quinta-feira, julho 30, 2015

QUINTANA, ANÍBAL, CAGE, SOURRIAU, GNERRE, BERTOLUCCI, VISTONTI, TRÍPLICE DEUSA INCA & CIRCO ITINERANTE!




Nude Woman with Veil, do pintor ítalo-brasileiro Eliseu Visconti (1866-1944). Veja mais aqui.


Curtindo Sonatas and Interludes for Prepared Piano + A Book of Music for Two Prepared Pianos (1946-48), do compositor, teórico musical, escritor e anarquista John Cage (1912-1992), performance de Joshua Pierce ao piano (Tomato Records). Veja mais aqui.

LINGUAGEM, PODER E DISCRIMINAÇÃO – O livro Linguagem, escrita e poder (Martins Fontes, 2009), do antropólogo e linguísta Maurizio Gnerre, aborda temas como perspectiva histórica e linguística, gramatica normativa e discriminação, considerações sobre o campo de estudo da escrita, as crenças e dúvidas sobre a escrita, escritas alfabéticas e não-alfabeticas, a escrita e o estudo da linguagem, posições teóricas e contribuições de psicólogos e antropólogos. Do livro destaco o trecho: No quadro defiticitário e deformado da educação brasileira, é lugar-comum alarmar-se diante da fragilidade do desempeno verbal – sobretudo, escrito – do conjunto de seus protagonistas, não apenas discentes. Entretanto, raras vezes esse alarme evolui claramente para uma avaliação crítica séria e abrangente dos problemas de diferentes ordens manifestados nessas área. Geralmente, ele tende a diluir-se nas fórmulas bem conhecidas do conformismo didático de técnicas supostamente motivadoras e criativas. A evitar atitudes desse tipo, é preciso atentar, pelo menos, para uma exigência básica: a adoção de um ponto de vista não-convencional sobre a linguagem, sua natureza, seus modos de funcionamento, suas eventuais finalidades, suas relações com a cultura e as implicações complexas que ela mantem com a ideologia. É preciso partir de uma concepção de linguagem que não a confine a uma coletânea abritária de regras e exceções, e, tampouco, a um rígido bloco formalizado, imune às variações e diferenças existentes nas situações concretas em que a linguagem se torna, de fato, um processo de significação [...]. Veja mais aqui.

A MORTE DA PORTA-ESTANDARTE – No livro A Morte da Porta-Estandarte e Outras Histórias (José Olympio, 1969), do escritor, professor e homem de teatro Aníbal Machado (1894-1964), encontro o conto homônimo do qual destaco o trecho a seguir: [...] O crime do negro abriu uma clareira silenciosa no meio do povo. Ficaram todos estarrecidos de espanto vendo Rosinha fechar os olhos. O preto ajoelhado bebia-lhe mudamente o último sorriso, e inclinava a cabeça de um lado para outro como se estivesse contemplando uma criança. Uma Escola de Samba repontava no Mangue. Ainda se ouviam aclamações à turma da Mangueira. Quando o canto-foi-se aproximando, a mulata parecia que ia levantar-se. E estava sorrindo como se fosse viva, como se estivesse ouvindo as palavras que o assassino agora lhe sussurra baixinho aos ouvidos. O negro não tira os olhos da vitima. Ela parecia sorrir; os curiosos é que queriam chorar. A qualquer momento ela poderia se erguer para dançar. Nunca se viu defunto tão vivo. Estavam esperando esse milagre. Ouvia-se uma canção que parece ter falado ao criminoso: Quem quebrou meu violão de estimação? Foi ela... Ainda apareceram algumas mães retardatárias rondando de longe a morta. A morta não tinha mãe nem parentes, só tinha o próprio assassino para chorá-la. É ele quem lhe acaricia os cabelos, lhe faz uma confidencia demorada, a chama pelo nome: - Está na hora, Rosinha... Levanta, meu bem.... É o “Lira do Amor” que vem chegando... Rosinha, você não me atende! Agora não é hora de dormir... Depressa, que nós estamos perdendo... O que é que foi? Você caiu? Como foi?... Fui eu? Eu?... Eu, não! Rosinha... Ele dobra os joelhos para beijá-la. Os que não queriam se comover foram-se retirando. O assassino já não sabe bem onde está. Vai sendo levado agora para um destino que lhe é indiferente. É ainda a voz da mesma canção que lhe fará alguma coisa ao desespero: Quem fez meu coração seu barrão,  foi ela...  [...] Veja mais aqui e aqui.

