terça-feira, julho 28, 2015

FEUERBACH, DUCHAMP, VERÍSSIMO, DIDEROT, CHAUSSON, PSICANÁLISE, DICIONÁRIO DA CACHAÇA & ZINE NASCENTE.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? ZINE NASCENTE – A minha primeira experiência com zine foi o Vozes do Una, que era encartado nas edições da Revista A Região, nos anos da década de 1980. Uma experiência e tanto: era bom demais receber os poemas dos remetentes e publicá-los. Tanto é que em outubro de 1996, estava eu revivendo com o lançamento do zine Nascente Poético, número inaugural dedicado ao Egberto Gismonti pelo apoio sempre dispensado, e com o Ineditorial no Plano de Voo: Este é um espaço do Nordeste para o mundo. Na trlha da Toca do (meu) poeta, do Protexto, do Sol de Versos, do Ulalume, do Vozes do Una e tantos outros nanicos. Este espaço é dos amigos da Banca, do Bacca, da Leila, da Pirata, da Bagaço, dos que, enfim, fazem da poesia a própria vida. É espaço para todos, apesar de pequeno. É aquela cuia, aquela semente, coisa miúda com espírito de Grande Otelo. Um gnomo, um duende, uma miniatura. Um minúsculo. Umm ínfimo pedaço. Um grão. Pequenino com coração grande: cabe todo mundo. Sempre caba mais um quando se usa da poesia. Neste número inaugural trago alguns amigos. Daqui, dali, dacolá. Levando os tentáculos deste pequeno alternativo direto ao coração. E começa agora. Vários anos de tormento visando viabilizá-lo e um prazer enorme de trazer esta gente de boa cepa à tona, como uma vingança contra o marasmo e inexorabilidades. Esta é a nascente, daqui só Deus saberá paradeiro. E no conteído poesias de Eliane Ferraz (PE), Sérgio Campos (RJ), Leontino Filho (RN), Núbia Marques (SE), Felipe Maldaner (RS), Claudete Richieri (SP), Ari Lins Pedrosa (AL) e Benilson Pereira (ES). Já o segundo número, de novembro/1996, dedicado a Maurício de Souza & Turma da Mônica pelo apoio de sempre, com o editorial Portinhola: O coração deste nanico está aberto. Muitas correspondências nos saudaram de todos os redcantos da nação brasileira, nação multicolorida de todas as loucuras possível e improváveis. Daqui nossa gratidão antecipada. Aqui nunca constará os episódios inatingíveis nem o niilismo dos pragmáticos. Decerto que se flagrará o estoico sensível, a ascese da paixão, a emoção anacoreta de quem na sua solidão rabisca num naco de papel seus sentimentos. Saudamos com nossa inicitiva a todos das matas, das chapadas, dos agrestes, dos planaltos, das serras, dos alagados, das planícies, das montanhas, dos tabuleiros, das ribanceiras, dos aclives, dos abismos, das cachoeiras, das transversais, das cordilheitas, das logitudinais frequências do coração. Alô torcida do Flamengo! Aquele abraço. E nossa homenagem aos 60 anos de ausência do nosso poeta de várias faces, dos múltiplos versos, das plurais canções: Fernando Pessoa. Saravá, Portugal! Os amigos aqui veiculados também acenam com ternura ao grande vate luso que nos encheu de vida com seus versos tão humano. E a poesia de Olga Savary (PA), Karin Elizabeth Foldes (SP), Ilma Fontes (SE), Wilmar Antonio Carvalho (PW), Bartyra Soares (PE), José Mata Roma (MA), Nicolas Behr (DF), Leila de Souza Biagioni (AP), Álvaro Luiz Guedes (PB), Renata Pallottini (SP) e Cicero Herculano Machado (AL). Nessa edição recebemos os zines Jornal – Informativo da Associação Alagoana de Imprensa, Capital – Jornal de Resistência Ordinário (SE), Com Textos – O jornal da UBE (SE), Correio Mimosense (ES), Blocos (RJ), Notas Literárias (AL) e A Voz da Poesia – Movimento Poético Nacional (SP). E digo por conclusão: é um prazer enorme poder caminhar com todo esse pessoal de todas as partes do Brasil, um momento inesquecível. E vamos aprumar a conversa! Veja mais aqui e aqui.


