TEM CADA UMA NA VIDA! - Imagem: Arte da
escultora e artista visual italiana Marisa
Merz. - Boko-Moko não existe e anda vivinho da silva por aí com suas
costeletas espessas, bigode e topete ajeitados diariamente, golas altas de
Elvis Presley na camisa acochada de purpurina e aberta da caixa dos peitos até
o umbigo, cinturão grosso com super-fivela de um touro bravo, calça colada nas
coxas e do joelho pra baixo mais parece uma saia com a sua boca de sino,
cavalo-de-aço com a barulhada de metais no salto e solado, gíria dos oraitis e
brasa mora, um espalhafato! Apelido é o que não lhe falta de tanto amostramento,
e ele nem nem, e assina em tudo apenas Boko-Moko, gosta disso. É assim desde os
anos 1970. Décadas se passaram e de lá não saiu, até hoje. Por onde chega, um
escândalo! Sempre com aquela do papo firme, amontado no Karmanguia – não sei
como um trocinho daquele cabe um homenzarrão desse tamanho dentro, parece mais
de brinquedo, mas não é. Não sei quantas vezes ele fora barrado em instituições
públicas, ou convidado a sair de solenidades, e ele, nem aí. Ao sair mascando
chicletes, sempre dizia: Também não queria ir aí, bicho! Abre um sorriso sempre
mudando do tinindo pro paz e amor nos dedos. Que coisa, né? Nada, tem muita
gente indignada com seu modo de ser; para mim, nada demais. Conheço gente que
fez o contrário: nasceu uns anos desses aí e vive na Idade da Pedra, ou
sonhando prepotente mandão do Golpe de 1964, ou mesmo alter ego de Hitler, e
por aí vai, coisa que nem viram nem viveram, só de ouvir falar, ou de leituras
superficiais, achando bonito até a idolatria e mandando ver na predileção. Ué,
o que conheço de gente que ficou com a cabeça e a vida na década de 1980, não
está no gibi, quanto saudosismo, até me lembrando daquela do Belchior: ainda
somos os mesmo e vivemos como nossos pais. Coisa de disco arranhado. De fato,
conheço pouca gente que tenha acompanhado na cabeça a mudança dos tempos. Mesmo
com o recado de Pound, tem quem viva mesmo até séculos passados. Eu vejo disso
todo dia, novidades de museus nas calçadas, nas praças, no dia a dia, mortos
ressuscitados que zanzam pelos semáforos, dão pitacos na vida dos outros, se
metem nas gestões públicas, arrotam vida e fazem de tudo impondo suas razões e
ranços. Todo dia um novo dia e a mesma coisa entre nós. Eu mesmo nasci num dia
lá de 1960, parece, e nem sei direito em que ano estou, ah sei lá, às vezes me
assusto com os antiquários ambulantes e me rio, apenas. Tô dentro e não é nada
engraçado, passo e vejo, não é nada agradável, mas, pelo sim, pelo não, dá pra
se divertir ainda. Pois é. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do guitarrista húngaro Gábor Szabó (1936-1982): Dreams, Bacanal & Budapest; da cantora e
compositora performática inglesa Kate Bush: Hammersmith Odeon, The Tour of Life & Hounds
of Love; &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de
Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] a
natureza que produz tantos belos objetos deve possuir ela mesma uma beleza
muito superior. Mas, como não temos o hábito de ver o interior das coisas que
não conhecemos, restringimo-nos ao seu exterior, ignorando que é dentro delas
que se esconde o que nos comove [...]. Pensamento extraído da obra Enéadas (Polar, 2000), do filósofo grego
Plotino (204-270), reunindo tratados
que versam sobre ser vivo, a virtude, dialética, a verdadeira felicidade, a
beleza, a natureza, a matéria, a potencialidade e a atualidade, a qualidade e a
substância, o destino, a providência, o amor, a impassividade do incorpóreo, a
natureza, a essência da alma, as três hipóstases primárias, a beleza
inteligível, o tipos de ser, entre outros. Veja mais aqui.
