uns aos outros por turnos
no governo do mundo: o dia sucedendo a noite. E cada um deles, por sua vez,
tomava às costas o fardo do tempo preso por uma cilha frontal. E ao final do
turno cedia a outro deus noturno e assim por diante. Foi quando pude ver os treze
deuses que reinam cada mês: a estela D de Copan com inscrições sobre baktuns,
katuns, tuns, uinal, kines. Outra voz me explicava sobre pintun, kalabtun e
kicliltun dos períodos venusianos. Eu não os ouvia, mas sabia o que falavam. Nesse
momento tive a compreensão de que o Sol no inverno se posiciona mais ao sul; no
verão, mais ao norte. Logo outra voz inaudita me alertava para os cinco dias
epagômenos: o uayeb - dias que requerem abstinência. E de repente surgiu um painel
numa cripta insculpida em alto-relevo com os nove Senhores das Trevas e da
morte em volta de um sarcófago. Fiquei impressionado e fui puxado por um deles para
um pequeno templo com estranhos tampões circulares de pedra e que estava encaixado
entre ladrilhos triangulares, pelo qual me conduziram a um dintel com um deus
surgindo da goela de uma serpente, ameaçando com seu dardo o suplicante
acocorado diante dele. E fui conduzido para um vão no qual dei no primeiro
degrau de uma escada íngreme que findava num salão com estatuetas coroplásticas
de Jaina, monumentos de estelas de Quiriga e Copan, painéis e dintéis de
Yaxchilan, Palenque e Piedras Negras e, no topo da pirâmide de E-VIII de
Uaxactun, vinhetas dos códices empoleiradas sobre outras pirâmides que ficavam embaixo
de um dossel protetor com dois bastões cruzados erguidos e ladeados por tubos
ocos de jade. No centro, um ladrilho na cripta do grande halach uinic, onde um
jovem jazia, de perfil, sentado sobre a enorme cabeça de um monstro, e do seu
corpo brotava verticalmente uma árvore da vida, encimada por um pássaro quetzal
de assas abertas. Era a lição: pela noite volta-se à terra para ressurgir um
dia, como o grão de milho é enterrado para dar uma planta e um novo fruto. Aí surgiu
o Arco-Íris da Terra. (O dia fora do
tempo, Luiz Alberto Machado). Veja mais aqui.
Imagem: Nu, da pintora, desenhista, gravadora e
professora brasileira Anita
Malfatti (1889-1964).
Curtindo a ópera e héroique ballet Les Indes Galantes (O Amorous Índias, 1735), do compositor do período Barroco-Rococó e maior
expressão do Classicismo musical francês Jean-Philippe
Rameau (1683-1764), com libreto de Louis Fuzelier, original harpsichord
transcritions performed by Kenneth Gilbert.
VIDA PARA CONSUMO – O livro Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias
(Zahar, 2008), do sociólogo
polonês Zygmunt Bauman, aborda temas
como o segredo mais bem guardado da sociedade de consumidores, consumismo
versus consumo, sociedade de consumidores, cultura consumista e baixas
colaterais do consumismo, entre outros assuntos, traz trechos significativos
para nossa reflexão: [...] Os adolescentes equipados com
confessionários eletrônicos portáteis são apenas aprendizes treinando e
treinados na arte de viver numa sociedade confessional – uma sociedade notória
por eliminar a fronteira que antes separava o privado e o público, por
transformar o ato de expor publicamente o privado numa virtude e num dever
públicos, e por afastar da comunicação pública qualquer coisa que resista a ser
reduzida a confidências privadas, assim como aqueles que se recusam a
confidenciá-las. Como Jim Gamble, diretor de uma agência de monitoramento de
rede, admitiu ao Guardian, “ela representa tudo aquilo que se vê no playground
– a única diferença é que nesse playground não há professores, policiais ou
moderadores que ficam de olho no que se passa”. [...] Os colegiais de ambos os sexos que expõem suas qualidades com avidez e
entusiasmo na esperança de atrair a atenção para eles e, quem sabe, obter o
reconhecimento e a aprovação exigidos para permanecer no jogo da sociabilidade;
os clientes potenciais com necessidade de ampliar seus registros de gastos e
limites de crédito para obter um serviço melhor; os pretensos imigrantes
lutando para acumular pontuação, como prova da existência de uma demanda por
seus serviços, para que seus requerimentos sejam levados em consideração – todas
as três categorias de pessoas, aparentemente tão distintas, são aliciadas,
estimuladas ou forçadas a promover uma mercadoria atraente e desejável. Para
tanto, fazem o máximo possível e usam os melhores recursos que têm à disposição
para aumentar o valor de mercado dos produtos que estão vendendo. E os produtos
que são encorajadas a colocar no mercado, promover e vender são elas mesmas.
