VAMOS APRUMAR A CONVERSA? ANIVERSÁRIO
DE ANINHA – Vez em
quando eu me pego cantando “[...] se
lembra do futuro que a gente combinou, eu era tão criança e ainda sou...”
(Maninha, do Chico Buarque). Essa canção me leva a repassar deliciosamente a
fagueira infância com todas as brincadeiras, presepadas e singelezas que só
essa fase da vida proporciona. E quando se é cinquentão com o alcance da
adulteza tardiamente é que essas rememorações se tornam muito mais pronunciadas
no afeto e emoção. Logo eu que fui menino a vida toda, só saindo dessa condição
com a crueza do cotidiano ao longo dos últimos anos, contudo sem nunca perder a
ternura e o encanto com a vida que só a infância sabe e pode preservar num
sujeito, avalie. Ainda hoje me vejo buliçoso no quintal com todas as arteirices
de um peralta além de todas as contas, remexendo em tudo desde o jardim florido
de todas as rosas, a varanda de todas as recepções calorosas da amizade, na
sala de estar virando meu palco pelos corredores e quartos, a inquietude
buliçosa se esgueirando pela cozinha com todos os cheiros de comidas e
guloseimas, para desembocar no quintal que se transformava no reino das
traquinagens. Lembro e muito bem da minha irmã na garupa do velocípede pras
minhas travessuras de guia na maior risadagem que se prolongou até o ginásio no
bagageiro da bicicleta, aprontando das muitas e eu levado da breca. Lembro e
como me lembro de fazer na porta do armário o nosso balancê, dele virar sobre a
gente quebrando todos os pratos e utensílios; das amarrações ao pé da mesa
inventando brincar nas privações e molecagens; o chamego com as madrinhas, tias
e primas no nosso convívio; de fazer da cama pula-pula, de fugir da tabica de
maínha pelas trelas, de viver muito e intensamente todo aquele momento guardado
no tempo da memória. E me pego no mote do meu poema: Mãe, me deste a benção para Deus me seguir. E eu, louvado, a ti dedico
o amor infinito das estrelas. Hoje sigo errante com o sentimento esconjurado.
Longe do teu seio nada tem mais vigor. Por isso eu te dedico minha canção
perene, a minha desatinada canção de amor perdida nos desencontros do meu país.
Sou da tua carne o fruto, o teu sacrifício, a tua dor mulher. Foi no teu seio
que encontrei amparo. Foi no teu seio que fui feliz. Foi no teu seio que
aprendi a justiça. E nele vivi a sede eterna e o ter na repartição da coragem
no chão. Sou a vez do teu ventre na queda do rio incólume. Sou ainda aquela
criança com os olhos de amanhã roçando tua pele e descobrindo a vida na tua
dedicação. Sou ainda aquela criança espevitada correndo peralta pelas névoas da
lembrança no meio do mormaço da tarde. Sou ainda aquela criança que não sabe a
distância entre o sim o não nos cacos de sonho. Sou aquela criança que sonhava
a paixão pela professora dedicada e prestimosa fazendo um barulho que lateja no
meu sexo, peito e cabeça. Sou aqueles olhos vermelhos com todos os sustos da
roda gigante pelas labaredas do medo. Sou aquele menino arriado com as dores de
fígado dentro da noite com vômitos surpreendentes na sala de aula. Sou a
teimosia infantil no insulto da vó empunhando chicote que marcaram bolhas
estigmatizadas no termo das coisas. Nada mais sou que aquele do namoro inocente
com a tia, das aventuras amarradas no pano do pescoço, da barulhada imitando
todas as máquinas dos motores ensurdecedores. Foi preciso a vida de 30 anos
para sentir o desterro de Água Preta, a violenta decepção dos anos, o fumo logo
cedo e as aprontações no Ginásio Municipal. Foi preciso a vida de mais de 30
anos para rever as noites insones com vô em Badalejo, a solidão eterna dos
canaviais que expeliam a fumaça e eu tossia mais que tuberculoso. Foi preciso a
vida de mais de 30 anos para saber que Batman era o sonho dos desenhos na
televisão com a revolucionária Aninha mandando ver nas arengas e a passiva
Anginha olhando tudo e aplaudindo com seu jeito tatibitati e o mimo exagerado
por Geórgia abrindo a festa com tantas outras formas de não se saber dizer o
que fazer. Foi preciso mais que 30 anos para entender que o dia não era um só
nas coleções de gibi, no medo do coração de Jesus, na adoração fanática pelo
pai, na fuga pro mundo ainda precoce pé na bunda e tataritaritatá! Foi preciso
