terça-feira, julho 21, 2015

ARIÈS, ARTAUD, HEMINGWAY, MAWACA, MALFITANO, CELINA FERREIRA, SEAN YOUNG, ORLIK, MILES MATHIS & PADRE BIDIÃO!


VAMOS APRUMAR A CONVERSA? CADÊ O PADRE BIDIÃO? (Imagem do artista plástico Rolandy Silvério)– Foi o amigo Marcos Alexandre Martins Palmeira quem, num dia do maior desalinhamento dos planetas e das incidências mais insólitas que possa acometer qualquer cristão, me apresentou ao Padre Bidião. Não fosse ele, eu morreria na maior das mais agudas das ignorâncias, não tomando conhecimento do Evangelho, dos clones e de nada das grandes realizações dessa extraordinária figura religiosa que já contei aqui e tenho muito pra contar. Não só o padre, como foi ele quem me apresentou à Manguaba, o verdadeiro cinema transcendental alagoano, paragem inspiradora que me fez compor o frevo em homenagem às comunidades de Pilar e Marechal Deodoro – a Madalena do Sul, primeira capital da comarca de Alagoas. Também foi por ele que conheci figuras que passaram a personagens vivinhos das minhas contações, como o ocrídio Mamão, o intrépido Afredo Bocoió, o etiquetado Beliar, o culinarista e florista Jaime Lombreta-boca-de-frô, o radialista extraordinário Fernando-Bráulio-cabeça-de-bilau, o Miguel Onço Palmeira, o lobisomem zonzo, a dupla presepeira Tolinho & Bestinha, o defunto do dedo azul, toda trupe do Big Shit Bôbras e lá vai mais teibei! (não bastando ter sido ele que levou o Doro a ser o que virou, destá!). Isso tudo é o resultado de muitos anos de pileques, doideiras, mungangas, fuleragens – deixa eu contar, 10, 20, vinte e dois anos de insanidades e desvarios -, justificados pelos mais diversos apelidos que o rapaz amealhou (de Larry leurel – em homenagem aos Patetas -, doidim, maluquim e por aí vai, de até a família dele me advertir que ele seria uma má companhia para mim), para caracterizá-lo como um sujeito que não bole bem das bolas no quengo, como diz o nosso amigo Junior Au-au. Ah, mas se não fosse ele, eu não teria escrito o Lobisomem Zonzo, o Alvoradinha, nem os frevos da Folia Caeté, nem o sacado o mote de Desnorteio, muito menos conhecido as risíveis figuras dos doutores Deraldo e Gelsinho, o Dr. Sebastião – o homem de punho forte -, o cesarino Dennys, o Didi-papa-cu, o barbeiro Ocride, o profeta Clóvis e outros tantos amalucados dos rincões miguelense e pilarense. Deveras, foi outro sujeito que chegou junto, na horagá e que devo muito e das boas – vixe, tô aumentando o rol dos meus credores na lista infinda da minha Serasa das amizades. Apois é, não fosse a inafastável erudição psicológica inata da Dona Liciene e a intervenção providencial da fisioterapeuta de doido Daniele-Daninha, o cabra estaria desajustando a órbita dos planetas e dando muito trabalho à humanidade. Sujeito bom, cabra dos a favor e dos momentos periclitantes, meritório, indubitavelmente, da minha mais eterna gratidão. (Eita! Agora que me dei conta que ia contar a mais nova do Padre Bidião e findei enrolando! Ah, é que pra mim todo dia é dia do amigo e de cultivar a amizade. Depois eu conto do Padre Bidião, prometo). E vamos aprumar a conversa conferindo mais dele aqui e mais aqui

Imagem: Ruhende, do pintor tcheco Emil Orlik (1870-1932). Veja mais aqui.

Curtindo o dvd Ikebanas Musicais (Teatro Paulo Autran, 2012), do grupo Mawaca.