São, ao mesmo tempo, os promotores das mercadorias e as mercadorias que
promovem. São, simultaneamente, o produto e seus agentes de marketing, os bens
e seus vendedores (e permitam-me acrescentar que qualquer acadêmico que já se
inscreveu para um emprego como docente ou para receber fundos de pesquisa vai
reconhecer suas próprias dificuldades nessa experiência). Seja lá qual for o
nicho em que possam ser encaixados pelos construtores de tabelas estatísticas,
todos habitam o mesmo espaço social conhecido como mercado. Não importa a
rubrica sob a qual sejam classificados por arquivistas do governo ou
jornalistas investigativos, a atividade em que todos estão engajados (por
escolha, necessidade ou, o que é mais comum, ambas) é o marketing. O teste em
que precisam passar para obter os prêmios sociais que ambicionam exige que
remodelem a si mesmos como mercadorias, ou seja, como produtos que são capazes
de obter atenção e atrair demanda e fregueses [...]. Veja mais aqui, aqui,
aqui, aqui e aqui.
SALAMBÔ – O romance histórico Salambô (1862 - Chardon, 1905), do
escritor francês Gustave Flaubert
(1821-1880), trata-se de uma vigem pura consagrada ao culto da deusa Tanit,
filha do célebre conquistador cartaginês, Amícar Barca, que durante as
primeiras Guerras Púnicas, recorreu à contratação de enormes contingentes de
soldados mercenários que, ao final das batalhas, rebelaram-se atacando a
colônia africana dos fenícios. Entre os mercenários, um deles Mâtho, se
apaixona pela princesa e, movido pela paixão desenfreada, penetra ocultamente
na cidade e rouba o Zaimph – o manto sagrado da deusa, o qual nenhuma mortal
poderia tocar. Quando Amilcar retorna, tem-se inicio uma série de batalhas,
entre as quais, Salambô seguiu com o intuito de recuperar o objeto divino,
seguindo para a tenda do chefe revoltoso que desfalece ao estar diante da
presença inusitada da amada. Ela retorna com o manto, se apaixonando pelo
mercenário que é condenado à morte por lapidação durante os festejos de
núpcias, levando-a também a falecer. Da obra destaco o trecho a seguir: [...] Em redor do aposento estavam dispostos
escabelos de ébano. Atrás de cada um, uma haste de bronze assente em três
garras erguia um archote. Todas aquelas luzes se refletiam nos losangos de
nácar que pavimentavam a sala. Esta era tão alta que a cor vermelha das
paredes, subindo para a abóbada, se tornava negra e os olhos do ídolo surgiam
lá no alto, como estrelas meio perdidas na noite. Os Anciãos, tendo deitado
sobre a cabeça a cauda da túnica, sentaram-se nos escabelos de ébano.
Permaneciam imóveis, com as sua mãos cruzadas dentro das largas mangas, e o
lajedo de nácar parecia um rio luminoso que, do altar em direção à porta, lhes
corria sob pés descalços. Os quatro pontífices estavam no meio, costas com
costas, em quatro assentos de marfim que formavam uma cruz: o sumo sacerdote de
Eschmun com uma toga cor de jacinto, o sumo sacerdote de Tanit com uma toga de
linho branco, o sumo sacerdote de Khamon com uma toga de lã fulva e o sumo
sacerdote de Moloch com uma cor púrpura. Amilcar avançou com o candelabro.
