CORAÇÃO PAU-BRASIL AO SOL – Imagem: arte da gravadora,
escultora, pintora, professora e artista multimídia Lygia Pape (1927-2004). - Meu coração
pau-brasil é maior do que sou e quer muito mais além da mata atlântica pelo
litoral, agreste e sertão, além dos pampas às águas caudalosas amazônicas, desse
Sol Brasil de janeiro a janeiro. Se do branco peró invasor virei mameluco,
caboclo ou caiçara, também mulato e curiboca, cafuzo e pardo, cabra e crioulo,
e se o anátema do sangue assassinado me fez a alma rachada pra ser mais que Macunaíma
ou nada mais que uma alma penada por assaltos e golpes, sou dessa costa
atlântica ameríndia maior do que se quer chamar de nação. É que meu coração tupi
quer ser tão caeté quanto tabajara, caingangue, tamoio, bororo, taulipang, tereno,
cadiuéu, ofaié, caiuá-guarani, tupinambá, atroari, umutina, bacairi, vapidiana,
deni, hixkaryana, jamamadi, carajá, kaxarari, apinajé, apiaká, craó, tembé,
caiapó, anambé, mayoruna, caxuiana, ticuna, kulina, jarawara, munducuru, caxinaua,
katukina, apurinã, marubo, baniwa, ye’kuana, hupda, yujup, kaxinawá, matis, yanomami,
waimiri e todas as cores e crenças desse carnaval gigante que nunca parou de
sofrer e sonhar. É que meu coração quer ser mais que massapé, terra roxa,
salmourão e aluvial, muito mais que samba, afoxé, coco, xote, baião, mais que
frevo e carimbó, choro e maracatu, mais que calango e cateretê, mais que
ciranda e coco de roda, maxixe e lundu, xaxado e partido alto, mais que moda de
viola e repente, mais que tudo que bole com a gente, mais que chula e congo,
mais que fandango e chamamé, mais que a dança de homem ou de mulher, mais que o
branco e o amarelo, mais que o verde e o azul, seja de norte a sul, do centro
ao sudeste, do norte ao nordeste, tanto seus rios quanto seus mares, do
Oiapoque ao Chuí. Quer ser mais que cana e café, soja e algodão, mais que boi e
pescado, mais que pantanal e cerrado, mais que ser pentacampeão. Não quer só
isso não, quer ser o Brasil mais brasileiro, daquele mais estradeiro no dia do
Sol. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violonista e compositor Rafael Rabello (1962-1995): Sete cordas, Todos os tons & Cry my
guitar; da cantora e atriz sul-africana Phindile Mkhize: Beautiful voices, I’m very woman & Circle of life; &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Eu
acho que essa nossa tarefa no começo do século XXI é a recriação da cidadania,
mediante uma outra globalização, horizontalizada e não verticalizada como a
atual, na qual a vida não seja tributária do cálculo, mas haja espaço para a
emoção – que é o que une os homens. [...]. Pensamento extraído da obra O país distorcido: o Brasil, a globalização
e a cidadania (Publifolha, 2002), do geógrafo e professor Milton Santos
(1926-2001), que na obra O espaço do cidadão
(Nobel, 1987), expressou que [...] quando
aceitamos que sejam pagos salários de fome a uma boa parte da população, é
certo que estamos longe de possuir uma verdadeira cultura [...] educação feito mercadoria, [pois estas]
reproduzem e ampliam as desigualdades, sem extirpar as mazelas da ignorância,
promovendo apenas a produção setorial, profissional, consumista que criam
afinal gente deseducada para a vida [...]. Veja mais aqui.
EDUCAÇÃO É AMOR - [...] O homem é governado pela força da vida. A
alma viva, com seu desejo de sobrevivência, demonstra grande poder de adaptação
ao seu ambiente. A força da vida humana, vendo e sentindo o meio ambiente,
forma e desenvolve novas faculdades. Essas faculdades continuam em
desenvolvimento, sobrepujando dificuldades, e se transformam em relevantes
habilidades. Essa é a relação entre o ser humano e a habilidade. O
desenvolvimento de uma habilidade não pode ser conseguido por mero pensar e
teorizar, mas tem de ser acompanhado por ações e práticas [...]. Só na ação,
a potência da força vital pode se desenvolver inteiramente. A habilidade se
desdobra com a prática. Uma pessoa inativa não desenvolve habilidades. [...] Está em meu poder
educar todas as crianças do mundo, de maneira a fazê-las um pouco mais felizes
e melhores. Nessa direção devo agir. Não busco mais do que amor e felicidade
para a humanidade. Creio que é aquilo que todos buscamos afinal. Amor é gerado por
amor. Nossa vida só vale a pena se nos amamos e consolamos. Procurei na música
o significado da arte e a música me deu trabalho e foi meu alvo de vida. [...] Desejo, se for possível, uma modificação da
maneira de educar, para não mais apenas dar instrução, mas educação no
verdadeiro sentido da palavra, uma educação que, baseada no fato de a criança
estar em crescimento, estimule, desenvolva e cristalize as capacidades humanas.
