A SOLIDÃO DE GIORDANO BRUNO
(1548-1600) – Quem o poeta que divinizava o Sol que no Despacho da besta
triunfante e sobre o infinito, o universo e os mundos, já se dizia odiado, censurado,
perseguido e assassinado. Quem era senão Fillippo e tornou-se Iordanus de Nola,
o teólogo, um frade dominicano que se tornou mártir de ciência que abandonou o hábito
e desterrado fugiu de sua terra natal numa peregrinação que faz se tornar
calvinista e depois renegá-lo ser excomungado, preferindo vagar pela França, Suíça
e Inglaterra. Quem então o filósofo panteísta que pregrava a transmigração da
alma, a arte da memória e princípios mnemônicos, influenciado pela astrologia
árabe e Averróis, pelo neoplatonismo e o hermetismo de Toth, inspirado em
Arquitas e Lucrécio, ao escrever Spaccio de la Bestia Trionfante. Quem o matemático de abordagem qualitativa aplicando a
geometria na linguagem com suas teorias cosmológicas estendendo o modelo
copernicano. Quem o ocultista hermético do pluramismo cósmico que sabia que o
universo sempre foi e será infinito e não poderia ter um centro expondo Science: A
History, hilozoísta, pampsiquista. Quem o livre pensador foi traído para ser levado a um julgamento que durou por
8 anos sem que abjurasse e findou condenado à morte na fogueira da Inquisição
sob acusação de blasfêmia, conduta imoral e heresia por negar a condenação
eterna, a Trindade, a divindade de Jesus, a virgindade de Maria e a
transubstanciação. Sua voz foi calada, sua boca amordaçada, sua morte executada:
ele ardeu às chamas, a sua última solidão. Veja mais abaixo e aqui, aqui e
aqui.
DITOS & DESDITOS - Como você
parecia não era importante. Foi o que você fez e como você fez isso. Decida
fazer isso e, em seguida, faça a melhor maneira possível. Onde quer que você
esteja, há sempre algo errado com os políticos. Eles têm tudo o que precisam
para salvar o mundo, e eles não salvam... Pensamento da cantora, ativista e
pacifista grega Nana Mouskouri.
ALGUÉM FALOU: Bem, se
você realmente quer um homem apaixonado, e não apenas o seu 'amor', você tem
que manter vivo o instinto de caça, na verdade... Um homem poderia ser o melhor
amante de sua mulher- se fosse casado com outra.
Pensamento da escritora e roteirista britânica Elinor Glyn (1864-1943).
QUEM DISSE MAIS: E o que se
pode dizer de cada parcela do grande Todo, átomo, mônada, pode se dizer do
universo como totalidade. O mundo abriga em seu coração a Alma do mundo... Não
é fora de nós que devemos procurar a divindade, pois que ela está do nosso
lado, ou melhor, em nosso foro interior, mais intimamente em nós do que estamos
em nós mesmos. Nós declaramos esse espaço infinito, dado que não há qualquer
razão, conveniência, possibilidade, sentido ou natureza que lhe trace um
limite... Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao
ouvi-la... Pensamento do teólogo, filósofo, escritor, matemático
e ocultista italiano Giordano Bruno (1548-1600). Veja mais aqui, aqui e
aqui.
REPETIÇÃO - […] Toda a vida inclui perdas. Levei muitos e muitos anos para
aprender a lidar com isso, e não espero algum dia estar totalmente resignado
com isso. Mas isso não significa que temos que
nos afastar do mundo ou parar de lutar pelo melhor que podemos fazer e ser. Devemos isso a nós mesmos, pelo
menos, e merecemos qualquer medida de bem que possa advir disso. [...] Às vezes o isolamento
pode ser compartilhado. [...] A única coisa que importava era que o
quarto de século que lhe restava seria a sua vida, para viver como quisesse e
no seu melhor interesse. Nada
tinha precedência sobre isso: nem o trabalho, nem as amizades, nem o
relacionamento com mulheres. Todos esses eram componentes de sua vida, e valiosos, mas não a definiam
nem a controlavam. Isso
dependia dele, e somente dele. [...] Ele não
conseguia tirar os olhos do rosto dela, desejou que ela tirasse aqueles
malditos óculos de sol para que ele pudesse ver os olhos que conhecia tão bem. [...] Veja, há um pouco de tristeza para
as pessoas que nunca tiveram nada, e isso é uma tristeza triste... mas o tipo
mais triste de tristeza é para aqueles que tiveram tudo o que sempre quiseram e
perderam, e sabem que não vai não volte mais. Não há
sofrimento neste mundo pior do que esse; e esse é o azul que chamamos de 'I Had It But It's All Gone Now'. [...].
