A SALVAÇÃO DO BILAC – É cada uma que aparece! Veja como são coisas que acontecem não se
sabe como. Para se ter uma ideia, essa eu não sabia, nem imaginava tivesse ocorrido.
Não fosse um caso recolhido no não menos curioso livro Como você se chama? Estudo sócio-psicologico de prenomes e cognomes
(Documentário, 1973), do saudoso jornalista, poeta, biógrafo e teatrólogo
Raimundo Magalhães Júnior (1907-1981), passaria em branco com essa curiosidade.
Pois bem, vamos ao caso. Acontece que Brás Martins dos Guimarães era filho de
Brás Martins dos Guimarães. Ou seja, com os mesmos nomes, o pai, seu Brás, um
funcionário público exemplar; e Brasinho, o filho, um futuro médico que,
prestes a se formar, requereu ao diretor da Faculdade de Medicina do Rio de
Janeiro, que lhe acrescentasse o cognome Bilac, para distinguir seu nome do de
seu pai, evitando confusões futuras na hora de enfrentar a burocracia
brasileira. Assim pleiteou e, por fim, conseguiu. Com isso, construiu a família
Bilac que se ramificou com o nascimento dos filhos Cora, Olavo e Gastão. A
prole recebeu os devidos cuidados do casal Bilac até crescerem e se
proliferarem quando adultos. Acontece, porém, que, ao se casar, a filha Cora
perdeu o patronímico, ganhando o do marido; Olavo, o famoso poeta e cronista
carioca da Academia Brasileira de Letras, que era um solteirão convicto, não
deixou filhos, contrariando os sonhos dos pais como sempre o fez; e, o caçula, Gastão,
trouxe ao mundo o Ernani que, por sua vez, não deixou descendência. Então, o
Bilac surgiu para distinguir pai e filho, findava sem que houvesse na face da
terra mais nenhum parentesco. Por conta disso, com o tempo, inevitavelmente a
família Bilac sumiria do mapa, extinta para todo o sempre. Ah, mas não foi bem
assim. Não fosse um pai mineiro admirador dos versos do vate parnasiano, registrar
na certidão de nascimento do filho recém-nascido o nome de Olavo Bilac Pinto e
este ao se formar em direito passar a se assinar Bilac Pinto, a família não se
salvaria. Pronto, dito e feito, TTTTT também é cultura e onomástica, diga se
não é? © Luiz Alberto Machado.
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DITOS & DESDITOS:
O sentido da vida consiste em que não tem
sentido nenhum dizer que a vida não tem sentido. Ainda bem que chegamos a um
paradoxo. Agora, há esperança de conseguirmos algum progresso. Qualquer um que
não se choque com a Mecânica Quântica é porque não a entendeu. O oposto de uma
afirmação correta é uma afirmação falsa. Mas o oposto de uma verdade profunda
pode ser outra verdade profunda. Nunca se expresse mais claramente do que você
é capaz de pensar. Toda frase que eu digo deve ser entendida não como uma
afirmação, mas como um pergunta. Um físico é apenas a forma que um átomo
encontrou de olhar para si mesmo. Algumas coisas são tão sérias que você tem
que rir delas.
Pensamento
extraído da obra Física atômica e
conhecimento humano (Contraponto, 1995), do físico dinamarquês Niels Bohr (1885-1962) que desenvolveu
trabalhos nas áreas de estrutura atômica e da física quântica.
