Imagem: Acervo ArtLAM.
Ao som de Knell for Orchestra (2018), Run
Run for Orchestra (2017) e Lambda of Life’s Frequency for Orchestra
(2014), da compositora e pianista iraniana Niloufar Nourbakhsh,
fundadora da Associação Iraniana de Compositoras Femininas.
ALMA DO CHÃO CAETÉ - Sou desta terra, como a vitalidade da folia
na alma deste chão. Sigo adiante e nenhuma mata há mais. Prossigo passo
suave claudicante na descoberta dos mil nomes de Gaia: um voo perdido pelas
imediações do vulcão de Tonga. Até onde a memória possa alcançar o que ninguém
viu do diário da recorrente queda abissal. Às vistas quantas incertezas com a
face obscura da guerra, o colapso global! Gaza é aqui e em todo lugar. O que
tenho se confunde com as almas penadas erráticas de lá pra cá e vice-versa,
quase nem sei que dia do mês ou ano vindouro: perdi datas e direções, quase sou
levado pelo furacão consumista das luminosas ofertas. Não dá tempo nem para
olhar de lado, quanto mais refletir o que se passa. Escapar, eis a questão. Como
dissera Alba de Céspedes: Na
realidade, num determinado momento, cada um de nós muda, torna-se diferente,
uns avançam, outros ficam parados, e enfim partimos em direções opostas, de
modo que já não há encontro, já não há nada em comum... O que respiro é o que ninguém sabe ou nem
queira saber do que se passa aqui ou na Etiópia, em Mianmar, no Iëmen, em
Burkina Faso, na Somália, Sudão, Nigéria ou Síria, ou dos mais de 7 milhões que
sucumbiram à COVID-19. Tudo tão perto e ninguém aí. Todo lugar é outro, não há
explicação. A menos que subitamente me veja diante do Conselheiro de Canudos
ou de um general do exército conduzindo a saúde para a morte de todos,
verdadeiro genocídio. Se não é a mesma coisa, quem escapou sabe de Alyson Noël: A vida ainda é vida. Ainda é difícil, complicado e mais do que um
pouco confuso, com lições a serem aprendidas, erros a serem cometidos, triunfos
e decepções a serem tidos, e nem todos os dias devem ser uma festa... Ninguém
tem noção do que seja a quinta força da natureza, ou dos múons, a matéria
escura e a infodemia. Para quem se perdeu pelos 7 mares, a lonjura não mais
existe, paradeiro é qualquer ermo. Sim, Marina Abramović: Porque no final você está realmente
sozinho, faça o que fizer... Quanto mais você pensa sobre a morte e a
mortalidade, mais você aproveita a vida. Porque
assim você não perde tempo. Você apenas se
concentra... E como quem findou as
anotações da zilionésima viagem eu digo: Sim, Mãe caeté do quilombo em que
nasci com a lágrima de Nísia Floresta, Malunguinho também na terra do que sou, vida que me cabe... Até mais ver.
UM POEMA
Imagem: Acervo ArtLAM.
XXVII - Lembro-me da hora tortuosa da minha vida \ em que fiz as perguntas exatas,
\ momento em que minha carne começou a apodrecer \ e o impostor sorridente
ficará cheio de orgulho \ quem serve as mesas e encha as tigelas \ com trigo
nos dias de festa. \ Esqueci o toque das bochechas de Artemis, \ Esqueci o
formato específico do pescoço florido de Attis, \ Esqueci que tinha a pele
branca. \ No meu diário há apenas um insistente cheiro de madeira e ferrugem, \
também leite azedo e folhas de tabaco, \ também ao sangue infantil, também
lodo. \ Aquela hora torta para abandonar meu gêmeo dourado no porão \ Parecia
uma saída definitiva. \ Na mesma hora quando os grilos desistiram das minhas
noites \ e as pegas começaram a cantar no meu ouvido. \ Eu também esqueci as
bordas das minhas clavículas na frente do espelho, \ naquela hora tortuosa sob
a luz preguiçosa das lâmpadas \ Eu virei tudo de costas. \ Dancei um pas de
deux com a fera; \ o que eu chamo de identidade é uma figura armada com os
restos podres do banquete, \ um espantalho de carne, osso e água, muita agua, \
que se move com a graça de um espantalho e caminha. \ Na hora tortuosa da minha
vida \ Comecei a escrever este poema, com o penúltimo suspiro de um
sobrevivente \ que conheço desde que nasci, \ servir como o último arranhão na
carne pingente de destino, \ como um apoio para alcançar a superfície e grite
ao miserável deus do tempo: \ Filho da puta, ainda estou aqui.
Poema
extraído da obra La habitación de las ahogadas (Harpo Libros, 2017), da escritora e
dramaturga espanhola Alana Portero.
