terça-feira, novembro 28, 2023

ALANA PORTERO, JULIA CAMERON, ERIK WRIGHT, JACI BEZERRA & INDÍGENA DA MATA SUL

 

Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som de Knell for Orchestra (2018), Run Run for Orchestra (2017) e Lambda of Life’s Frequency for Orchestra (2014), da compositora e pianista iraniana Niloufar Nourbakhsh, fundadora da Associação Iraniana de Compositoras Femininas.

 

ALMA DO CHÃO CAETÉ - Sou desta terra, como a vitalidade da folia na alma deste chão. Sigo adiante e nenhuma mata há mais. Prossigo passo suave claudicante na descoberta dos mil nomes de Gaia: um voo perdido pelas imediações do vulcão de Tonga. Até onde a memória possa alcançar o que ninguém viu do diário da recorrente queda abissal. Às vistas quantas incertezas com a face obscura da guerra, o colapso global! Gaza é aqui e em todo lugar. O que tenho se confunde com as almas penadas erráticas de lá pra cá e vice-versa, quase nem sei que dia do mês ou ano vindouro: perdi datas e direções, quase sou levado pelo furacão consumista das luminosas ofertas. Não dá tempo nem para olhar de lado, quanto mais refletir o que se passa. Escapar, eis a questão. Como dissera Alba de Céspedes: Na realidade, num determinado momento, cada um de nós muda, torna-se diferente, uns avançam, outros ficam parados, e enfim partimos em direções opostas, de modo que já não há encontro, já não há nada em comum... O que respiro é o que ninguém sabe ou nem queira saber do que se passa aqui ou na Etiópia, em Mianmar, no Iëmen, em Burkina Faso, na Somália, Sudão, Nigéria ou Síria, ou dos mais de 7 milhões que sucumbiram à COVID-19. Tudo tão perto e ninguém aí. Todo lugar é outro, não há explicação. A menos que subitamente me veja diante do Conselheiro de Canudos ou de um general do exército conduzindo a saúde para a morte de todos, verdadeiro genocídio. Se não é a mesma coisa, quem escapou sabe de Alyson Noël: A vida ainda é vida. Ainda é difícil, complicado e mais do que um pouco confuso, com lições a serem aprendidas, erros a serem cometidos, triunfos e decepções a serem tidos, e nem todos os dias devem ser uma festa... Ninguém tem noção do que seja a quinta força da natureza, ou dos múons, a matéria escura e a infodemia. Para quem se perdeu pelos 7 mares, a lonjura não mais existe, paradeiro é qualquer ermo. Sim, Marina Abramović: Porque no final você está realmente sozinho, faça o que fizer... Quanto mais você pensa sobre a morte e a mortalidade, mais você aproveita a vida. Porque assim você não perde tempo. Você apenas se concentra... E como quem findou as anotações da zilionésima viagem eu digo: Sim, Mãe caeté do quilombo em que nasci com a lágrima de Nísia Floresta, Malunguinho também na terra do que sou, vida que me cabe... Até mais ver.

 

UM POEMA

Imagem: Acervo ArtLAM.

XXVII - Lembro-me da hora tortuosa da minha vida \ em que fiz as perguntas exatas, \ momento em que minha carne começou a apodrecer \ e o impostor sorridente ficará cheio de orgulho \ quem serve as mesas e encha as tigelas \ com trigo nos dias de festa. \ Esqueci o toque das bochechas de Artemis, \ Esqueci o formato específico do pescoço florido de Attis, \ Esqueci que tinha a pele branca. \ No meu diário há apenas um insistente cheiro de madeira e ferrugem, \ também leite azedo e folhas de tabaco, \ também ao sangue infantil, também lodo. \ Aquela hora torta para abandonar meu gêmeo dourado no porão \ Parecia uma saída definitiva. \ Na mesma hora quando os grilos desistiram das minhas noites \ e as pegas começaram a cantar no meu ouvido. \ Eu também esqueci as bordas das minhas clavículas na frente do espelho, \ naquela hora tortuosa sob a luz preguiçosa das lâmpadas \ Eu virei tudo de costas. \ Dancei um pas de deux com a fera; \ o que eu chamo de identidade é uma figura armada com os restos podres do banquete, \ um espantalho de carne, osso e água, muita agua, \ que se move com a graça de um espantalho e caminha. \ Na hora tortuosa da minha vida \ Comecei a escrever este poema, com o penúltimo suspiro de um sobrevivente \ que conheço desde que nasci, \ servir como o último arranhão na carne pingente de destino, \ como um apoio para alcançar a superfície e grite ao miserável deus do tempo: \ Filho da puta, ainda estou aqui.

