sábado, outubro 12, 2013

GANDHI, WENDY BROWN, BACHELARD, LAURA ESQUIVEL, UNGARETTI, LEILA GUERRIERO & FILHA DA DOR

 


OUTRA FILHA DA DOR: LUTAR & ENLOUQUECERSolange Lourenço Gomes (1947-1982) – Ela que veio de Campinas para fazer o colegial e, logo após, estudar Psicologia no Rio. A partir de então passou a participar de grupos de estudos marxistas, quando caiu na clandestinidade ao se juntar à Dissidência da Guanabara. Foi, então, denunciada como supostamente envolvida no sequestro do embaixador estadunidense, quando entrou para o grupo Organização Pará-Partidária (OPP). Foi nesta organização que ela foi denunciada por participar de assaltos a banco e carros, afora trabalhos de agitação e propagada. Depois disso passou a integrar a Frente de Trabalho Armado e a Frente Operária. Foi então perseguida por estar associada a movimentos que enfrentavam a repressão do período militar ditatorial dos anos 1960-80. Neste cenário ela mudou-se para a Bahia quando, no dia da reinauguração do estádio da Fonte Nova, em Salvador, ela participava de uma panfletagem, quando foi acometida por um surto psicótico, entregando-se à polícia. Ela se autodeclarou subversiva às autoridades e revelou informação sobre o MR-8. Mesmo assim ela foi por 90 dias brutalmente torturada e vítima de abusos sexuais nas dependências da delegacia e, depois, no Doi-Codi do Rio. Ao ser julgada foi considerada inimputável pela Justiça Militar e sentenciada a cumprir pena no manicômio judiciário por dois anos. Por gestão da defesa ela cumpriu pena na prisão, angariando amizades no cárcere apesar do constante estado de delírio. Foi enfim libertada por necessitar de tratamento psicológico, conseguindo cursar Medicina e se casar. Não demorou muito, um dia ela se jogou pela janela do apartamento onde morava, resquícios da tortura física e mental sofrida durante a prisão e que deixaram marcas insuperáveis, principalmente a matéria sensacionalista intitulada "Sexo é arma para atrair os jovens à subversão", publicada pela imprensa brasileira da época. Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Somos basicamente feitos da mesma coisa: generosidade e egoísmo, bondade e ganância. Continuamos a culpar os pobres por sua própria condição. Eles são preguiçosos. Nós não queremos saber que os mais pobres dos pobres são crianças com menos de três anos de idade... Aqueles que falam, aqueles que usam suas conexões, são mais propensos a ter sucesso do que aqueles que sentam e esperam. Não há mais desculpas para deixar as mulheres fora dos círculos internos do poder. As mulheres estão em todas as partes. As mulheres estão prontas para a liderança; Eles só precisam ser identificados e questionados. Pensamento da escritora, professora e diplomata estadunidense Madeleine Kunin.

 

ALGUÉM FALOU: Para a mesa e para a cama, uma só vez se chama. Pensamento da escritora mexicana Laura Esquivel. Veja mais aqui.

 