Andou à volta dele observando os pavios que ardiam, e depois lançou sobre eles
um pó perfumado; surgiram umas chamas violetas nas extremidades dos braços. Levantou-se
então uma voz aguda, outra respondeu-lhe – e os cem Anciãos, os quatro pontífices,
e Amilcar de pé, todos ao mesmo tempo entoaram um hino; e, sempre repetindo as mesmas
sílabas e reforçando os sons, as suas vozes subiram, estilhaçaram-se,
tornaram-se terríveis até que, de repente, se calaram.Esperaram algum tempo.
Por fim, Amílcar tirou do peito uma pequena estatueta com três cabeças, azul
como safira, e pousou-a à sua frente. Era a imagem da Verdade, o próprio génio
da sua palavra. [...] A obra foi transformada em ópera, primeiro em 1890,
pelo francês Ernest Reyer; segundo, em 1863, pelo compositor russo Modest
Mussorgsky; e, por fim, em 1998, pelo contemporâneo Philippe Fénelon. Ganhou
uma escultura em 1899, pelas mãos do escultor francês Desiré Maurice Ferrary
(1852-1904). Teve, ainda, duas versões cinematográficas, a primeira em 1925,
com direção do francês Pierre Marodon e estrelado por Jeanne de Balzac; e a
segunda, em 1960, dirigido por Sérgio Grieco e estrelado por Jeanne Valérie.
Também ganhou uma versão para os quadrinhos, em 1980, pela arte de Philippe
Druillet, levando a história para ficção científica. Veja mais aqui, aqui, aqui
e aqui.
HINO À
BELEZA, UMA MALABARENSE & BERTA – No livro As flores do mal (1857), do poeta boêmio
e teórico da arte francesa, Charles Baudelaire (1821-1867), encontro,
primeiramente, o Hino à beleza: Vens tu
do céu profundo ou sais do precipício, / Beleza? Teu olhar, divino mas daninho,
/ Confusamente verte o bem e o malefício, / E pode-se por isso comparar-te ao
vinho. / Em teus olhos refletes toda a luz diuturna; / Lanças perfumes como a
noite tempestuosa; / Teus beijos são um filtro e tua boca uma urna / Que torna
o herói covarde e a criança corajosa. / Provéns do negro abismo ou da esfera
infinita? / Como um cão te acompanha a Fortuna encantada; / Semeias ao acaso a
alegria e a desdita / E altiva segues sem jamais responder nada. / Calcando
mortos vais, Beleza, a escarnece-los; / Em teu escrínio o Horror é a jóia que
cintila, / E o Crime, esse berloque que te aguça os zelos, / Sobre teu ventre
em amorosa dança oscila. / A mariposa voa ao teu encontro, ó vela, / Freme,
inflama-se e diz: “Ó clarão abençoado!” / O arfante namorado aos pés de sua bela
/ Recorda um moribundo ao túmulo abraçado. / Que venhas lá do céu ou do
inferno, que importa, / Beleza! Ó monstro ingênuo, gigantesco e horrendo! / Se
teu olhar, teu riso, teus pés me abrem a porta / De um infinito que amo e que
jamais desvendo? / De Satã ou de Deus, que importa? Anjo ou Sereia, / Que
importa, se é quem fazes – fada de olhos suaves, / Ó rainha de luz, perfume e
ritmo cheia! – / Mais humano o universo e as horas menos graves? Também A
uma malabarense: Teus pés
são finos como as tuas mãos, e a anca / Roliça causa inveja à mais graciosa