Por esse motivo, dedico todas as minhas forças à Educação do Talento. O que
virá de uma criança depende de sua educação. Meu mais profundo desejo é que
todas as crianças deste mundo possam ser boas criaturas humanas, pessoas
felizes, com habilidades extraordinárias, e é para conseguir isso que dou toda
minha força de ação. Isso porque estou plenamente seguro de que todas as
crianças nascem com esse potencial [...] As pessoas de hoje são como jardineiros que
olham com tristeza e balançam a cabeça para sua muda que não cresceu e dizem
que a semente deveria ter sido má. Não consideram que a semente vingou, mas que
a maneira de cuidar é que estava errada. Ficam firmes na maneira errada e
deixam que, planta após planta, feneçam [...]. Trechos extraídos da obra Educação é amor: um novo método de educação
(UFSM, 1983), do filósofo, músico e educador japonês Shinichi Suzuki (1898-1998), inventor do método internacional de
educação musical e desenvolveu uma filosofia para educar pessoas de todas as
idades e habilidades. Veja mais aqui.
COLHEITA
– [...] Um rosto proibido desde que
crescera. Dominava as paisagens no modo ativo de agrupar frutos e os comia nas
sendas minúsculas das montanhas, e ainda pela alegria com que distribuía
sementes. A cada terra a sua verdade de semente, ele se dizia sorrindo
[...] sorriu, era altiva como ele, embora
seu silêncio fosse de ouro [...] Um rosto
proibido desde que crescera [...] Onde estive então nesta casa, ele perguntou.
Procure e em achando haveremos de conversar [...]
mais capaz do que ele de atingir a intensidade,
e muito mais sensível porque viveu entre grades, e mais voluntariosa por ter
resistido com bravura aos galanteios [...]. Trechos extraídos
da obra Sala de armas (Aché, 1973), da premiadíssima escritora e imortal
da Academia Brasileira de Letras, Nélida Piñon. Veja mais aqui e aqui.
MIREIA (FRAGMENTO) – [...] Então
Mireia sossegava, / o olhar perdido na distância... / Parecia nas profundezas
do ar azul / ver imagens maravilhosas. / Depois de novo prosseguiu: / -
Felizes, felizes das almas / não mais retidas nestye mundo pela carne! / Viste
os flocos de luz, Vicente, / que elas lançavam ao subirem ? / Que belo livro se
teria, se as palavras / que disseram fossem escritas! / Vicente, porém, que a
vontade / de chorar vinha reprimindo, / deu larga à sua dor, em soluços
pungentes: / - Ah, tivesse-as eu visto! Aos seus / vestidos, como um carrapato,
/ me teria agarrado, e chorando, e berrando: / - Ó Rainhas do céu, diria /
Único asilo que nos resta, / Oh arrancai-me os dentes todos, / os dez dedos das
mãos, os dois olhos da cara! / Mas dai-me incólume de volta / a fadazinha dos
meus sonhos! / - Ei-las que vêm nas suas túnicas de linho! / Súbito pôs-se ela
a dizer, / e esforçando-se por sair / do regaço de sua mãe, / acenava com a mão
para as bandas do mar. / Logo todos o olhar volveram / para onde a moça
apontava. / E diziam, levando a mão à testa: - Nada / enxergamos ali por ora, /
senão a linha do horizonte / confinando o céu e a água amarga. / - Não se vê
nada ali... – Vê-se, sim! Olhe bem! / - Elas vêm num barco sem vela, / gritou
Mireia. Não estão vendo / como as ondas ficam serenas diante delas? / Oh, são
elas! O ar está claro, / e a brisa suave que as bafeja / se move o mais leve
que pode... / Os pássaros do mar saúdam-na em revoadas. [...]. Trecho do Canto duodécumo: a morte, extraído da
obra Mireia (Delta, 1962), do poeta
francês Frédéric Mistral (1830-1914),
Prêmio Nobel de Literatura de 1904.
A ARTE DE LYGIA PAPE
A arte
gravadora, escultora, pintora, professora e artista multimídia Lygia Pape (1927-2004). Veja mais aqui.
&
A
vida é plena e é o que sou, o pensamento
de Milton
Santos, a literatura de Nélida Piñon, Liberdade de Imprensa & a arte de
Leonid Afremov aqui.