REGULANDO A AVERSÃO - [...] Os indivíduos tolerados serão sempre aqueles que se desviam da norma, nunca aqueles que a defendem, mas também serão articulados como indivíduos (desviantes) através do próprio discurso da tolerância. [...] Apesar do seu comportamento pacífico, a tolerância é um termo internamente pouco harmonioso, misturando bondade, amplitude e conciliação com desconforto, julgamento e aversão. Assim como a paciência, a tolerância é necessária por algo que preferiríamos que não existisse. Envolve gerenciar a presença do indesejável, do insípido, do defeituosos - até mesmo os revoltantes, repugnantes ou vis. Nesta actividade de gestão, a tolerância não oferece resolução ou transcendência, mas apenas uma estratégia de enfrentamento. [...] A culturalização da política vence analiticamente a economia política, os estados, a história e as relações internacionais e transnacionais. Elimina o colonialismo, o capital, a estratificação de castas ou classes e a dominação política externa dos relatos de conflito ou instabilidade política. Em seu lugar, a “cultura” é convocada para explicar os motivos e aspirações que levam a certos conflitos [...] A despolitização envolve afastar um fenómeno político da compreensão da sua emergência histórica e do reconhecimento dos poderes que o produzem e contornam. Não importa a sua forma e mecânica particulares, a despolitização sempre evita o poder e a história na representação do seu sujeito. Quando estas duas fontes constitutivas das relações sociais e do conflito político são eliminadas, uma naturalidade ontológica ou essencialismo quase inevitavelmente passa a residir nos nossos entendimentos e explicações. No caso em questão, um objeto de tolerância analiticamente despojado de constituição pela história e pelo poder é identificado como natural e essencialmente diferente do sujeito tolerante; nesta diferença, surge como uma provocação natural a quem a tolera. Além disso, não apenas as partes da tolerância, mas a própria cena da tolerância é naturalizada, ontologizada na sua constituição produzida pelo próprio problema da diferença. [...] A tolerância também requer uma aceitação pública de crenças e valores em desacordo com os nossos, crenças e valores que podemos considerar equivocados e até imorais. ... Neste contexto, um cidadão moralmente apaixonado torna-se estranhamente intolerável. [...] Só recentemente a tolerância se tornou um emblema da civilização ocidental, um emblema que identifica o Ocidente exclusivamente com a modernidade, e com a democracia liberal em particular, ao mesmo tempo que repudia a história selvagemente intolerante, que inclui as Cruzadas, a Inquisição, queima de bruxas, séculos de anti-semitismo, escravatura, linchamentos, práticas genocidas e outras práticas violentas do imperialismo e do colonialismo, nazismo e respostas brutais à descolonização. [...] Além da despolitização como um modo de desapropriação das histórias e dos poderes constitutivos que organizam os problemas contemporâneos e os sujeitos políticos contemporâneos – isto é, a despolitização das fontes dos problemas políticos – há um segundo significado de despolitização, relacionado com o qual este livro se preocupa: nomeadamente, aquilo que substitui vocabulários emocionais e pessoais por políticos na formulação de soluções para problemas políticos. Quando o ideal ou a prática da tolerância é substituído pela justiça ou pela igualdade, quando a sensibilidade ou mesmo o respeito pelo outro é substituído pela justiça pelo outro, quando o sofrimento historicamente induzido é reduzido à “diferença” ou a um meio de “ofensa”, quando o sofrimento como tal é reduzido a um problema de sentimento pessoal, então o campo da batalha política e da transformação política é substituído por uma agenda de práticas comportamentais, atitudinais e emocionais. Embora tais práticas muitas vezes tenham o seu valor, substituir uma atitude ou ethos tolerante pela reparação política da desigualdade ou das exclusões violentas não só reifica as diferenças produzidas politicamente, mas também reduz a acção política e os projectos de justiça a uma formação de sensibilidade, ou ao que Richard Rorty chamou de uma “melhoria nas maneiras”. .” Um projeto de justiça é substituído por um projeto terapêutico ou comportamental. [...] Se a tolerância se coloca como um caminho intermédio entre a rejeição, por um lado, e a assimilação, por outro, este caminho, como já foi sugerido, é pavimentado pela necessidade e não pela virtude; a tolerância, como diria Nietzsche, torna-se uma virtude apenas retroativa e retrospectivamente. [...] Os objetos designados de tolerância são invariavelmente marcados como indesejáveis e marginais, como sujeitos civis liminares ou mesmo humanos liminares; e pede-se aos que são chamados a exercer tolerância que reprimam ou ignorem a sua hostilidade ou repugnância em nome da civilidade, da paz ou do progresso. Psiquicamente, o primeiro é o material da abjeção e de uma variedade de ressentimento (aquele associado à exclusão); o último é o material da agressão reprimida e de outra variedade de ressentimento (aquele associado à força ou dominação renegada). [...] Chegamos agora a um ponto bastante insidioso no discurso contemporâneo da tolerância. Ao converter os efeitos da desigualdade – por exemplo, o racismo institucionalizado – numa questão de “práticas e crenças diferentes”, este discurso mascara o funcionamento da desigualdade e da cultura hegemónica como aquilo que produz as diferenças que procura proteger. Ao essencializar a diferença e reificar a sexualidade, a raça e a etnicidade ao nível das ideias e das práticas, o discurso contemporâneo da tolerância abrange o funcionamento do poder e a importância da história na produção das diferenças chamadas sexualidade, raça e etnia. Considera essas diferenças culturalmente produzidas como inatas ou dadas, como questões da natureza que dividem a espécie humana e não como locais de desigualdade ou dominação. [...] A despolitização envolve a interpretação da desigualdade, da subordinação, da marginalização e do conflito social, que exigem análise política e soluções políticas, como pessoais e individuais, por um lado, ou como naturais, religiosas ou culturais, por outro. A tolerância funciona ao longo de ambos os vectores de despolitização – personaliza e naturaliza ou culturaliza – e por vezes entrelaça-os. A tolerância, tal como é comumente usada hoje, tende a considerar os casos de desigualdade ou lesão social como questões de preconceito individual ou de grupo. [...]. Trechos extraídos da obra Regulating Aversion: Tolerance in the Age of Identity and Empire (Princeton University Press, 2006), da professora estadunidense de Ciência Política, Wendy Brown, autora da frase: Quer se trate do Estado, da Máfia, dos pais, dos cafetões, da polícia ou dos maridos, o alto preço da proteção institucionalizada é sempre uma medida de dependência e concordância para cumprir as regras do protetor. Veja mais aqui e aqui.

