quarta-feira, setembro 16, 2020

RIMBAUD, TUNGA, MERRIT MOORE, ENEIAS & MANI MANDIOCA



DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE AQUELA... ENTRE ANDAÇOS & ENLEVOS ÀS DESORAS - Cantoconto, sou a solidão de Eneias. Também tenho horror a todos os ofícios e não usarei as mãos para manchar a alma, vivo em toda parte. Dos meus antepassados, todos mortos sepultados no ventre e estou só. Eu sei, só os covardes estão vivos, porque o meu povo está inspirado pela febre e pelo câncer, o vício estúpido e a podridão, são todos calamidades. Não exponho meus desgostos e traições, não sei para onde nem por que vou. Agora mesmo a primavera se confunde com outono, os mil amores crucificados como se o inverno fosse o conforto e eu perdi a noção de tudo. Escrevo silêncios, sofismas mágicos e alucinadas palavras inumeráveis, a alquimia do verbo. Tal Rimbaud: é evidente que sempre fui de uma raça inferior: Não posso compreender a revolta. Minha raça não se rebelou jamais, a não ser para a pilhagem: como os lobos que atacam o animal que não mataram. Meu navio a sorte inventa e não há como atracar com a desilusão dos sonhos. Persigo o voo, sozinho.

DUAS DE MANI – A primeira, do escritor, etnólogo e folclorista José Vieira Couto de Magalhães; a segunda, das Estórias e lendas de Goiás e Mato Grosso; afora a das Lendas dos índios do Brasil (São Paulo, 1946), de Herbert Baldus; a da Antologia das lendas do índio brasileiro (RJ, 1957) e a reunida no Dicionário do folclore brasileiro (Global, 2001), do saudoso Câmara Cascudo. Todas dão conta da menina de cujo corpo nasceu a mandioca, Manihot utilíssima, euforbiácia, nome que provêm de Mani-óca, casa de Mani, uma lenda da raça Tupi. Aquela da jovem índia que apareceu grávida e o chefe, indignado por seu orgulho maculado, insistiu na punição do responsável. Ela, inflexível, dizia nunca ter tido relação alguma. Nove meses depois nascia uma menina branca e lindíssima, fato que gerou bastante surpresa na tribo e noutras nações vizinhas. A menina teve o nome de Mani e andava como falava precocemente. Morreu ao cabo de um ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor. Foi enterrada dentro da própria casa onde brotou uma planta inteiramente desconhecida. A terra fendeu e cavaram reconhecendo o corpo de Mani. Então, comeram a mandioca que passou a fazer parte da culinária brasileira desde então.

TRÊS PRAS QUATRO – Imagem: arte da premiada bailarina e física quântica estadunidense, Merrit Moore. - A dança quântica e ela baila nua no meu coração como uma balzaquiana rainha que sabe que não há preferência exclusiva, basta o melhor de si no empenho e dedicação, o que preenche minhas ocas elucubrações e faz ainda mais feliz meu coração. Ensinou-me pacientemente: É preciso um cérebro criativo pra ter novas ideias no laboratório. E é preciso um cérebro analítico para saber seu centro de massa no estúdio de dança. É no seu bailado que os dias escorrem pelas tardes e noites para que a vida sorria e faça o viver uma experiência para lá de aprazível. Até mais ver.

A ARTE DE TUNGA
A arte do escultor, desenhista e artista performático Tunga - Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (1952-2016), que foi o primeiro brasileiro a ter uma obra exposta no icônico Museu do Louvre, em Paris, e possui obras em acervos permanentes de museus como o Guggenheim de Veneza, entre outros. Para criar seus trabalhos, ele investigava áreas do conhecimento como literatura, psicanálise, teatro, ciências exatas e biológicas, utilizando em suas esculturas e instalações os mais inusitados elementos para construção de suas narrativas carregadas de simbolismo. A sua obra é retratada no vídeo Tunga: 100 redes e tralhas (1997), de Roberto Moreira, no livro Tunga: Barroco de Lírios (Cosac & Naify, 1997) e a caixa Tunga (2007), constituída de sete volumes de diferentes formatos com textos, fotografias e vídeos, documentando a sua trajetória. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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