VAMOS
APRUMAR A CONVERSA? ZINE NASCENTE – A minha primeira experiência com zine foi o
Vozes do Una, que era encartado nas edições da Revista A Região, nos anos da
década de 1980. Uma experiência e tanto: era bom demais receber os poemas dos
remetentes e publicá-los. Tanto é que em outubro de 1996, estava eu revivendo
com o lançamento do zine Nascente
Poético, número inaugural dedicado ao Egberto Gismonti pelo apoio sempre
dispensado, e com o Ineditorial no Plano
de Voo: Este é um espaço do Nordeste para o mundo. Na trlha da Toca do
(meu) poeta, do Protexto, do Sol de Versos, do Ulalume, do Vozes do Una e
tantos outros nanicos. Este espaço é dos amigos da Banca, do Bacca, da Leila,
da Pirata, da Bagaço, dos que, enfim, fazem da poesia a própria vida. É espaço
para todos, apesar de pequeno. É aquela cuia, aquela semente, coisa miúda com
espírito de Grande Otelo. Um gnomo, um duende, uma miniatura. Um minúsculo. Umm
ínfimo pedaço. Um grão. Pequenino com coração grande: cabe todo mundo. Sempre
caba mais um quando se usa da poesia. Neste número inaugural trago alguns
amigos. Daqui, dali, dacolá. Levando os tentáculos deste pequeno alternativo
direto ao coração. E começa agora. Vários anos de tormento visando viabilizá-lo
e um prazer enorme de trazer esta gente de boa cepa à tona, como uma vingança
contra o marasmo e inexorabilidades. Esta é a nascente, daqui só Deus saberá
paradeiro. E no conteído poesias de Eliane Ferraz (PE), Sérgio Campos (RJ),
Leontino Filho (RN), Núbia Marques (SE), Felipe Maldaner (RS), Claudete
Richieri (SP), Ari Lins Pedrosa (AL) e Benilson Pereira (ES). Já o segundo
número, de novembro/1996, dedicado a Maurício de Souza & Turma da Mônica
pelo apoio de sempre, com o editorial Portinhola: O coração deste nanico está
aberto. Muitas correspondências nos saudaram de todos os redcantos da nação
brasileira, nação multicolorida de todas as loucuras possível e improváveis.
Daqui nossa gratidão antecipada. Aqui nunca constará os episódios inatingíveis
nem o niilismo dos pragmáticos. Decerto que se flagrará o estoico sensível, a
ascese da paixão, a emoção anacoreta de quem na sua solidão rabisca num naco de
papel seus sentimentos. Saudamos com nossa inicitiva a todos das matas, das
chapadas, dos agrestes, dos planaltos, das serras, dos alagados, das planícies,
das montanhas, dos tabuleiros, das ribanceiras, dos aclives, dos abismos, das
cachoeiras, das transversais, das cordilheitas, das logitudinais frequências do
coração. Alô torcida do Flamengo! Aquele abraço. E nossa homenagem aos 60 anos
de ausência do nosso poeta de várias faces, dos múltiplos versos, das plurais
canções: Fernando Pessoa. Saravá, Portugal! Os amigos aqui veiculados também
acenam com ternura ao grande vate luso que nos encheu de vida com seus versos
tão humano. E a poesia de Olga Savary (PA), Karin Elizabeth Foldes (SP), Ilma
Fontes (SE), Wilmar Antonio Carvalho (PW), Bartyra Soares (PE), José Mata Roma
(MA), Nicolas Behr (DF), Leila de Souza Biagioni (AP), Álvaro Luiz Guedes (PB),
Renata Pallottini (SP) e Cicero Herculano Machado (AL). Nessa edição recebemos
os zines Jornal – Informativo da Associação Alagoana de Imprensa, Capital –
Jornal de Resistência Ordinário (SE), Com Textos – O jornal da UBE (SE),
Correio Mimosense (ES), Blocos (RJ), Notas Literárias (AL) e A Voz da Poesia –
Movimento Poético Nacional (SP). E digo por conclusão: é um prazer enorme poder
caminhar com todo esse pessoal de todas as partes do Brasil, um momento
inesquecível. E vamos aprumar a conversa! Veja mais aqui e aqui.