 

PSICANÁLISE DO FOGO – [...] Basta falarmos de um objeto para nos acreditarmos objetivos. Mas, por nossa primeira escolha, o objeto nos designa mais do que o designamos, e o que julgamos nossos pensamentos fundamentais são amiúde confidências sobre a juventude de nosso espírito. Às vezes nos maravilhamos diante de um objeto eleito; acumulamos as hipóteses e os devaneios; formamos assim convicções que têm a aparência de um saber. Mas a fonte inicial é impura: a evidência primeira não é uma verdade fundamental. De fato, a objetividade científica só é possível se inicialmente rompemos com o objeto imediato, se recusamos a sedução da primeira escolha, se detemos e refutamos os pensamentos que nascem da primeira observação. [...]. Trecho extraído da obra A psicanálise do fogo (Martins Fontes, 1994), do filósofo, crítico literário e epistemólogo francês Gaston Bachelard (1884-1962). Veja mais aqui e aqui.

 

OS SUICIDAS DO FIM DO MUNDO – [...] Como seria, pensei, não se ver refletido nas notícias, nunca se envolver na previsão do tempo, nas estatísticas, não ter nada a ver com o resto de um país inteiro? [...] Eu tinha ouvido tantas teorias para explicar tudo. Porque sim, porque não tinha o que fazer, porque estavam entediados, porque não se davam bem com os pais, porque não tinham pais ou porque tinham muitos, porque apanhavam, porque os obrigavam a abortar , porque beberam tanto álcool e tantas drogas, porque foram prejudicados, porque saíram à noite, porque roubaram, porque saíram com mulheres, porque saíram com mulheres à noite, porque tiveram traumas de infância , traumas de adolescência, traumas de primeira juventude, porque gostariam de ter nascido em outro lugar, porque não puderam ver o pai, porque a mãe os abandonou, porque prefeririam que a mãe os abandonasse, porque eles foram estupradas, porque eram solteiras, porque tinham amores mas eram infelizes, porque deixaram de ir à missa, porque eram católicos, satanistas, evangelistas, fãs de desenho, punks, sentimentais, esquisitos, estudiosos, paqueradores, preguiçosos, petroleiros , porque tinham problemas, porque não os tinham. Teorias. E as coisas que insistiam em não ter resposta. [...] Lá fora o vento era um silvo sombrio, uma boca quebrada que engolia todos os sons: os beijos, as risadas. Um gemido de aço, uma mandíbula. [...] Profunda consternação, notícias trágicas, uma vida inteira pela frente, mas ninguém fez nada. [...]. Trechos extraídos da obra Los suicidas del fin del mundo: Crónica de un pueblo patagônico (TusQuets, 2005), da escritora e jornalista argentina Leila Guerriero.

 

CINCO POEMAS & RAZÕES DE UMA POESIA - I – Com a fome do meu lobo Eu carrego o corpo do meu cordeiro para baixo como uma vela Eu sou como o barco miserável e o mar lascivo. II –  Deixe me ser como uma coisa esquerda em um canto e esquecido. III - Desta poesia Fiquei com o vazio de um segredo sem fim. IV - É azul demais este céu austral. Estrelas demais o apinham, E, para nós, nenhuma é familiar… V - Sou um poeta um grito unânime Sou um coágulo de sonhos Sou um fruto de incontáveis enxertos contrastantes amadurecido numa estufa. Poemas do poeta e professor italiano Giuseppe Ungaretti (1888-1970), autor da obra Razões de Uma Poesia (EDUSP, 1994), na qual expressa: [...] O Brasil é um país em que o homem ainda hoje contrasta com a natureza virgem, é um daqueles países da descoberta da América cujos contrastes com o espírito ocidental contribuíram para sugerir as formas do barroco e tornaram popular, na poesia de então, Polifemo. Polifemo era a imagem, surgida na Sicília, da violência que jamais conseguirá domar a graça. [...] Eu deixava nesta terra a parte mais nobre de minha alma: uma criança enterrada. Aqui viveu seus poucos anos. […] Eu fora autorizado a levar comigo os amados restos: hesitei. Disse não. […] Não se arranca um corpo da terra onde se desfaz e a qual enriquece com seu pó. [...] Memória e inocência, razão e natureza como eu as vi e senti entrechocar aqui constituíam para mim uma experiência diversa de todas as outras, inteiramente novas, e me pareciam não mais como uma catástrofe a ser delicadamente remediada, mas como espetáculos de gênese, de uma nova gênese tão desmedidamente realçada que a medida da civilização humana não poderia enfrentá-la a não ser através de uma arte intrépida e desmedida. [...] se tornaram a substância de minhas novas palavras, essências, do meu renovado tormento semântico, métrico, sintático, expressivo [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

