quarta-feira, julho 29, 2015

JOSÉ J. VEIGA, DAMATTA, MOACIR SANTOS, JOAQUIM CARDOZO, JOUVET, GHOBADI, TOCQUEVILLE, CACCURI, BRINCARTE & NASCENTE.



VAMOS APRUMAR A CONVERSA? ZINE NASCENTE – A receptividade obtida com o lançamento do número inaugural do Nascente Poético com sua tiragem de 5 mil exemplares mantida nos números subsequentes e o segundo número do zine, fez com que chovesse tanto poemas como publicações de todos os estados brasileiros. Exemplo disso foi que no número 03, com o editorial A festa do caleidoscópio e dedicado à poetamiga Leila Míccolis e o seu trabalho mantido até hoje com o Blocos, que na seção de intercâmbios fiz veicular o material recebido do Correio do Pessoal editado por Luiz Fernando da Silva (João Pessoa-PB), o Notas Literárias, do poetamigo Ary Lins Pedrosa (Maceió-AL), o Fanal da Casa do Poeta (São Paulo-SP), A Voz da Poesia do Movimento Poético Nacional (São Paulo-SP), Inspirações e Poesias de Maria de Fátima Dias (Campo Grande-MS), Momento Lítero-Cultural do Jornal Alto Madeira, editado pelo poetamigo Selmo Vasconcellos (Porto Velho-RO), O Tudo é Poesia (Campo Grande – MS) e a publicação de Mercedes Vasconcelos. Já no número 04, com o editorial Retorno de Férias, dedicado ao amigo cantor e compositor Zé Ripe e suas canções da Mata Sul de Pernambuco, com poemas de Juareiz Correia (PW), Henriqueta Lisboa (MG), Orley Mesquita (PB), Claudio Feldman (SP), Roberto de Vastro Del1Sechi (ES), Nelayne Abdo (MG), Osael Carvalho (RJ), Carlos Moreira (PB), Jaci Bezerra (PE), Elizeu Pereira de Melo (PE), Novais Neto (BA), Ascenso Ferreira (PE), Paulo Profeta (PE), Sandra Lustosa (PE), Clotildes Tavares (RN) e Beatriz Escórcio Chacon (RJ), bem como as publicações recebidas: Feminilidade em gotas de Cileide Alexandre (PE), Rudo é Poesia de Mariana Fatima Dias (MS), Koisalinda de Oeste Souza (Rio Preto-SP), O que nário não disse de Eno Teodoro Wanke (RJ), KÇYW de Eno Teodoro Wanke (RJ), Poemas de Rolando Revagliati (Buenos Aires-Argentina), Libros de Rolando Revagliati (Buenos Aires-Argentina), Maria Mulher de João Lins (PE) e Sueños del bosque de Daniel R. Mourelle (Argentina). Pelo visto o nosso zine havia chegado em terras portenhas além Brasil o que virou uma festa com os hermanos argentinos participando de nossas atividades. E vamos aprumar a conversa clicando aqui.


Imagem sem título da artista plástica e professora Vilma Caccuri.


Curtindo o álbum duplo cd/dvd Ouro Negro (Biscoito Fino, 2001), do maestro, compositor, arranjador e multi-instrumentista Moacir Santos (1926-2006).

BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia da reprise do programa Brincarte do Nitolino, nos horários das 10hs e das 15hs, no blog do Projeto MCLAM, com a simpática apresentação de Isis Correa Naves. No blog, entre outras movidades, também conferir as imagens da edição especial do tabloide Nascente sobre o lançamento da primeira edição da antologia Brincarte, 1998, registrando os autores selecionados na obra, depoimentos de presentes, o destaque da cobertura da imprensa alagoana, com destaque para página inteira do Caderno C da Gazeta de Alagoas, e para o registro dos jornais Tribuna de Alagoas e O Jornal, a arte da turma do Tio Beto e muito mais. Para conferir acesse aqui ou aqui.