Imagem: Nude Seated in a Bathtub, do artista francês Marcel Duchamp (1887-1968).
Curtindo Concerto
in D Major Op. 21 & String Quartet
in C Minor, Op. 35, do compositor francês Ernest
Chausson (1855-1899), com a soprano de ópera francesa Sandrine Piau & Quatuor Parisii
String Quartet. Veja mais aqui, aqui e aqui.
PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA DO
FUTURO – O livro Princípios da Filosofia do Futuro (1843 –
LusoSofia, 2008), do filósofo alemão Ludwig
Feuerbach (1804-1872), traduzido por Artur Morão, é composto de 65 lemas
centrados na denúncia do a priori teológico da antiga filosofia, criticando os pressupostos
do pensamento europeu desde Descartes e dissecando o idealismo especulativo de
Hegel, ao criticar o solipsismo gnoseológico e a “razão separada” dos modernos
e abordando temas como a relação entre conhecimento e conversação na apreensão
do ser, o valor da comunidade como critério da verdade e da universalidade, a
captação do mundo e do objeto através da mediação do tu, a presença do não-eu
(do outro) em mim, e assim por diante, definindo o seu ateísmo e profundo
hermeneuta da filosofia ocidental. Da obra destaco os trechos a seguir: [...] A nova filosofia faz do homem, com a inclusão
da natureza, enquanto base do homem, o objeto único, universal e supremo da filosofia
– faz, pois, da antropologia, com inclusão da fisiologia, a ciência universal. A
arte, a religião, a filosofia ou a ciência são apenas as manifestações ou
revelações do ser humano verdadeiro. Homem perfeito e verdadeiro é apenas quem
possui o sentido estético ou artístico, religioso ou moral, filosófico ou
cientifico – homem em geral somente é aquele que nada de essencialmente humano
exclui de si mesmo. Homo sum, humani nihil a me alienum puto – esta frase,
tomada na sua significação mais universal e mais elevada, é a divisa do novo
filósofo. A filosofía da identidade absoluta inverteu completamente o ponto de
vista da verdade. O ponto de vista natural do homem, o ponto de vista da distinção
em eu e tu, em sujeto e objeto, é o ponto de vista verdadeiro e absoluto, por
conseguinte, também o ponto de vista da filosofia [...] A
antiga filosofia possui uma dupla verdade – a verdade para si mesma, que não se
preocupava com o homem – a filosofia – e a verdade para o homem – a religião. Pelo
contrário, a nova filosofia, enquanto filosofia do homem – é também
essencialmente a filosofia para o homem – possui, sem prejuízo para a dignidade
e a autonomia da teoria, mais, na consonância mais íntima com a mesma,
essencialmente uma tendência prática e, claro está, prática no sentido mais
elevado; vem ocupar o lugar da religião, tem em si a essência da religião, ela
própria é em verdade religião. As tentativas de reforma até agora feitas na
filosofia distinguem-se, mais ou menos, da antiga filosofia apenas segundo a
espécie, não segundo o gênero. A condição mais imperativa de uma filosofia
realmente nova, isto é, independente e que corresponde à necessidade da
humanidade e do futuro, é que ela se distinga da antiga filosofia segundo a
essência. Veja mais aqui.
