FESTA, GOLES E CACHIMBADAS –
Imagem: Arte do fotógrafo e designer Fábio Stachi. - Biritoaldo
andava piongo, sorumbático. A sua vida andava às tontas, errática. Para um
sujeito como ele, nada de diferente, assim fora toda sua inútil existência. Não
era pra menos, viu o abatimento de Tolinho e Bestinha, tolos iguais a ele, cegos
às barroadas e no meio de um tiroteio. Que coisa! Lembrava todas as suas
trepidantes e inexitosas relações platônicas: Varnilza avexada e resmungante, Ximênia
seminua nos afazeres domésticos, Vera – Ave, Maria! - rebolante e inacessível, a
paixão obcecada pela inatingível Rebel Wilson, os ardores desenfreados pela póstuma
Amy Winehouse, ah, um amantético desajeitado, sucumbente nos esgotos dos
idílios. Ah, deixa pra lá. E assim, à toa, deu de cara com um entra e sai de Afredo
e tanta gente num salão: Que é que é isso? A festa da Fraternidade! Eita, nem
se lembrava, e nem queria mesmo, afinal não simpatizava muito com os ariscos
Penisvaldo e Rolivânio, promotores do evento, com suas coisas às escondidas, cheios
de pantins. Oxe! Lá estava toda patota: Robimagaiver, Mamão, Zé Bilola, Doro,
Peiúdo, Marquito Ladeira, a trupe toda. Pensou: Fudido por um, fudido por mil. Por
que não? Invadiu o salão bastante movimentado, mesas com uma penca de redomas e
garrafas, castiçais e travessas, ponches e incensos. Serviu-se da bebida, de um
só gole. Pegou outro drinque, virou o copo. Mais outro e mais, pegou um cachimbo
que lhe serviram, deu bafarodas repetidas, saiu zanzando no meio da fumaça de
suas próprias tragadas, cumprimentava uns e outros, deu voltas, acenos para
credores, olhares censores, contas vencidas, aporrinhações, ah, tudo pro
beleleu! Nem se deu conta que já estava numa onírica estrada de tijolos
amarelos e, lá longe, jovens lúbricas acenando pra ele aos gritos e
gargalhadas. Vem, vem! Eita! É pra lá que eu vou. Apressou o passo, tonteava
resfolegante, simbora, ora. Contornou, correu, e quanto mais andava, mais parecia
distante a farra daquelas beldades. Ao chegar ao topo onde elas estavam,
avistou um imenso lago, cadê-las? Virou-se pros lados, à cata, e ao girar em
torno de si, estava diante de um imenso espelho no qual se via destamaínho. Danou-se!
Apertou as vistas, dedos esfregando os olhos, lá estava ele mesmo, minúsculo e bem
distante no centro do cenário. Dirigiu-se ao seu próprio encontro, menor
ficava. Teve a sensação de ouvir alguém perguntar-lhe: Você está bem? Ignorou a
voz, não lhe parecia amigável nem reconhecível, seguia determinado, queria o
alvo, ver-se de perto. Você está bem? E repetidas vezes a pergunta às suas
ouças, chô pra lá. De repente, próximo de alcançar seu intento, tudo desaparece
e ele viu-se sozinho no vazio. Fez a volta em torno de si, não havia nada,
apenas a voz insistente: Vê está bem? Que porra é essa? Ah, relaxa, nunca
estive melhor. Realmente, estava sobrecarregado de satisfação. Não se continha
dentro de si, pela primeira a felicidade era íntima e ele renunciou sair
daquele estado. Você está bem? Sai pra lá, não me enche o saco! Agora é a minha
vez, pago pra ver. Nunca mais miséria, desgraça, tristeza! Estou feliz e é
assim que estou agora e sou. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violonista peruano Jorge Caballero: Pictures Mussorgsky, Symphonie 9 Dvorak & Fantasia
Cromática/Fuga Bach; da violonista croata Ana Vidovic: Suite castelhana, Guitar Recital &
Intoduction/Variações Mozart; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos
ao blog & nos 35 Anos de Arte
Cidadã. Para conferir é só ligar o
som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Sim, eu posso ver todos os trabalhos da
grande civilização, mas por que não posso encontrar pessoas civilizadas? Eu apenas
encontrei especialistas, artistas que não conheciam sobre ciência; cientistas
que não sabiam sobre arte; filósofos que não se interessavam por Deus; padres
que não entendiam de política, e políticos que apenas conheciam outros
políticos. [...]. Pensamento extraído da obra O caráter das especialidades
(Zahar, 1981), do poeta, dramaturgo e editor britânico Wystan Hugh Auden
(1907-1973). Veja mais aqui.