Trechos extraídos da obra Replay (William
Morrow & Company, 1998), do escritor estadunidense Ken Grimwood
(1944-2003), tratando-se de um o relato sobre o jornalista de rádio Jeff Winston, de 43 anos, que morre de
ataque cardíaco em 1988 e acorda em 1963 em seu corpo de 18 anos, quando era
estudante na Emory University de Atlanta. Ele então começa a reviver sua vida com memórias intactas dos próximos 25
anos, até que, apesar de seus melhores esforços para a saúde cardíaca, morre de
ataque cardíaco, novamente, em 1988. Ele retorna imediatamente a 1963, mas
várias horas depois do última
"repetição" e isto acontece repetidamente com eventos diferentes em
cada ciclo, cada vez começando em datas cada vez mais posteriores (primeiros
dias, depois semanas, depois anos e, finalmente, décadas). Jeff logo percebe que não pode evitar sua morte em 1988,
mas pode mudar os eventos que ocorreram antes dela, tanto para ele quanto para
os outros. Durante uma repetição subsequente, Jeff toma conhecimento de um
filme altamente aclamado, Starsea, que se tornou um grande sucesso de
bilheteria em 1974. O filme foi escrito e produzido por uma cineasta
desconhecida, Pamela Phillips, que recrutou Steven Spielberg para dirigir. e George Lucas como supervisor de efeitos especiais,
antes dos dois chegarem ao estrelato com seus próprios projetos. Como o filme não existia nas repetições anteriores, Jeff
suspeita que Pamela também esteja vivenciando o mesmo fenômeno. Ele a localiza e faz perguntas sobre filmes futuros que
apenas um colega replayer saberia, confirmando suas suspeitas. Pamela e Jeff
acabam se apaixonando e se convencem de que são almas gêmeas. As complicações surgem quando eles percebem que seus
replays estão ficando cada vez mais curtos, com Pamela só iniciando seu próximo
replay bem depois de Jeff. Eventualmente, os dois
decidem tentar encontrar outros replayers colocando mensagens enigmáticas nos
jornais. As mensagens, que parecem muito
vagas para quem não é um replayer, geram uma boa quantidade de respostas sem
saída até que a dupla receba uma carta de um homem que claramente conhece os
acontecimentos futuros. Jeff e Pamela decidem
visitar o estranho, apenas para descobrir que ele está internado em um hospital
psiquiátrico. Surpreendentemente, a equipe não
presta atenção à sua discussão sobre o futuro, mas logo fica claro por que o
homem está institucionalizado quando afirma calmamente que acha que os
alienígenas o estão forçando a assassinar pessoas para seu próprio
entretenimento. Numa reprise posterior, os dois decidem tornar públicas as suas
experiências, dando conferências de imprensa anunciando eventos futuros com
detalhes explícitos. O governo eventualmente
percebe e força Pamela e Jeff a fornecer atualizações contínuas sobre
atividades estrangeiras. Embora o governo negue a
responsabilidade, os principais acontecimentos políticos começam a acontecer de
forma diferente e Jeff tenta romper o relacionamento. O governo se recusa e a dupla é presa e forçada a
continuar fornecendo informações. À medida que os replays futuros se tornam
cada vez mais curtos, os dois ficam se perguntando como as coisas acabarão se
desenrolando - se os replays acabarão ou não, e a dupla passará para a vida
após a morte - ou se o replay atual é, de fato, o último. . Eventualmente, os
replays tornam-se tão curtos que Jeff e Pamela revivem suas mortes originais
repetidamente em sucessão - até que Jeff finalmente sofre um ataque cardíaco ao
qual consegue sobreviver. Enquanto ele liga para
Pamela logo depois, ela avisa que também sobreviveu e que a repetição não foi
um sonho. Embora pareça ambíguo se eles se
encontrarão novamente ou não, Jeff aguarda ansiosamente a entrada em um futuro
imprevisível com infinitas possibilidades. No epílogo subsequente, um norueguês
acorda num corpo jovem em 1988, vinte e nove anos antes da sua aparente morte
em 2017. Ele maravilha-se com as possibilidades que o aguardam para reter as
memórias da sua vida e dos acontecimentos mundiais e nacionais. para o próximo quarto de século. Torna-se evidente para o leitor que o fenômeno da
repetição não se limita aos três indivíduos que o vivenciam no romance, nem ao
período de 1963-1988.