O CAMINHO DO ARTISTA - [...] Em tempos de
dor, quando o futuro é assustador demais para ser contemplado e o passado
doloroso demais para ser lembrado, aprendi a prestar atenção no agora. O momento preciso em que eu estava sempre
foi o único lugar seguro para mim. [...] Mas
você sabe quantos anos terei quando aprender a realmente tocar piano / atuar / pintar
/ escrever uma peça decente? [...] Não importa a sua idade ou o seu
percurso de vida, se fazer arte é a sua carreira, o seu hobby ou o seu sonho,
não é demasiado tarde, nem demasiado egoísta, nem demasiado egoísta ou
demasiado tolo para trabalhar a sua criatividade. [...] A arte séria
nasce do jogo sério. [...] A criatividade – como a própria vida humana –
começa na escuridão [...] Progresso, não perfeição, é o que deveríamos
pedir a nós mesmos. [...] A sobrevivência reside na sanidade, e a
sanidade reside em prestar atenção... a capacidade de deleite é o dom de
prestar atenção. [...] A criatividade ocorre no momento, e no momento
somos atemporais. [...] A arte nasce da atenção. [...]. Trechos
extraídos da obra The Artist's Way: A Spiritual Path to Higher Creativity
(TarcherPerigee, 2016), da escritora, dramaturga,
cineaste, compositora, jornalista e professora estadunidense Julia Cameron.
A CRISE DO CAPITALISMO – [...] Para muita gente, a noção de
anticapitalismo parece ridícula. Afinal, olhem para as fantásticas inovações
tecnológicas em bens e serviços produzidos pelas empresas capitalistas nos
últimos anos: smartphones; filmes em streaming; carros privados sem
motoristas; redes sociais; a cura para uma série de doenças; telões gigantes em
alta definição para passar jogos de futebol e videogames conectando milhares de
jogadores ao redor do mundo; cada produto concebível está agora disponível na
internet e será rapidamente entregue em sua casa; aumentos impressionantes na
produtividade do trabalho por meio de tecnologias de automação; e a lista
segue. E ainda que se afirme que a renda é desigualmente distribuída nas
economias capitalistas, é também verdade que a variedade de bens de consumo
disponíveis para a maioria das pessoas, inclusive para os mais pobres, aumentou
enormemente em praticamente todo o mundo. [...] a marca registrada do
capitalismo é a miséria que ele gera em meio à abundância. Essa não é a única
coisa errada no capitalismo, mas é uma característica comum das economias
capitalistas e que inclusive é o seu maior fracasso. Em particular, a miséria
que atinge as crianças, que claramente não têm qualquer responsabilidade por
seu sofrimento, é algo moralmente repreensível em sociedades ricas nas quais
essas formas de pobreza poderiam facilmente ser eliminadas. Sim, nós temos
crescimento econômico, inovação tecnológica, aumento na produtividade e uma
difusão verticalizada de bens de consumo, mas somado a tudo isso, junto do
crescimento econômico capitalista, juntamente vem a destituição de muitos cuja
forma de vida foi destruída pelo avanço do capitalismo, com a precarização dos
que estão nas partes mais baixas do mercado de trabalho capitalista, promovendo
trabalhos alienantes e tediosos para a maioria. O capitalismo, de fato, gerou
aumentos massivos na produtividade e uma riqueza extravagante para alguns, mas
a maioria ainda tem que lutar pela sua subsistência. Ele é uma máquina de
aperfeiçoamento das desigualdades, bem como uma máquina de crescimento
econômico. E mais: está ficando cada vez mais claro que o capitalismo, movido
pela busca incessante por lucro, está destruindo o meio ambiente. E, ainda
assim, a questão central não é se as condições materiais não melhoraram no
longo prazo nas economias capitalistas, mas se para a maioria não seria melhor
uma forma de economia alternativa. [...] da mesma forma, não é uma
ilusão dizer que o capitalismo gera grandes prejuízos às pessoas e que perpetua
formas de sofrimento humano passíveis de serem eliminadas. Onde o verdadeiro
desacordo entre essas duas histórias aparece – e um desacordo fundamental – é
sobre se é possível ter a produtividade, a inovação e o dinamismo que vemos no
capitalismo sem ter os seus males. [...] primeiro, um outro mundo é, de
fato, possível. Segundo, que ele pode melhorar as condições para o
desenvolvimento humano da maioria das pessoas. Terceiro, que os elementos desse
novo mundo já estão sendo criados no nosso mundo atual. E, finalmente, que há formas
de caminharmos até esse novo mundo. O anticapitalismo é possível não apenas
como postura moral perante os males e as injustiças do mundo em que vivemos,
mas como uma postura prática em direção à construção de uma alternativa em prol
do desenvolvimento da humanidade. [...]. Trechos extraídos da obra Como ser anticapitalista no século XXI? (Boitempo,
2019), do sociólogo estadunidense Erik Olin Wright
(1947-2019).
SEMINÁRIO PRESENÇA INDÍGENA NA MATA SUL DE
PERNAMBUCO – PASSADO & PRESENTE
&
NESTE CANTO FINQUEI MEUS ALICERCES...
... Escrevo uma canção para quem ama \ e entre
extremos se perde e se procura: \ a vida que se busca e se tortura, \ insônia
que me invade e que me inflama...
Trecho do poema extraído da obra Linha d’água
(CEPE, 2007), do poeta Jaci Bezerra. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e
aqui.