a vida de mais de 30 anos para que revisse a correria na bolinha jogada no
campo de barro pelo bairro adolescente, no esgoelar desafinado na cantoria
imaculada, no namoro escondido, no casório antecipado, na colhida de Carma
quando a fuga era a saída para o sorriso e nas safadezas de Pai Lula ensinando
que a vida não é só uma reza boba no cantinho do quarto. Foi preciso mais que
30 anos para saber da reprovação na escola, no ginásio e no colégio doendo nos
corredores da faculdade por causa da pressa louca de conhecer o amanhã logo
amanhã de manhã. Foi preciso mais que 30 anos para que tudo sinalizasse nos
desejos que chegaram muito cedo com as moças e mulheres que rodeavam meu dengo
e mimavam minhas vontades. Hoje sigo errante com todos os mitos daquela manhã
religiosa comigo, o cérebro azeitado e a cabeça nas nuvens, a ternura fria de
todos, a minha embriagues sempre exaltada, o exílio voluntário, a separação, a
lâmina cortando a carne, o adulto órfão, o tempo e mais nada. Hoje sigo errante
e ainda brotam desejos nas ilusões montadas pelas quimeras que desabam na certeza
incontida de vencer o mundo em alta velocidade e já. Hoje sigo errante na
penúria e luxo disfarçados. Entre o riso na cara lavada e o choro guardado no
peito. Porque quando me vires abatumado pelos recantos de toda geografia deste
país, é que estou vigilante eterno do meio onde vivo e da natureza de nossa
vida. Quando me vires gritando pelas esquinas é que sustento o choro no peito
de milhares de filhos deserdados e amaldiçoados de sempre. Quando me vires
marchando nas ruas é que estou cantando o meu canto no futuro. Quando me vires
varando de noite é porque não encontrei amparo no dia. Quando me vires chorar é
que ainda não fui feliz. Quando me vires rompendo divisas é porque continuo a
semear o melhor de ti, lutando incansavelmente pelos caminhos duros do amanhã. Hoje,
na distância, só posso dizer Feliz Aniversário, Aninha, e veja mais aqui, aqui
e aqui.
Imagem: Menina na janela, do pintor e gravador holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669).
Veja mais aqui.
Curtindo o álbum Alento (Biscoito Fino, 2010), do músico, compositor e arranjador Paulo Moura (1932-2010), com o grupo
Teatro do Som. Veja mais aqui e aqui.
BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia de reprise do programa Brincarte
do Nitolino para as crianças de todas as idades e com uma programação especial no blog do Projeto MCLAM. O programa conta com a apresentação da simpática apresentadora
Ísis Corrêa Naves recitando poesias, comunicando e contando história, em dois horários: às 10hs e às 15hs, reprisando o que foi ao ar no último domingo com muita emoção, festa e entretenimento. Além disso, no blog do
projeto Bricarte você pode conferir muitas coisas como as atividades desenvolvidas por Nitolino, quadrinhos, histórias e contações, lendas, poesias, pinturas e
outras dicas e informações sobre Educação Infantil, Psicologia Infantil, Direito das Crianças
e Adolescentes, Literatura Infantil, Música Infantil e Teatro Infantil. Acompanhe o programa e confira no blog as últimas novidades. Confira
aqui e aqui.
A ESCRITURA E A DIFERENÇA – O livro A escritura e diferença (Perspectiva, 1985), do filósofo
franco-magrebino Jacques Derrida
(1930-2004), criador da filosofia da Desconstrução – uma metafísica da presença
-, aborda temas como a força e significação, Edmond Jabès e a questão do livro,
elipse, gênese e estrutura, fenomenologia, a palavra soprada, o teatro da
crueldade e o fechamento da representação Freud e a cena da escritura,
estrutura, signo e jogo no discurso das ciências humanas, entre outros
assuntos. Da obra destaco os trechos: [...] A escritura desloca-se numa linha quebrada entre a
palavra perdida e a palavra prometida. A diferença entre a palavra e a escritura,
é a falta, a cólera de Deus que sai de si, a imediatidade perdida e o trabalho
fora do jardim. ‘O jardim é palavra, o deserto escritura. Em cada grão de
areia, um sinal surpreende. [...] Toda saída do livro faz-se no livro. Não há dúvida de que o fim da escritura
se situa para lá da escritura: A escritura que acaba em si mesma não passa de
uma manifestação de desprezo. [...]