UM SER HUMANO ESTÁ AQUI - Um ser humano está aqui e
então desaparece em um vento \ que desaparece para dentro \ e encontra os
movimentos da rocha \ e se torna significado em unidade \ sempre nova do que é
e o que não é \ em um silêncio onde o vento vira vento \ onde significado
torna-se significado em movimento perdido de tudo o que foi \ e de uma vez é de
uma origem \ onde o som carregava o significado \ antes que a palavra se
dividisse \ e desde então nunca nos deixou \ Mas isso é em todo o passado \ e
está em todo o futuro \ e isso é em algo \ isso não existe em sua fronteira \ desaparecendo
entre o que foi \ e o que virá \ É infinito e sem distância \ no mesmo
movimento \ Isso esclarece e desaparece \ e permanece enquanto desaparece \ E
isso acende sua escuridão \ enquanto fala do seu silêncio \ Não está em lugar
nenhum \ Está em todo lugar \ Está perto \ Isso é longe e corpo e alma \ se
encontram lá como um \ e é pequeno e tão grande \ como tudo o que é tão pequeno
\ quanto nada e onde está toda a sabedoria \ e nada sabe em seu eu mais íntimo \
onde nada está dividido e tudo é ao mesmo tempo ele mesmo \ e todo o resto no
dividido \ que não está dividido \ na fronteira sem fim \ A maneira como eu
deixei desaparecer em presença \ óbvia em movimento de desaparecimento \ e
passear durante o dia \ onde árvore é árvore \ onde o rock é rock \ onde o
vento é vento \ e onde as palavras são uma unidade incompreensível de tudo \ o
que foi de tudo que desaparece \ e assim permanece como palavras conciliatórias.
Poema do escritor e dramaturgo norueguês Jon Fosse.
FEITIÇO DO TEMPO -O filme Groundhog Day (O Feitiço do Tempo), dirigido pelo ator, roteirista, diretor e produtor estadunidense, Harold
Ramis (1944-2014), conta uma história se passa na cidade de Punxsutawney,
na Pensilvânia, em que Murray personifica um presunçoso e arrogante
meteorologista da tevê que é escalado para a cobertura do tradicional Dia da
Marmota, comemorado dia 2 de fevereiro; ele, contudo, fica preso numa armadilha
temporal que o faz reviver o mesmo dia vezes sem fim; embora no começo ele
aproveite a repetição para agir de forma irresponsável, acaba ficando cansado
em ter de sucessivamente acordar ao som de I Got You Babe, de Sonny & Cher;
no processo repetitivo termina por aproveitar a oportunidade para se melhorar
como pessoa, e finalmente conquistar a personagem vivida por Andie MacDowell. A
prisão temporal do personagem representa uma interessante proposta filosófica,
uma vez que tematiza o importante questionamento do tempo presente.
MEMÓRIA E
ESQUECIMENTO - O presente estudo se propõe a tratar acerca da
temática da memória e do esquecimento sob os aspectos psicológicos.
Nesse sentido,
entende-se que a memória é um processo psicológico básico que demonstra a
capacidade do ser humano de armazenar os estímulos oriundos do universo ao seu
redor.
Por outro
lado, o esquecimento, em conformidade com o senso comum, é tido como um
malefício ou enfermidade que acomete o processo de memorização, prejudicando o
ser humano de lembrar-se de compromissos ou de eventos que são necessários para
o desenvolvimento vital.
Tendo em vista
o exposto, a pesquisa ora realizada pretende tratar à luz dos ensinamentos
psicológicos de que forma são tratadas as memórias e o esquecimento, à luz das
ideias, teorias e estudos realizados.
Justifica-se a
realização do estudo, tendo em vista a importância da memória e procura
incessante pelo ser humano de se evitar o esquecimento.
Trata-se,
portanto, de importante tema para a sociedade em geral, tendo em virtude de
envolver todo ser humano e o seu entendimento acerca da proposta temática.
Objetiva esta
pesquisa efetuar uma abordagem histórica e teórica acerca dos processos,
estruturas e medidas da memória, bem como da conceituação e tipologia de
esquecimento detectada pelas mais diversas vertentes teóricas da psicologia.
A metodologia
empregada para o desenvolvimento do estudo é de natureza descritiva e
bibliográfica, baseada na revisão da literatura efetuada a partir de livros,
publicações especializadas, artigos, dissertações de mestrado, teses de
doutorado e sites da internet.
Na primeira
parte do trabalho são abordadas as questões atinentes à memória, relativas a
sua fundamentação conceitual, processos, estruturas e medidas.
A segunda
parte aborda o esquecimento, sua conceituação e tipologia encontrada nos
estudos e pesquisas científicas.
Por resultado,
visualizou-se a importância de se abordar tais temas por serem de suma
importância para todo ser humano na atualidade.
A MEMÓRIA: ABORDAGEM HISTÓRICA E TEÓRICA – O termo memória é oriundo do grego Mnemosyne
com sentido de deusa da memória, e do adjetivo latino memor que significa aquele que se recorda ou se lembra.
Na mitologia
grega, conforme Hesíodo (1991), Mnemosyne
tem o sentido de memória pura. Contudo, ao conceber com Zeus as musas, ela além
de ser a memória, possui o atributo lesmosyne,
ou seja, do esquecimento. A partir disso, originário do seu nome surgem as
musas da música, da História, da poesia épica, da dança, entre outras.
É exatamente a
deusa Mnemosyne que, segundo Goff
(2013), revela os segredos do passado para introduzir o ser humano nos
mistérios do além, deixando claro o entendimento de que a memória é um dom e a anamsesis é a reminiscência como técnica
mística e ascética.
