PALÍNDROMOS – 10:01, luzes, zás-trás. De pai e mãe, eu; de amor e sexo,
a vida: palíndromos das horas. A infância na idolatria paterna; maternidade
protetora no ninho das mulheres e a manha pelas enfermidades: primeiro os olhos
vermelhos de fogo na roda-gigante; depois, amarelo de fígado. O menino são inventou
a escada e subiu faca nos dentes, a goiabeira: o fruto à mão, meninas em festa.
No último degrau, o espirro no telhado e a vertigem, a queda na lavanderia: a
torneira e garrafas vazias, pernas pro ar, desacordado. Era primeira lição de
sísifo, ouroboros. A vida passa e à flor da idade, o pedestre aos vinte e três anos,
a encruzilhada e a colisão de automóveis. 05:50, o transeunte é alcançado, o
atropelamento. Um corpo estendido entre o meio-fio e o asfalto, sangue na
sarjeta. A segunda lição, afora outras de somenos. Vai já meia idade e as mãos
em concha aos ouvidos, o silêncio no meio do zoadeiro. Velhice prematura,
sabedoria inócua: a arte e não ter mais o que fazer, só esperar. Quantas lições
entre gargalos, novelos, látegos, malabares, e a remover antolhos na magreza
dos instantes, lixeiras destampadas, travessias lancinantes. 00:00, domingo que
não sei se primeiro de janeiro ou diário limpo, anuário esquecido, quantos
decênios e o milênio: o ideal da felicidade é uma luz refletida no espelho. Um rol
de tantas frustrações e angústias exacerbadas, o isolamento do drama diário,
cadê o inesperado, o mundo ordinário. Resta deitar no chão e saber que o medo é
o limite da liberdade entre segredos e a insuportável convivência: insultos e
agressões veladas. Sair da linha e renascer na devastação, o que restava:
emoções encadeadas por tantos dias, 20 de março de 2003 ou 04 de abril de 2004,
semanas, anos, décadas, só daria conta muito depois de pintar o sete por muitos
sétimos períodos. A vida é morrer a cada dia e recomeçar. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] Na mesa do meu escritório, de onde avisto os
prédios do bairro da classe média alta de Higienópolis, do outro lado da
Avenida Pacaembu, em São Paulo, há um porta-retrato. Nele, uma fotografia
embaçada registra uma estranha composição: em primeiro plano um menino,
trajando uma curta blusa de flanela, um desajeitado short e um sujo par de
chinelos de dedo, tristes e assustados olhos semifechados. Pousadas em seus
ombros magros, duas mãos femininas; ao lado, parte de uma perna de calça e uma
barriga, que se advinha em breve proeminente, indica a existência de um homem
(marido das mãos femininas, talvez). Assentada sobre o braço da mulher, uma
outra mão. Pela composição das sombras, deduz-se a tarde, e pelas roupas, o
final de inverno. Assim a foto sobre a mesa: o menino surge de corpo inteiro, mas
os outros três personagens são inidentificáveis – falta-lhes o rosto, página em
branco onde se imprime nossa individualidade, nossa singularidade, nossa
história, enfim. Todo o meu esforço como escritor tem sido o de tentar recompor
essa imagem. O menino, identifico-o, sou eu, aos cinco ou seis anos de idade. Mas
quem são os outros três personagens que, numa tarde de inverno para sempre
perdida, imobilizaram-se para o olhar amador de alguém por detrás da máquina
fotográfica? Quais são seus nomes, de onde vieram, onde estarão agora, o que
fizeram de suas vidas, foram felizes? Do menino, sei eu – e, curiosamente, é o
que menos importa. Mas, e todos aqueles que sucumbiram, sem voz e sem nome, e
que a História registrará apenas nas lápides de humildes cemitérios que a
borracha do tempo apagará? E os outros, que nem mesmo a morte resgatará do
anonimato? [...] Imagem: filme Redemoinho, dirigido por José
Luiz Villamarim e baseado na obra de Ruffato.
Trechos de Até
aqui, tudo bem! - Como e porque sou romancista – versão século 21, do
escritor Luiz Ruffato, extraído
de Espécies
de espaço: territorialidades, literatura, mídia (EdUFMG, 2008), organizado por Izabel Margato e Renato
Cordeiro Gomes. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
A ARTE DE MARIA ROSA NUNES
A arte
da artista visual Maria Rosa Nunes
que possui formação superior em design e atua profissionalmente com pinturas,
colagens gráficas, arte digital e direção de arte em agências de publicidade. Veja mais aqui.
A MÚSICA LAURA FINOCCHIARO
A arte
da cantora, compositora, guitarrista, arte-educadora e produtora musical Laura Finocchiaro, que iniciou sua
carreira na esteira dos movimentos musicais da década de 1980, em Porto Alegre,
e transitou em São Paulo nos palcos da Lira Paulistana, o Madame Satã e a
Fábrica do Som, além de participar do festival Rock in Rio II, ao abrir os
shows de Prince e Santana. Ela já lançou os álbuns Laura Finocchiaro (1992), Ecoglitter
(1998), Tashi Delê mantras de roda (2001), Oi (2003), Lauras (2008), Copy
paste, Música orgânica (2013), Eletrorgânica (2016), Eletrorgânica (Vol.2. 2017),
On-Off (2018) e Princesinha devorada (2018). Tem se projetado com clipes,
trilhas e crias sonoras, atuando no teatro e na televisão, em longas metragens,
documentários e vídeo arte, desfiles de moda e arte educação, além de ter
participado de diversas coletâneas. Veja mais aqui.
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A ARTE MUSICAL DE ZÉ LINALDO
A arte
musical do músico, compositor, intérprete, arteducador e produtor cultural Zé
Linaldo aqui, aqui & aqui
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É pela intencionalidade que podemos elucidar
a estrutura da própria consciência imaginante. Só assim se põe em relevo o
ponto mais importante desta vivência.