O QUE FAZ O BRASIL? – O livro O que faz o Brasil? (Rocco, 1986), do antropólogo e sociólogo Roberto DaMatta, aborda a questão da identidade, o trabalho, a casa e a rua, a ilusão das relações sociais, comidas e mulheres, o carnaval, teatro e prazer, festas da ordem, o modo de navegação social, a malandragem e o jeitinho, entre outros temas. Da obra destaco o trecho: [...] Devo começar explicando o meu enigmático título. É que será preciso estabelecer uma distincão radical entre um “brasil” escrito com letra minúscula, nome de um tipo de madeira de lei ou de uma feitoria interessada em explorar uma terra como outra qualquer, e o Brasil que designa um povo, uma nação, um conjunto de valores, escolhas e ideais de vida. O “brasil” com o b minúsculo é apenas um objeto sem vida, autoconsciência ou pulsação interior, pedaço de coisa que morre e não tem a menor condição de se reproduzir como sistema; como, aliás, queriam alguns teóricos sociais do século XIX, que viam na terra–um pedaço perdido de Portugal e da Europa– um conjunto doentio e condenado de raças que, misturando-se ao sabor de uma natureza exuberante e de um clima tropical, estariam fadadas à degenerarão e à morte biológica, psicológica e social. Mas o Brasil com B maiúsculo é algo muito mais complexo. É país, cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecidos internacionalmente, e também casa, pedaço de chão calçado com o calor de nossos corpos, lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial, única, totalmente sagrada. É igualmente um tempo singular cujos eventos são exclusivamente seus, e também temporalidade que pode ser acelerada na festa do carnaval; que pode ser detida na morte e na memória e que pode ser trazida de volta na boa recordação da saudade. Tempo e temporalidade de ritmos localizados e, assim, insubstituíveis. Sociedade onde pessoas seguem certos valores e julgam as ações humanas dentro de um padrão somente seu. Não se trata mais de algo inerte, mas de uma entidade viva, cheia de auto-reflexão e consciência: algo que se soma e se alarga para o futuro e para o passado, num movimento próprio que se chama História. Aqui, o Brasil é um ser parte conhecido e parte misterioso, como um grande e poderoso espírito. Como um Deus que está em todos os lugares e em nenhum, mas que também precisa dos homens para que possa se saber superior e onipotente. Onde quer que haja um brasileiro adulto, existe com ele o Brasil e, no entanto – tal como acontece com as divindades –, será preciso produzir e provocar a sua manifestação para que se possa sentir sua concretude e seu poder. Caso contrário, sua presença é tão inefável como a do ar que se respira, e dela não se teria consciência a não ser pela comparação, pelo contraste e pela percepção de algumas de suas manifestações mais contundentes. Os deuses, conforme sabemos, existem somente para serem vistos em certos momentos e dentro de certas molduras. O mesmo ocorre com as sociedades. Geralmente, estamos habituados a tomar conhecimento das sociedades – e, sobretudo, da nossa sociedade – por meio de suas manifestações mais oficiais e mais nobres. Tal como ocorre às divindades, que só são encontradas nas igrejas, também as sociedades só são normalmente percebidas quando surgem nas suas vozes mais “cultas”. Para os tradicionalistas, aqueles que têm olhos e não vêem, os deuses se acham nos sacrários, nas capelas e nos livros sagrados de reza e devoção. Para os observadores menos imaginativos e sensíveis, uma sociedade está nas suas ciências, letras e artes. A visão oficial contradiz a voz, a visão do povo e, ainda, a experiência da condição humana que, generosamente, enxerga Deus em toda parte: no rito pomposo e solene da catedral e na visão tresloucada do místico, nu e faminto em sua cela de preocupações com o destino dos homens e sobrecarregado pelo peso fantástico dos múltiplos sentidos desta vida. [...] Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