Nas antigas doutrinas pitagóricas e órficas, segundo
Gori (1998), a memória é o antídoto do esquecimento.
Já Hipona
(1984), Goff (2013) e Gori
(1998) registram que Platão metaforizava que a memória é um aviário, ou
seja, pássaros capturados que formam as lembranças. Além disso, Platão (1973)
desenvolvia uma prática para produzir conhecimento entre os seus alunos, por
meio de técnicas de rememoração que visavam um saber enciclopédico.
Na visão de
Aristóteles (2012), a memória possui distinções identificadas inicialmente na mnemê que é a memória propriamente dita
e como faculdade de conservação do passado, e depois na mamnesi que é a reminiscência como faculdade de evocação voluntária
do passado.
Na Idade
Média, anota Goff (2013) que com a difusão monopolizadora do Cristianismo,
adotou-se o sentido de memória litúrgica como dever da memória constituinte e
da recordação, que compreendiam as memórias laicas e coletivas por meio do
ensino oral e escrito dos santos e mortos, localizadas nos escritos do
Deuteronômio, no Antigo Testamento. Tal condução será encaminhada por Hipona
(1984), aprofundando o tema da memória na dialética cristã com perspectiva
psicológica.
No séc. XVI, assinala Yates (2007) que a memória foi
tratada por Giordano Bruno no seu hermetismo mnemônico, sob o entendimento que
ela funcionava por magia, na ação dos poderes cósmicos e pela imaginação. Posteriormente,
o entendimento de memória foi evidenciado no séc. XVII, quando Locke (1999)
considerou a potencia da memória como cadeias que incluíam a percepção e a
responsabilidade ligadas a uma pré-condição da identidade ligada ao presente
pelas profundezas do passado.
Nesse pensamento, conforme
Middleton e Brown (2006), a memória adquire o sentido a partir do eu forense,
fundamentado na conceituação de identidade, Evidencia-se,
portanto, que a memória, segundo os autores mencionados, é um lócus crucial relativa à identidade pessoal e
ordenamento social. Aparecem, então, Bergson (1999) e James (1943) que
no séc. XIX e XX aprofundam os questionamentos filosóficos e psicológicos
acerca da memória.
As ideias
bergsonianas, conforme Andrade (2012),
davam conta de que com a inclusão da dualidade de coisa e imagem, formar-se-iam
as lembranças e recordações.
Por outro lado, James (1943) advogava a ideia de que a
recordação humana é efetuada em virtude do sentido dado aos acontecimentos
individuais, anotando que a memória é apreendida por meio do fluxo de
consciência da autoconsciência humana. Quanto ao esquecimento, o autor define
como função importante igualmente à de recordar.
Segundo Pavão
(2013), Middleton e Brown (2006) e Schultz e Schutlz (2012), esse autor dividiu a
memória em consciente primária e consciente secundária. Assim, entendem esses autores que o pensamento do
funcionalismo pragmático jamesneano dá valor à questão da continuidade da
consciência, tratada a partir da experiência implicando o processo de
memorização numa forma de seleção e escolhas das conexões adotadas pelas
recordações.
É quando surge
Durkheim (1978) defendendo que nada é retido do passado, mas a ele se volta,
graças aos índices fornecidos e o apoio proporcionado pela própria cultura. Assim,
no dizer de Pollak (2013), a abordagem durkheimiana se desenvolve na ênfase à
memória coletiva, bem como à sua duração, continuidade e estabilidade. Essa
memória coletiva traz acentuadas funções positivas de reforço da coesão social
pela adesão afetiva ao grupo, sendo, pois, a nação e a memória nacional as
formas mais completas desse tipo de memória.
Registra,
então, Costa (2013) que foi Herman Ebbinghaus quem primeiro utilizou
experiências práticas destinadas aos estudados da memória, introduzindo a
técnica das sílabas-sem-sentido e da economia. A técnica das
sílabas-sem-sentido, no dizer de Costa (2013), objetivou reduzir a
interferência do significado nos processos de retenção, dado que possibilitaria
utilização de material rigorosamente homogêneo. A técnica da economia, segundo
Costa (2013), procurou representar meio de se medir a memória através do
reaprendizado, valendo como forma de evidenciar a distinção entre retenção e
evocação que representam o desempenho. Ele se interessou pela analise do
processo de participação dos motivos e valores do sujeito relativamente aos
fenômenos de evocação que nele ocorrem. Também se concentrou na análise das
variáveis sociais, procurando o sentido social da memória.
Em seguida, conforme Alves (2013) e
Middleton e Brown (2006), foi Frederic Barlett quem propôs a ideia de que o ser
humano não retém senão esquemas muitos gerais do que se experimenta no passado.
