segunda-feira, abril 30, 2018

ELIOT, PLOTINO, RIBON, APULEIO, MARISA MERZ, GÁBOR SZABÓ & KATE BUSH

TEM CADA UMA NA VIDA! - Imagem: Arte da escultora e artista visual italiana Marisa Merz. - Boko-Moko não existe e anda vivinho da silva por aí com suas costeletas espessas, bigode e topete ajeitados diariamente, golas altas de Elvis Presley na camisa acochada de purpurina e aberta da caixa dos peitos até o umbigo, cinturão grosso com super-fivela de um touro bravo, calça colada nas coxas e do joelho pra baixo mais parece uma saia com a sua boca de sino, cavalo-de-aço com a barulhada de metais no salto e solado, gíria dos oraitis e brasa mora, um espalhafato! Apelido é o que não lhe falta de tanto amostramento, e ele nem nem, e assina em tudo apenas Boko-Moko, gosta disso. É assim desde os anos 1970. Décadas se passaram e de lá não saiu, até hoje. Por onde chega, um escândalo! Sempre com aquela do papo firme, amontado no Karmanguia – não sei como um trocinho daquele cabe um homenzarrão desse tamanho dentro, parece mais de brinquedo, mas não é. Não sei quantas vezes ele fora barrado em instituições públicas, ou convidado a sair de solenidades, e ele, nem aí. Ao sair mascando chicletes, sempre dizia: Também não queria ir aí, bicho! Abre um sorriso sempre mudando do tinindo pro paz e amor nos dedos. Que coisa, né? Nada, tem muita gente indignada com seu modo de ser; para mim, nada demais. Conheço gente que fez o contrário: nasceu uns anos desses aí e vive na Idade da Pedra, ou sonhando prepotente mandão do Golpe de 1964, ou mesmo alter ego de Hitler, e por aí vai, coisa que nem viram nem viveram, só de ouvir falar, ou de leituras superficiais, achando bonito até a idolatria e mandando ver na predileção. Ué, o que conheço de gente que ficou com a cabeça e a vida na década de 1980, não está no gibi, quanto saudosismo, até me lembrando daquela do Belchior: ainda somos os mesmo e vivemos como nossos pais. Coisa de disco arranhado. De fato, conheço pouca gente que tenha acompanhado na cabeça a mudança dos tempos. Mesmo com o recado de Pound, tem quem viva mesmo até séculos passados. Eu vejo disso todo dia, novidades de museus nas calçadas, nas praças, no dia a dia, mortos ressuscitados que zanzam pelos semáforos, dão pitacos na vida dos outros, se metem nas gestões públicas, arrotam vida e fazem de tudo impondo suas razões e ranços. Todo dia um novo dia e a mesma coisa entre nós. Eu mesmo nasci num dia lá de 1960, parece, e nem sei direito em que ano estou, ah sei lá, às vezes me assusto com os antiquários ambulantes e me rio, apenas. Tô dentro e não é nada engraçado, passo e vejo, não é nada agradável, mas, pelo sim, pelo não, dá pra se divertir ainda. Pois é. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do guitarrista húngaro Gábor Szabó (1936-1982): Dreams, Bacanal & Budapest; da cantora e compositora performática inglesa Kate Bush: Hammersmith Odeon, The Tour of Life & Hounds of Love; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] a natureza que produz tantos belos objetos deve possuir ela mesma uma beleza muito superior. Mas, como não temos o hábito de ver o interior das coisas que não conhecemos, restringimo-nos ao seu exterior, ignorando que é dentro delas que se esconde o que nos comove [...]. Pensamento extraído da obra Enéadas (Polar, 2000), do filósofo grego Plotino (204-270), reunindo tratados que versam sobre ser vivo, a virtude, dialética, a verdadeira felicidade, a beleza, a natureza, a matéria, a potencialidade e a atualidade, a qualidade e a substância, o destino, a providência, o amor, a impassividade do incorpóreo, a natureza, a essência da alma, as três hipóstases primárias, a beleza inteligível, o tipos de ser, entre outros. Veja mais aqui.

