quinta-feira, maio 03, 2018

MILTON SANTOS, NÉLIDA PIÑON, SUZUKI, LYGIA PAPE, FRÉDÉRIC MISTRAL, RAFAEL RABELLO & PHINDILE MKHIZE

CORAÇÃO PAU-BRASIL AO SOL – Imagem: arte da gravadora, escultora, pintora, professora e artista multimídia Lygia Pape (1927-2004). - Meu coração pau-brasil é maior do que sou e quer muito mais além da mata atlântica pelo litoral, agreste e sertão, além dos pampas às águas caudalosas amazônicas, desse Sol Brasil de janeiro a janeiro. Se do branco peró invasor virei mameluco, caboclo ou caiçara, também mulato e curiboca, cafuzo e pardo, cabra e crioulo, e se o anátema do sangue assassinado me fez a alma rachada pra ser mais que Macunaíma ou nada mais que uma alma penada por assaltos e golpes, sou dessa costa atlântica ameríndia maior do que se quer chamar de nação. É que meu coração tupi quer ser tão caeté quanto tabajara, caingangue, tamoio, bororo, taulipang, tereno, cadiuéu, ofaié, caiuá-guarani, tupinambá, atroari, umutina, bacairi, vapidiana, deni, hixkaryana, jamamadi, carajá, kaxarari, apinajé, apiaká, craó, tembé, caiapó, anambé, mayoruna, caxuiana, ticuna, kulina, jarawara, munducuru, caxinaua, katukina, apurinã, marubo, baniwa, ye’kuana, hupda, yujup, kaxinawá, matis, yanomami, waimiri e todas as cores e crenças desse carnaval gigante que nunca parou de sofrer e sonhar. É que meu coração quer ser mais que massapé, terra roxa, salmourão e aluvial, muito mais que samba, afoxé, coco, xote, baião, mais que frevo e carimbó, choro e maracatu, mais que calango e cateretê, mais que ciranda e coco de roda, maxixe e lundu, xaxado e partido alto, mais que moda de viola e repente, mais que tudo que bole com a gente, mais que chula e congo, mais que fandango e chamamé, mais que a dança de homem ou de mulher, mais que o branco e o amarelo, mais que o verde e o azul, seja de norte a sul, do centro ao sudeste, do norte ao nordeste, tanto seus rios quanto seus mares, do Oiapoque ao Chuí. Quer ser mais que cana e café, soja e algodão, mais que boi e pescado, mais que pantanal e cerrado, mais que ser pentacampeão. Não quer só isso não, quer ser o Brasil mais brasileiro, daquele mais estradeiro no dia do Sol. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violonista e compositor Rafael Rabello (1962-1995): Sete cordas, Todos os tons & Cry my guitar; da cantora e atriz sul-africana Phindile Mkhize: Beautiful voices, I’m very woman & Circle of life; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Eu acho que essa nossa tarefa no começo do século XXI é a recriação da cidadania, mediante uma outra globalização, horizontalizada e não verticalizada como a atual, na qual a vida não seja tributária do cálculo, mas haja espaço para a emoção – que é o que une os homens. [...]. Pensamento extraído da obra O país distorcido: o Brasil, a globalização e a cidadania (Publifolha, 2002), do geógrafo e professor Milton Santos (1926-2001), que na obra O espaço do cidadão (Nobel, 1987), expressou que [...] quando aceitamos que sejam pagos salários de fome a uma boa parte da população, é certo que estamos longe de possuir uma verdadeira cultura [...] educação feito mercadoria, [pois estas] reproduzem e ampliam as desigualdades, sem extirpar as mazelas da ignorância, promovendo apenas a produção setorial, profissional, consumista que criam afinal gente deseducada para a vida [...]. Veja mais aqui.