Com isso, o processo de evocação é o trabalho de reconstrução, ou seja, só se
retém os dados centrais, sugerindo a participação do sujeito intensa e
altamente distorsiva.
Nesse mesmo
período surge, conforme Middleton e Brown (2006), a tese de E. Cassirer
defendendo que nunca se convive diretamente com as coisas, mas com os símbolos
que as representam, resultando da transposição do plano perceptual para o da
memória, ou seja, de modo como se lida com os objetos externos para o modo como
se trabalham os conteúdos internalizados através da experiência prévia.
Também nesse contexto, em conformidade com Gunston (1987), aparecem os estudos desenvolvidos por Wilder Penfield
defendendo a tese de que oculto no cérebro, existe um registro do fluxo de
consciência. Esse registro parece reter todos os detalhes desse fluxo, conforme
é este percebido durante todos os momentos de vigília ou consciência. Nesse
registro estão contidas todas as coisas de que o individuo já tomou
conhecimento, inclusive as impressões que dele pode lembrar instantes depois,
mas que, em grande parte, ficam perdidas para a recordação volitiva depois
disso.
Acrescenta
Buletza(1984), que os estudos desenvolvido por Penfield demonstraram que a
recordação pode iniciar-se numa estimulação lobo-temporal e, por consequência,
haverá uma recordação tendo em vista que danos no sistema límbico resultam em
prejuízo à capacidade de recordar.
É nesse ínterim que surgem as contribuições de Kurt Lewin
e do Gestaltismo que, segundo Schultz e Schutlz (2012), passaram a entender a memória objeto produzidas em torno do fenômeno da fixação e retenção
defendidas por Kohler e Restorff, além das produzidas relativamente à evocação,
esta defendida por Kohler, Restorff e Kofka, e, finalmente, as realizada e
fundadas na evolução do material retido, enfatizando-se o processamento das
distorções, defendida por Wulf.
A tese
gestaltista, nas observações de Schultz e Schutlz (2012), é
a de que sempre se favorecerá o material provido ou dotado de maior sentido ou
organicidade. Nesse sentido, no domínio da memória, a evocação de certo
material se deveria subordinar à organização do campo temporal, jogando-se com
as noções de figura e fundo, introduzidas e fenomenologicamente descritas por
E. Rubin. Assim, no entendimento dos autores supracitados, tanto Kohler como
Kofka não excluem o papel do sujeito nos atos de memorização, mas concebem
relevo maior às condições derivadas da organização do campo temporal, repetindo
a posição que desenvolveram no domínio da percepção.
A partir dessa
abordagem histórica, passa-se ao tratamento da fundamentação conceitual da
memória.
A MEMÓRIA: FUNDAMENTAÇÃO CONCEITUAL –A memória, no dizer de Pinel (2005), lida com a maneira como as mudanças
são armazenadas e subsequentemente reativadas.
Já para Alves (2013) a memória humana é considerada como um
sistema de armazenamento e recuperação de informação, obtida através dos
sentidos.
Gazzaniga e Heatherton (2005) ampliam esses
conceitos definindo que a memória é a capacidade do sistema nervoso de adquirir
e reter habilidade e conhecimentos utilizáveis, o que permite aos organismos
vivos beneficiarem-se da experiência.
Nesse sentido, evidencia Pavão (2013) que a memória pode ser definida como a capacidade de um organismo
alterar seu comportamento em decorrência de experiências prévias. Por esse
entendimento, o autor mencionado chama atenção para o fato de que do ponto de
vista fisiológico, essa capacidade é resultado de modificações nos circuitos
neurais em função da interação do indivíduo com o ambiente. Entretanto, com a
revisão da literatura procedida, encontrou-se que a definição da memória passa
por seu entendimento tanto em sentido amplo, como em sentido restrito. Em sentido amplo a memória é a retenção de qualquer aprendizagem, não se
distinguindo memória e hábito. Nesse sentido, refere-se a uma série de
manifestações diversas identificadas na fixação, evocação, retenção,
reconhecimento e esquecimento. Já em sentido restrito é a expressão que apenas
cobre aquilo que pode ser objeto de evocação ou reconhecimento.
Para
melhor entendimento da memória, Pinto (2001) observa a existência de muitas e
diferentes perspectivas. Frequentemente, segundo o autor, as perspectivas mais
usuais são a estrutural e a processual.
A
perspectiva estrutural, conforme Pinto (2001), considera que a memória é
constituída por vários sistemas responsáveis pelo armazenamento e retenção da
informação quer seja a curto prazo, quer a longo prazo.
A
perspectiva processual, segundo Pinto (2001), entende que a informação por meio
da aquisição daria entrada na memória, permanecia por meio da retenção durante
certo tempo e por meio da recordação seria lembrada ou recordada.
Nesse
contexto, entende Davidoff (2001) que a memória
traz referência aos processos variados e estruturas envolvidas no armazenamento
e recuperação de experiências.
