segunda-feira, maio 14, 2018

JUNG, AUDEN, JOAN HALIFAX, GUIOMAR DE GRAMMONT, FÁBIO STACHI, JORGE CABALLERO & ANA VIDOVIC

FESTA, GOLES E CACHIMBADAS – Imagem: Arte do fotógrafo e designer Fábio Stachi. - Biritoaldo andava piongo, sorumbático. A sua vida andava às tontas, errática. Para um sujeito como ele, nada de diferente, assim fora toda sua inútil existência. Não era pra menos, viu o abatimento de Tolinho e Bestinha, tolos iguais a ele, cegos às barroadas e no meio de um tiroteio. Que coisa! Lembrava todas as suas trepidantes e inexitosas relações platônicas: Varnilza avexada e resmungante, Ximênia seminua nos afazeres domésticos, Vera – Ave, Maria! - rebolante e inacessível, a paixão obcecada pela inatingível Rebel Wilson, os ardores desenfreados pela póstuma Amy Winehouse, ah, um amantético desajeitado, sucumbente nos esgotos dos idílios. Ah, deixa pra lá. E assim, à toa, deu de cara com um entra e sai de Afredo e tanta gente num salão: Que é que é isso? A festa da Fraternidade! Eita, nem se lembrava, e nem queria mesmo, afinal não simpatizava muito com os ariscos Penisvaldo e Rolivânio, promotores do evento, com suas coisas às escondidas, cheios de pantins. Oxe! Lá estava toda patota: Robimagaiver, Mamão, Zé Bilola, Doro, Peiúdo, Marquito Ladeira, a trupe toda. Pensou: Fudido por um, fudido por mil. Por que não? Invadiu o salão bastante movimentado, mesas com uma penca de redomas e garrafas, castiçais e travessas, ponches e incensos. Serviu-se da bebida, de um só gole. Pegou outro drinque, virou o copo. Mais outro e mais, pegou um cachimbo que lhe serviram, deu bafarodas repetidas, saiu zanzando no meio da fumaça de suas próprias tragadas, cumprimentava uns e outros, deu voltas, acenos para credores, olhares censores, contas vencidas, aporrinhações, ah, tudo pro beleleu! Nem se deu conta que já estava numa onírica estrada de tijolos amarelos e, lá longe, jovens lúbricas acenando pra ele aos gritos e gargalhadas. Vem, vem! Eita! É pra lá que eu vou. Apressou o passo, tonteava resfolegante, simbora, ora. Contornou, correu, e quanto mais andava, mais parecia distante a farra daquelas beldades. Ao chegar ao topo onde elas estavam, avistou um imenso lago, cadê-las? Virou-se pros lados, à cata, e ao girar em torno de si, estava diante de um imenso espelho no qual se via destamaínho. Danou-se! Apertou as vistas, dedos esfregando os olhos, lá estava ele mesmo, minúsculo e bem distante no centro do cenário. Dirigiu-se ao seu próprio encontro, menor ficava. Teve a sensação de ouvir alguém perguntar-lhe: Você está bem? Ignorou a voz, não lhe parecia amigável nem reconhecível, seguia determinado, queria o alvo, ver-se de perto. Você está bem? E repetidas vezes a pergunta às suas ouças, chô pra lá. De repente, próximo de alcançar seu intento, tudo desaparece e ele viu-se sozinho no vazio. Fez a volta em torno de si, não havia nada, apenas a voz insistente: Vê está bem? Que porra é essa? Ah, relaxa, nunca estive melhor. Realmente, estava sobrecarregado de satisfação. Não se continha dentro de si, pela primeira a felicidade era íntima e ele renunciou sair daquele estado. Você está bem? Sai pra lá, não me enche o saco! Agora é a minha vez, pago pra ver. Nunca mais miséria, desgraça, tristeza! Estou feliz e é assim que estou agora e sou. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violonista peruano Jorge Caballero: Pictures Mussorgsky, Symphonie 9 Dvorak & Fantasia Cromática/Fuga Bach; da violonista croata Ana Vidovic: Suite castelhana, Guitar Recital & Intoduction/Variações Mozart; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Sim, eu posso ver todos os trabalhos da grande civilização, mas por que não posso encontrar pessoas civilizadas? Eu apenas encontrei especialistas, artistas que não conheciam sobre ciência; cientistas que não sabiam sobre arte; filósofos que não se interessavam por Deus; padres que não entendiam de política, e políticos que apenas conheciam outros políticos. [...]. Pensamento extraído da obra O caráter das especialidades (Zahar, 1981), do poeta, dramaturgo e editor britânico Wystan Hugh Auden (1907-1973). Veja mais aqui.

HÁ MUITO TEMPO, É OU NÃO É - [...] De qualquer forma, importa compreender que longe de estarem fechadas pelo monopólio colonial. As colônias-americanas revelam uma extrema vitalidade criativa pela circulação de conhecimentos tão ou mais dinâmicos do que a troca de riquezas materiais. Nesse mundo de privilégio e hierarquias, a arte servia a ostentação, portanto, os saberes técnicos-artísticos eram uma das mercadorias mais valiosas e procuradas. [...] Trecho extraído da obra Aleijadinho e o aeroplano: o paraíso barroco e a construção do herói colonial (Civilização Brasileira, 2008), da escritora, filósofa, historiadora, dramaturga e curador Guiomar de Grammont, na qual ela expressa que: [...] Para os pesquisadores que admitiam a existência de Aleijadinho – é claro que devidamente colocado no pódio como o maior artista do período colonial no Brasil, talvez de todos os tempos – um dos mais apaixonantes problemas, passou a ser a “originalidade”. A questão se encontra intimamente relacionada ao tema do autodidatismo do artífice e no fato realmente da concentração de tantas obras em um tempo tão exíguo, num lugar com outras dificuldades de acesso como as Minas Gerais do século XVIII. [...].

A VIDA SIMBÓLICA – [...] Isso pode ser o futuro histórico. Mas eu não estou absolutamente interessado num futuro histórico, nem um pouco. O que me interessa é a realização daquela vontade que vive em cada pessoa. Minha história é somente a história daquelas pessoas que irão realizar suas hipóteses. Este é todo o problema: este é o problema dos fieis índios Pueblo: fazer hoje todo o necessário para que meu Pai possa surgir no horizonte. Este é o meu ponto de vista. [...]. Trecho extraído da obra A vida simbólica (Vozes, 1997), do psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961). Veja mais aqui.

MARIA SABINASou mulher como a grande água / sou mulher como o sariguê / sou mulher como o lobo / sou mulher como o cão de caça / eu lhes mostrarei meu poder / sou um santo / sou mulher de espirito puro / e quebrarei o feitiço / homem que se ergue na superfície / é raiz feminina sob a água sou eu / mulher que gira / no redemoinho de ar sou eu / sou canto / e um homem santo diz (o fungo) / e uma mulher santa, diz (o fungo). Extraído da obra Shamanic voices:A Survey of Visionary Narratives (Arkana, 1991), da antropóloga, ecologista, ativista de direitos civis e professora zen-budista estadunidense Joan Halifax, que nessa obra expressa: [...] Eu sou Maria Sabina? A mulher que espera o momento adequado, a mulher que explora, a mulher da vitória; a mulher do pensamento, a mulher que cria, a mulher lua, a mulher que interpreta... O fungo sagrado me leva ao mundo onde tudo se sabe... o fugo é como alma. Além, onde deseja ir, ela te levará. [...].

A ARTE DE FÁBIO STACHI
A arte do fotógrafo e designer Fábio Stachi.


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