A ARTE & A NATUREZA - [...] O
poeta é bem mais que um artesão cuja tarefa rompe a relação de intimidade do
homem com a natureza; o poeta é inspirado pela natureza, que dele se serve para
se dizer através das figuras da arte. A exigência que o artista sente como uma
missão – pois ele muitas vezes está pronto a tudo sacrificar-lhe – é a de uma
tarefa que o supera, possuindo-o; a natureza que o convida espera dele e de sua
singularidade que manifestem o devir do sentido, ou seja, o ser no seu
aparecer. Como se a natureza tivesse estado impaciente por dizer-se numa
consciência, a arte, qual uma luz transfigurando o espaço tenebroso das
cavernas, pareceu na autora da humanidade desde que o homem superou sua
animalidade. Cooperando com o ser, a arte, permitindo ao homem voltar às
paragens originárias da qual se faz eco, é também uma participação no ser.
Assim a natureza quer a arte: o homem artista é um momento privilegiado do ser,
o momento em que o sentido se concentra. [...]. Trecho extraído da obra A arte da natureza (Papirus, 1991), do
filósofo e crítico de arte francês Michel
Ribon.
A FÁBULA DE AMOR E PSIQUE – I - Era
uma vez um rei e uma rainha que possuíam três filhas muito belas. Com relação
às duas mais velhas, conquanto extremamente graciosas, ainda seria possível
louvá-las com palavras humanas; mas ninguém conseguiria descrever a esplêndida
beleza da mais moça, e não existiam palavras com as quais fosse possível
celebrá-la dignamente. De fato, tanto os moradores do lugar, como os
forasteiros que, atraídos pela fama daquela maravilha, acorriam continuamente à
cidade, ficavam boquiabertos diante dos encantos de tão formosa donzela e,
colocando a mão direita diante dos lábios dos lábios enquanto aproximavam o
indicador do polegar direito, veneravam-na como se costuma fazer nos templos,
quase como se fosse a própria Vênus em pessoa. E já se espalhara pelas cidades
vizinhas a notícia de que a deusa, gerada no cerúleo abismo do mar, e
alimentada pelo orvalho das vagas espumejantes, havia descido à terra e vagava
pelo meio do povo, ou que provavelmente um novo germe de gotas celestes, não
mais nos mares e, sim, na terra, dera nascimento a uma nova Vênus, adornada
pelas flores da virgindade. Assim a
fama daquele prodígio cada vez mais avultava, espalhava-se e difundia-se também
pelas ilhas vizinhas, assim como por muitas regiões da terra. Um sem-número de
mortais acorria para admirar a nova maravilha do século, para isso se
sujeitando a longas viagens e atravessando mares profundos. Ninguém mais
navegava para Pato, ou para Cnido, e nem mesmo para a própria Citera, a fim de
chegar à presença de Vênus. Os sacrifícios eram adiados, os templos perdiam o
seu esplendor, todos passavam, indiferentes, pela frente desses templos, e
negligenciavam-lhes as cerimônias; sem coroa quedavam as imagens, sem adornos
nos altares, e sujos de cinza fria. Era à donzela que dirigiam suas preces e no
seu rosto humano celebravam a majestade da augusta deusa. O nome de Vênus
ausente era glorificado com vítimas e banquetes na presença da virgem, durante
seus passeios matinais, e quando ela passava pelas praças do povo a
homenageava, tecendo coroas e atirando flores à sua passagem. Porém, aquele
culto a uma jovem mortal, à qual irreverentemente outorgavam honras celestes,
acordou um violento despeito na verdadeira Vênus que, indignada, sacudindo a
cabeça, fremente de cólera, assim falou: - Eu, antiga geradora das coisas da
natureza, origem primeira dos elementos, alma Vênus de toda a orbe, vejo-me
reduzida a dividir as honras dos altares com uma jovem mortal, e o meu nome,
venerado no céu, está sendo profanado com vulgaridades terrenas. E também terei
de suportar, com humilhação para a minha divindade, que o meu culto seja
substituído por um ritual equivoco, e que uma jovem mortal passeie a minha
imagem. Debalde aquele pastor, cuja fé e cujo bom sendo foram elogiados pelo
sumo Júpiter, debalde celebrou ele a minha beleza perante os maiores deuses.