História social da criança e da família (LTC, 1981), do historiador e filósofo francês Philippe Ariès (1914-1984), aborda sobre os temas do sentimento da infância, as idades da vida, a descoberta da infância, o traje das crianças, história dos jogos e brincadeiras, do despudor à inocência, os sentimentos da infância, a vida escolástica, jovens e velhos escolares da Idade Média, origem das classes escolares, as idades dos alunos, os progressos da disciplina, escola e duração da infância, família, família medieval e moderna, sociabilidade, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho As idades da vida: Um homem do século XVI ou XVI, ficaria espantado com as exigências de identidade civil que nós nos submetemos com naturalidade. Assim que nossas crianças começam a falar, ensinamos- lhes seu nome, o nome de seus pais e sua idade. Ficamos muito orgulhosos quando Paulinho, ao ser perguntado sobre sua idade, responde corretamente que tem dois anos e meio. De fato, sentimos que é importante que Paulinho não erre: que seria dele se esquecesse sua idade? Na savana africana a idade é ainda uma noção bastante obscura, algo não tão importante a ponto de não poder ser esquecido. Mas em nossas civilizações técnicas, como poderíamos esquecer a data exata de nosso nascimento, se a cada viagem temos de escrevê-la na ficha de policia do hotel, se a cada candidatura, a cada requerimento, a cada formulário a ser preenchido, e Deus sabe quantos há e quantos haverá no futuro, é sempre preciso recordá-la. Paulinho dará sua idade na escola e logo se tornará Paulo, a turma X. Quando arranjar seu primeiro emprego, junto com sua carteira de trabalho, receberá um número de inscrição que passará a acompanhar seu nome. Ao mesmo tempo, e até mesmo mais do que Paulo N., ele será um numero, que comecará por seu sexo, seu ano e mês de nascimento. Um dia chegará em que todos os cidadãos terão seu número de registro: esta é a meta dos serviços de identidade. Nossa personalidade civil já se exprime com maior precisão através de nossas coordenadas de nascimento do que através de nosso sobrenome. Este, com o tempo, poderia muito bem não desaparecer, mas ficar reservado à vida particular, enquanto um número de identidade, em que a data de nascimento seria um dos elementos, o substituiria para o uso civil [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

O SOL TAMÉM SE LEVANTA – O romance O sol também se levanta (The Sun Also Rises, 1926), do escritor estadunidense Ernest Hemingway (1899-1961), trata sobre um grupo de expatriados sediados em Paris, inspirado no próprio círculo de escritores e artistas frequentado pelo autor, uma geração perdida que vagava pela cidade sem transformar nada, mas cheia de ambição, retratando o cotidiano desses boêmios após o término da Primeira Guerra Mundial. A ação se desenrola com a paixão do protagonista e narrador da história que trabalha como repórter e se apaixona por uma  mulher de personalidade fútil, que trata os homens como simples objetos e envolve-se com vários deles, apesar de ser comprometida. Da obra destaco o trecho do capítulo XVI: No dia seguinte, de manhã, chovia. Um nevoeiro vindo do mar cobria as montanhas. Não se podia ver o seu cimo. O planalto estava sombrio e triste e a forma das arvores e das casas havia mudado. Saí da cidade para observar o tempo. O mau tempo vinha do mar, por cima das montanhas. Na praça as bandeiras molhadas pendiam dos mastros brancos e as bandeirolas de encontro às fachadas das casas pendiam também úmidas. A garoa ininterrupta transformava-se às vezes em chuva pesada, fazendo toda a gente correr a refugiar-se nas arcadas e formando poças de água na praça. As ruas estavam molhadas, escuras, desertas. E, contudo, a festa continuava, sem pausa. Apenas, punha-se ao abrigo. A multidão invadira os lugares cobertos das arenas e todo o mundo fora assistir aos concursos de cantores e dançarinos bascos e navarreses. Em, seguida, os cantores de Val Carlos, com seus trajes característicos, tinham dançado na rua, ao som oco e úmido de tambores. Os chefes dos grupos os precediam, montados em seus grandes cavalos de patas pesadas, com seus trajes molhados, e as gualdrapas dos cavalos também gotejantes da chuva. A multidão se reunira no café e os dançarinos entraram por sua vez, sentaram-se, com as pernas brancas, enfaixadas, sob a mesa. Sacudiam a água de seus gorros de guizos e estendiam as vestes vermelhas sobre as cadeiras para secar. Lá fora chovia a cântaros. Deixei meu grupo no café e voltei ao hotel, para barbear-me antes de jantar. Ia começar, quando bateram à porta do meu quarto [...]. Veja mais aqui e aqui.

