MISSIVA RENASCIDA - Imagem: arte do artista visual Ghuga
Távora - Amanheço com as zis cores do amor no
coração e da janela quase não sobra mais nenhuma delas no cinza de tanto
desalento. Acordar é difícil num momento em que tudo é inseguro. Abro a porta e
caminho ao derradeiro amor de cidade em cidade, onde sou lá de baixo ou de cima
no fogo aceso dos galopes insones pra garimpar a imensidão do céu, com o
perfume de incenso de estranha casa flutuante na frieza dos que se escondem pra
se safar do que causam aos sofrimentos alheios e a se perguntar o que fazer
numa hora dessas, mais dia, menos dia, a avalanche do desespero catatônico. Sigo
entre estrondos e migalhas e não sabia por onde o morro trêmulo no meio da
curva com grilhões de ferro nas trevas sobre-humanas, a ninguém interessa a
minha e a nossa tristeza, quem se importa, pode não mais existir ou sucumbiu
deprimido pela inglória de ser vivo num tempo tão sem alma. A audácia de muitos
escolheu outros caminhos mais curtos e menos tortuosos, para encherem seus
bolsos e nem aí pra mais nada de si e do mundo, não sabem as labaredas
queimando seus próprios rastros. As ruas atravessam meu peito pro passo em uma
entre tantas direções dos meus pés fugidios, pelas trincheiras de dias
terríveis, e despejo a minha alma sem desperdiçar um único afago, mesmo que me
submetam ao fuzilamento da discórdia, não haverei de mudar, mesmo que eu seja o
alvo do ódio e a minha boca sangre com o espinho da rosa anímica pro coágulo de
sangue último na imagem do rosto de pedra no norte gelado, amarrada ao pescoço
pelo nó apertado dos horrores na face desfigurada entre flores e ervas
oferecidas. Sigo em frente e das minhas vértebras emerge o imigrante coração da
via láctea e a mão próxima solta as minhas que se perde com nenhum brilho no
teto da noite e nenhuma palavra de dor fosse ouvida de ninguém, mas fui vencido
pela cúpula fria dos que abafam o gemido alheio. Quem dera eu fosse os oceanos
para ensinar a vida e afugentar a sombra da morte que ameaça e ronda o planeta
estremecido. Quem dera da plena manhã tomasse uns versos alegres para o verão
de todas as oportunidades paratodos. Quem dera da tarde eu tivesse a primavera
das conquistas e distribuísse a quem chegasse. Quem dera da noite eu pudesse ao
outro do aprendizado pro descanso e da minha voz fazer coisas possíveis nas flores
dos sorrisos das minhas para todas as mãos e me atirar de cabeça pra reinventar
a vida no júbilo de ser vivo e poder comungar da festa dos seres e coisas da
Terra. Quem dera, um dia mais outro, nem há de esquecer, é a vida. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do músico, produtor, arranjador e
escritor Caetano Veloso & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog
& nos 35 Anos de Arte
Cidadã. Para conferir é só ligar o
som e curtir. Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Se queremos, pois, salvar esta civilização [...]
torna-se, sem dúvida, necessário que todos os viventes compreendam bem até que
ponto a decadência já avançou [...]. Pensamento
extraído da obra Nas sombras do amanhã: diagnóstico da enfermidade espiritual
do nosso tempo (Armênio Amado, 1944), do professor e historiador neerlandês Johan
Huizinga (1872-1945), que em outra obra L’uomo e la cultura (La Nuova Italia, 1948), expressa que: Nós todos queremos vê-la segura, esta
cultura [...] protegida daquela terrível
selvageria que em nossa volta se propaga. E nós sabemos que se a cultura deve ser
recuperada, isso deve ser a tarefa de nós homens [...]. Veja mais aqui.
MANDANDO VER - A
comédia do homem sobrevive à sua tragédia. As falácias não se tornam menos
falácias porque se tornaram modas. Costumes são, geralmente, generosos.