A ARTE & A NATUREZA - [...] O poeta é bem mais que um artesão cuja tarefa rompe a relação de intimidade do homem com a natureza; o poeta é inspirado pela natureza, que dele se serve para se dizer através das figuras da arte. A exigência que o artista sente como uma missão – pois ele muitas vezes está pronto a tudo sacrificar-lhe – é a de uma tarefa que o supera, possuindo-o; a natureza que o convida espera dele e de sua singularidade que manifestem o devir do sentido, ou seja, o ser no seu aparecer. Como se a natureza tivesse estado impaciente por dizer-se numa consciência, a arte, qual uma luz transfigurando o espaço tenebroso das cavernas, pareceu na autora da humanidade desde que o homem superou sua animalidade. Cooperando com o ser, a arte, permitindo ao homem voltar às paragens originárias da qual se faz eco, é também uma participação no ser. Assim a natureza quer a arte: o homem artista é um momento privilegiado do ser, o momento em que o sentido se concentra. [...]. Trecho extraído da obra A arte da natureza (Papirus, 1991), do filósofo e crítico de arte francês Michel Ribon.

A FÁBULA DE AMOR E PSIQUE – I - Era uma vez um rei e uma rainha que possuíam três filhas muito belas. Com relação às duas mais velhas, conquanto extremamente graciosas, ainda seria possível louvá-las com palavras humanas; mas ninguém conseguiria descrever a esplêndida beleza da mais moça, e não existiam palavras com as quais fosse possível celebrá-la dignamente. De fato, tanto os moradores do lugar, como os forasteiros que, atraídos pela fama daquela maravilha, acorriam continuamente à cidade, ficavam boquiabertos diante dos encantos de tão formosa donzela e, colocando a mão direita diante dos lábios dos lábios enquanto aproximavam o indicador do polegar direito, veneravam-na como se costuma fazer nos templos, quase como se fosse a própria Vênus em pessoa. E já se espalhara pelas cidades vizinhas a notícia de que a deusa, gerada no cerúleo abismo do mar, e alimentada pelo orvalho das vagas espumejantes, havia descido à terra e vagava pelo meio do povo, ou que provavelmente um novo germe de gotas celestes, não mais nos mares e, sim, na terra, dera nascimento a uma nova Vênus, adornada pelas flores da virgindade. Assim a fama daquele prodígio cada vez mais avultava, espalhava-se e difundia-se também pelas ilhas vizinhas, assim como por muitas regiões da terra. Um sem-número de mortais acorria para admirar a nova maravilha do século, para isso se sujeitando a longas viagens e atravessando mares profundos. Ninguém mais navegava para Pato, ou para Cnido, e nem mesmo para a própria Citera, a fim de chegar à presença de Vênus. Os sacrifícios eram adiados, os templos perdiam o seu esplendor, todos passavam, indiferentes, pela frente desses templos, e negligenciavam-lhes as cerimônias; sem coroa quedavam as imagens, sem adornos nos altares, e sujos de cinza fria. Era à donzela que dirigiam suas preces e no seu rosto humano celebravam a majestade da augusta deusa. O nome de Vênus ausente era glorificado com vítimas e banquetes na presença da virgem, durante seus passeios matinais, e quando ela passava pelas praças do povo a homenageava, tecendo coroas e atirando flores à sua passagem. Porém, aquele culto a uma jovem mortal, à qual irreverentemente outorgavam honras celestes, acordou um violento despeito na verdadeira Vênus que, indignada, sacudindo a cabeça, fremente de cólera, assim falou: - Eu, antiga geradora das coisas da natureza, origem primeira dos elementos, alma Vênus de toda a orbe, vejo-me reduzida a dividir as honras dos altares com uma jovem mortal, e o meu nome, venerado no céu, está sendo profanado com vulgaridades terrenas. E também terei de suportar, com humilhação para a minha divindade, que o meu culto seja substituído por um ritual equivoco, e que uma jovem mortal passeie a minha imagem. Debalde aquele pastor, cuja fé e cujo bom sendo foram elogiados pelo sumo Júpiter, debalde celebrou ele a minha beleza perante os maiores deuses. Mas essa mortal, seja quem for, não desfrutará durante muito tempo honras que me são devidas; porque farei com que a sua ilícita beleza lhe seja motivo de consternação. Sem perda de tempo, Vênus chama o seu alado e um tanto quanto temerário filho, aquele que, desrespeitando com seu mau comportamento a pública disciplina, armado de tochas e setas, se introduz nas casas à noite, aqui e ali, corrompendo as esposas alheias, que comete impunemente inúmeras ações vergonhosas e, em suma, nada faz de louvável. Leva o deus, já insolente e desenfreado por natureza, àquela cidade, mostra-lhe Psiquê, como se chamava a jovem, relata-lhe tintim por tintim tudo quanto se relacionava com a beldade rival e, gemendo, palpitante de indignação, assim lhe fala: - Suplico-te pelos laços do afeto materno, pelas suaves feridas das tuas flechas, pelas doces queimaduras deste teu facho, que vingues satisfatoriamente a tua mãe, que castigues tão insolente criatura, que executes esta única tarefa: faze com que a virgem se consuma de amor ardentíssimo pelo homem condenado pelo destino a ser o mais abjeto de todos em relação à honra, ao patrimônio, à liberdade, enfim tão abjeto que no mundo inteiro não seja possível encontrar outro que lhe chegue aos pés em infâmia. Depois de assim falar, beijou longa e ardentemente o filho, estreitou-o contra peito, dirigiu-se às vizinhas praias do mar em refluxo e, caminhando sobre a espumejante superfície das ondas palpitantes, mergulhou no fundo enxuto do mar. Tal como desejava, exatamente como se o tivesse ordenado, não tardaram os favores do mar: vieram-lhe ao encontro as filhas de Nereu, cantando em coro, e o áspero Portuno, de barbas cerúleas, e Salácia, com o seio carregado de peixes; e o pequeno Palemon, que guiava um delfim; e o bando de Tritões, saltitando pelo mar inteiro: um deles faz ressoar suavemente uma concha sonora, outro abriga a deusa, sob uma colcha de das, dos raios molestos do sol, um terceiro coloca-lhe um espelho diante dos olhos, outros chegam em coches puxados por dois cavalos. Era esse o exército que escoltava Vênus na sua viagem pelo Oceano. [...]. Trecho extraído da obra Eros & Psique (FTD, 2009), do escritor e filósofo romano Lúcio Apuleio(125-170). Veja mais aqui.