Imagem: Nude Seated in a Bathtub, do artista francês Marcel Duchamp (1887-1968).


Curtindo Concerto in D Major Op. 21 & String Quartet in C Minor, Op. 35, do compositor francês Ernest Chausson (1855-1899), com a soprano de ópera francesa Sandrine Piau & Quatuor Parisii String Quartet. Veja mais aqui, aqui e aqui.

PRINCÍPIOS DA FILOSOFIA DO FUTURO – O livro Princípios da Filosofia do Futuro (1843 – LusoSofia, 2008), do filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804-1872), traduzido por Artur Morão, é composto de 65 lemas centrados na denúncia do a priori teológico da antiga filosofia, criticando os pressupostos do pensamento europeu desde Descartes e dissecando o idealismo especulativo de Hegel, ao criticar o solipsismo gnoseológico e a “razão separada” dos modernos e abordando temas como a relação entre conhecimento e conversação na apreensão do ser, o valor da comunidade como critério da verdade e da universalidade, a captação do mundo e do objeto através da mediação do tu, a presença do não-eu (do outro) em mim, e assim por diante, definindo o seu ateísmo e profundo hermeneuta da filosofia ocidental. Da obra destaco os trechos a seguir: [...] A nova filosofia faz do homem, com a inclusão da natureza, enquanto base do homem, o objeto único, universal e supremo da filosofia – faz, pois, da antropologia, com inclusão da fisiologia, a ciência universal. A arte, a religião, a filosofia ou a ciência são apenas as manifestações ou revelações do ser humano verdadeiro. Homem perfeito e verdadeiro é apenas quem possui o sentido estético ou artístico, religioso ou moral, filosófico ou cientifico – homem em geral somente é aquele que nada de essencialmente humano exclui de si mesmo. Homo sum, humani nihil a me alienum puto – esta frase, tomada na sua significação mais universal e mais elevada, é a divisa do novo filósofo. A filosofía da identidade absoluta inverteu completamente o ponto de vista da verdade. O ponto de vista natural do homem, o ponto de vista da distinção em eu e tu, em sujeto e objeto, é o ponto de vista verdadeiro e absoluto, por conseguinte, também o ponto de vista da filosofia [...] A antiga filosofia possui uma dupla verdade – a verdade para si mesma, que não se preocupava com o homem – a filosofia – e a verdade para o homem – a religião. Pelo contrário, a nova filosofia, enquanto filosofia do homem – é também essencialmente a filosofia para o homem – possui, sem prejuízo para a dignidade e a autonomia da teoria, mais, na consonância mais íntima com a mesma, essencialmente uma tendência prática e, claro está, prática no sentido mais elevado; vem ocupar o lugar da religião, tem em si a essência da religião, ela própria é em verdade religião. As tentativas de reforma até agora feitas na filosofia distinguem-se, mais ou menos, da antiga filosofia apenas segundo a espécie, não segundo o gênero. A condição mais imperativa de uma filosofia realmente nova, isto é, independente e que corresponde à necessidade da humanidade e do futuro, é que ela se distinga da antiga filosofia segundo a essência. Veja mais aqui.