EDUCAÇÃO É AMOR - [...] O homem é governado pela força da vida. A alma viva, com seu desejo de sobrevivência, demonstra grande poder de adaptação ao seu ambiente. A força da vida humana, vendo e sentindo o meio ambiente, forma e desenvolve novas faculdades. Essas faculdades continuam em desenvolvimento, sobrepujando dificuldades, e se transformam em relevantes habilidades. Essa é a relação entre o ser humano e a habilidade. O desenvolvimento de uma habilidade não pode ser conseguido por mero pensar e teorizar, mas tem de ser acompanhado por ações e práticas [...]. Só na ação, a potência da força vital pode se desenvolver inteiramente. A habilidade se desdobra com a prática. Uma pessoa inativa não desenvolve habilidades. [...] Está em meu poder educar todas as crianças do mundo, de maneira a fazê-las um pouco mais felizes e melhores. Nessa direção devo agir. Não busco mais do que amor e felicidade para a humanidade. Creio que é aquilo que todos buscamos afinal. Amor é gerado por amor. Nossa vida só vale a pena se nos amamos e consolamos. Procurei na música o significado da arte e a música me deu trabalho e foi meu alvo de vida. [...] Desejo, se for possível, uma modificação da maneira de educar, para não mais apenas dar instrução, mas educação no verdadeiro sentido da palavra, uma educação que, baseada no fato de a criança estar em crescimento, estimule, desenvolva e cristalize as capacidades humanas. Por esse motivo, dedico todas as minhas forças à Educação do Talento. O que virá de uma criança depende de sua educação. Meu mais profundo desejo é que todas as crianças deste mundo possam ser boas criaturas humanas, pessoas felizes, com habilidades extraordinárias, e é para conseguir isso que dou toda minha força de ação. Isso porque estou plenamente seguro de que todas as crianças nascem com esse potencial [...] As pessoas de hoje são como jardineiros que olham com tristeza e balançam a cabeça para sua muda que não cresceu e dizem que a semente deveria ter sido má. Não consideram que a semente vingou, mas que a maneira de cuidar é que estava errada. Ficam firmes na maneira errada e deixam que, planta após planta, feneçam [...]. Trechos extraídos da obra Educação é amor: um novo método de educação (UFSM, 1983), do filósofo, músico e educador japonês Shinichi Suzuki (1898-1998), inventor do método internacional de educação musical e desenvolveu uma filosofia para educar pessoas de todas as idades e habilidades. Veja mais aqui.

COLHEITA – [...] Um rosto proibido desde que crescera. Dominava as paisagens no modo ativo de agrupar frutos e os comia nas sendas minúsculas das montanhas, e ainda pela alegria com que distribuía sementes. A cada terra a sua verdade de semente, ele se dizia sorrindo [...] sorriu, era altiva como ele, embora seu silêncio fosse de ouro [...] Um rosto proibido desde que crescera [...] Onde estive então nesta casa, ele perguntou. Procure e em achando haveremos de conversar [...] mais capaz do que ele de atingir a intensidade, e muito mais sensível porque viveu entre grades, e mais voluntariosa por ter resistido com bravura aos galanteios [...]. Trechos extraídos da obra Sala de armas (Aché, 1973), da premiadíssima escritora e imortal da Academia Brasileira de Letras, Nélida Piñon. Veja mais aqui e aqui.

MIREIA (FRAGMENTO) – [...] Então Mireia sossegava, / o olhar perdido na distância... / Parecia nas profundezas do ar azul / ver imagens maravilhosas. / Depois de novo prosseguiu: / - Felizes, felizes das almas / não mais retidas nestye mundo pela carne! / Viste os flocos de luz, Vicente, / que elas lançavam ao subirem ? / Que belo livro se teria, se as palavras / que disseram fossem escritas! / Vicente, porém, que a vontade / de chorar vinha reprimindo, / deu larga à sua dor, em soluços pungentes: / - Ah, tivesse-as eu visto! Aos seus / vestidos, como um carrapato, / me teria agarrado, e chorando, e berrando: / - Ó Rainhas do céu, diria / Único asilo que nos resta, / Oh arrancai-me os dentes todos, / os dez dedos das mãos, os dois olhos da cara! / Mas dai-me incólume de volta / a fadazinha dos meus sonhos! / - Ei-las que vêm nas suas túnicas de linho! / Súbito pôs-se ela a dizer, / e esforçando-se por sair / do regaço de sua mãe, / acenava com a mão para as bandas do mar. / Logo todos o olhar volveram / para onde a moça apontava. / E diziam, levando a mão à testa: - Nada / enxergamos ali por ora, / senão a linha do horizonte / confinando o céu e a água amarga. / - Não se vê nada ali... – Vê-se, sim! Olhe bem! / - Elas vêm num barco sem vela, / gritou Mireia. Não estão vendo / como as ondas ficam serenas diante delas? / Oh, são elas! O ar está claro, / e a brisa suave que as bafeja / se move o mais leve que pode... / Os pássaros do mar saúdam-na em revoadas. [...]. Trecho do Canto duodécumo: a morte, extraído da obra Mireia (Delta, 1962), do poeta francês Frédéric Mistral (1830-1914), Prêmio Nobel de Literatura de 1904.

A ARTE DE LYGIA PAPE
A arte gravadora, escultora, pintora, professora e artista multimídia Lygia Pape (1927-2004). Veja mais aqui.


O III Simpósio de Pesquisa e Práticas Docentes – III SIMPRAD & muito mais na Agenda aqui.
&
A vida é plena e é o que sou, o pensamento de Milton Santos, a literatura de Nélida Piñon, Liberdade de Imprensa & a arte de Leonid Afremov aqui.