ZÉ GULU & A TRUPE DOS
COSCUVILEIROS – Imagem: Encuentro,
da artista plástica e arte-educadora Regina
Silveira. - A trupe dos coscuvilheiros não se entendia, nem havia jeito no
meio de tanta leseira. O que tinha de mutreta, tinha de pacutia. É que a patota
reunida – respeite o time: Doro, Zé-Corninho, Robimagaiver, Afredo, Mamão,
Biritoaldo e Zé Bilola -, discutia como ganhar umas bufunfas a mais no pé do
cipa e, cada qual, com suas mirabolantes ideias inúteis: nenhuma delas
proveitosas, nem serventia pro que queriam, muito menos. Só se ouvia o estrupício:
Ah, vai lamber sabão, fi-duma-égua. Xô pra lá, ranheta! Lubrifica a gaia que é melhor,
corno! Vamos organizar essa zona, comboio de fresco! E por aí vai. Pelo visto, como
não se entendiam, foram ter com quem? O doutor Zé Gulu, naturalmente. E lá
estava ele debruçado sobre aquele calhamaço da coleção desaparecida, quando os
intrépidos arrodearam a mesa dele, cheios de interrogações. Nessa hora, assim
que viram os intrigantes se aproximarem do sabichão, Tomé e Zé Peiúdo engrossaram
o caldo pra pegar carona na coisa. Doutor Zé Gulu, como vai o senhor? O que
vocês querem? A gente quer ser, assim, tipo especialista, sabe? Assim sabido e
todo taful feito o senhor, ganhando uns cascaios pra nossa salvação, sacumé?
Não, não sei. Assim, graduado feito o senhor. Como assim? Oxe, doutor, o senhor
sabe. Sei não. Assim tipo machucho, bargado e posudo bacharel, cheio das
granas. Ah, vão arrumar o que fazer! Ah, doutor, só o senhor pode nos ajudar! Não
sei não. Sabe, doutor, a gente quer ser assim sábio como o senhor. Sábio? Sim! O
senhor sabe de tudo! Ah, sei não, muitos anos de universidade, com mestrado e
doutoramento no exterior, mais de quarenta e cinco anos de banca de estudo e,
ainda hoje, não sei de nada. Sabe, sim, doutor, ajude a gente, com isso que o
senhor disse, mas sem escola. Como? Veja só, explico, doutor, olhe pra gente: o
Zé-Corninho mesmo, o nome já diz: faz uma tuia de coisa imprestável, mas só
sabe mesmo é ser corneado. O Robimagaiver, valha-me, só tem faro e só faz
merda! O Afredo, coitado, só sabe queimar o toba. O Mãmão é um ré-pra-trás. Zé
Bilola é um jumento pau mandado! O Birito, uma lástima. Esses outros, nem se
fala. Eu sou o único: a bola que ninguém nunca chutou. Então, a gente quer folgar
cheio das gaitas feito os especialistas diplomados. Ah, tá. Ora, é só ir pra
escola, fazer o madureza – ou Artigo 99, sei lá mais como se chama! Ah, tipo
Educação de Jovens e Adultos (EJA) -, depois fazer o vestibular, entrar numa
faculdade, se graduar, se especializar, fazer um mestrado e, no fim, um
doutoramento, se preparando mesmo para ler muitos livros e participar de muitos
debates e seminários. Eita, doutor! A gente quer ser especialista sem ter que
ler nada, doutor! Assim, na moleza, sabe? Não, não sei. Assim... Olhem, não
conheço nenhum gênio que tenha chegado a tal, sem passar por tudo isso,
queimando as pestanas nos livros por noites e dias, pesquisando, anotando,
virando a noite pelo dia. Sim, sei, doutor, mas veja... Ninguém ganha
competência e sabedoria assim do nada. Sei, doutor. Não há como ser de forma
diferente, tem que passar por tudo isso. Sei, doutor. Ah, num tem onde comprar
isso não? Tem ghost writer pra tudo!
O quê? Ah, deixa pra lá, esqueci a impressão digital de vocês. Sabe, doutor, a
gente quer assim tipo nariz empinado, rei na barriga, metido a falar difícil,
essas coisas. Ah, tem tanto doutor marca bosta por aí, só sabe ganhar dinheiro
engalobando e enchendo os outros de nó pelas costas, e vocês ainda querem
empiorar o negócio, é? Isso, doutor, daquele tipo que aprendeu sem se ensinar! É
isso que vocês querem, é? Se não tiver esse negócio de estudo, a gente topa! Ah,
meus amigos, já dizia Habermas: Não pode haver intelectuais se não há leitores!
Quem? Ele saiu arretado e deixou todos falando sozinho. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violonista e guitarrista Diego Ribeiro: Live in Cyprus, Copenhagen Jazz Festival & Take Five;
da pianista venezuelana Gabriela Montero: Latin Concert, Improvisation Bach & Summertime; &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] O
conhecimento está a serviço da necessidade de viver. E essa necessidade criou
no homem os órgãos do conhecimento... O homem vê, ouve, apalpa, saboreia e
cheira aquilo que precisa ver, ouvir, apalpar, saborear ou cheirar.. [...].