Poema extraído da obra La habitación de las ahogadas (Harpo Libros, 2017), da escritora e dramaturga espanhola Alana Portero.

 

O CAMINHO DO ARTISTA - [...] Em tempos de dor, quando o futuro é assustador demais para ser contemplado e o passado doloroso demais para ser lembrado, aprendi a prestar atenção no agora. O momento preciso em que eu estava sempre foi o único lugar seguro para mim. [...] Mas você sabe quantos anos terei quando aprender a realmente tocar piano / atuar / pintar / escrever uma peça decente? [...] Não importa a sua idade ou o seu percurso de vida, se fazer arte é a sua carreira, o seu hobby ou o seu sonho, não é demasiado tarde, nem demasiado egoísta, nem demasiado egoísta ou demasiado tolo para trabalhar a sua criatividade. [...] A arte séria nasce do jogo sério. [...] A criatividade – como a própria vida humana – começa na escuridão [...] Progresso, não perfeição, é o que deveríamos pedir a nós mesmos. [...] A sobrevivência reside na sanidade, e a sanidade reside em prestar atenção... a capacidade de deleite é o dom de prestar atenção. [...] A criatividade ocorre no momento, e no momento somos atemporais. [...] A arte nasce da atenção. [...]. Trechos extraídos da obra The Artist's Way: A Spiritual Path to Higher Creativity (TarcherPerigee, 2016), da escritora, dramaturga, cineaste, compositora, jornalista e professora estadunidense Julia Cameron.

 

A CRISE DO CAPITALISMO – [...] Para muita gente, a noção de anticapitalismo parece ridícula. Afinal, olhem para as fantásticas inovações tecnológicas em bens e serviços produzidos pelas empresas capitalistas nos últimos anos: smartphones; filmes em streaming; carros privados sem motoristas; redes sociais; a cura para uma série de doenças; telões gigantes em alta definição para passar jogos de futebol e videogames conectando milhares de jogadores ao redor do mundo; cada produto concebível está agora disponível na internet e será rapidamente entregue em sua casa; aumentos impressionantes na produtividade do trabalho por meio de tecnologias de automação; e a lista segue. E ainda que se afirme que a renda é desigualmente distribuída nas economias capitalistas, é também verdade que a variedade de bens de consumo disponíveis para a maioria das pessoas, inclusive para os mais pobres, aumentou enormemente em praticamente todo o mundo. [...] a marca registrada do capitalismo é a miséria que ele gera em meio à abundância. Essa não é a única coisa errada no capitalismo, mas é uma característica comum das economias capitalistas e que inclusive é o seu maior fracasso. Em particular, a miséria que atinge as crianças, que claramente não têm qualquer responsabilidade por seu sofrimento, é algo moralmente repreensível em sociedades ricas nas quais essas formas de pobreza poderiam facilmente ser eliminadas. Sim, nós temos crescimento econômico, inovação tecnológica, aumento na produtividade e uma difusão verticalizada de bens de consumo, mas somado a tudo isso, junto do crescimento econômico capitalista, juntamente vem a destituição de muitos cuja forma de vida foi destruída pelo avanço do capitalismo, com a precarização dos que estão nas partes mais baixas do mercado de trabalho capitalista, promovendo trabalhos alienantes e tediosos para a maioria. O capitalismo, de fato, gerou aumentos massivos na produtividade e uma riqueza extravagante para alguns, mas a maioria ainda tem que lutar pela sua subsistência. Ele é uma máquina de aperfeiçoamento das desigualdades, bem como uma máquina de crescimento econômico. E mais: está ficando cada vez mais claro que o capitalismo, movido pela busca incessante por lucro, está destruindo o meio ambiente. E, ainda assim, a questão central não é se as condições materiais não melhoraram no longo prazo nas economias capitalistas, mas se para a maioria não seria melhor uma forma de economia alternativa. [...] da mesma forma, não é uma ilusão dizer que o capitalismo gera grandes prejuízos às pessoas e que perpetua formas de sofrimento humano passíveis de serem eliminadas. Onde o verdadeiro desacordo entre essas duas histórias aparece – e um desacordo fundamental – é sobre se é possível ter a produtividade, a inovação e o dinamismo que vemos no capitalismo sem ter os seus males. [...] primeiro, um outro mundo é, de fato, possível. Segundo, que ele pode melhorar as condições para o desenvolvimento humano da maioria das pessoas. Terceiro, que os elementos desse novo mundo já estão sendo criados no nosso mundo atual. E, finalmente, que há formas de caminharmos até esse novo mundo. O anticapitalismo é possível não apenas como postura moral perante os males e as injustiças do mundo em que vivemos, mas como uma postura prática em direção à construção de uma alternativa em prol do desenvolvimento da humanidade. [...]. Trechos extraídos da obra Como ser anticapitalista no século XXI? (Boitempo, 2019), do sociólogo estadunidense Erik Olin Wright (1947-2019).