A TERRA, NOTURNO & AH, SIM, A VELHA POESIA – No livro Nova antologia poética (Codecri, 1981), do poeta, tradutor e jornalista Mário Quintana (1906-1994), destaco, primeiramente, o seu poema A Terra: As fronteiras foram riscadas no mapa, / a Terra não sabe disso: / são para ela tão inexistentes / como esses meridianos com que os velhos sábios a recortavam / como se fosse um melão. / É verdade que vem sentindo há muito uns pruridos, / uma leve comichão que às vezes se agrava: / ela não sabe que são os homens… / Ela não sabe que são os homens com as suas guerras / e outros meios de comunicação. Também o belíssimo Noturno: Nem tudo está / mudado: / durante o sono / o passado / em cada esquina põe um daqueles lampiões. / E os autos, minha filha, esses ainda nem foram inventados... / Só essa velha carruagem rodando rodando / sobre as pedras irregulares do calçamento. / Essa velha carruagem que passa, noite alta, pelas ruas, ... / E ao fundo do teu sono há uma lamparina acesa / - das que outrora havia ao pé de alguma imagem. / Ela arde sem saber como a parede é nua. / Mas / há um cigarro que se fez em cinza à tua / cabeceira – sem simbolismo algum – um toco / de cigarro apenas... Por fim, Ah, sim, a velha poesia: Ah, sim, a velha poesia.../ Poesia, a minha velha amiga... / eu entrego-lhe tudo / a que os outros não dão importância nenhuma... / a saber: / o silêncio dos velhos corredores / uma esquina / uma lua / (porque há muitas, muitas luas...) / o primeiro olhar daquela primeira namorada / que ainda ilumina, ó alma, / como uma tênue luz de lamparina, / a tua câmara de horrores. / E os grilos? / Não estão ouvindo lá fora, os grilos? / Sim, os grilos... / Os grilos são os poetas mortos. / Entrego-lhes grilos aos milhões um lápis verde um retrato / amarelecido um velho ovo de costura os teus pecados / as reivindicações as explicações – menos / o dar de ombros e os risos contidos / mas / todas as lágrimas que o orgulho estancou na fonte / as explosões de cólera / o ranger de dentes / as alegrias agudas até o grito / a dança dos ossos... / Pois bem, / às vezes / de tudo quanto lhe entrego, a Poesia faz uma coisa que / parece que nada tem a ver com os ingredientes mas que / tem por isso mesmo um sabor total: eternamente esse / gosto de nunca e de sempre. Veja mais aqui, aqui e aqui.

O ESPAÇO TEATRAL – No livro Chaves da estética (Civilização Brasileira, 1973), do filósofo francês Étienne Souriau (1892-1979), encontro o texto O cubo e a esfera, do qual destaco o trecho seguinte: Tenho a intenção de pôr, em poucas palavras, o princípio de uma discussão possível, apresentando, a proposito do espaço teatral, duas concepções diferentes, não só da realidade cênica, mas até de toda a arte teatral. Talvez, até, estas duas concepções revelem duas formas de espírito diferentes; e se esta morfologia dos espíritos teatrais (espectadores, atores, autores) me leva a falar de espíritos esféricos ou espíritos cúbicos, peço desculpa, antecipadamente, desta terminologia bizarra. [...] Parto do princípio de que em todas as artes, sem exceção, mas singularmente na arte teatral, trata-se de apresentar, de por em patuidade, todo um universo: o universo da obra. Em patuidade: uso de um termo filosófico um tanto raro que não deve perturbar-vos: designa a existência brilhante, que se manifesta poderosamente nos espíritos. Um universo em presença brilhante... um universo apresentado no seu pleno poder de nos emocionar, de nos transtornar, de nos impor a sua realidade, de ser, para nós, durante uma ou duas horas, toda a realidade. [...] Portanto, uma vez mais, deve ser-nos presente todo um universo, mas posto, sustentado, evocado por um núcleo central, por essa pequena porção de realidade realizada, se assim pode dizer-se, que se nos coloca sob os olhos e de que o punctum saliens, o coração batendo vivo, o centro ativo, é o grupo momentâneo dos atores em cena. Mas como obter essa presença total, essa vida comum de todo o universo da obra, a partir desse pequeno coração palpitante, desse ponto central presente e atuante de que o essencial é uma mínima constelação de personagens? É aqui que se apresenta, dois processos (evidentemente, estilizo, simplifico, tomo os dois casos mais puros e mais extremos, na sua mais evidente oposição). Primeiro processo: o que chamo de cubo. [...] E passemos, agora, ao princípio esférico. Ver-se-á que é completamente diferente. É outro o seu dinamismo prático e estético (bem entendido que uma vez mais estilizo, exagero até o caso piro e extremo). [...] Veja mais aqui.

OS SONHADORES – O drama Os sonhadores (The Dreamers, 2003), do cineasta e roteirista italiano Bernardo Bertolucci, é baseado no romance The Holy Innocents (Os inocentes sagrados), de Gilbert Adair, contando a história de um jovem estudante americano que está na Fraça em 1968, num intercâmbio e que, em suas idas à cinemateca, conhece um casal de gêmeos que compartilham da mesma paixão pelo cinema. O casal convida o jovem para um jantar quando descobre que eles possuem um relacionamento estranho, quando os pais viajam e eles iniciam um triângulo que envolve jogos psicológicos e sexuais sobre a temática do cinema. O destaque do filme fica por conta da belíssima atriz e modelo francesa Eva Green que ficou internacionalmente com este filme. Veja mais aqui, aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
 
Hoje é dia da Tríplice Deusa Inca: Mama Kila, Mama Ogllo e Mama Cocha.


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa SuperNova, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial de Meimei Corrêa. Para conferir online acesse aqui.

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