HÁ MUITO TEMPO, É OU NÃO É - [...] De
qualquer forma, importa compreender que longe de estarem fechadas pelo monopólio
colonial. As colônias-americanas revelam uma extrema vitalidade criativa pela
circulação de conhecimentos tão ou mais dinâmicos do que a troca de riquezas
materiais. Nesse mundo de privilégio e hierarquias, a arte servia a ostentação,
portanto, os saberes técnicos-artísticos eram uma das mercadorias mais valiosas
e procuradas. [...] Trecho extraído da obra Aleijadinho e o aeroplano: o paraíso barroco e a construção do herói colonial
(Civilização Brasileira, 2008), da escritora, filósofa, historiadora,
dramaturga e curador Guiomar de Grammont,
na qual ela expressa que: [...] Para os
pesquisadores que admitiam a existência de Aleijadinho – é claro que
devidamente colocado no pódio como o maior artista do período colonial no
Brasil, talvez de todos os tempos – um dos mais apaixonantes problemas, passou
a ser a “originalidade”. A questão se encontra intimamente relacionada ao tema
do autodidatismo do artífice e no fato realmente da concentração de tantas
obras em um tempo tão exíguo, num lugar com outras dificuldades de acesso como
as Minas Gerais do século XVIII. [...].
A VIDA SIMBÓLICA – [...] Isso
pode ser o futuro histórico. Mas eu não estou absolutamente interessado num
futuro histórico, nem um pouco. O que me interessa é a realização daquela
vontade que vive em cada pessoa. Minha história é somente a história daquelas
pessoas que irão realizar suas hipóteses. Este é todo o problema: este é o
problema dos fieis índios Pueblo: fazer hoje todo o necessário para que meu Pai
possa surgir no horizonte. Este é o meu ponto de vista. [...]. Trecho
extraído da obra A vida simbólica
(Vozes, 1997), do psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung
(1875-1961). Veja mais aqui.
MARIA SABINA – Sou mulher
como a grande água / sou mulher como o sariguê / sou mulher como o lobo / sou
mulher como o cão de caça / eu lhes mostrarei meu poder / sou um santo / sou
mulher de espirito puro / e quebrarei o feitiço / homem que se ergue na superfície
/ é raiz feminina sob a água sou eu / mulher que gira / no redemoinho de ar sou
eu / sou canto / e um homem santo diz (o fungo) / e uma mulher santa, diz (o fungo).
Extraído da obra Shamanic voices:A Survey of Visionary Narratives (Arkana, 1991), da antropóloga,
ecologista, ativista de direitos civis e professora zen-budista estadunidense Joan Halifax, que nessa obra expressa: [...]
Eu sou Maria Sabina? A mulher que espera
o momento adequado, a mulher que explora, a mulher da vitória; a mulher do
pensamento, a mulher que cria, a mulher lua, a mulher que interpreta... O fungo
sagrado me leva ao mundo onde tudo se sabe... o fugo é como alma. Além, onde
deseja ir, ela te levará. [...].
A ARTE DE FÁBIO STACHI
A arte do fotógrafo e designer Fábio Stachi.
O
amor de curumim & cunhantã,
O amor de Teophrastus Paracelso, a música de Gonzaguinha & a arte de
Luciah Lopez aqui.
&
Atire
a primeira pedra quem estiver livre de boato e cabuetagem, Escarafunchando Perls, o teatro
de August Strindberg & a arte de Jan Saudec aqui.