braca; / Teu corpo suave eterno o artista ao sonho impele; / Teus olhos negros
são mais negros do que a pela. / No país quente a azul que te serviu de limbo,
/ Teu oficio é acender de teu amo o cachimbo, / Os cântaros prover de águas
frescas e odores, / Do leito por em fuga insetos zumbidores, / E, mal a aurora
põe o plátano a cantar, / Comprar bananas e ananáses no bazar. / Todos os dias,
pés descalços, vais andando / E antigas árias nunca ouvidas murmurando; / E
quando a tarde faz do céu uma fogueira, / Repousas docemente o corpo numa
esteira, / Com sonhos a flutuar, cheios de colibris, / E sempre, como tu,
floridos e gentis. / Porque, menina, queres ver a nossa / França, País rico de
gente e pobre de esperança, / E, confiando a existência aos rudes marinheiros,
/ Dizer adeusa os teus sensuais tamarineiros? / Tu, seminua, envolta em
musselina leve, / Toda trêmula além, sob o granizo e a neve, / Como lamentarias
os teus ócios francos, / Se, o corpete brutal a constranger-te os flancos, /
Fosses buscar o teu sustento em nossas lamas / E vender o perfume estranho que
derramas, / O olhar absorto, perscrutando em meio aos miasmas, / Dos coqueirais
ao longe os pálidos fantasmas! Por fim, o belíssimo Os olhos de Berta: Podeis bem desprezar os olhos mais famosos,
/ Olhos de meu amor, dos quais foge e se eleva / Não sei o quê de bom, de doce
como atreva! / Verti vosso fascínio obscuro, olhos graciosos! / Olhos de meu
amor, arcanos adorados, / Fazei-me recordar essas mágicas furnas / Em que, por
trás de imóveis sombras taciturnas, / Cintilam vagamente escrínios ignorados! /
Tem meu amor olhos tão negros quanto vastos, / Como os teus, Noite imensa, e,
como os teus, preclaros! / Sonhos de Amor e Fé são seus lampejos raros, / Que
fulguram ao fundo, orgiásticos ou castos. Veja mais aqui, aqui e aqui.
LISÍSTRATA – A comédia antiguerra Lisístrata
(411aC), do dramaturgo e
comediógrafo grego Aristófanes (447aC-385aC), conta a história dos
atenienses invadidos por tripas espartanas numa lutra fratricida, pondo à mercê
dos persas. A peça teatral critica severamente a guerra, envolvendo as mulheres
das cidades gregas na Guerra do Peloponeso, lideradas pela ateniense Lisístrta
que decidem instituir uma greve de sexo até que seus maridos parem de lutar e
estabeleçam a paz. Da obra destaco o trecho a seguir: [...] (Reaparece Lisístrata). 1.º
VELHO – Salve a bravura em pessoa! Chegou a hora da senhora
mostrar que é terrível e condescendente, malvada e boa, altiva e camarada,
profunda conhecedora dos homens! Os gregos mais ilustres, conquistados por seus
encantos, madame, abrem passagem e submetem suas querelas à decisão da senhora!
LISÍSTRATA
– Não haverá
dificuldades, pois estou diante de homens que desejam o que há de mais natural.
Vamos já experimentar. Onde está a Conciliação? (a Conciliação, personificada por uma mulher
sumariamente vestida, aparece vestida, aparece trazida pelas outras mulheres.