Assim entendida, o regresso ao livro é de essência
elítica. Algo invisível falta na gramática desta repetição. Como esta falta é invisível
e indeterminável, como redobra e consagra perfeitamente o livro, repassa por
todos os pontos do seu circuito, nada se modificou. E, contudo todo o sentido é
alterado por esta faixa. [...] O futuro não é um presente futuro, ontem não é um presente passado. O
além do fechamento do livro não deve ser esperado nem encontrado. Está lá, mas
além, na repetição, mas evitando-a. Está lá como a sombra do livro, o terceiro
entre as duas mãos que seguram o livro, a diferencia no agora da escritura, a
distância entre o livro e o livro, essa outra mão. [...] A minha obra, o meu rasto, o excremento que
me rouba do meu bem depois de eu ter sido roubado por ocasião do meu
nascimento, deve portanto ser recusado. Mas recusá-lo não é aqui rejeitá-lo, é retê-lo.
Para me guardar, para guardar o meu corpo e a minha palavra, é necessário que
eu retenha a obra em mim, que me confunda com ela para que entre mim e ela o
Ladrão não tenha a menor chance, que a impeça de cair longe de mim como
escritura. Pois toda escritura é porcaria. [...]. Veja mais aqui e aqui.
O NARRADOR – O livro O narrador: considerações
sobre a obra de Nikolai Leskov. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre
literatura e história da cultura (Brasiliense, 1994), do filosofo alemão Walter Benjamin (1892-1940), traz a
reflexão do autor sobre o desaparecimento da figura do narrador na civilização,
discorrendo sobre a importância da narrativa, sabedoria, informação e experiência, distinguindo o narrador
que vem de longe (figura do marinheiro comerciante) e o narrador que vive sem
sair de seu país, e conhece bem a tradição (figura do camponês sedentário),
enquanto trata sobre o ofício do narrador e o trabalho manual. Da obra destaco
o trecho: [...] A narrativa, que durante
tanto tempo floresceu num meio de artesão - no campo, no mar e na cidade -, é
ela própria, num certo sentido, uma forma artesanal de comunicação. Ela não
está interessada em transmitir o "puro em si" da coisa narrada como
uma informação ou um relatório. Ela mergulha a coisa na vida do narrador para
em seguida retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador,
como a mão do oleiro na argila do vaso. Os narradores gostam de começar sua
história com uma descrição das circunstâncias em que foram informados dos fatos
que vão contar a seguir, a menos que prefiram atribuir essa história a uma
experiência autobiográfica. Leskov começa A fraude com uma descrição de uma viagem
de trem, na qual ouviu de um companheiro de viagem os episódios que vai narrar;
ou pensa no enterro de Dostoievski, no qual travou conhecimento com a heroína
de A propósito da Sonata de Kreuzer; ou evoca uma reunião num círculo de
leitura, no qual soube dos fatos relatados em Homens interessantes. Assim, seus
vestígios estão presentes de muitas maneiras nas coisas narradas, seja na
qualidade de quem as viveu, seja na qualidade de quem as relata. O próprio
Leskov considerava essa arte artesanal – a narrativa – como um ofício manual.
"A literatura", diz ele em uma carta, "não é para mim uma arte,
mas um trabalho manual. "Não admira que ele tenha se sentido ligado ao
trabalho manual e estranho à técnica industrial. Tolstoi, que tinha afinidades
com essa atitude, alude de passagem a esse elemento central do talento
narrativo de Leskov, quando diz que ele foi o primeiro "a apontar a
insuficiência do progresso econômico... É
estranho que Dostoievski seja tão lido... Em compensação, não compreendo porque
não se lê Leskov. Ele é um escritor fiel à verdade". No malicioso e
petulante A pulga de aço, intermediário entre a lenda e a farsa, Leskov exalta,
nos ourives de Tula, o trabalho artesanal. Sua obra-prima, a pulga de aço,
chega aos olhos de Pedro, o Grande e o convence de que os russos não precisam
envergonhar-se dos ingleses. Talvez ninguém tenha descrito melhor que Paul
Valéry a imagem espiritual desse mundo de artífices, do qual provém o narrador.