DOIS POEMASPELA MANHÃO À JANELA – Estão remexendo os pratos do café da manhã / na cozinha dos andares térreos / ao longo das atropelas esquinas da rua. / Estou consciente das nevoentas almas das criadas de casa / rebentando desesperançadas nas áreas do portão. / As cinzentas ondas do nevoeiro para mim viram / faces retorcidas desde o fundo da rua / e rasgam de uma transeunte de saia enlameada / um sorriso sem alvo que esvoaça no ar / e desaparece além no nível dos telhados. O BOSTON EVENING TRANSCRIPT – Os leitores do Boston Evening Transcript / dançam ao vento como um campo de trigo. / Quando a tarde desmaia nas ruas, / acordando em alguns o apetite da vida / e trazendo a outros Boston Evening Transcrip, / subo as escadas e toco a campainha, volvendo-me / cansando, como alguém que se volvesse para / dizer adeus a Rochefoucauld, / se as ruas fossem o tempo / e ele estivesse no fim da rua, / e digo: Tia Harriet, aqui está o Boston Evening Transcript. Poemas do poeta, dramaturgo, crítico literário inglês e Prêmio Nobel de 1948, Thomas Stearns Eliot (1888-1965). Veja mais aqui.

A ARTE DE MARISA MERZ
A arte da escultora e artista visual italiana Marisa Merz.


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Altas horas da madrugada, a poesia Carlos Drummond Andrade, a arte de Edgar Degas & a música de Sueli Costa aqui.