CADA DIA UMA ESQUINA & MUITAS OUTRAS – Imagem: arte da artista visual estadunidense Carolee
Schneemann. - Ao virar a esquina, a cada dia, peito
aberto, não previa, nunca, o que poderia ocorrer. Sempre assim, a expectativa do
imprevisível e inevitável. Podia ser o dia de ontem ou outros que passaram
quando feliz por nada ou desolado de esperanças, sem poder pedir ajuda, as
escolhas sempre foram minhas e todos fugiam pros seus compromissos, sabia, eu
mesmo tenho de dar bom termo para tudo, ou não, cair e pagar o pato, assim seja
como for. Podia ser o Galo da Madrugada com zilhões de foliões às fantasias
loucas e meio mundo de gente colorida aos pulos pelo embalo da festa
carnavalesca fora de hora, só pra dizer que a basta a liberdade de se esbaldar
pra ser feliz como puder. Ou um touro bravo desgovernado arrepiando a ocasião e
eu paralisado de pânico, sem tempo nem pra olhar pros lados e escapulir por um
buraco milagroso aberto na calçada da agonia e eu sumisse daquele aperreio,
enquanto uma boiada imensa seguia aterradora pra barca de Noé estacionada não
sei onde. Ou um disco voador na caça de me abduzir assim do nada, sem mais nem
menos, com tanta gente dando mole, logo eu o escolhido na maior fuga, de nada
adiantando, que coisa! E agora? Ou podia ser a Lua que despencou do céu rolando
solta e inclemente a esmagar desavisado que aparecer pela frente, como tacada
na caçapa. Ou a passeata dos milhões de deserdados, mulheres, meninos, anciões, toda gente das
periferias e centros e adjacências, esfomeados de justiça aos gritos e choros
de todas as dores desse Brasilzão arrevirado de porteira escancarada. Ou uma
enchente disfarçada de tsunami lavando culpas, ardis e promessas no batismo de
toda santidade roubada nas horas mais difíceis. Ou até mesmo Jesus escorraçado
pela fúria dos cristãos por preferi-lo crucificado para doer e salvá-los de
todos os seus pecados. Ou ainda a Terra rodando ao contrário desgovernada com a
fúria dos que revidam toda sorte de exploração. Ou mesmo a morte com cara de
raiva pronta para prestar contas comigo. Sem saber o que fazer, desfalecia sem
ter mais o que fazer. Ah, nada disso, é o meu pesadelo de olhos abertos,
acordei no susto. A vida é minha e vou com todos pra descoberta do que não sei.
© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do artista e músico Antônio Nóbrega: Madeira que cupim não roi, Pernambuco falando para o
mundo & Lunário perpétuo; da pianista suíça Luisa Splett: Sonata
nº 5 Scriabin, Vallée d’Obeberman Liszt & Sonata Reminiscenza Nikolai
Medtner; &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de
Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] é
preciso que a educação esteja – em seu conteúdo, em seus programas e em seus
métodos – adaptada ao fim que se persegue: permitir ao homem chegar a ser
sujeito, construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer com os
outros homens relações de reciprocidade, fazer a cultura e a história. [...].
Trecho extraído da obra Conscientização: teoria e prática da libertação – uma
introdução ao pensamento de Paulo Freire
(Moraes, 1980), reunindo o pensamento do sociólogo e pedagogo Paulo Freire (1921-1997), que na sua
obra Pedagogia do oprimido (Paz e Terra, 2001), observa que: [...] a questão fundamental, neste caso, está em
que, faltando aos homens uma compreensão crítica da totalidade em que estão,
captando-a em pedaços nos quais não reconhecem a interação constituinte da
mesma totalidade, não podem conhecê-la. E não o podem porque, para conhecê-la,
seria necessário partir do ponto inverso. Isto é, lhes seria indispensável ter
antes a visão totalizada do contexto para, em seguida, separarem ou isolarem os
elementos ou as parcialidades do contexto, através de cuja cisão voltariam com
mais claridade à totalidade analisada [...], bem como na sua obra Pedagogia da indignação (Unesp, 2000), acrescenta que:
[...] Se, na verdade, não estou no mundo
para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível
mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade
que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com
ela coerentes [...]. Veja mais aqui.
O TEATRO & O PENSAMENTO ESTÉTICO – [...] O pensamento estético, que
produz arte e cultura, é essencial para a libertação dos oprimidos, amplia e
aprofunda sua capacidade de conhecer. Só com cidadãos que, por todos os meios
simbólicos (palavras) e sensíveis (som e imagem), se tornam conscientes da
realidade em que vivem e das formas possíveis de transformá-la. [...] Trecho
extraído da obra A estética do oprimido. (Garamond, 2009), do dramaturgo,
ensaísta e escritor brasileiro Augusto Boal (1931-2009). Veja mais aqui.