Falando das coisas perfeitas que se encontram na natureza, pérolas imaculadas,
vinhos encorpados e maduros, criaturas realmente completas, ele as descreve
como "o produto precioso de uma longa cadeia de causas semelhantes entre
si". O acúmulo dessas causas só teria limites temporais quando fosse
atingida a perfeição. "Antigamente o homem imitava essa paciência",
prossegue Valéry. "Iluminuras, marfins profundamente entalhados; pedras
duras, perfeitamente polidas e claramente gravadas; lacas e pinturas obtidas
pela superposição de uma quantidade de camadas finas e translúcidas... – todas
essas produções de uma indústria tenaz e virtuosística cessaram, e já passou o
tempo em que o tempo não contava. O
homem de hoje não cultiva o que não pode ser abreviado."Com efeito, o
homem conseguiu abreviar até a narrativa. Assistimos em nossos dias ao
nascimento das hort story, que se emancipou da tradição oral e não mais permite
essa lenta superposição de camadas finas e translúcidas, que representa a
melhor imagem do processo pelo qual a narrativa perfeita vem à luz do dia, como
coroamento das várias camadas constituídas pelas narrações sucessivas.
[...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.
CANÇÃO ANTIQÜE & OUTROS
POEMAS – A poeta
paranaense Greta Benitez é autora
dos livros de poesias Rosas embutidas (1999), Café Expresso (2006) e Canção
Antiqüe (2013), além de editar o blog Greta Benitez. Dela destaco inicialmente
o poema Canção Antiqüe -Um elogio ao trema-: Em passeio por um bairro secreto da cidade, A Moça comprou escarpins de
gelatina vermelha em uma butique chamada “Sorry”. Em uma delicatessen chamada
“Paga lo que Deves”, achou um destilado de cor azul, o “Nick’s Lagoon”.
Continuou a caminhada e, chegando na Alameda Lâminas, descobriu a loja
especializada em objetos de charme chamada “Canção Antiqüe”. Lá, encontrou a
poltrona usada por um escritor que não foi seu amante por um lamentável
desencontro de épocas. Achou a almofada sinistra que uma menina bordava em fins
de tarde de sol enviesado, enquanto tecia também planos macabros, após suas
aulas de piano. Encontrou ainda um candelabro que fazia parte do acervo de um
homem elegantíssimo supostamente apreciador de pratos preparados à base de
carne humana. Havia também livros antigos pertencentes a uma senhora
biliardária que voltou para a sua terra, o país Nona Sinfonia, tendo doado toda
a sua biblioteca para este antiquário. A Moça foi abraçada por um desejo fatal
de possuir um deles. E o escolhido foi este livro velho que – quem diria? –
agora está em suas mãos. Também o poema Finíssima: A mulher gigante chega à cidade / no centro tropeça em prédios / quase
cai / mas arruma a fivela da sandália / sentada sobre o Edifício Itália. / Com
o tédio de sua beleza iluminada / logo pela manhã / enrola seu interminável
cachecol / acende um cigarro no sol / e lixa as unhas no Copan. / Por seus
passos a cidade estremece / quando anoitece / sem que ninguém veja / espia por
trás da igreja /a noite acesa na Praça Roosvelt. / A cidade cuida dela / para
que nada maltrate seu imenso coração / já que uma lágrima apenas / causaria uma
inundação. Finíssima: champagne e ternura / um olhar que vai além. / Assim ela
cuida da cidade também. O não menos destacável Visitas: Nesta madrugada recebi a visita da moça de
olhos verdes com o livro, das duas meninas travessas, das freiras e padres e
seus discípulos, os quais tinham sido beijados durante a cerimônia. Também teve
a amiga antiga, que insistiu para que eu comesse o mocotó da festa religiosa
(não comi), além das garotas das receitas à base de milho, da
minha mãe, meu pai e seus amigos importantes, que conheciam a moça de olhos
verdes. Também um rosto conhecido que vi no espelho e não era o meu. Foram
todos muito bem-vindos. Veja mais aqui, aqui e aqui.