FREUD E AS BESTEIRAS SOBRE
A MULHER – O livro As besteiras que a psicanálise disse (e
continua dizendo) sobre as mulheres (Ideia Jurídica, 2015), do médico e
psicanalista Mario Jorge Pereira Reis,
aborda temas como saber escolástico, o pênis invejado, demoníacas e selvagens,
masoquismos, homicídios e estupros, a mulher como ser deformado, lógica imagina
Freud e Einstein, o demoníaco em Freud, Kaput: fim do reinado masculino e o
verdadeiro da verdade. Na obra destaco o trecho: [...] Para Freud, a sexualidade humana, libidinal, é masculina,
exclusivamente masculina. O que o inventor da Psicanálise conceitua é um buraco
feminino, como uma ausência de pênis, o que faz da mulher sujeito não homem. o
mundo seria povoado por indivíduos homens e não homens. Se o feminino é não
homem, a mulher não existe. A palavra mulher apenas recobria um não existente
no real do mundo simbólico. A palvra cão não late, representa o cão real,
aquele que late. As palavras não são coisas. A palavra mulher não fode,
representa um vazio feminino irreal, um sem-nome no centro de si. Não havendo o
nome designativo nem significativo, o feminino se aparenta com o mutismo, isto
é, com uma essência fora da linguagem simbólica que organiza as interrelações
humanas. Se o mutismo é apanágio da morte, a mulher, como lacuna no psiquismo e
na fala, está próxima do não ser que é a morte em si; sem existência, sem sexo
e sem fala. Pura carne real, desespiritualizada. Puro gozo. Não estou fazendo
piada. [...] Se você que lê estiver realizando uma psicoterapia com um
freudiano ou com um lacaniano ortodoxo, saiba que as crenças desse profissional
passam por tais convicções teóricas sobre o feminino. Creio que seria relevante
considerar que ele está trabalhando suas questões personalíssimas pela via de
determinações conceituais passiveis de serem tendenciosamente baseadas em
observações pertinentes a uma cultura vienense e vitoriana do século XIX [...].
Veja mais aqui, aqui e aqui.
NÃO É DEFEITO BEBER – No livro Dicionário folclórico da cachaça (Fundak, 1980), do escritor,
advogado, pesquisador e folclorista Mário Souto Maior (1920-), encontrei uma série de verbetes com indicações sobre a
cachaça e a bebedeira, bem como trechos de um poema oriundo do livro Não é
defeito beber, de Adão Filho (Typ. Chaves, 1927), do qual destaco os trechos a
seguir: Eu conheço um camarada ; que não
gostando da branca / chega na venda e se abanca / falando em barriga inchada...
/ - Depois toma uma bicada / sem uma careta fazer! / Todo mundo pode ver / que
esse sujeito é manhoso / beber por achar gostoso / não é defeito beber. [...]
Eu não gosto de aguardente / salvo sendo
misturada, / tomando uma cachimbada / eu fico até mais contente, / às vezes
viro valente / sem espalhafatos fazer / para ninguém conhecer / quando estou na
carraspana, / beber roendo coirana / não é defeito beber. [...] Da mulher não digo nada / por ser boa
criatura, / um amigo me assegura / que a sua vive chumbada, / e que é valente e
malcriada / faz qualquer homem correr, / bebe para engradecer / seu valor e sua
fama, / se todo mundo come rama / não é defeito beber. Da mulher não digo nada:
/ por ser melhor criatura, / à noite, muito segura, / toma bonita copada, /
alguma por despachada, / bebe para a gente ver; outras para ninguém saber /
bebem por detrás da porta / o sumo da cana torta... / não é defeito beber.
[...] Quando o serviço é pesado / gosto
de andar prevenido. / Levo um botijão escondido / para beber no roçado. /
Estando o almoço botado / a mulher vem me dizer, / eu para não me esquecer /
tomo uma dose acrescida, / e beber durante a comida / não é defeito beber.
[...] Às vezes depois da ceia / chegando
alguma visita / um copo de giribita / beber não é ação feia, / esquentando o
sangue na veia / mal nenhum pode fazer, / mesmo sem aparecer / para distrair
ninguém / beber para dormir bem / não é defeito beber. [...] A anti-alcoólica semana / passou
desapercebida, / tendo aumentado a bebida / no ventre da raça humana! /
Consumiu-se até mais cana / em lugar de a combater! / Se quiserem me atender /
não fabriquem mais a usga! / Então o usineiro rusga / não é defeito beber. O
beber já foi defeito / nas tabernas do passado, / mas hoje se vê molhado / até
juiz de direito / juiz de fato e prefeito / bebem depois de comer / para o
discurso fazer / com toda a pontuação / para quem tem posição / não é defeito
beber. Quando chega a hora da janta / está vazio o garrafão, / a mulher bota o
feijão / enquanto eu molho a garganta / quando o calor se levanta / fazendo o
suor descer / sou fraco e devo dizer / tomo uma dose aumentada / defendendo a
feijoada / não é defeito beber. Hoje o
beber é um uso / em todo e qualquer distrito, / enquanto a tomar-esprito / bem
poucos terão abuso; / eu de copo bem me acuso / só deixo quando morrer. / Não
censurem o meu dizer, / nem me digam que isso é falta; / bem-nos da gente mais
alta / não é defeito beber. Enfim,
senhores, não nego, / falo sem ter medo algum, / pois sempre pelo comum / gosto
de tomar meu prego / neste destino me rego, / pronto a não me arrepender, /
quem duvidar venha ver: / ela com mel ou imbira / faz milagre, que admira / não
é defeito beber. Veja mais aqui , aqui e aqui.
