TRABALHO, RESIGNAÇÃO & SERVIDÃO - Imagem:
arte do artista chinês Cai Guo-Qiang.
- Tudo começou quando a minha tribo, ao enfrentar o inimigo em guerra aberta,
caiu vencida no embate. Resistimos o mais que podíamos, de nada adiantaram
planos e estratégias, guerra é guerra, ninguém sabe a razão. A partir de então,
eu e os meus nos tornamos escravos do vencedor, um castigo de séculos e
milênios. Por muito tempo, quase por toda eternidade, a submissão aos déspotas
de eras. Nem mesmo um dia, ao gritarem por abolir a escravidão, varrendo tudo
para nada sobrar, nem adiantou, muitos começaram a chamá-la de trabalho, outros
tantos de cativeiro. Estava abolida nas conversas e decisões, era só
hipocrisia, discurso, letra morta. Inventaram uma legislação para regrar o
labor, acabar com abusos e mandos, direitos ditos contemplados por lei; na
prática, tinha hora pra chegar no batente, não havia previsão de encerrar o
expediente que poderia prosseguir noite adentro pela madrugada, e no dia
seguinte, hora de chegada, atrasasse, cortava o ponto, um dia a menos no
salário do final do mês. Outras invenções se sucederam: sindicatos, justiça
laboral, direitos constitucionais, tudo para aplacar o sofrimento da injustiça,
paliativo da ocasião, tardava e parecia não falhar, acomodava-se, perdia na
opção do menor prejuízo, afora outras intervenções de desregulamentações,
terceirizações, direitos pro brejo. Ainda hoje, como sempre, a volta do
enterro: o que antes era certeza mesmo arisca, agora por água abaixo de vez,
máscaras para servis que agora terão que encarar o algoz dono de toda riqueza,
prosélitos e capangas, tudo ao seu bolso e conveniência, enquanto do outro da
corda sem representação na retaguarda, justiça esvaziada, só seja o que Deus
quiser. Ninguém sabe, ninguém viu, enquanto no mundo inteiro a livre empregabilidade,
aqui ainda pela formalidade empregatícia. Assim, a vida dos cabisbaixos reféns
dos donos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do compositor
checo Antonín Dvořák (1841-1904): Sinfonia do Novo Mundo, Song to the
moon & Serenade for strings; da pianista Yara Bernette (1920-2002): Prelúdios
de Rachmaninov, Sonata Les Adieux de Beethoven & Bachianas Brasileiras nº 3
de Villa-Lobos; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de
Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Existe
no mundo espetáculo que prometa mais? Que imaginar de mais apto a satisfazer
todas as ambições opostas que essa aliança de esplendor e abandono? O sortilégio
que a arte procura imitar em vão, ei-lo oferecido por mil modelos inimitáveis. Aqui
a perfeição é natural. Que sonhador não terá implorado que ela ao menos lhe
surgisse nas obras do homem? Mas eles não a alcançam. Nesse ente confuso, a
justiça é manca, e a graça, incerta. Estando ausente o homem, o milagre
renasce. Essa perfeição espalhada por toda parte, feita da ternura da vida, espontaneamente
desabrochada, não precisa de um último artificio para propiciar a mudança e
parecer fácil. Ela o foi desde a origem e reside nos refinamentos supremos. Uma
reserva de infalíveis virtudes fornece a matéria, o desenho, a nuança. E não há
nada que recuperar no acordo que ela lhes propõe. Tudo brota e bem cedo se vê
conjugado num divino concerto. A natureza em pleno vigor descobre uma destreza
soberana, que se acreditaria sobrenatural, para produzir de repente maravilhas
que a habilidade, o cálculo ou o próprio gênio não conseguiriam conceber. E entretanto
não custaram nem vigílias, nem suores. A languidez preside a essa prodigalidade.
Pensamento extraído da obra Vocabulário estético (Fontaine, 1946), do
sociólogo, crítico literário e ensaísta francês Roger Caillois (1913-1978).