Já
para Morris e Maisto (2004) a memória depende dos registros sensoriais. Esses
registros sensoriais são as informações obtidas pelos sentidos, Os registros
visuais e auditivos são os registros sensoriais mais estudados.
Segundo
Bergson (1999), a memória se divide em hábito ou pura. Para ele, a
memória-hábito é corpórea, orgânica, depende do cérebro e é adquirida por
repetição, estruturada pelos mecanismos motores e orientada para a ação. Assim,
para esse autor, na memória-hábito o passado se revela por inteiro na criação,
com ausência da consciência e com definição do processo na repetição, identificado
que o ato executado anteriormente seria de novo reproduzido.
A memória pura
ou memória propriamente dita, conforme Bergson (1979), é espiritual,
espontânea, representativa, reflexiva e desinteressada.
Nessa condução,
entende Goff (2013)
que foi Pierre Janet que retomou as conduções dadas por
Bergson (1999), dividindo a memória em memória-repetição e memória-relato. A
memória-repetição seria caracterizada pelo hábito. A memória-relato seria
social e socializadora, sendo essa a memória propriamente dita.
Noutra
perspectiva, encontrou-se em Pinel (2005) que ao se basear nas ideias de Brenda
Milner, o hipocampo possui relação com a
memória imediata. Para o autor mencionado, o hipocampo desempenha papel
fundamental na memória para localização espacial. Há muitas teorias sobre a
função do hipocampo, todas as quais reconhecem sua importante função na memória
espacial.
Oriundo desse
entendimento, várias teorias são encontradas, tais como a teoria do mapa
cognitivo e da associação configural.
A teoria do mapa
cognitivo, segundo Pinel (2005), defende a existência de vários sistemas no
cérebro especializados na memória para diferentes informações e, uma delas, é a
de que a função especifica do hipocampo é o armazenamento de memórias para
localização espacial.
A teoria da
associação configural, no dizer de Pinel (2005), defende que a memória espacial
é uma manifestação especifica do hipocampo.
Também
salienta Pinel (2005) que o papel do hipocampo é especifico no reconhecimento
de objetos e de sua relação com o córtex rinal.
A partir
disso, passa-se a discorrer acerca dos processos da memória no presente estudo.
OS PROCESSOS DA MEMÓRIA – Os processos da memória, segundo Goff (2013), Pollak (2013) e Pinto
(2001), são entendidos como o motor central da aprendizagem, definidos por meio
de vários processos distintos por função e área do cérebro associada.
Os processos
da memória, segundo Davidoff (2001) são codificação, armazenamento e
recuperação.
A codificação,
no dizer de Davidoff (2001, p. 205) é “[...] o conteúdo destinado ao
armazenamento”. Esse conteúdo armazenado, segundo Gazzaniga e Heatherton (2005) obedece ao princípio
da especificidade de codificação proposto por Engel Tulvig, defendendo que pelo
processo de codificação de uma experiência pode mais tarde desencadear
memórias.
O
armazenamento, para Gazzaniga
e Heatherton (2005, p. 227), é o processo que se refere “[...] à retenção de
representações codificadas ao longo do tempo e corresponde a alguma mudança no
sistema nervoso que registra o evento. As representações armazenadas são
referidas como memórias”.
Acrescenta Pinto (2001)
que o processo de armazenamento ou retenção é aquele que é responsável pela conservação da informação na memória.
A recuperação,
no dizer de Gazzaniga e
Heatherton (2005, p. 227) “[...] é o ato de recordar ou lembrar a informação
armazenada para poder utilizá-la”. Assim sendo, para os autores em comento, o
ato de recuperação envolve um esforço explícito para acessar os conteúdos dos
armazenamentos de memórias, envolvendo os sistemas de memória implícita e
explícita.
A memória implícita, conforme Gazzaniga e Heatherton
(2005), refere-se à intensificação da memória sem esforço ou consciência. Já a
memória explícita, para esses autores, envolve o armazenamento e a recuperação
consciente de memórias declarativas, a exemplo de experiências pessoais e
significado das palavras.
Gazzaniga e Heatherton (2005) acrescentam o processo
de repetição tanto de manutenção como elaborativa. A repetição de manutenção envolve repetir muitas vezes o item. Já a repetição elaborativa envolve
codificar a informação de maneiras mais significativas. Ainda acrescenta
Gazzaniga e Heatherton (2005) o processo de consolidação que é um processo
hipotético que faz referencia à transferência de conteúdos da memória imediata
para a memória de longo prazo, resultante das mudanças na força das conexões
neurais que sustentam a memória. Para esses autores, a consolidação é a denominação
técnica dada ao processo de amadurecimento, sob o argumento de que a existência
desse período se manifesta pela ausência de retenção, sempre que o
funcionamento cerebral é interrompido imediatamente após a aprendizagem
processada.