FREUD E AS BESTEIRAS SOBRE A MULHER – O livro As besteiras que a psicanálise disse (e continua dizendo) sobre as mulheres (Ideia Jurídica, 2015), do médico e psicanalista Mario Jorge Pereira Reis, aborda temas como saber escolástico, o pênis invejado, demoníacas e selvagens, masoquismos, homicídios e estupros, a mulher como ser deformado, lógica imagina Freud e Einstein, o demoníaco em Freud, Kaput: fim do reinado masculino e o verdadeiro da verdade. Na obra destaco o trecho: [...] Para Freud, a sexualidade humana, libidinal, é masculina, exclusivamente masculina. O que o inventor da Psicanálise conceitua é um buraco feminino, como uma ausência de pênis, o que faz da mulher sujeito não homem. o mundo seria povoado por indivíduos homens e não homens. Se o feminino é não homem, a mulher não existe. A palavra mulher apenas recobria um não existente no real do mundo simbólico. A palvra cão não late, representa o cão real, aquele que late. As palavras não são coisas. A palavra mulher não fode, representa um vazio feminino irreal, um sem-nome no centro de si. Não havendo o nome designativo nem significativo, o feminino se aparenta com o mutismo, isto é, com uma essência fora da linguagem simbólica que organiza as interrelações humanas. Se o mutismo é apanágio da morte, a mulher, como lacuna no psiquismo e na fala, está próxima do não ser que é a morte em si; sem existência, sem sexo e sem fala. Pura carne real, desespiritualizada. Puro gozo. Não estou fazendo piada. [...] Se você que lê estiver realizando uma psicoterapia com um freudiano ou com um lacaniano ortodoxo, saiba que as crenças desse profissional passam por tais convicções teóricas sobre o feminino. Creio que seria relevante considerar que ele está trabalhando suas questões personalíssimas pela via de determinações conceituais passiveis de serem tendenciosamente baseadas em observações pertinentes a uma cultura vienense e vitoriana do século XIX [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

NÃO É DEFEITO BEBER – No livro Dicionário folclórico da cachaça (Fundak, 1980), do escritor, advogado, pesquisador e folclorista Mário Souto Maior (1920-), encontrei uma série de verbetes com indicações sobre a cachaça e a bebedeira, bem como trechos de um poema oriundo do livro Não é defeito beber, de Adão Filho (Typ. Chaves, 1927), do qual destaco os trechos a seguir: Eu conheço um camarada ; que não gostando da branca / chega na venda e se abanca / falando em barriga inchada... / - Depois toma uma bicada / sem uma careta fazer! / Todo mundo pode ver / que esse sujeito é manhoso / beber por achar gostoso / não é defeito beber. [...] Eu não gosto de aguardente / salvo sendo misturada, / tomando uma cachimbada / eu fico até mais contente, / às vezes viro valente / sem espalhafatos fazer / para ninguém conhecer / quando estou na carraspana, / beber roendo coirana / não é defeito beber. [...] Da mulher não digo nada / por ser boa criatura, / um amigo me assegura / que a sua vive chumbada, / e que é valente e malcriada / faz qualquer homem correr, / bebe para engradecer / seu valor e sua fama, / se todo mundo come rama / não é defeito beber. Da mulher não digo nada: / por ser melhor criatura, / à noite, muito segura, / toma bonita copada, / alguma por despachada, / bebe para a gente ver; outras para ninguém saber / bebem por detrás da porta / o sumo da cana torta... / não é defeito beber. [...] Quando o serviço é pesado / gosto de andar prevenido. / Levo um botijão escondido / para beber no roçado. / Estando o almoço botado / a mulher vem me dizer, / eu para não me esquecer / tomo uma dose acrescida, / e beber durante a comida / não é defeito beber. [...] Às vezes depois da ceia / chegando alguma visita / um copo de giribita / beber não é ação feia, / esquentando o sangue na veia / mal nenhum pode fazer, / mesmo sem aparecer / para distrair ninguém / beber para dormir bem / não é defeito beber. [...] A anti-alcoólica semana / passou desapercebida, / tendo aumentado a bebida / no ventre da raça humana! / Consumiu-se até mais cana / em lugar de a combater! / Se quiserem me atender / não fabriquem mais a usga! / Então o usineiro rusga / não é defeito beber. O beber já foi defeito / nas tabernas do passado, / mas hoje se vê molhado / até juiz de direito / juiz de fato e prefeito / bebem depois de comer / para o discurso fazer / com toda a pontuação / para quem tem posição / não é defeito beber. Quando chega a hora da janta / está vazio o garrafão, / a mulher bota o feijão / enquanto eu molho a garganta / quando o calor se levanta / fazendo o suor descer / sou fraco e devo dizer / tomo uma dose aumentada / defendendo a feijoada / não é defeito beber.  Hoje o beber é um uso / em todo e qualquer distrito, / enquanto a tomar-esprito / bem poucos terão abuso; / eu de copo bem me acuso / só deixo quando morrer. / Não censurem o meu dizer, / nem me digam que isso é falta; / bem-nos da gente mais alta / não é defeito beber. Enfim, senhores, não nego, / falo sem ter medo algum, / pois sempre pelo comum / gosto de tomar meu prego / neste destino me rego, / pronto a não me arrepender, / quem duvidar venha ver: / ela com mel ou imbira / faz milagre, que admira / não é defeito beber. Veja mais aqui , aqui e aqui.