EPIDAURO PAMPLONA
Em Mar de Espanha havia um velho fazendeiro,
viuvo que tinha uma filha muito tola, muito mal-educada, e, sobretudo. muito
caprichosa. Chamava-se Zulmira. Um bom rapaz, que era empregado no comércio da
localidade, achava-a bonita, e como estivesse apaixonado por ela, não lhe
descobria o menor defeito. Perguntou-lhe uma vez se consentia que ele fosse
pedi-la ao pai. A moça exigiu dois dias para refletir. Vencido o prazo,
respondeu: - Consinto, sob uma pequena condição. - Qual? - Que o seu nome seja
impresso. - Como? - É um capricho. - Ah! - Enquanto não vir o seu nome em letra
redonda, não quero que me peça. - Mas isso é a coisa mais fácil... - Não tanto
como supõe. Note que não se trata da assinatura, mas do seu nome. É preciso que
não seja coisa sua. Epidauro, que assim se chamava o namorado, parecia ter
compreendido. Zulmira acrescentou: - Arranje-se! E repetiu: - É um capricho. Epidauro
aceitou, resignado, a singular condição, e foi para casa. Aí chegado, deitou-se
ao comprido na cama, e, contemplando as pontas dos sapatos, começou a imaginar
por que meios e modos faria
publicar o seu nome. Depois de meia hora de cogitação, assentou em escrever uma
correspondência anônima para certo periódico da Corte, dando-lhe graciosamente
notícias de Mar de Espanha. Mas o pobre namorado tinha que lutar com duas
dificuldades: a primeira é que em Mar de Espanha nada sucedera digno de menção;
a segunda estava em como encaixar o seu nome na correspondência. Afinal
conseguiu encher duas tiras de papel de notícias deste jaez! "Consta-nos
que o Rev.mo Padre Fulano, vigário desta freguesia, passa para a de tal
parte." "O Ilmo Sr. Dr. Beltrano, juiz de direito desta comarca,
completou anteontem 43 anos de idade. S. Sª, que se acha muito bem conservado,
reuniu em sua casa alguns amigos." "Tem chovido bastante estes últimos
dias", etc. Entre essas modestas novidades, o correspondente espontâneo,
depois de vencer um pequenino escrúpulo, escreveu: "O nosso amigo Epidauro
Pamplona tenciona estabelecer-se por conta própria." Devidamente selada e
lacrada, a correspondência seguiu, mas... Mas não foi publicada. O pobre rapaz
resolveu tomar um expediente e o trem de ferro. - À Corte! à Corte! dizia ele
consigo; ali, por fás ou por nefas, há de ser impresso o meu nome! E veio para
a Corte. Da estação central dirigiu-se imediatamente ao escritório de uma folha
diária, e formulou graves queixas contra o serviço da estrada de ferro. Rematou
dizendo: - Pode dizer, Sr. redator, que sou eu o informante. - Mas quem é o
senhor? perguntou-lhe o redator, molhando uma pena; o seu nome? - Epidauro
Pamplona. O jornalista escreveu; o queixoso teve um sorriso de esperança. -
Bem. Se for preciso, cá fica o seu nome. Queria ver-se livre dele; no dia
seguinte, nem mesmo a queixa veio a lume. Epidauro não desesperou. Outra folha
abriu uma subscrição não sei para que vítimas; publicava todos os dias a
relação dos contribuintes. - Que bela ocasião! murmurou o obscuro Pamplona. E
foi levar cinco mil-réis à redação. Com tão má letra, porém, assinou, e tão
pouco cuidado tiveram na revisão das provas, que saiu: Epifânio Peixoto 5$OOO Epidauro
teve vergonha de pedir errata, e assinou mais 2$OOO. Saiu: "Com a quantia
de 2$, que um cavalheiro ontem assinou, perfaz a subscrição tal a quantia de
tanto que hoje entregamos, etc. Está fechada a subscrição." Uma reflexão
de Epidauro: Oh! Se eu me chamasse José da Silva! Qualquer nome igual que se
publicasse, embora não fosse o meu, poderia servir-me! Mas eu sou o único
Epidauro Pamplona... E era. Daí, talvez, o capricho de Zulmira. Uma folha
caricata costumava responder às pessoas que lhe mandavam artigos declarando os
respectivos nomes no Expediente. Epidauro mandou uns versos, e que versos! A
resposta dizia: "Sr. E. P. Não seja tolo." Como último recurso,
Epidauro apoderou-se de um queijo de Minas à porta de uma venda e deitou a
fugir como quem não pretendia evitar os urbanos, que apareceram logo. O próprio
gatuno foi o primeiro a apitar. Levaram-no para uma estação de polícia. O
oficial de serviço ficou muito admirado de que um moço tão bem trajado furtasse
um queijo, como um reles larápio. Estudantadas... refletiu o militar; e,
