terça-feira, maio 01, 2018

GARAUDY, CAILLOIS, GOGARTY, MANET NO BRASIL, CAI GUO-QIANG, TRABALHO, DVOŘÁK & YARA BERNETTE

TRABALHO, RESIGNAÇÃO & SERVIDÃO - Imagem: arte do artista chinês Cai Guo-Qiang. - Tudo começou quando a minha tribo, ao enfrentar o inimigo em guerra aberta, caiu vencida no embate. Resistimos o mais que podíamos, de nada adiantaram planos e estratégias, guerra é guerra, ninguém sabe a razão. A partir de então, eu e os meus nos tornamos escravos do vencedor, um castigo de séculos e milênios. Por muito tempo, quase por toda eternidade, a submissão aos déspotas de eras. Nem mesmo um dia, ao gritarem por abolir a escravidão, varrendo tudo para nada sobrar, nem adiantou, muitos começaram a chamá-la de trabalho, outros tantos de cativeiro. Estava abolida nas conversas e decisões, era só hipocrisia, discurso, letra morta. Inventaram uma legislação para regrar o labor, acabar com abusos e mandos, direitos ditos contemplados por lei; na prática, tinha hora pra chegar no batente, não havia previsão de encerrar o expediente que poderia prosseguir noite adentro pela madrugada, e no dia seguinte, hora de chegada, atrasasse, cortava o ponto, um dia a menos no salário do final do mês. Outras invenções se sucederam: sindicatos, justiça laboral, direitos constitucionais, tudo para aplacar o sofrimento da injustiça, paliativo da ocasião, tardava e parecia não falhar, acomodava-se, perdia na opção do menor prejuízo, afora outras intervenções de desregulamentações, terceirizações, direitos pro brejo. Ainda hoje, como sempre, a volta do enterro: o que antes era certeza mesmo arisca, agora por água abaixo de vez, máscaras para servis que agora terão que encarar o algoz dono de toda riqueza, prosélitos e capangas, tudo ao seu bolso e conveniência, enquanto do outro da corda sem representação na retaguarda, justiça esvaziada, só seja o que Deus quiser. Ninguém sabe, ninguém viu, enquanto no mundo inteiro a livre empregabilidade, aqui ainda pela formalidade empregatícia. Assim, a vida dos cabisbaixos reféns dos donos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do compositor checo Antonín Dvořák (1841-1904): Sinfonia do Novo Mundo, Song to the moon & Serenade for strings; da pianista Yara Bernette (1920-2002): Prelúdios de Rachmaninov, Sonata Les Adieux de Beethoven & Bachianas Brasileiras nº 3 de Villa-Lobos; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Existe no mundo espetáculo que prometa mais? Que imaginar de mais apto a satisfazer todas as ambições opostas que essa aliança de esplendor e abandono? O sortilégio que a arte procura imitar em vão, ei-lo oferecido por mil modelos inimitáveis. Aqui a perfeição é natural. Que sonhador não terá implorado que ela ao menos lhe surgisse nas obras do homem? Mas eles não a alcançam. Nesse ente confuso, a justiça é manca, e a graça, incerta. Estando ausente o homem, o milagre renasce. Essa perfeição espalhada por toda parte, feita da ternura da vida, espontaneamente desabrochada, não precisa de um último artificio para propiciar a mudança e parecer fácil. Ela o foi desde a origem e reside nos refinamentos supremos. Uma reserva de infalíveis virtudes fornece a matéria, o desenho, a nuança. E não há nada que recuperar no acordo que ela lhes propõe. Tudo brota e bem cedo se vê conjugado num divino concerto. A natureza em pleno vigor descobre uma destreza soberana, que se acreditaria sobrenatural, para produzir de repente maravilhas que a habilidade, o cálculo ou o próprio gênio não conseguiriam conceber. E entretanto não custaram nem vigílias, nem suores. A languidez preside a essa prodigalidade. Pensamento extraído da obra Vocabulário estético (Fontaine, 1946), do sociólogo, crítico literário e ensaísta francês Roger Caillois (1913-1978).