Outros
processos são identificados por Goff (2013), Pollak (2013) e Pinto (2001) como
as memórias sensoriais, de curto prazo, semânticas, episódicas, entre outras
apresentadas no tópico a seguir.
AS ESTRUTURAS DA MEMÓRIA – As estruturas da memória, conforme Gazzaniga e Heatherton (2005) são identificados por meio de esquemas
definidos como estruturas cognitivas hipotéticas que possibilitam perceber,
processar, organizar e usar as informações.
Para Morris e Maisto (2004, p. 202),
as memórias “[...] são formadas por alterações nas conexões sinápticas
existentes entre os neurônios”.
Por essa razão, observa Buletza
(1984) que a memória possui duas classificações: a biológica e a de conteúdo. A
biológica é aquela que se manifesta em conformidade com seu tempo de duração,
sendo, pois dividia em memória de trabalho, de curta duração ou de longa
duração.
Outras
classificações da memória são encontradas por Galera e Oliveira (2004), como a
memória de trabalho ou operacional, identificada como aquela usada para o
entendimento da realidade possibilitando a formação ou evocação de outras
memórias. Trata-se, portanto, para os autores mencionados, do instrumento de
análise da realidade. Merece registro o fato de que a MCP e a MLP foram
apresentadas pelos estudos realizados por Donald Olding Hebb.
Reunindo tais
classificações encontram-se as estruturas da memória que, segundo Davidoff
(2001) compreendem a memória sensorial, de curto prazo e de longo prazo.
A memória
sensorial, conforme Davidoff (2001), contém sensações e pode ser icônica ou
auditiva. A icônica é aquela sensorial visual que preenche os intervalos,
conectando os quadros estáticos e possibilitando um fluxo regular de ação. A
memória sensorial auditiva ou ecoica, segundo Davidoff (2001) possibilita a
recordação imediata e precisa, retendo uma representação fiel e por tempo
suficiente. Salientam Gazzaniga
e Heatherton (2005, p. 218) que tanto a memória icônica como a ecoica
possibilitam “[...] experienciar o mundo como um fluxo contínuo”. Nesse
sentido, é a memória sensorial o processo em que ocorre a interação com o mundo
por meio da capacidade de percepção das informações dos sentidos visuais e
auditivos.
A memória de
curto prazo (MCP), conforme Morris
e Maisto (2004), é também denominada de memória imediata, cobre um curto
período de tempo, independente da consolidação, consistindo numa pura atividade
de reverberação. Essa MCP contém as informações que se está pensando ou das
quais se está plenamente consciente. Para Gazzaniga e Heatherton (2005), a MCP, também identificada como memória
imediata, sendo, por isso, um sistema de memória de capacidade limitada e que
mantém informações por um breve período. Conforme Morris e Maisto (2004), como as
MCP são efêmeras e duram poucos segundos, podem reter informações por períodos
mais longos por meio da repetição mecânica, também denominada de ensaio de
manutenção, consistindo no processo de repetir a informação de forma
indefinida.
As funções da
MCP, segundo Davidoff (2001), são as de armazenamento temporário e
gerenciamento geral, quando seleciona o que será retido temporariamente,
transferindo o conteúdo para a memória de longo prazo (MLP) como registros mais
permanentes e, ao mesmo tempo, recupera dados dos depósitos sensoriais e de
longo prazo. Acrescenta a autora
mencionada que a MCP é o centro da consciência humana, possuindo um sistema que
é chamado de memória de trabalho.
A memória de
trabalho, conforme Gazzaniga
e Heatherton (2005, p. 221) é o “[...] sistema de processamento ativo que
mantém as informações” para que sejam utilizadas nas atividades de solução de
problemas, raciocínio e compreensão.
A memória de
longo prazo (MLP), segundo Davidoff (2001), é a capacidade de recordar grande
quantidade de informações por períodos substanciais de tempo. Para Morris e Maisto (2004), a repetição mecânica também é útil para a MLP,
como também a repetição elaborativa que exige um processamento mais profundo e
significativo de novos dados. Nesse sentido, a MLP, supõe um período de
consolidação, estendendo-se por um período de cerca de quinze minutos.
Há que se
considerar que, para Bergson (1999) o ponto de partida é constituído pela
distinção entre memória do passado e memória do presente, explicando a ideia
paradoxal de memória do presente pelo fato de que as lembranças não se formam
jamais após a vivência perceptual e sim concomitantemente. A partir disso,
ocorreu a distinção entre MCP e MLP porque esta é superficial, defendida por A.
W. Melton.
Dessa forma,
conforme Andrade (2012) distingue-se a MCP da MLP por meio de duas teorias:
monista e dualista. A teoria monista entende que a memória é originada nas conexões existentes entre os
neurônios, por meio das sinapses que são ativadas fortalecendo temporariamente
a formação de MCP que é efêmera. Por outro lado, na MLP as sinapses são
permanentemente fortalecidas.