Lisístrata dirige-se a ela) Traga para cá primeiro os espartanos, não com
severidade e arrogância, como se fazia antes, mas gentilmente, como convém às
mulheres. Segure pela parte mais saliente os que não quiserem dar a mão. (a Conciliação traz os espartanos para onde está
Lisístrata) Muito bem. Agora traga os atenienses, segurando-os
por onde eles preferirem. (a Conciliação traz os
atenienses) Espartanos, fiquem aqui perto de mim. Vocês,
atenienses, fiquem deste lado. Ouçam todos o que vou dizer. Sou mulher, mas
tenho cabeça para pensar. Além de ter minhas ideias ouvia as conversas de meu
pai e de pessoas mais experimentadas. Por isso sei o que estou dizendo. Agora
que vocês estão em minhas mãos quero dizer umas verdades e fazer umas censuras
merecidas. Vocês têm de unir-se para não perecerem! 1.º
VELHO – (olhando a Conciliação com ar de tarado) Já estou convencido só de “ver” os
“argumentos” dela! LISÍSTRATA – Vocês, espartanos, têm sido muito
injustos com os atenienses. Parecem até esquecidos de que são todos gregos e
muitas vezes foram ajudados e até salvos por eles. MINISTRO
– Isso mesmo,
Lisístrata! Eles são de morte. Vivem atacando nosso litoral. EMBAIXADOR
– (à parte e apontando para a Conciliação) Se eu pudesse, atacava agora mesmo as
costas dela! Que beleza de “litoral”!... LISÍSTRATA – E vocês, atenienses, não se julguem
melhores que os espartanos. Se vocês pensassem um pouco perceberiam que eles
fizeram mais bem do que mal a vocês até hoje! EMBAIXADOR – Nunca vi uma mulher pegar as coisas
tão bem! MINISTRO – (apontando para a Conciliação) E eu nunca vi uma coisa assim! LISÍSTRATA
– Por que, então,
vocês guerreiam? Por que vocês não acabam com essas divergências e se
reconciliam de uma vez por todas? Vamos! Qual é a dificuldade? EMBAIXADOR
– Se soubéssemos
que a Conciliação era assim já estaríamos nos braços dela há muito tempo! MINISTRO
– Nós também
queremos a Conciliação! Primeiro nós! LISÍSTRATA – Calma! Calma! Ela será de todos! A
Conciliação dará tudo que vocês querem quando as negociações de paz forem
concluídas. Agora vão consultar todos os outros gregos. MINISTRO
– Para quê? Quem
não vai querer essa Conciliação? LISÍSTRATA – Então aprontem-se enquanto nós,
mulheres, vamos fazer os preparativos lá na cidadela para recebê-los da melhor
maneira possível e oferecer a vocês o que temos de mais gostoso. Durante a
recepção acertaremos as coisas e trocaremos juramentos de paz. Depois cada um
sairá com sua mulher. [...] Veja mais aqui e aqui.
MESSALINA - Valeria
Messalina (22-48dC) era a filha mais nova e única menina do casal Marco
Valério Messala Barbato e Domícia Lépida, a Jovem, prima de Nero, prima de
segundo grau de Calígula e sobrinha-bisneta de Augusto. Ela, com catorze anos
de idade, foi desposada por Claudius que, após o assassinato de Calígula, foi
proclamado pela guarda pretoriana como o novo imperador e, por consequência,
ela tornou-se sua imperatriz. Como terceira mulher de Cláudio, Messalina era o
orgulho do imperador, jovem, aconselhadora, o senhor de 50 anos que se encantou
com o doce pecado daquela adolescente, tendo com ela dois filhos. Ascendendo ao
poder, ela entra para história com uma reputação de predadora implacável e
insaciável sexualmente, tida como uma fêmea ninfomaníaca que se disfarçava de
prostituta pelas ruas de Roma à cata de homem, até tornar-se a mulher mais
poderosa de Roma e uma das mais cruéis mulheres da história. Entregue a uma
vida licenciosa e totalmente dissoluta com grande desregramento, tronou-se alvo
de severas críticas da sociedade do seu tempo. Serviu-se da sua posição social
e influente para arruinar inúmeras figuras proeminentes em Roma, como sucedeu
com Valério Asiático ou com Vinício. A sua vida promíscua tornou-a famosa em
vida. Ela conseguiu convencer o marido de que eles deveriam não apenas dormir
em camas separadas, mas morar em alas diferentes do palácio. Ele consentiu, e
ela transformou sua ala em um bordel. Quando desejava um homem, convocava-o com