ESPELHO CONVEXO – No livro Espelho Convexo (Movimento/INL, 1973), da poeta mineira Celina Ferreira, encontro o poema Espelho e face: Procuro no espelho / a face remota. / Não aquela que é visível. / A que o vidro não comporta. / Retiro-a, sem medo, / descubro-a, ignota. / Não a face que percebo / em mim mesma, superposta. / Mas imagem lúcida, / clara e luminosa, / que cada dia enterrara / sob a face que está morta. Também o poema Espelho: O tempo foi destruído / na fina face do espelho. / O ontem virou agora / o amanhã chegou mais cedo. / (Capto imagens / perdidas. / Brilho em pânico, / presa de um cristal / único.) / O tempo foi redimido, / distância não é segredo. / Mas o mistério profundo / é a pátima do espelho. E o poema homônimo que dá título à obra: Que reino lúcido, / liso e perfeito, / que se aprofunda / na superfície / do meu segredo! / Vejo-me: o duplo / de mim, liberto / no mundo líquido, / água, azulejo. / Move-se o duplo / sou eu que o vejo? / Elfo, no estanho / azul do espelho. / Colo meu rosto / à face esquiva / que me repete, / grave e precisa, / na densa tela / de prata líquida. / Beijo meu beijo / que me hostiliza, / mergulho os olhos / nos olhos duros / que me fustigam. / Além, meu duplo / zomba de mim. / Ri do meu riso / se me duplico / no seu sorriso / cúmplice e afim. / Eros e Anteros, / eu e meu duplo / no mundo, espelho / no mundo, espelho / que não tem fim. Veja mais aqui.

O TEATRO E SEU DUPLO – O livro O teatro e seu duplo (Martins Fontes, 1993), do poeta, ator, dramaturgo e diretor de teatro francês Antonin Artaud (1896-1948), aborda temas como teatro e a cultura, encenação e a metafísica, teatro alquímico, teatro de Bali, oriental e ocidental, obras-primas, o teatro e a crueldade, linguagem, atletismo afetivo, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho Neutro feminino masculino: Quero experimentar um feminino terrível. O grito da revolta pisoteada, da angústia armada em guerra e da reivindicação. É como a queixa de um abismo que se abre: a terra ferida grita, mas vozes se elevam, profundas como o buraco do abismo, e que são o buraco do abismo que grita. Neutro. Feminino. Masculino. Para lançar esse grito eu me esvazio. Não de ar, mas da própria potência do ruído. Ergo à minha frente meu corpo de homem. E, lançando sobre ele o "olho" de uma horrível mensuração, ponto a ponto forço-o a entrar em mim. O ventre, primeiro. É pelo ventre que o silêncio deve começar, à direita, à esquerda, no ponto dos estrangulamentos herniários, onde operam os cirurgiões. Masculino, para fazer sair o grito da força, apoiar-se-ia primeiro no ponto dos estrangulamentos, comandaria a irrupção dos pulmões na respiração e da respiração nos pulmões. Aqui, infelizmente, acontece o contrário e a guerra que quero fazer vem da guerra que fazem contra mim. E em meu Neutro há um massacre! Você compreende, há a imagem inflamada de um massacre que alimenta minha guerra. Minha guerra se alimenta de uma guerra, e cospe sua própria guerra. Neutro. Feminino. Masculino. Existe nesse neutro um recolhimento, a vontade à espreita da guerra, e que fará sair a guerra, com a força de seu abalo. O Neutro às vezes é inexistente. É um Neutro de repouso, de luz, de espaço enfim. Entre duas respirações, o vazio se amplia, mas então ele se amplia como um espaço. Aqui é um vazio asfixiado. O vazio apertado de uma garganta, onde a própria violência do estertor obstruiu a respiração. É no ventre que a respiração desce e cria seu vazio de onde volta a arremessá-lo para o alto dos pulmões. Isso significa: para gritar não preciso da força, preciso apenas da fraqueza, e a vontade partirá da fraqueza, mas viverá, a fim de recarregar a fraqueza com toda a força da reivindicação. [...] Veja mais aqui, aqui e aqui.


IMAGEM DO DIA
A premiadíssima soprano estadunidense Catherine Malfitano (1997) interpretando a dança dos sete véus da ópera Salomé, Op. 54, de Richard Strauss, baseada na obra de Oscar Wilde, com a Orchestra of the Covent Garden Opera London, regie Luc Bondy.