BODAS DE SANGUE – A peça teatral Bodas de sangue (1932), do poeta e dramaturgo espanhol Federico García Lorca (1898-1936),
integra a trilogia formada por Yerma e A Casa de Bernarda Alba, explora a
possibilidade do irreal em que a Lua e a Morte ganham vida no desenrolar da
trama e no auxilio da luta ritualística entre o Noivo e o pretendente da sua
noiva. Da obra destaco o Quadro II do 2º Ato: (Exterior
da cueva da noiva. Cores branco - acinzentadas e azul - frias. Grandes
figueiras–da-índia. Tons sombrios e prateados. Panorama de mesetas de cor
pastel, todo endurecido, como paisagem de cerâmica popular.) CRIADA (arrumando
copos e bandeja s em uma mesa) — Girava, girava a roda e a água passava. Porque
é dia das bodas, que se afaste a ramagem e que a lua se estenda pela branca
varanda. (Em voz alta) Ponha as toalhas! (Em voz patética) Cantavam, cantavam os
noivos e a água passava. Porque é dia das bodas, resplandeça o orvalho e se
encham de mel as amêndoas amargas. (Em voz alta) Prepare o vinho! (Em voz
poética) Formosa, formosa desta terra, olha como a água passa. Porque são tuas
bodas, guarda as roupas rendadas, e à sombra da asa do noivo nunca mais saias
de casa. Porque o noivo é como um pombo, com o peito todo em brasa e o campo
espera o rumor do seu sangue a ser derramado. Girava, girava a roda e a água
passava. Porque são tuas bodas, deixa então que brilhe a água. MÃE (entrando) —
Até que enfim! PAI — Somos os primeiros? CRIADA — Não. Há pouco chegou Leonardo
com sua mulher. Correram como o diabo. A mulher estava morta de medo. Chegaram
tão rápido como se tivessem vindo a cavalo PAI — Esse aí está procurando
desgraça. Tem sangue ruim. MÃE — E que sangue podia ter? O mesmo da família
toda. Vem do bisavô dele, que começou matando, e continua em toda essa ralé
maldita, gentalha de faca pronta e de sorriso falso. PAI — Não ligue para ele. CRIADA
— Como é que não vai ligar? MÃE — Isso me dói até na ponta das veias. Olho para
cada um deles e só vejo a mão com que mataram o que era meu. Está me vendo
assim? Não pareço louca? Louca, sim, por não ter gritado tudo o que meu peito
precisa. Trago no peito um grito sempre de pé, que tenho de castigar e esconder
entre os mantos. Mas levam os meus mortos, e tenho que calar. Depois, o povo
critica. (Tira o manto.) PAI— Hoje não é dia de lembrar essas coisas. MÃE - Quando
se fala nisso, tenho que desabafar. E hoje mais do que nunca. Porque hoje vou
ficar só, na minha casa. PAI — Mas depois vai ter companhia. MÃE — Essa é a
minha ilusão: os netos. (SENTAM-SE.) [...]
Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
EU VI O MUNDO NO RECIFE – O curta metragem Eu vi o mundo… ele começou no Recife (2003), é um documentário
realizado e dirigido por Mário Carneiro, reconstituindo a memória do artista
plástico Cícero Dias (1907-2003), envolvendo
as circunstancias históricas e a motivação criadora que resultaram no famoso
quadro, de sua autoria, Eu vi o mundo...
ele começava no Recife, considerado o marco zero da moderna pintura
brasileira. O documentário descreve com detalhes os elementos temáticos do
painel, que media originalmente 15 metros de comprimento por 1,94 de altura.
Durante sua exposição, vândalos cortaram três metros da tela, onde apareciam
nus considerados escandalosos. Em longo depoimento, o artista, que faleceu logo
após a conclusão do filme, dá informações que ajudam a compreender os aspectos
simbólicos expressos na obra e fala sobre os episódios históricos que o
acompanharam na sua criação. O documentário é belíssimo e tem a trilha sonora
assinada por Hermeto Pascoal. Veja
mais aqui, aqui, aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte da coreógrafa, professor e
pesquisadora de dança Lia Robato.
