DIÁRIO DO GENOCÍDIO NO FECAMEPA – UMA: SABE
AQUELA... ENTRE ANDAÇOS & ENLEVOS ÀS DESORAS - Cantoconto, sou a solidão de Eneias. Também tenho horror a todos os ofícios e não usarei as mãos para
manchar a alma, vivo em toda parte. Dos meus antepassados, todos mortos sepultados
no ventre e estou só. Eu sei, só os covardes estão vivos, porque o meu povo
está inspirado pela febre e pelo câncer, o vício estúpido e a podridão, são
todos calamidades. Não exponho meus desgostos e traições, não sei para onde nem
por que vou. Agora mesmo a primavera se confunde com outono, os mil amores
crucificados como se o inverno fosse o conforto e eu perdi a noção de tudo. Escrevo
silêncios, sofismas mágicos e alucinadas palavras inumeráveis, a alquimia do
verbo. Tal Rimbaud: é evidente que sempre fui de uma raça
inferior: Não posso compreender a
revolta. Minha raça não se rebelou jamais, a não ser para a pilhagem: como os
lobos que atacam o animal que não mataram. Meu navio a sorte inventa e não
há como atracar com a desilusão dos sonhos. Persigo o voo, sozinho.
DUAS DE MANI – A primeira, do escritor, etnólogo e folclorista José Vieira Couto de Magalhães; a segunda, das Estórias e lendas de Goiás e Mato Grosso; afora a das Lendas dos índios do Brasil (São Paulo,
1946), de Herbert Baldus; a da Antologia
das lendas do índio brasileiro (RJ, 1957) e a reunida no Dicionário do folclore brasileiro
(Global, 2001), do saudoso Câmara Cascudo. Todas dão conta da menina de cujo
corpo nasceu a mandioca, Manihot utilíssima,
euforbiácia, nome que provêm de Mani-óca, casa de Mani, uma lenda da raça Tupi.
Aquela da jovem índia que apareceu grávida e o chefe, indignado por seu orgulho
maculado, insistiu na punição do responsável. Ela, inflexível, dizia nunca ter
tido relação alguma. Nove meses depois nascia uma menina branca e lindíssima,
fato que gerou bastante surpresa na tribo e noutras nações vizinhas. A menina
teve o nome de Mani e andava como falava precocemente. Morreu ao cabo de um
ano, sem ter adoecido e sem dar mostras de dor. Foi enterrada dentro da própria
casa onde brotou uma planta inteiramente desconhecida. A terra fendeu e cavaram
reconhecendo o corpo de Mani. Então, comeram a mandioca que passou a fazer
parte da culinária brasileira desde então.
TRÊS PRAS QUATRO – Imagem: arte da premiada bailarina e física quântica
estadunidense, Merrit Moore. - A dança
quântica e ela baila nua no meu coração como uma balzaquiana rainha que sabe
que não há preferência exclusiva, basta o melhor de si no empenho e dedicação,
o que preenche minhas ocas elucubrações e faz ainda mais feliz meu coração.
Ensinou-me pacientemente: É
preciso um cérebro criativo pra ter novas ideias no laboratório. E é preciso um
cérebro analítico para saber seu centro de massa no estúdio de dança. É no
seu bailado que os dias escorrem pelas tardes e noites para que a vida sorria e
faça o viver uma experiência para lá de aprazível. Até mais ver.
A ARTE DE TUNGA
A arte do escultor, desenhista e artista
performático Tunga - Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão
(1952-2016), que foi o primeiro brasileiro a ter uma obra exposta no
icônico Museu do Louvre, em Paris, e possui obras em acervos permanentes de
museus como o Guggenheim de Veneza, entre outros. Para criar seus trabalhos,
ele investigava áreas do conhecimento como literatura, psicanálise, teatro,
ciências exatas e biológicas, utilizando em suas esculturas e instalações os
mais inusitados elementos para construção de suas narrativas carregadas de
simbolismo. A sua obra é retratada no vídeo Tunga:
100 redes e tralhas (1997), de Roberto Moreira, no livro Tunga: Barroco de Lírios (Cosac &
Naify, 1997) e a caixa Tunga (2007), constituída
de sete volumes de diferentes formatos com textos, fotografias e vídeos,
documentando a sua trajetória. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.