PROGRAMA TATARITARITATÁ – O programa Tataritaritatá que vai ao ar todas terças, a partir das 21 (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação desta terça aquiNa programação: Hermeto Pascoal, Charlotte Gainsbourg, Egberto Gismonti, Chico Buarque, All Jarreau, Milton Nascimento, Pink Floyd, Djavan, Sonia Mello, Elisete Retter, Franco do Valle, Rosana Simpson, João Pinheiro, Lilian Pimentel, César Weber, Ricardo Machado, Marisa Serrano, Beto Saroldi, Jarbas Barros, Santanna O Cantador, Mazinho, Zé Ripe&Paulo Profeta, Wilfried Berck, Cat Stevens, Romeo Santos, Henry Mancini & Lola Albright, Kim Carnes, Chris Cornell, Raphael Veronese, Martina McBride, Sandi Patty, Kim Waters, & muito mais. Veja mais aqui

Veja mais sobre:
Se não vai de um jeito, vai de outro, A marcha da insensatez de Barbara Tuchman, Eduque com carinho de Lidia Natalia Dobrianskyj Weber, a música de Kyung-Wha Chung, a pintura de Joan Miró & Eugène Leroy, a arte de Anna Dart & Eugene J. Martin,.a poesia de Bárbara Lia, a fotografia de Faisal Iskandar, Revista Poética Brasileira & Mhário Lincoln aqui.

E mais:
O übermensch de Nietzsche, Processo civilizador de Norbert Elias, O caminho dos sonhos de Marie-Louise von Franz, Simon Bolívar, sonetos de Lope de Vega, a música de Saint-Saëns & Denise Duval, Salomé de Oscar Wilde, o cinema de Carlos Saura, a arte de Sarah Bernhardt, a pintura de Ernst Hochschartner & Janet Agnes Cumbrae Stewart aqui.
Eu etiqueta de Carlos Drummond de Andrade, Formação da Literatura Brasileira de Antônio Cândido, a música de Adolphe-Charles Adam, a pintura de Antonio Bedotti Organofone, a arte de Benedito Pontes & a poesia de Ana Mello aqui.
Robimagaiver & pipoco da porra aqui.
Dr. Ciuça Gorda & os cavaleiros do pós-calipso do nó cego, As aporias de Zenão de Eleia, os sonetos de Francesco Petrarca, O teatro situação de Jean-Paul Sartre, Viridiana de Luis Buñuel & Silvia Pinal, a escultura de Denise Barros, a música de Carlos Santana, a pintura de Max Liebermann & Georgy Kurasov aqui.
Sou mato, sou mata, sou Mata Atlântica, A hora dos ruminantes de José J. Veiga, Técnicas de teatro popular de Augusto Boal, a música de Peter Scartabello, a arte de Patricia Galvão – Pagu & Pristine Cartera, a pintura de Georges Rouault & Tom Fedro aqui.
O desenlace da paquera entre Melzinha & Brothão, Aracelli, meu amor de José Louzeiro, Violência doméstica & sexual de Lucidalva Mª do Nascimento, a música de Geraldo Azevedo & Neila Tavares, Violência contra a mulher, a arte de Yukari Terakado, Nina Kuriloff & Geneviève Salamone, Marcha das Vadias, Todo homem que maltrata uma mulher não merece jamais qualquer perdão aqui.
Sujeito, indivíduo, quem?, Principios fundamentais de Filosofia, Folhas da relva de Walt Whitman, Ecce homo de Friedrich Nietzsche, Bailarina de Claudio Adrian Natoli, a música de Emmanuelle Haïm, a arte de Emerson Pingarilho & Kate Wiloch, Sally Trace, a pintura de Lasar Segall & Carolyn Anderson aqui.
Se não deu e fedeu, só na outra, meu!, A literatura fantástica de Tzvetan Todorov, 47 contos de Juan Carlos Onetti, a poesia de Carlos Drummond de Andrade, a música de Yann Tiersen, a fotografia de JR, a pintura de Asha Carolyn Young, a xilogravura de Marcelo Soares, a arte de Luiz Paulo Baravelli, Kenny Cole & Tom Wesselmann aqui.
O sisifismo da semana, Tempo & expressão literária de Raúl H. Castagnino, Quingunbo & a poesia norte-americana, a pintura de Mary Addison Hackett & Alain Bonnefoit., a música de Paulinho da Costa & Meghan Lindsay, a arte de Steve Hester & Robert Rauschenberg, a arte urbana de Nina Moraes & Trampo aqui.
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: Blue blanket – oil on wood, do artista plástico Miles Mathis.
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PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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