Veja mais sobre:
O dono da razão, A canção do exílio de Murilo Mendes,
Identidade & etnia de Carlos Rodrigues Brandão, A socioantropologia de Maria Sérgio Michaliszyn, a pintura de Francisco
Zúñiga & , a arte de Jules Pascin & a música de Ju Martins aqui.
E mais:
O culto da rosa: canção à flor, mulher amada, Totalidade
& infinito de Emmanuel Lévinas, Mundo fantasmo de Bráulio Tavares, a música de Wojciech Kilar, A arte do teatro de Gordon
Craig, Erotic Symphony de Jess Franco & Susan Hemingway, a pintura de Paul Delaroche, as
gravuras de Paul-Émile Bécat & a poesia de Fernanda Guimarães aqui.
Poemas de
Paul Verlaine & Denise
Levertov, a pintura de Paul
Delaroche, a fotografia de Patricia Hampl, a música de Marcoliva & a poesia de Lourdes Limeira
aqui.
Fecamepa, Gestalt-terapita
de Friederich
Perls, Contos e novelas de Jean de La Fontaine, a poesia de Laurindo Rabelo,
Auto da alma de Gil Vicente, Crônica da cidade amada de Carlos Hugo Christensen, a música de Diversões Lúdicas, a pintura
de Ignaz Epper, Brincarte
do Nitolino & Cia Ópera na Mala aqui.
O trâmite da solidão, Espectro da fome de Josué de Castro, A ilíada de Homero, a música de
Mercedes
Sosa, Conversation Noturne
de Martha Angerich, a pintura de Frida Kahlo, Tamara de Lempicka & Eliezer Augusto, a arte de Ana Botafogo & a poesia de Genesio
Cavalcanti aqui.
Cordel tataritaritatá, Outra globalização de Milton
Santos, À sombra das raparigas de Marcel Proust, As nuvens de Aristófanes, a música de Véronique Gens & Stark Naked
Orchestra, Cleópatra & Elizabeth Taylor, a poesia de Clevane Pessoa
de Araújo Lopes, a pintura de Camille Pissarro & Howard Chandler Christy aqui.
Primeiro de maio, o pensamento de Mahatma Gandhi, Kark
Marx, Adam Smith, David Ricardo, O trabalho & os dias de Hesíodo, a pintura de Tarsila do Amaral, a
música de Chico Buarque & Milton Nascimento aqui.
As drogas & as campanhas antidrogas, O pensamento de Milton Friedman, On the Road de Jack Kerouac, A droga é só um pretexto de Francis
Curte, Bioética de Javier Gafo Fernández, a música do
Yes,
a pintura de Carlos
Schwabe & Félicien Rops aqui.
A vida, a terra, o homem & a bioética, A condição humana de Hannah Arendt, Grande sertão veredas de João
Guimarães Rosa, Pau Brasil de Oswald de Andrade, a poesia de Patativa de Assaré, Dos confins do sertão de Elomar Figueira
de Mello, Cronologia pernambucana de Nelson Barbalho, a arte de Fernand
Khnopff, a pintura de Shere Crossman &
Antonio Cláudio Massa aqui.
Que país é esse, Brasilsilsilsilsilsil, As coroas
& máscaras de Eduardo
Galeano, Não verás país nenhum de Ignácio de Loyola Brandão, Aos trancos &
barrancos de Darcy Ribeiro, Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda, a poesia de Castro Alves &
Affonso Romano de Sant’Anna, Samba do crioulo doido de Sérgio Porto, Ary
Barroso, Juca Chaves, Dias Gomes & Ferreira Gullar, Gonzaguinha & Ivan
Lins, Chico Buarque & Ruy Guerra, Canto das Três Raças, Flávio Rangel &
Millôr Fernandes, Maurício Tapajós & Aldir Blanc, Joyce & Fernando
Brant, Renato Russo & Cláudia Alende aqui.
Credibilidade da imprensa brasileira, História da imprensa brasileira de Nelson Werneck Sodré,
Beijo no asfalto de Nelson Rodrigues, Cervantes & Millôr Fernandes, Notícias dum Brasil de Eduardo Gudin & a
jornalista Enki Bracaj aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.