UMA COISA & OUTRAS TANTAS – Imagem:
a arte da atriz, bailarina e artista performática Katherine Crocker. - Sou como o rio que muda sem deixar de ser, desaguo
lágrimas e suores, sangue represado, e reinvento a mim próprio e mais não sei o
que será, qual confim. Por trás de cada ato um caleidoscópio e eu em cada cena
perdida do que fui. Há o que fazer entre tantas estranhezas à beira das ruas, com
minhas heresias a transpor obstáculos que ganham vida própria e me assombra a
indiferença com as abstrações inalcançáveis dos que vivem no vórtice dos seus
próprios umbigos, alheios a tudo. Não sabem e sou da mesma natureza daquele que
nasce a passar pelo firmamento até mergulhar no horizonte dos meus astros desencontrados
nos rumos de outra galáxia, em que as guelras se confundam com pulmões, peles,
conchas e garras e, no final das contas, sumam dentro da noite dos meus porões.
Às vezes me antecipo cansado e ferido pelos desígnios que bendigo ao me
esquecer dos segredos – nem os tenho mais -, nas dores dos meus desvãos. Nada
perdi porque nunca tive, voo vestido de palavras, quem sabe, um poema me salve
a pele, a perder dos medos na madrugada a dormir janela aberta, inventando
versos pra poesia que não fiz, na paz entre a água e o fogo. Eu rego a terra
para ter o que desejo, como o sonho da mulher amada, esplêndida e serena, nua
na varanda orvalhada no que sou de lua cheia, para que ela me estenda sua mão
estrelada, com o viço de menina no sopro libertário e para que todos possam
vê-la no que sou de prisioneiro a voar na imensidão do infinito. É ela quem
chega quando longe de mim me encontro e proclamo o luzeiro na penugem dela e não
há que não seja bom. É por isso que o amor me faz melhor: é dentro dela que o
meu sonho se faz real, porque descobri o ouro invisível do seu coração. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do pianista, arranjador e compositor Kiko Continentino: Sambajazz trio, O pulo do gato & Casa da Música; da
cantora e compositora Kelly Benevides: Ah se eu vou, Samba de Aruanda & Kukukaia com Cátia
de França; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] A
educação é, aliás, o exemplo dos mais evidentes, de necessidade de uma
abordagem interdisciplinar, seja com objeto de conhecimento e de pesquisa, seja
como espaço de intervenção social [...]. Trecho extraído de Subsídios para uma reflexão sobre novos
caminhos da interdisciplinaridade (Cortez; 2000), do
professor Antonio Joaquim Severino.
EDUCAÇÃO - [...] o que se chama comumente
educação – o aprendizado de ofícios e profissões como fim de tornar o homem apto
a ganhar a vida, a ambientar-se numa situação particular da vida – é servil.
Como é vão tentar ensinar verdades para a mocidade ou para qualquer pessoa. Só podem aprendê-las a seu jeito e
quando estiverem maduras para isso... Uma centena de jovens no colégio são
instruídos em físicas, matemáticas, línguas, etc. Em cada centena, haverá talvez um ou dois,
acaso amadurecidos prematuramente, que abordarão o assunto de um ponto de vista
semelhante ao do professor; quanto ao resto, porém, e entre estes os mais
promissores, é como ensinar química agrícola a outros tantos índios. Adquirem
talvez um treino valioso, mas não aprendem o que se lhes ensina. No máximo
aprendem onde se encontra o arsenal, caso precisem usar qualquer de suas armas. [...] O poeta diz que o estudo
próprio à humanidade é o homem. Eu digo: estudai para esquecer tudo isso –
ampliai vossas visões do universo. [...] Se passo por qualquer experiência valiosa, tenho a certeza de que
pensarei que meus mentores nada dizem sobre ela. O que era mistério para a
criança continua sendo mistério para o velho. Chega-se quase a duvidar se o
mais sábios dos sábios chegou a aprender, vivendo, qualquer coisa de valor
absoluto. [...]. Trecho
extraído da obra O pensamento vivo de
Thoreau (Martins, 1965), do ensaísta, poeta,
naturalista, ativista anti-impostos, crítico, pesquisador, historiador,
filósofo e transcendentalista norte-americano Henry David Thoreau (1817-1852). Veja mais aqui, aqui e aqui.