 

SEMINÁRIO PRESENÇA INDÍGENA NA MATA SUL DE PERNAMBUCO – PASSADO & PRESENTE

O Seminário: A Presença Indígena na Zona da Mata de Pernambuco - Passado e Presente, organizado numa parceria entre Movimento de Retomada Mata Sul Indígena com a Escola Livre de Museologia Política/PE e a Biblioteca Pública Municipal Fenelon Barreto. O Movimento de Retomada Mata Sul Indígena surgiu em 2020, com objetivo de revitalizar a língua originária, salvaguardar saberes/práticas ancestrais e lutar pelo direito à terra/território, pela soberania alimentar e recuperação da vegetação nativa (Mata Atlântica). Com uma programação repleta de arte, cultura e resistência indígena na Zona da Mata, dedicada especialmente ao diálogo com estudantes de Palmares, realizaremos vivências com Pintura, Poesia, Dança e Cinema Indígena, incluindo uma oficina de Caboclinho com Iara Campos e um vídeo-debate com integrantes do Mov. Mata Sul Indígena e do Maraká Urbano: organização que desenvolve um importante trabalho de pesquisa e articulação sobre as culturas indígenas da Mata Norte, sediado em Paudalho. Haverá uma roda de conversa inédita com pesquisadores/as e ativistas que têm investigado os povos indígenas nas Matas Norte e Sul, a partir de Escada-PE, Palmares-PE e Paudalho-PE, localidades de marcante presença indígena. Como encerramento, o historiador Edson Silva/UFPE realizará a conferência “Os indígenas na História na Mata Sul pernambucana: descolonizar narrativas ufanistas hegemônicas”. A atividade compõe o I Ciclo Formativo da ELMP/PE, iniciado em agosto, reunindo integrantes/gestores/as das iniciativas de memória/museus comunitários e de movimentos sociais que têm participado das ações da Escola, a partir do mapeamento de acervos comunitários em curso no segundo semestre de 2023. E acontecerá nesta quarta, 29/11, a partir das 8h, na Biblioteca Fenelon Barreto.

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NESTE CANTO FINQUEI MEUS ALICERCES...

... Escrevo uma canção para quem ama \ e entre extremos se perde e se procura: \ a vida que se busca e se tortura, \ insônia que me invade e que me inflama...

Trecho do poema extraído da obra Linha d’água (CEPE, 2007), do poeta Jaci Bezerra. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.