O HUMANO & O OUTRO - [...] a primeira experiência plena em que todas as componentes da minha vida se uniam num único feixe: o ato da criação poética do homem, a ação militante, a fé inextinguível no futuro e, sobretudo [...] a certeza de que o projeto humano em que participo não e um projeto individual, mas antes um projeto que ultrapassa e dá significado a tudo o mais. [...] os outros são a revelação da transcendência. Da transcendência do totalmente outro [...] Não há outra via para chegar ate Deus senão reconhece-Lo em cada outro [...]. A sua ação não é exterior a de cada um: Ele e, em cada outro, a sua dimensão especificamente humana, a sua transcendência [...]. Trechos extraídos da obra Perspectiva do homem (Civilização Brasileira, 1970), do filósofo francês Roger Garaudy (1913-2012) que, em uma outra obra, Para libertação da mulher (Dom Quixote, 1981), complementa: [...] a forma de existência pela qual cada um não se define como uma ilha solitária, separada de todos os outros por um vazio e tornando-se como centro e medida de todas as coisas, mas, ao contrario, se define pela sua relação ao outro, por uma relação que o abre ao outro, ao totalmente outro, e o torna dependente do outro no sentido mais nobre da palavra, no sentido em que o outro e para ele fonte de enriquecimento da sua pessoa e do seu caráter, e, ao mesmo tempo, responsável pelo outro porque este dom permanente e reciproco [...].

MANET NO BRASIL - [...] Pelas ruas vêem-se somente negros e negras, pois os brasileiros saem pouco, e as brasileiras, menos ainda. [...] Neste país, todos os negros são escravos e têm um aspecto embrutecido. O poder que os brancos exercem sobre eles é extraordinário. Tive oportunidade de visitar um mercado de escravos: espetáculo bastante revoltante para nós. [...] As negras andam nuas da cintura para cima, portando algumas vezes um lenço atado ao pescoço, que cai sobre o peito. Em geral são feias, ainda que tenha visto algumas bem bonitas. A maioria se arruma com muito gosto: umas usam turbantes, outras arranjam os cabelos crespos com muita arte e todas vestem umas saias decoradas com enormes folhos. As brasileiras são, em geral, muito bonitas. Seus olhos e cabelos são magnificamente negros. Todas penteiam-se à chinesa, saem às ruas descobertas e, tal como nas colônias espanholas, vestem-se com uma roupa muito leve, que não estamos acostumados a ver. As mulheres aqui nunca saem sós, mas sempre acompanhadas de suas negras ou de seus filhos, já que se casam com 14 anos ou menos. [...]. A milícia local chega a ser cômica; os brasileiros contam também com uma guarda nacional. A lei do recrutamento forçado existe neste país e atualmente está em vigor, pois houve tumultos na Bahia e tropas estão continuamente sendo enviadas para lá. [...]. A cidade, ainda que feia, tem, aos olhos de um artista, um caráter particular. Cerca de três quartos da população são compostos por negros e mestiços, os quais são muito feios, salvo exceções encontradas entre as negras e as mulatas. As mulatas, a bem da verdade, são quase todas bonitas. No Rio, todos os negros são escravos e o trato é aí vigoroso. Quanto aos brasileiros, são preguiçosos e parecem não ter muita energia. No tocante às brasileiras, são muito distintas e não merecem a reputação de levianas que têm na França. Ninguém pode ser mais recatada e mais tola do que uma brasileira. [,,,] Trechos extraídos da obra Viagem ao Rio: cartas da juventude 1848-1849 (José Olympio, 2002), do pintor e artista gráfico francês Édouard Manet (1832-1883). Veja mais aqui e aqui.

SEGUNDO GALENOSomente o leão e o galo, como diz Galeno, / suportam o choque do amor. / Assim, caríssima, não pense que eu sou rude. / Se me entrego agora à lassitude, / simpatize comigo. Eu sei que / você não gostaria que eu urrasse ou cantasse como um galo. Poema do poeta irlandês Oliver Joseph St John Gogarty (1878-1957).

A ARTE DE CAI GUO-QIANG
A arte do artista chinês Cai Guo-Qiang.


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