Mas essa mortal, seja quem for, não desfrutará durante muito tempo honras que
me são devidas; porque farei com que a sua ilícita beleza lhe seja motivo de
consternação. Sem perda de tempo, Vênus chama o seu alado e um tanto quanto
temerário filho, aquele que, desrespeitando com seu mau comportamento a pública
disciplina, armado de tochas e setas, se introduz nas casas à noite, aqui e
ali, corrompendo as esposas alheias, que comete impunemente inúmeras ações
vergonhosas e, em suma, nada faz de louvável. Leva o deus, já insolente e
desenfreado por natureza, àquela cidade, mostra-lhe Psiquê, como se chamava a
jovem, relata-lhe tintim por tintim tudo quanto se relacionava com a beldade
rival e, gemendo, palpitante de indignação, assim lhe fala: - Suplico-te pelos
laços do afeto materno, pelas suaves feridas das tuas flechas, pelas doces
queimaduras deste teu facho, que vingues satisfatoriamente a tua mãe, que
castigues tão insolente criatura, que executes esta única tarefa: faze com que
a virgem se consuma de amor ardentíssimo pelo homem condenado pelo destino a
ser o mais abjeto de todos em relação à honra, ao patrimônio, à liberdade,
enfim tão abjeto que no mundo inteiro não seja possível encontrar outro que lhe
chegue aos pés em infâmia. Depois de assim falar, beijou longa e ardentemente o
filho, estreitou-o contra peito, dirigiu-se às vizinhas praias do mar em
refluxo e, caminhando sobre a espumejante superfície das ondas palpitantes,
mergulhou no fundo enxuto do mar. Tal como desejava, exatamente como se o
tivesse ordenado, não tardaram os favores do mar: vieram-lhe ao encontro as
filhas de Nereu, cantando em coro, e o áspero Portuno, de barbas cerúleas, e
Salácia, com o seio carregado de peixes; e o pequeno Palemon, que guiava um
delfim; e o bando de Tritões, saltitando pelo mar inteiro: um deles faz ressoar
suavemente uma concha sonora, outro abriga a deusa, sob uma colcha de das, dos
raios molestos do sol, um terceiro coloca-lhe um espelho diante dos olhos,
outros chegam em coches puxados por dois cavalos. Era esse o exército que
escoltava Vênus na sua viagem pelo Oceano. [...]. Trecho extraído da obra Eros & Psique (FTD, 2009), do
escritor e filósofo romano Lúcio Apuleio(125-170). Veja mais aqui.
DOIS POEMAS – PELA
MANHÃO À JANELA – Estão remexendo os pratos do café da manhã / na cozinha dos
andares térreos / ao longo das atropelas esquinas da rua. / Estou consciente
das nevoentas almas das criadas de casa / rebentando desesperançadas nas áreas
do portão. / As cinzentas ondas do nevoeiro para mim viram / faces retorcidas
desde o fundo da rua / e rasgam de uma transeunte de saia enlameada / um
sorriso sem alvo que esvoaça no ar / e desaparece além no nível dos telhados. O
BOSTON EVENING TRANSCRIPT – Os leitores do Boston Evening Transcript / dançam
ao vento como um campo de trigo. / Quando a tarde desmaia nas ruas, / acordando
em alguns o apetite da vida / e trazendo a outros Boston Evening Transcrip, /
subo as escadas e toco a campainha, volvendo-me / cansando, como alguém que se
volvesse para / dizer adeus a Rochefoucauld, / se as ruas fossem o tempo / e
ele estivesse no fim da rua, / e digo: Tia Harriet, aqui está o Boston Evening
Transcript. Poemas do poeta, dramaturgo, crítico literário inglês e Prêmio
Nobel de 1948, Thomas Stearns Eliot (1888-1965). Veja mais aqui.
A ARTE DE MARISA MERZ
A arte da escultora e artista visual italiana Marisa Merz.
VII
Congresso Internacional Matéria-Prima: práticas das Artes Visuais no ensino
básico e secundário & muito mais na Agenda
aqui.
&
Altas horas da madrugada, a poesia
Carlos Drummond Andrade, a arte de Edgar Degas & a música de Sueli Costa aqui.