A DEMOCRACIA NA AMÉRICA – O livro Democracia na América - Leis e Costumes: de certas leis e certos costumes políticos que foram naturalmente sugeridos aos americanos por seu estado social democrático (Matins Fontes, 2005), do historiador e cientista político francês Alexis de Tocqueville (1805-1859), aborda temas como a configuração exterior da América do Norte, motivos de algumas singularidades que as leis e os costumes dos anglo-americanos, Estado social, conseqüências políticas do estado social, do princípio da soberania do povo na América, do sistema comunal, da administração na Nova Inglaterra, idéias gerais sobre a administração, os poderes e de outros poderes concedidos aos juizes americanos, modo de eleição, das vantagens do sistema federativo em geral e da sua utilidade especial para a América, partidos, da liberdade, da associação política, do governo, voto universal, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: [...] Um homem acaba de nascer; seus primeiros anos transcorrem obscuramente entre os prazeres ou os trabalhos da infância. Cresce; começa a virilidade; as portas do mundo se abrem enfim para recebê-lo; entra em contato com seus semelhantes. Estudam-no então pela primeira vez e acredita- se ver formar-se nele o germe dos vícios e das virtudes de sua idade madura. Temos aí, se não me engano, um grande erro. Voltem atrás; examinem a criança até nos braços da mãe; vejam o mundo exterior refletir-se pela primeira vez no espelho ainda escuro de sua inteligência; contemplem os primeiros exemplos que chegam ao olhar dela; ouçam as primeiras palavras que nela despertam os poderes adormecidos do pensamento; assistam enfim às primeiras lutas que ela precisa travar - somente então compreenderão de onde vêm os preconceitos, os hábitos e as paixões que vão dominar sua vida. O homem está, por assim dizer, inteiro nos cueiros de seu berço. Algo análogo acontece no caso das nações. Os povos sempre se ressentem de sua origem. As circunstâncias que acompanharam seu nascimento e serviram para seu desenvolvimento influem sobre todo o resto de sua carreira. Se nos fosse possível remontar até os elementos das sociedades e examinar os primeiros monumentos de sua história, não duvido de que pudéssemos descobrir aí a causa primeira dos preconceitos, dos hábitos, das paixões dominantes, enfim de tudo o que compõe o que se chama caráter nacional. Poderíamos encontrar a explicação de usos que, hoje em dia, parecem contrários aos costumes reinantes; de leis que parecem em oposição aos princípios reconhecidos; de opiniões incoerentes que aparecem aqui e ali na sociedade, como esses fragmentos de correntes rompidas que às vezes ainda vemos pender nas abóbadas de um velho edifício e que não sustentam mais nada. Assim se explicaria o destino de certos povos, que uma força desconhecida parece arrastar para um fim que eles mesmos ignoram. Mas até aqui faltaram fatos para tal estudo; o espírito de análise só alcançou as nações à medida que elas envelheciam e, quando elas enfim pensaram em contemplar seu berço, o tempo já o havia envolvido numa nuvem, a ignorância e o orgulho haviam-no rodeado de fábulas, atrás das quais se escondia a verdade. A América é o único país em que se pôde assistir aos desenvolvimentos tranqüilos e naturais de uma sociedade e em que foi possível precisar a influência exercida pelo ponto dé partida sobre o futuro dos Estados. [...] Veja mais aqui.

A ILHA DOS GATOS PINGADOS – No livro Os cavalinhos de platiplanto (Civilização Brasileira, 1959), do escritor do realismo fantástico brasileiro José J. Veiga (1915-1999), encotrei o conto A ilha dos gatos pingados, do qual destaco o trecho a seguir: Já sei o que vou fazer. Se Cedil não voltar até o fim do ano, vou-me embora para o sítio de minha avó. Lá eu vou ter uma bezerra pra tirar cria, um cavalinho pra montar e muitas coisas pra fazer o dia inteiro. É melhor do que ficar aqui feito bobo, pensando toda a vida na ilha, nos brinquedos que a gente brincava, nas coisas que Cedil e Tenisão diziam, e até nos sustos que passávamos, como no dia que a jangada quase afundou com nós três. Camilinho ainda anda atrás de mim; mas não sei se é influência de Tenisão, eu não gosto muito de brincar com ele. Ele tem umas ideias bobas, chora por qualquer coisa, e tudo que a gente faz de meio estouvado ele acha de linguarar. Agora eu compreendo mais por que Tenisão implicava com ele: ele sempre foi chorão e enredeiro. Toda vez que a gente queria ir em algum lugar precisava combinar escondido, sair sem Camilinho ver, e às vezes nem assim adiantava. Quando a gente ia longe, lá vinha Camilinho correndo atrás, chorando e pedindo pra esperar. Tenisão xingava, jogava pedra, mas ele não desistia. Era preciso parar e esperar. Aí o brinquedo perdia a maior parte da graça porque ele era pequeno e não dava conta de acompanhar, não sabia pisar em espinho sem espetar o pé, à toa à toa chorava. Era bobinho que só vendo, tinha medo de tudo. Não engolia semente de jenipapo para não virar barata na barriga, não comia rolinha assada pra não dar fome canina, não jogava pedra na casa de João Benedito porque ele furava um ovo com agulha e a gente ficava cego (eu só joguei uma vez e de longe, porque todo mundo dizia que ele era feiticeiro infalível). De entoado um de nós, ou nós três, estava apanhando por causa de Camilinho. [...] Veja mais aqui.