voltando-se para o detido: - O seu nome? - Epidauro Pamplona! bradou com
triunfo o namorado de Zulmira. O oficial acendeu um cigarro e disse num tom
paternal: - Está bem, está bem. Sr. Plampona. Vejo que é um moço decente--- que
cedeu a alguma rapaziada. Ele quis protestar. - Eu sei o que isso é! atalhou o
oficial. De uma vez em que saí de súcia com uns camaradas meus pela Rua do
Ouvidor, tiramos à sorte qual de nós havia de furtar uma lata de goiabada à
porta de uma confeitaria. Já lá vão muitos anos. E noutro tom: - Vá-se embora,
moço, e trate de evitar as más companhias. - Mas... - Descanse, o seu nome não
será publicado. Não havia réplica possível; demais, Epidauro era por natureza
tímido. O seu nome, escrito entre os dos vagabundos e ratoneiros, era uma arma
poderosíssima que forjava contra os rigores de Zulmira; dir-Ihe-ia: -
Impuseste-me uma condição que bastante me custou a cumprir. Vê o que fez de mim
o teu capricho! Quando Epidauro saiu da estação, estava resolvido a tudo! A
matar um homem, se preciso fosse, contanto que lhe publicassem as dezesseis
letras do nome! Lembrou-se de prestar exame na Instrução Pública. O resultado
seria publicado no dia seguinte. E, com efeito, foi: "Houve um
reprovado." Era ele! Tudo falhava. Procurou muitos outros meios, o pobre
Pamplona, para fazer imprimir o seu nome; mas tantas contrariedades o
acompanharam nesse desejo que jamais conseguiu realizá-lo. Escusado é dizer que
nunca se atreveu a matar ninguém. A última tentativa não foi a menos original. Epidauro
lia sempre nos jornais: "Durante a semana finda, S.M. ,,o Imperador foi
cumprimentado pelas seguintes pessoas, etc. Lembrou-se também de ir
cumprimentar Sua Majestade.- Chego ao paço, pensou ele, dirijo-me ao Imperador,
e digo-lhe: - Um humilde súdito vem cumprimentar Vossa Majestade, - e saio. Mandou
fazer casaca; mas, no dia em que devia ir a Cristóvão, teve febre e caiu de
cama. Voltemos a Mar de Espanha: Zulmira está sentada ao pé do pai. Acaba de
contar-lhe a que impôs a Epidauro. O velho fazendeiro ri-se a bandeiras
despregadas. Entra um pajem. Traz o Jornal do Comércio, que tinha ido buscar à
agência de correio. A moça percorre a folha, e vê, afinal, publicado o nome de
Epidauro Pamplona. - Coitado! murmura tristemente, e passa o jornal ao velho. -
É no obituário: "Epidauro Pamplona, 23 anos, solteiro, mineiro. - Febre
perniciosa." O fazendeiro, que é estúpido por excelência, acrescenta: -
Coitado! foi a primeira vez que viu publicado o seu nome.
Um capricho, conto extraído da obra Contos possíveis (H. Garnier, 1908), do dramaturgo, escritor e jornalista brasileiro Artur Azevedo (2855-1908). Veja mais
aqui.
A ARTE DE MARIKA GIDALI
Subir no palco e dançar é uma forma de você
se comunicar com você mesmo de uma forma profunda.
Eu nunca dividi o lado social e o artístico.
A minha forma de pensar sempre foi a de usar o meu potencial no trabalho com o
social. Não teve um dia que eu acordei e decidi que iria fazer um trabalho
social. Eu sempre conduzi a minha vida dessa maneira.
Eu acredito que o corpo é absolutamente
necessário para qualquer coisa. Você não pode pensar sem o corpo. E a
arte-cidadania na dança envolve música, harmonia, cultura, beleza, disciplina,
sociabilização. Tudo o que a gente precisa para montar um serzinho.
A arte da premiada e inovadora bailarina húngara, coreógrafa
e líder de companhia de dança, Marika Gidali, artista empenhada na ação social pelos menos favorecidos,
batalhadora das causas sociais e justas, mãe devotada, fundadora do Ballet
Stagium e que tem sua vida e arte reunida no volume Marika Gidali: singular e plural (Senac, 2001), de Décio Otero. Na
área da educação e inclusão social está à frente de projetos sociais com grande
repercussão, tendo coordenado as atividades de dança nas unidades da FEBEM, coordenando
o Projeto Joaninha, o Dança a Serviço da Educação- Stagium vai às Escolas e
Escolas Vão ao Teatro, e o Professor Criativo - curso dirigido a professores da
rede pública de ensino do de São Paulo. Veja mais aqui e aqui.
&
A OBRA DE YASUNARI KAWABATA
Em tempos de guerra, as pessoas
são transformadas em todos os tipos de coisas. O destino de cada um fica louco.
A obra do
escritor japonês prêmio Nobel de Literatura de 1968, Yasunari Kawabata
(1899-1972) aqui e aqui.