O BELO VERÃO - [...] Desde
aquele dia a bela Carlotta não foi mais aos lugares desertos. Linda nos disse:
- Fiquem sossegados. - Assim, Pieretto
perdia com as meninas e garantia que tinha vencido. Depois, descobria lugares e
pessoas novas e mudava de assunto. Terminada a época dos banhos só tinha feito
amizade com o dono de alguma taberna e com velhos aposentados. Lembrei-me, por
muito tempo, daquela praiazinha escondida. No fundo, o mar assim tão grande e inapreensível não me dizia
muita coisa; gostava de locais pequenos, que tinham uma forma e um sentido –
enseadas, veredas, esplanadas, olivais. Algumas vezes, estendido sobre um
encolho, observava uma lasca do tamanho da mão que, contra o céu, parecia uma
enorme montanha. Essas coisas me agradam. [...] – E Carlotta, a linda Carlotta? Linda riu, com a boca escancarada. –
Pieretto às vezes exagera. Em família somos todos assim. Também acontece
comigo. Somos incríveis. Mas com os anos pioramos. Não a contradisse e a olhava
de soslaio. Ela percebeu e me fez uma careta. – Não tenho mais os seus vinte
anos – balbuciou -, mas não tenho muitos. – A gente nasce velho – disse eu -,
não se torna. – Essa é uma daquelas de Pieretto – gritou Linda, daquelas
autênticas. Eu também fiz uma careta. – Dizemos uma por dia – murmurei, e é
suficiente. [...]. Trecho extraído da obra O belo verão (Brasiliense, 1987), do escritor italiano Cesare Pavese (1908-1950). Veja mais
aqui e aqui.
O MENINO E O VENTO - Nesta
manhã de domingo de verão, / sozinho na varanda desta casa / erguida aqui no
meio da floresta / com a ajuda de caboclos meus irmãos / - percebo que o vento
ainda não chegou, / estão imóveis as asas das palmeiras, / as flores mais altas
dos cajueiros, / brilham paradas na luz alucinante. / O canto dos pássaros
parece de cristal, /gume sonoro cortando / a espessura da manhã. / As suas asas
estremecem, / abrem caminhos no espaço / à procura do vento macio / que dança o
dia inteiro / com as palmas das inajazeiras, / inventa cantigas de acalanto / e
nos dá aviso dos barcos que chegam. / O vento só costuma ir embora / quando
começa a anoitecer. / Vai lá para o outro lado do rio, / passa a noite
passeando / pelas águas do Andirá, / só volta de madrugada. / Geralmente chega
bem devagarinho, / brincando com o verde do capim-agulha. / Mas tem vezes que
ele chega correndo / varando a floresta no meio da noite / para avisar ofegante
/ que o temporal já vem que vem danando. / Para onde é que foi o vento?, /
perguntei uma noitinha ao Marcote,, / o meu pequenino amigo, / frágil flor
enferma / da fome de Barreirinha. / O vento foi descansar, ele hoje trabalhou
já demais, / o vento foi dormir lá no Andirá, / ele gosta lá das águas / - me
respondeu com os olhos brilhando na noite / o menino meu companheiro, / que num
anoitecer chuvoso nos deixou / e também está demorando a voltar. / Como a luz
esgarçada de um fim de primavera / á se foi Marcotte, todo entrevado, / mordido
pelos nervos da injustiça, / subindo as águas barrentas do Paraná do Ramos, / a
tristeza de uma brisa balançando / as varandas de sua rede encardida. / Naquele
entardecer eu sei que o vento com quem ele conversava tanto, / não quis ir
descansar lá no meio das águas, / preferiu seguir junto com o menino, até
entregá-lo, na cidade grande / a ventos que ainda sopram solidários. / Nesta
manhã de domingo de verão, / os meus olhos amendoados se entreabrem / numa sala
de hospital de Ipanema, / onde lhe arrancaram do tórax / aberto com ciência e
ternura / um tumor do tamanho de uma esperança apodrecida, / cujas raízes a
ciência localiza / na altura cervical das vértebras / do caboclo menino. Na verdade,
/ estão fincadas na fundura escura / das lamas que afogaram a sua infância /
num igapó de febre e indiferença. Extraído da obra Mormaço na floresta (Civilização Brasileira, 1981), do
premiadíssimo poeta amazonense Thiago de Mello. Veja mais aqui.
A ARTE DE KATHERINE CROCKER
A arte da atriz, bailarina e artista performática Katherine Crocker.
O Centro
Cultural Vital Corrêa de Araujo & a Biblioteca
Fenelon Barreto informam:
Dance no
Lima – João Pessoa – PB & muito mais na Agenda aqui.
&
Varal
da vida, o pensamento de Carlos Matus, a
fotografia de Russel James, a pintura de Renato
Donzell & Agnes-Cecile aqui.
O
amor move seres e coisas, a literatura
de Clarice Lispector, a escultura de Sue Adams, a arte de Gabriela Morawetz & Luciah Lopez aqui.