segunda-feira, setembro 21, 2020

NÉLIDA PIÑON, XENOFONTE, GABRIELA GELUDA & ARMANDO LÔBO, CAMPANELLA, GERALDO BARROS & ORQUESTRA POPULAR DO RECIFE

 


DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... O FUNDO DO POÇO & ANÁBASE - Da janela do meu quarto, a solidão. O céu é azul além da galáxia, o infinito. Não sou nada no diário do Fecamepa, este o inexorável Hades de agora em plena ebulição. Não há mais para onde ir, o fundo do poço. Não há túneis, nenhuma luz. Alguém se aproxima e não consigo identificar, sei que ronda no escuro. A voz sem portas esconde o terror lá fora, escuto e rodopio o labirinto da conversa, ele me diz de anábase e é Xenofonte: Vejo, porém, que, todos aqueles que ensinam, praticam o que ensinam a fim de edificar pelo exemplo os que aprendem, da mesma forma que os estimulam pela palavra. As palavras somem de repente, na escuridão não há corredores, degraus, azo. A sensação de calabouço, cadafalso. Falo comigo mesmo, os meus outros eus escapuliram, fugaram. Mãos à parede, delas a sentença fria, celerada. Algum lugar para onde ir, voo.

 


DUAS IDEIAS NO ESCURO, POEMÓPERA – Uma voz ecoa longínqua, pode ser sonho, nunca se sabe. Loucura ou não, uma mulher a se debater, parece. Dela a barulhada sonora do que é daqui e dagora, fanal alvissareiro e operístico, nem sei onde. Sigo bússola bacorejante que vem de lá ou acolá, alguns sopranos solasidós. Atento, espreita cega, ela chega quase imperceptível com a luminosidade de sua pele branca, como se fosse Gaia, venerável matrona e mãe dos deuses e gigantes, do bem e dos males, das virtudes e vícios, dos monstros marinhos e de todas as coisas vivas e mortas. Chegou como se fosse para minha redenção e coroada de flores invisíveis que brotam dos cabelos prateados, a me mostrar nas suas vestes negras transparentes o que dos seus seios jorram de leite à vida e do seu manto abrigo de céus e infernos. Dela uma auréola de nuvens de pássaros às revoadas e cantantes. Solfeja ela poemópera e se faz Gabriela Geluda, oh a minha vida, oh a minha vida, o meu tesouro... e a girar e gira girando a me envolver na sua apoteótica e performática expressão Penélope19, de Armando Lôbo. Ah, giro a vida e sonho. Ao final do espetáculo, olhos nos olhos, seus braços envolventes de clausura e rompante, a me dizer Nélida Piñon: O ser humano é um peregrino. É só na aparência que ele tem uma geografia. Se vive e se escreve sem rede de segurança. O escritor não deve apenas criar, mas deve também emprestar a sua consciência à consciência dos seus leitores, sobretudo num país como o Brasil. E me beija a vertigem e sou de volta o que desce para o que não há mais e são ruas dos meus sonhos no seu corpo e ela vai embora como quem leva a minha vida para nunca mais.

 


TRÊS PASSOS & A VIAGEM DE VOLTA – (Imagem: arte de Geraldo Barros) - A vida e só para valer, só vale mesmo quando inventada e reinventada todo dia, o dia todo. Sim, recomeçar, remover a casca, mudar de pele, outros arrebóis imaginados e vividos. Os passos no chuvisco do tempo miserável entre perguntas e terrores, arrebatado entre o que é permitido e não, tudo isso é nada. Em mim tudo amanhece no Hino de Akhenaton. Ouço da cidadede Campanella: o amor à coisa pública aumenta na medida em que se renuncia ao interesse particular... ninguém deve apropriar-se das partes que cabe aos outros. Aí me refaço, assim sempre fiz. Afinal, me reconstruo com essa a lição: O Sol nasce para todos. Até mais ver.

 

ORQUESTRA POPULAR DO RECIFE

A arte de um dos mais importantes grupos pernambucanos, Orquestra Popular do Recife, idealizada em 1975 pelo escritor e professor Ariano Suassuna e, inicialmente, foi regida pelo Maestro Duda. A partir de 1977, a direção artística e musical foi assumida pelo maestro, arranjador, professor e compositor Ademir Araújo, o Formiga. Dela curtindo os álbuns E o frevo continua (2007) e Olha o Mateus! (2005). Veja mais aqui, aqui & aqui.

 


 


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...