Hábitos, são quase sempre, egoístas. Acredito que o que realmente acontece na
história é o seguinte: o homem idoso está sempre errado; e os jovens estão
sempre errados sobre o que está errado. A forma prática que isso toma é a
seguinte: enquanto o homem idoso se apega a algum costume estúpido, o homem
jovem sempre o ataca, com alguma teoria que se mostra igualmente estúpida. Ultimamente
não temos tido boas óperas cômicas, pois, o mundo real tem sido mais cômico que
qualquer ópera imaginável. Quando homens instruídos começam a usar a razão,
então, geralmente, descubro que eles não a têm. O esteta aspira à harmonia, não
à beleza. Se seu cabelo não combina com o purpúreo por do sol, contra o qual
ele se posta, ele rapidamente tinge seu cabelo com uma sombra de púrpura. Se
sua esposa não combina com o papel de parede, ele se divorcia. O reformador
está sempre certo sobre o que está errado. Ele, geralmente, está errado sobre o
que está certo. Os primeiros dois fatos que um menino ou menina saudável sentem
sobre o sexo são: primeiro que é bonito e depois que é perigoso. Trechos
recolhidos de textos publicado no International
Lunar Network, escritos pelo escritor, filósofo,
dramaturgo, jornalista e crítico de arte inglês, Gilbert Keith
Chesterton (1874–1936).
O MENINO E A FONTE – [...] Na
aridez abrasada de sol do grande lago poeirento que, por mais leve que se pise,
cobre a gente, até os olhos, de branca poeira peneirada, o menino e a fonte
formam um grupo risonho e esplêndido, cada qual com a sua alma. Embora ali não
haja uma única árvore, o coração, em chegando, se enche de uma palavra que os
olhos fixam, gravada no céu azul da Prússia, com grandes letras de luz: OÁSIS. A
manhã já tem um calor de sesta e a cigarra chia nas oliveiras, para as bandas
do cercado de San Francisco. O sol bate em cheio na cabeça do menino. Ele,
porém, distraído com a água, não sente. Estendido no chão, está com a mão sob o
jorro vivo, e a água lhe põe na palma um borbotante tesouro de frescura e de
graça que seus negros olhos comtemplam em êxtase. Fala sozinho, respira fundo,
coça-se aqui e ali, com a outra mão. O tesouro, sempre igual e diferente
sempre, desfaz-se às vezes. O menino, então, se retrai, apruma-se, concentra-se
para que nem essa pulsação do sangue que, como um espelho que se movesse
sozinho, muda a sensível imagem do caleidoscópio, roube à água a primitiva
forma surpreendida. Platero, não sei se entenderás ou não o que te digo: mas
esse menino tem a minha alma em sua mão. [...]. Trecho extraído da obra Platero
e eu (Martins Fontes, 2010), do poeta espanhol e Prêmio Nobel de Literatura de
1956, Juan Ramón Jiménez (1881-1958). Veja mais aqui.
DOIS POEMAS – PRESSENTIMENTO: Tenho o
pressentimento de que viverei pouco. / Esta minha cabeça, semelhante ao crisol,
/ Purifica e consome. / Mas sem nenhuma queixa, sem nenhum sinal de horror, / Quero
para o meu fim que em uma tarde sem nuvens, / Sob o límpido sol, / Nasça de um
grande jasmim uma serpente branca / Que doce, docemente, me pique o coração. DOCE TORTURA: Poeira de ouro em tuas
mãos foi minha melancolia; / Em tuas mãos compridas esparramei minha vida; / Minhas
doçuras às tuas mãos ficaram presas; / Agora sou uma ânfora de perfumes vazia.
/ Quanta doce tortura quietamente sofrida, / Quando, ferida a alma de tristeza
sombria, / Ciente de enganos, eu passava os dias / Beijando as duas mãos que me
sugavam a vida! Poemas da poeta argentina Alfonsina Storni (1892-1938).
A ARTE MARIA HELENA KUHNER
A dramaturga,
escritora e pesquisadora, Maria Helena Kühner,
é autora de diversas obras já destacadas aqui, entre elas Teatro em Tempo de Síntese (Paz
e Terra, 1971) e Teatro
Popular: Uma Experiência (Francisco Alves, 1974), entre outras.
Veja mais aqui e aqui.
&
A arte do artista visual Ghuga Távora
&
Brasil
a sério, não ria!, a literatura de Manuel Scorza, o cinema de Michelangelo
Antonioni, Fecamepa, a arte de Marina
Abramovic, Andrey Kuzmin & Vitor Loli aqui.