AS OBRAS DE GANDHI: A ROCA E O CALMO PENSAR - A Roca e o Calmo Pensar é uma coletânea de textos publicados em jornais e livros, de discursos e cartas pessoais de Gandhi, focalizando o tema da prece e da meditação, instrumentos que constituíram o alimento espiritual de sua vida dedicada à não-violência e à conquista da independência de seu povo. Há homens cuja existência não apenas dignifica a humanidade como um todo, mas também a nutre com qualidades singulares. Os movimentos pacifistas do mundo, verdadeiras forças vivas da cultura emergente, têm sua inspiração na luta de Gandhi, luta centrada na desobediência civil, na não-cooperação com as forças opressoras e, ousadamente, no diálogo franco e sincero, capaz de desmascarar a hipocrisia e despir a retórica de interesses inconfessos. A prece, para Gandhi, não é um ato de isolamento e abandono das responsabilidades individuais e sociais, mas pelo contrário, a mais genuína função altruísta, já que só podemos fazer o bem a nossos semelhantes na medida em que cultivamos a paz no coração e a serenidade na mente. AUTOBIOGRAFIA: MINHA VIDA E MINHAS EXPERIÊNCIASA obra trata-se de mostrar ao público brasileiro uma parte importante - e das mais representativas - da extensa obra escrita desse notável pensador, político e educador indiano. Num momento em que questões relativas à ética, à liberdade, aos direitos humanos, e à exclusão social se tornam desafiadoras e, em muitos países, de solução inadiável, abordá-las é uma tarefa que interessa a todos os setores da sociedade. Conceitos como a não-violência, por exemplo, são detalhadamente apresentados e fundamentados pelo autor. Ao lado da educação e dos trabalhos comunitários, ela surge como instrumento de primeiríssima necessidade para a definição de novos modos de interação humana. Por tudo isso a apresentação desta obra atende a uma necessidade básica, em especial se levarmos em conta que o colonialismo - para cuja abolição Gandhi tanto se empenhou - hoje ressurge sob novas formas e em escala planetária. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

REFERÊNCIAS
GANDHI, Mohandas Karamchand. A roca e o calmo pensar. São Paulo: Palas Athena, 1991.
______. As palavras de Gandhi. Rio de Janeiro: Record, 1984.
______. Autobiografia: minha vida e minhas experiências com a verdade. São Paulo: Palas Athena, 1999.


PROGRAMA DOMINGO ROMÂNTICO – O programa Domingo Romântico que vai ao ar todos os domingos, a partir das 10hs (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação deste domingo aqui. Na edição do programa Domingo Romântico deste 13 de outubro, as comemorações do mês da criança com muitas atrações, confira: Egberto Gismonti, Ziraldo, Turma da Mônica, Canarinhos de Petrópolis, Ana Maria Machado, Chico Buarque & Os Trapalhões, Ratimbum, Baú de História & Cris Miguel & Sérgio Serrano, Bia Bedran, Castelo Ratimbum, Milton Nascimento,Toquinho, Gilberto Gil, Os Saltimbancos trapalhões, Lucinha Lins, Fatima Guedes, Ana Carolina, Fagner, Nana Caymmi, Natiruts, Rita Lee, O Rappa, Marina, Caetano Veloso, Geraldo Azevedo, Amelinha, Djavan, Chicago, Lenine, Jorge Vercilo, Altay Veloso, Fatima Maia & Quinteto Violado, Santanna o Cantador, Carmen Queiroz, Rosana Simpson, Paulinho Natureza & Sandra Moura, Marize Sarmento, Dani Lasalvia, Augusto Pitta, Dido Oliveira, Sinara, Benny Esposito, Tirso Florence de Biasi , Robson Gomes, Cantor Pitanga & muito mais! Participe, comente, curta online & abrilhante a nossa festa neste 13 de outubro, na programação da Cidade FM 87,9, a partir das 10hs. Não deixe de participar para concorrer a diversos prêmios: CDs, DVDs, livros & um tablet. Confira o programa e concorra a prêmios. Veja mais aqui.



SERVIÇO:

O que? Programa Domingo Romântico.

Quando? Neste domingo, 13 de outubro , a partir das 10hs.

Onde? Cidade FM 

Apresentação Meimei Corrêa.


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