PARADOXO SOBRE O COMEDIANTE – O livro Paradoxo sobre o comediante (Escala, 2006), do filósofo e escritor
francês Denis Diderot (1713-1784),
trata sobre o teatro com reflexões críticas acerca da arte teatral que deveria
se espelhar na sociedade e nos seus movimentos sociais, de pensar e querer,
espelhando, assim, a vida vivida, real do homem, político e do povo. Para ele,
o comediante é o ator de teatro, tanto o cômico como o trágico, tanto o que
representa o herói como o anti-herói: são homens de raro talento e de uma
utilidade real, são pregadores mais eloqüentes da honestidade e das virtudes do
que aqueles vestidos de batina e barrete quadrado na cabeça que pregam do alto
dos púlpitos. Da obra destaco os trechos: [...] O
grande comediante observa os fenômenos; o homem sensível serve-lhe de modelo,
ele o medita, e encontra, por reflexão, o que cumpre adicionar ou subtrair para
o melhor. E, ainda assim, fatos segundo razões. [...] Um
ator é tomado de paixão por uma atriz; uma peça os coloca por acaso em cena em
um momento de ciúme. A cena ganhará com isso, se o ator for medíocre; perderá,
se for comediante; então, o grande comediante tornar-se-á ele próprio e não
mais o modelo ideal e sublime que imaginara de um ciumento. Prova de que então
o ator e a atriz se rebaixam um e outro à vida comum é que, se conservassem a
grandiloquência, rir-se-iam na cara; o ciúme empolado e trágico não lhes
pareceria muitas vezes senão uma farsa do seu. [...] As comédias de
verve e mesmo de caracteres são exageradas. O gracejo de sociedade é uma espuma
ligeira que se evapora no palco; o gracejo de teatro é uma arma cortante que
feriria na sociedade. Não se tem com seres imaginários o comedimento que se
deve a seres reais. A sátira é de um tartufo, e a comédia é do Tartufo. A
sátira persegue um vicioso, a comédia persegue um vício. Se houvesse existido
apenas uma ou duas Preciosas Ridículas, poder-se-ia fazer uma sátira delas, mas
não uma comédia. Veja mais aqui, aqui e aqui.
EROTIQUE – O longa metragem Erotique (1994), filme com direção e roteiro de Ana Maria
Magalhães, Monika Treut, Lizzie Borden e Clara Law, reúne episódios de comédia,
drama, erótico e romance de cineastas do Brasil, Alemanha, Estados Unidos e
Hong Kong, ou seja, são quatro contos realizados por quatro diretoras de
quatro continentes diferentes, tendo como tema os diversos aspectos íntimos do
relacionamento amoroso em quatro situações totalmente diferentes. Os episódios são Let's Talk About Love de
Lizzie Borden (Estados Unidos), Wonton Soup de Clara Law (Hong Kong), Taboo
Parlor de Monika Treut (Alemanha) e Final Call, este último da atriz e diretora
brasileira Ana Maria Magalhães que conta a história de uma moça que é seduzida
à força, numa adaptação livre do conto A língua do P, de Clarice Lispector. O
filme conta com música composta por Tats Lau e Andrew Belling, com destaque
para a atriz e cantora Claudia Ohana.
Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
Imagem: Cartoon do escritor, cartunista,
tradutor, roteirista e autor teatral Luis
Fernando Veríssimo. Veja mais aqui e aqui.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Tataritaritatá, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação
sempre especial de Meimei Corrêa.
Para conferir online acesse aqui.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Aprume aqui.