as prerrogativas de imperatriz. Se algum dos convidados demonstrasse medo de
trair o imperador e se recusasse a fazer sexo com ela, ela argumentava que,
neste caso, iria contar ao imperador que o homem tentou fazer sexo com ela. Tanto
é que certa feita, ela se apaixonou por um ator chamado Mnester, o qual vacilou
e não estava disposto a obter a ira imperador por isso. Ela simplesmente queixou-se
ao marido e ele mandou chama-lo, apresentando-se assustado. Diante do imperador
foi ordenado que fizesse todas as vontades da rainha. Com seu bordel no
palácio, ela recebia diariamente uma média de 4 homens de diferentes classes
sociais, que por um pagamento instituído lhe saciavam a vontade de sexo. Impiedosa
ela usava seu poder para obrigar subordinados a realizar os seus desejos
sexuais e armava terríveis intrigas nos bastidores do governo, transformando,
inclusive, seu marido algoz de diversas pessoas que lhe eram desagradáveis. Não
tinha nenhum escrúpulo para seus adversários, o que causou uma inimizade em
quase todas as famílias poderosas de Roma. Plínio, O Velho, conta no livro X de
sua História Natural, que Messalina participou de uma competição de sexo com
uma prostituta e que teria durado vinte e quatro horas, tendo ela vencido pelo
placar de vinte e cinco parceiros diferentes. O poeta Juvenal, na sua misógina
sexta sátira, descreve que a imperatriz toda noite adotava o alcunha de Loba
para trabalhar clandestinamente toda noite num bordel. Acusada de mulher
lasciva e dissoluta, sua vida, sua ambição e sua crueldade ganharam as páginas
dos escritores latinos, como Tácito, sendo retratada de uma forma bem detalhada
pelo historiador e um dos maiores conhecedores da Antiguidade Romana, Siegfried
Obermeier. Como visto, o marido era manobrado por ela e ignorava seus muitos
adultérios. Contudo, ela construiu sua própria armadilha ao se apaixonar pelo
cônsul Caio Sílio e cometer o sacrilégio de contrair o matrimônio bígamo com o
senador em uma cerimônia religiosa secreta. Cláudio, por represália, decreta a
sua morte. Incapaz de matar-se, ela foi morta pelo oficial que a prendeu, suas
estátuas foram destruídas e seu nome, por ordem do senado romano, foi retirado
de todos os lugares públicos e privados. Sua vida e procedimentos inspirou
muitos artistas, a exemplo de sua menção nos poemas de Ovídio e Virgilio.
Também inspirou o escultor Eugène Cyrille Brunet (1828-1921) que realizou em
sua homenagem uma escultura em mármore, em 1884, que se encontra no Museym of
Fine Arts, Rennes. Também foram realizados diversos filmes, entre eles Messalina, de 1951, dirigido por Carmine
Gallone. Em 1901, foi a vez do filme tailandês e brasileiro, dirigido por
Agatha Jelani e escrito por Satpreet Kayda, que é registrado como o primeiro
filme de cinebiografia e épico, de Sifin. Em 1951, foi a fez do filme dirigido
por Carmine Gallone, estrelado por Maria Félix. Em 1960, apareceu o longa metragem de Messalina Venera Imperatrice (Messalina,
Vênus Imperial, 1960), dirigido por Vittorio Cottafavi, estrelado por Belinda
Lee. Em 1977, o longa metragem Messalina,
Messalina!, dirigido por Bruno Corbucci. Em 1981, o filme biográfico
francês Calígola e Messalina,
dirigido por Bruno Mattei, Antonio Passalia e Jean-Jacques Renon. Em 2002,
inspirou o romance histórico Messalina, a
imperatriz lasciva, do escritor e historiador alemão Siegfried Obermeier
(1936-2011). Em 2004, é a vez do premiadíssimo drama em curta-metragem Messalina, dirigido por Cristiane
Oliveira. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte do autor britânico de histórias em
quadrinhos Alan Moore.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Noite Romântica, a partir
das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial de Meimei Corrêa. Para conferir online
acesse aqui.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Imagem: Nude Girl Reclining, do pintor tcheco Jaroslav Zamazal (1900-1983)
Aprume aqui.