IMAGENS DO NORDESTE – No livro Poemas (Agir, 1947), do poeta, dramaturgo, engenheiro civil, desenhista, professor e editor Joaquim Cardozo (1897-1978), encontro o seu poema Imagens .do Nordeste, o qual transcrevo a seguir: Sobre o capim orvalhado / Por baixo das mangabeiras/ Há rastros de luz macia: / Por aqui passaram luas, / Pousaram aves bravias. / Idílio de amor perdido, / Encanto de moça nua / Na água triste da camboa; / Em junhos do meu Nordeste / Fantasma que me povoa. / Asa e flor do azul profundo, / Primazia do mar alto, / Vela branca predileta; / Na transparência do dia / És a flâmula discreta. / És a lâmina ligeira / Cortando a lã dos cordeiros, / Ferindo os ramos dourados; / – Chama intrépida e minguante / nos ares maravilhados. / E enquanto o sol vai descendo / O vento recolhe as nuvens / E o vento desfaz a lã; / Vela branca desvairada, / Mariposa da manhã. / Velho calor de Dezembro, / Chuva das águas primeiras / Feliz batendo nas telhas; / Verão de frutas maduras, / Verão de mangas vermelhas. / A minha casa amarela / Tinha seis janelas verdes / Do lado do sol nascente; / Janelas sobre a esperança / Paisagem, profundamente. / Abri as leves comportas / E as águas duras fundiram; / Num sopro de maresia / Viveiros se derramaram / Em noites de pescaria. / Camarupim, Mamanguape, / Persinunga, Pirapama, / Serinhaém, Jaboatão; / Cruzando barras de rios / Me perdi na solidão. / Me afastei sobre a planície / Das várzeas crepusculares; / Vi nuvens em torvelinho, / Estrelas de encruzilhadas / Nos rumos do meu caminho. / Salinas de Santo Amaro, / Ondas de terra salgada, / Revoltas, na escuridão, / De silêncio e de naufrágio / Cobrindo a tantos no chão. / Terra crescida, plantada / De muita recordação. Veja mais aqui.

O EDIFICIO DRAMÁTICO – No livro O comediante desencarnado (Arcádia, 1964), do ator e diretor de teatro Louis Jouvet (1887- 1951), encontrei o texto Notas sobre o edifício dramático, do qual destaco o seguinte trecho: Em todos os tempos se falou e discutiu acerca do Teatro. Não há ninguém, autor, ator, espectador, que não seja ao mesmo tempo critico e esteticista. Professor de literatura ou de dicção, moralista, decorador ou cabeleireiro, cada qual tem opiniões sobre teatro, cada qual tira as suas conclusões. Acústica, fonética, ótica, pintura, escultura, música, dança ou mímica, leis dos gêneros, leis das três unidades, tudo que se refere ao teatro é julgado diariamente, tudo serve para edificar teorias ou sistemas, para explicar e classificar. Cada qual julga como entende, cada qual pensa ter a última palavra. Mas tudo isso não passa de variações de circunstâncias ou de estudos de pormenor. A arte dramática não se baseia sobre uma ou varias ciências. Apologetica, exegese, critica, psicologia ou filosofia são muito uteis, mas não passam de jogos de espirito e não são verdadeiro conhecimento. Cada civilização, cada época tem o seu teatro, que lhe é particular com os seus textos, a sua arte de exprimir, pela dança, o canto ou a palavra; cada época tem os seus públicos, os seus modos de representar, os seus ritos, os seus usos, as suas regras, as suas observações, as suas buscas. Mas o problema essencial está para além destes debates: é o ato drmatico, efusão inanalisável, indissociável entre três participantes, que satisfaz a um instinto indestrutível, inseparável da existência humana, faculdade inata de dramatizar e de ser dramatizado e só pelo que o teatro pode ser considerado. Só, na minha opinião, o edifício dramático pode dar uma ideia do teatro, só o edifício pode permitir meditar, aprender e compreender o que é o teatro a partir deste gosto, desta particularidade essencial a todo o individuo, qualquer que seja a época ou a civilização a que pertence. Veja mais aqui.

TURTLES CAN FLY – O filme Turtles can fly (Tartarigas podem voar, 2004), escrito, produzido e dirigido pelo cineasta iraniano Bahman Ghobadi, o primeiro filme feito no Iraque depois da queda de Saddam Hussein, ambientado no campo de refugiados iraqueano, contando uma história que se passa na fronteira entre Irã e Iraque, semanas antes da invasão do Iraque pelas tropas norte-americanas, num acampamento de refugiados curdos, local onde as pessoas se reúnem para ouvir as notícias da guerra. A figura central desse grupo é Satélite (Soran Ebrahim), um garoto que exerce a liderança entre crianças, jovens e adultos. O filme registra o caos em que essas pessoas vivem, o isolamento e a completa falta de informações relativas à guerra. Agrin (Avaz Latif), uma garota de 14 anos, chega à região com seu irmão e um filho pequeno. Eles, que encontram dificuldade em se relacionar com os outros refugiados, também acabam de passar por uma experiência traumática. Satélite tenta a aproximação, mas quase não há diálogo entre eles. Agrin entra em conflito também com o irmão, que pede que esperem mais um tempo antes de procurarem novo abrigo. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Foto do lançamento da antologia Brincarte II, 1999. Veja mais aqui e aqui

 Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Quarta Romântica, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial de Meimei Corrêa. Para conferir online acesse aqui.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Aprume aqui.