Pensamento extraído da obra O sentimento trágico da vida (Educação
Nacional, 1953), do filósofo, escritor e dramaturgo espanhol Miguel de
Unamuno (1864-1936). Veja mais aqui.
O CAOS DA ARTE CONTEMPORÂNEA – [...] O
pensamento consciente é estreitamente focalizado e bastante diferenciado nos
seus elementos; quanto mais penetramos nas imagens e nos fantasmas subterrâneos,
mais a pista única divide-se e se ramifica em direções ilimitadas para
finalmente dar a sua estrutura um aspecto caótico. Um pensamento criador é
capaz de oscilar entre seus modos diferenciados e indiferenciados e atrelá-los
juntos para lhes confiar tarefas bem determinadas. [...] Até certo ponto, todo trabalho
verdadeiramente criador implica o descarte das cristalizações agudas do pensamento
racional e a fabricação de imagens. Dessa forma, a criatividade implica a
autodestruição – o que talvez explique por que a arte tantas vezes se ateve à
tragédia. [...]. Trechos extraídos da obra A ordem oculta da arte (Zahar, 1969), do teórico austríaco de arte
e música modernas, Anton Ehrenzweig
(1908-1966).
O CANTO DA FLAUTA MÁGICA: O UIRAPURU - Havia na tribo um jovem que tocava maravilhosamente flauta. Não era
bonito e não tinha nada de especial, apelidaram-no de Catuboré, que na língua
dos índios significa “flauta mágica”. Por causa dos sons melodiosos de sua
flauta era cobiçado pelas meninas da aldeia. No entanto, somente a simpática
Mainá conseguiu conquistar seu coração. Marcaram o casamento para a primavera.
Mas aconteceu uma tragédia. Certo dia, Catuboré saiu para pescar num lago
distante da maloca, escureceu e nada de ele chegar. Mainá procurou durante um
dia inteiro, com o coração apertado e com maus pressentimentos. No dia
seguinte, a tribo inteira procurou o índio por todos os caminhos, e finalmente
o encontrou. Estava morto, ao pé de uma grande árvore. Logo entenderam: uma
serpente venenosa lhe havia picado mortalmente a perna. Todos choraram, de modo
especial Mainá. Como estavam distantes da aldeia resolveram enterrar Catuboré
ali mesmo, ao pé da árvore que assistira à sua morte. Mainá, quando a saudade
batia mais forte, chorava aos pés da árvore, onde estava enterrado o seu amado.
A alma de Catuboré, vendo a tristeza da namorada, não conseguia ficar em paz. Pediu,
então, ao espírito da mata que o transformasse em um pássaro, mesmo que fosse
pequeno e feio, contando que fosse cantador, seria capaz de consolar Mainá. E
foi transformado, então, no irapuru. O irapuru é parecido com Catuboré, não
possui nada especial, mas canta como ninguém na floresta, num som semelhante ao
da flauta. Conta-se, que ocasionalmente o irapuru canta e, todos os animais
sentem-se atraídos uns pelos outros, começando a namorar e a se beijar. Os
outros pássaros se calam completamente em respeito ao canto do irapuru à sua
amada. Lenda extraída da obra O casamento entre o céu e a terra: contos
dos povos indígenas do Brasil (Salamandra, 2001), escritor, teólogo e professor universitário Leonardo Boff. Veja
mais aqui.
AMOR MODERNO - Assim
o piedoso amor encerrou o que idealizara: / a união desse par tão diferente! /
Lembravam dois ágeis falcões numa armadilha / condenados a imitar o voo do
morcego. / Armando-se, sob o céu de maio, / caminhavam sem rumo, puros como o
orvalho nas flores. / E não cuidavam das horas que avançavam: / seus corações
ansiavam pelo dia que se extinguira. / Então um cravou no outro o punhal
implacável, / indagação profunda que sonda uma angustia infinita. / Ah, que
resposta rude a alma encerra / quanto à vida das certezas dessa nova vida! /
Qual a trágica lembrança, vede o que se move eternamente / nas trevas, como a
força do oceano, à meia noite, soando como o tropel trepidante dos cavalos das
hostes guerreiras, / e lança uma linha esmorecida e tênue sobre a praia. Poema
do poeta, romancista e ensaísta inglês George
Meredith (1828-1909).
A ARTE DE REGINA SILVEIRA
Colóquio Internacional Memória e
Identidade Insular: Religiosidade, Festividades e Turismo nos arquipélagos da
Madeira e Açores & muito
mais na Agenda aqui.
&
Palavra,
palavrinha & palavrão!, o pensamento de Norman Fairclought, a arte de Edwin IJpeij, o cinema de Maurizio Ponzi & Maria Grazia Cucinotta aqui.