A JUVENTUDE & A VIDA - [...] tenho
apenas 20 anos – e aqui estou, sobrevivendo a isto tanto quanto qualquer um
destes homens, e mantendo meus camaradas inteiros. Eu estava satisfeito. Não
abandonaria a experiência por nada neste mundo – ou de outros. Eu tinha
momentos de exultação. Toda vez que a velha e esfarrapada embarcação atirava-se
pesadamente em direção ao céu, ela parecia me arremessar, como um apelo, um
desafio, um grito às nuvens sem piedade. As palavras escrita na popa: Judeia,
Londres. Faça ou morra. Ah, juventude! Sua força, sua fé, sua imaginação. Para
mim, ela não era um velho traste carregando pelo mundo um monte de carvão como
carga – para mim, ela era a empreitada, a prova, o teste da vida. Penso nela
com prazer, com afeição, com pesar – como pensaria de alguém morto que um dia
amara. Eu nunca a esquecerei... Passe a garrafa. [...]. Trecho extraído da
obra Juventude: uma narrativa (Paz e
Terra, 2003), do escritor britânico Joseph
Conrad (1857-1924).
OS HINOS À NOITE – I - Diante
do espetáculo maravilhoso do espaço aberto à sua volta, que existência viva,
sensível, não ama a deliciosa luz, com suas cores, raios e ondulações, sua
onipresença gentil na forma do alvorecer? O mundo gigantesco das constelações
despertas inala o dia como a mais profunda alma da vida, e flutua dançando em
sua torrente azulada; a pedra tranqüilamente faiscante, a pesarosa planta, o
mundo selvagem, ardente e multiforme dos animais o inala; porém, mais que elas,
o nobre estrangeiro com olhos brilhantes, andar altivo, lábios melodiosos e
cerrados. Como um rei que comanda a natureza mundana, ele invoca os poderes
para transformações incontáveis, ata e desata inúmeras alianças, sustenta sob
forma celestial cada substância terrena. Sua presença por si só revela o
esplendor maravilhoso dos reinos do mundo. E eu me volto para a Noite
misteriosa, sagrada e indescritível. Ao longe repousa o mundo, em sepulcro
profundo; um lugar solitário e arruinado. Nas cordas do peito golpeia uma
tristeza profunda. Estou pronto para mergulhar nas gotas do orvalho, e misturar-me
às cinzas. - A distância da memória, os desejos da juventude, os sonhos da
infância, as breves alegrias e aspirações vãs de uma vida longa, surgem com uma
veste acinzentada, como o vapor da tarde antes do pôr do sol. Em outras plagas
a luz assentou suas tendas felizes: e se eu nunca mais retornar para suas
crianças, que me esperam com a fé da inocência? O que renova todos os
pressentimentos de meu coração, e acalma o ar suave da tristeza? Negra Noite,
não terás uma afinidade conosco? O que seguras sob teu manto, cujos poderes
ocultos afetam minh'alma? O bálsamo precioso goteja do ramo de papoulas, em
tuas mãos. Tu retiras os cravos de aço da alma. De modo obscuro e
indescritível, somos tocados: estarrecido de prazer contemplo a face grave que,
suavemente e em prece, inclina-se sobre mim, e, em meio a olhares confusos,
revela o amor jovial da Mãe. Como a luz parece agora algo pobre e infantil!
como é agradável e bem-vinda a partida do dia! - Não é apenas porque a noite
arrebata de ti seus servos, e lança aos abismos do espaço teus globos
faiscantes, que proclamas, nos momentos de ausência, sua onipotência, e desejas
seu retorno? Temos olhos que a noite abriu em nosso interior, mais divinos que
aquelas estrelas brilhantes. Sua visão alcança além dos incontáveis hóspedes
mais pálidos da noite. Sem auxílio da luz eles penetram as profundezas que
abrangem as regiões elevadas com inefável delícia. Glória à rainha do mundo, à
grande profetisa dos mundos mais sagrados, à mãe cuidadosa do delicioso amor!
ela mandou-te a mim, tu a mais suavemente amada, sol gracioso da Noite. Agora
desperto, pois sou teu e meu. Fizeste-me conhecer a Noite, entregaste-a a mim
para que se tornasse minha vida; tu fizestes de mim um homem. Consumas meu
corpo com o ardor de minh'alma, de modo que eu, tornado ar purificado, possa
misturar-me completamente contigo, e assim, nossa noite de núpcias durará
eternamente. Poema do poeta alemão Novalis
(Georg Philipp Friedrich von Hardenberg – 1772-1801).
A ARTE DE CAROLEE SCHNEEMANN
A arte da artista visual estadunidense Carolee
Schneemann. Veja mais aqui.
&
Quem
abre os braços sou eu, a poesia de Virgilio, a escultura
de Edward
Onslow Ford & a música de Belchior aqui.