O HUMANO & O OUTRO - [...] a primeira experiência plena
em que todas as componentes da minha vida se uniam num único feixe: o ato da criação
poética do homem, a ação militante, a fé inextinguível no futuro e, sobretudo
[...] a certeza de que o projeto humano
em que participo não e um projeto individual, mas antes um projeto que
ultrapassa e dá significado a tudo o mais. [...] os outros são a revelação da transcendência. Da transcendência do
totalmente outro [...] Não há outra
via para chegar ate Deus senão reconhece-Lo em cada outro [...]. A sua ação não é exterior a de cada um: Ele
e, em cada outro, a sua dimensão especificamente humana, a sua transcendência
[...]. Trechos extraídos da obra Perspectiva
do homem (Civilização Brasileira, 1970), do filósofo francês Roger
Garaudy (1913-2012) que, em uma outra obra, Para libertação da mulher (Dom Quixote, 1981), complementa: [...] a forma de existência pela qual cada um não se define como uma ilha solitária,
separada de todos os outros por um vazio e tornando-se como centro e medida de
todas as coisas, mas, ao contrario, se define pela sua relação ao outro, por
uma relação que o abre ao outro, ao totalmente outro, e o torna dependente do
outro no sentido mais nobre da palavra, no sentido em que o outro e para ele
fonte de enriquecimento da sua pessoa e do seu caráter, e, ao mesmo tempo, responsável
pelo outro porque este dom permanente e reciproco [...].
MANET NO BRASIL - [...] Pelas
ruas vêem-se somente negros e negras, pois os brasileiros saem pouco, e as
brasileiras, menos ainda. [...] Neste
país, todos os negros são escravos e têm um aspecto embrutecido. O poder que os
brancos exercem sobre eles é extraordinário. Tive oportunidade de visitar um
mercado de escravos: espetáculo bastante revoltante para nós. [...] As negras andam nuas da cintura para cima,
portando algumas vezes um lenço atado ao pescoço, que cai sobre o peito. Em geral
são feias, ainda que tenha visto algumas bem bonitas. A maioria se arruma com
muito gosto: umas usam turbantes, outras arranjam os cabelos crespos com muita
arte e todas vestem umas saias decoradas com enormes folhos. As brasileiras
são, em geral, muito bonitas. Seus olhos e cabelos são magnificamente negros. Todas
penteiam-se à chinesa, saem às ruas descobertas e, tal como nas colônias espanholas,
vestem-se com uma roupa muito leve, que não estamos acostumados a ver. As mulheres
aqui nunca saem sós, mas sempre acompanhadas de suas negras ou de seus filhos,
já que se casam com 14 anos ou menos. [...]. A milícia local chega a ser cômica; os brasileiros contam também com
uma guarda nacional. A lei do recrutamento forçado existe neste país e
atualmente está em vigor, pois houve tumultos na Bahia e tropas estão continuamente
sendo enviadas para lá. [...]. A cidade,
ainda que feia, tem, aos olhos de um artista, um caráter particular. Cerca de três
quartos da população são compostos por negros e mestiços, os quais são muito
feios, salvo exceções encontradas entre as negras e as mulatas. As mulatas, a
bem da verdade, são quase todas bonitas. No Rio, todos os negros são escravos e
o trato é aí vigoroso. Quanto aos brasileiros, são preguiçosos e parecem não
ter muita energia. No tocante às brasileiras, são muito distintas e não merecem
a reputação de levianas que têm na França. Ninguém pode ser mais recatada e
mais tola do que uma brasileira. [,,,] Trechos extraídos da obra Viagem ao Rio: cartas da juventude 1848-1849
(José Olympio, 2002), do pintor e artista gráfico francês Édouard Manet (1832-1883). Veja mais aqui e aqui.
SEGUNDO GALENO – Somente
o leão e o galo, como diz Galeno, / suportam o choque do amor. / Assim,
caríssima, não pense que eu sou rude. / Se me entrego agora à lassitude, /
simpatize comigo. Eu sei que / você não gostaria que eu urrasse ou cantasse
como um galo. Poema do poeta irlandês Oliver
Joseph St John Gogarty (1878-1957).
A ARTE DE CAI GUO-QIANG
A arte do artista chinês Cai Guo-Qiang.
O Centro
Cultural Vital Corrêa de Araujo & a Biblioteca
Fenelon Barreto informam:
A arte
de ser profano de Fernando Spencer, a Literatura de José Arlindo Gomes de Sá &
muito mais na Agenda aqui.
&
O
trabalho aqui,
A
organização do trabalho aqui,
Primeiro
de maio aqui
&
Cor da pele, Os negros
de Arthur Ramos, a arte de Glauce Rocha,
a música de Gustav Mahler & a arte de Luiz Philippe aqui.