PARADOXO SOBRE O COMEDIANTE – O livro Paradoxo sobre o comediante (Escala, 2006), do filósofo e escritor francês Denis Diderot (1713-1784), trata sobre o teatro com reflexões críticas acerca da arte teatral que deveria se espelhar na sociedade e nos seus movimentos sociais, de pensar e querer, espelhando, assim, a vida vivida, real do homem, político e do povo. Para ele, o comediante é o ator de teatro, tanto o cômico como o trágico, tanto o que representa o herói como o anti-herói: são homens de raro talento e de uma utilidade real, são pregadores mais eloqüentes da honestidade e das virtudes do que aqueles vestidos de batina e barrete quadrado na cabeça que pregam do alto dos púlpitos. Da obra destaco os trechos: [...] O grande comediante observa os fenômenos; o homem sensível serve-lhe de modelo, ele o medita, e encontra, por reflexão, o que cumpre adicionar ou subtrair para o melhor. E, ainda assim, fatos segundo razões. [...] Um ator é tomado de paixão por uma atriz; uma peça os coloca por acaso em cena em um momento de ciúme. A cena ganhará com isso, se o ator for medíocre; perderá, se for comediante; então, o grande comediante tornar-se-á ele próprio e não mais o modelo ideal e sublime que imaginara de um ciumento. Prova de que então o ator e a atriz se rebaixam um e outro à vida comum é que, se conservassem a grandiloquência, rir-se-iam na cara; o ciúme empolado e trágico não lhes pareceria muitas vezes senão uma farsa do seu. [...] As comédias de verve e mesmo de caracteres são exageradas. O gracejo de sociedade é uma espuma ligeira que se evapora no palco; o gracejo de teatro é uma arma cortante que feriria na sociedade. Não se tem com seres imaginários o comedimento que se deve a seres reais. A sátira é de um tartufo, e a comédia é do Tartufo. A sátira persegue um vicioso, a comédia persegue um vício. Se houvesse existido apenas uma ou duas Preciosas Ridículas, poder-se-ia fazer uma sátira delas, mas não uma comédia. Veja mais aqui, aqui e aqui.

EROTIQUE – O longa metragem Erotique (1994), filme com direção e roteiro de Ana Maria Magalhães, Monika Treut, Lizzie Borden e Clara Law, reúne episódios de comédia, drama, erótico e romance de cineastas do Brasil, Alemanha, Estados Unidos e Hong Kong, ou seja, são quatro contos realizados por quatro diretoras de quatro continentes diferentes, tendo como tema os diversos aspectos íntimos do relacionamento amoroso em quatro situações totalmente diferentes. Os episódios são Let's Talk About Love de Lizzie Borden (Estados Unidos), Wonton Soup de Clara Law (Hong Kong), Taboo Parlor de Monika Treut (Alemanha) e Final Call, este último da atriz e diretora brasileira Ana Maria Magalhães que conta a história de uma moça que é seduzida à força, numa adaptação livre do conto A língua do P, de Clarice Lispector. O filme conta com música composta por Tats Lau e Andrew Belling, com destaque para a atriz e cantora Claudia Ohana. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA

Imagem: Cartoon do escritor, cartunista, tradutor, roteirista e autor teatral Luis Fernando Veríssimo. Veja mais aqui e aqui.

 Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Tataritaritatá, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial de Meimei Corrêa. Para conferir online acesse aqui.

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