A perspectiva
dualista, segundo Andrade (2012), é defendida por Donald Olding Hebb e Brenda
Milner, considerando que os fatos recolhidos falam contra uma interpretação
monista ou unifatorial da memória.
No
entendimento de Gazzaniga e
Heatherton (2005) a distinção ocorre por meio do efeito de posição serial que
engloba os efeitos de primazia e de recentidade. O efeito de primazia faz
referência à melhor memória para os itens apresentados, ou seja, dizem respeito
à MLP. Por outro lado, o de recentidade é referente à melhor memória para os
itens mais recentes, dizendo respeito à MCP.
A MLP,
conforme Morris e Maisto (2004) pode ser classificada como episódicas,
semânticas, emocionais e de procedimento.
As memórias
episódicas, para Morris e Maisto (2004, p. 199), são “[...] lembranças de
acontecimentos presenciados em um momento e lugar específicos”, identificadas
como pessoais.
As memórias
semânticas, conforme Morris e Maisto (2004, p. 199), “[...] são fatos e
conceitos que não estão ligados a um determinado período de tempo”, sendo,
pois, a reunião enciclopédica de fatos e conceitos.
As memórias
emocionais, segundo Morris e Maisto (2004, p;200), “[...] são respostas
emocionais aprendidas em relação a diversos estímulos”, identificando-se como
as relações de amor e ódio, medos, repulsas e ansiedades.
As memórias de
procedimento, para Morris e Maisto (2004, p. 199) “[...] são as habilidades e
os hábitos motores”, como, por exemplo, o fato de andar de bicicleta, nadar,
tocar um instrumento musical, entre outras atividades;
Outros processos
da memória são acrescentados por Goff (2013), Pollak (2013) e Pinto (2001),
tais como a memória processual, declarativa, associativa e Priming.
A memória
processual, segundo Goff (2013), Pollak (2013) e Pinto (2001), possui a
capacidade de guardar as aprendizagens automaticamente independente da
consciência. Essa memória, também identificada como memória muscular, faz
referência às capacidades de aptidões e de processos motores.
A memória declarativa, para Goff (2013), Pollak (2013) e Pinto (2001), é aquela que identifica fatos ou eventos e qualquer
informação que possa ser expressa conscientemente.
A memória associativa, segundo, Schultz e Schutlz
(2012), é aquela cuja associação entre estímulo e resposta, era usada para
provar a existência de consciência nos animais.
A memória priming, conforme Goff (2013), Pollak
(2013) e Pinto (2001), também denominada de representação perceptual, faz
referencia às redes de conhecimento ativadas pelo cérebro diante de um estímulo,
representando toda associação dos estímulos captados pelos sentidos. Esse tipo
de memória é identificado como a essencial para a aprendizagem por estar
presente na aquisição, aperfeiçoamento e manutenção das competências.
AS MEDIDAS DA MEMÓRIA – As medidas das memórias, conforme Davidoff (2001) são identificadas nos
três tipos de rememoração, quais sejam: reaprendizagem, reconhecimento e
recordação.
A
reaprendizagem, no dizer de Davidoff (2001), foi apresentada por Ebbinghaus
como interligação das memórias sensoriais armazenadas na mente, por meio do
sistema de sílabas sem sentido para comparação da aprendizagem de um conjunto
de sílabas sem sentido sob um determinado conjunto de circunstâncias com a
aprendizagem de outro conjunto sob diferentes condições.
O processo do
reconhecimento, segundo Davidoff (2001), se refere ao processo de busca de duas
fases, sendo a primeira da formação de uma representação daquilo que se busca
e, a segunda, nas tentativas de emparelhar a representação interessada na
memória. Esse processo, segundo Davidoff (2001) pode ser de familiaridade e de
identificação. A familiaridade pode ocorrer sem identificação e as mesmas
estarem fundidas. Além disso, para essa autora, o reconhecimento pode ser
imediato quando a memória pode surgir a qualquer momento.
O processo de
recordação, conforme Davidoff (2001), é a busca controlada pela memória e
envolve três passos: colhem-se indícios da pergunta de recordação; usam-se os
indícios para gerar alternativas plausíveis; e seleciona o objetivo. Também na
recordação, como no reconhecimento, pode haver o envolvimento da familiaridade
e da identificação.
Davidoff
(2001) distingue a recordação do reconhecimento, considerando que na recordação
se colhe os indícios, busca na memória a informação e aplica o teste de
reconhecimento. Já no reconhecimento, a informação já está encontrada sem que
se precise procurá-la, realizando apenas o teste de reconhecimento.
Tendo-se,
pois, tratado acerca da memória, passa-se nesse momento para uma abordagem
acerca do esquecimento, sua conceituação e tipologia.
ESQUECIMENTO: REVISÃO DA LITERATURA –Estudos sobre esquecimentos, conforme Pergher e Stein (2013), foram negligenciados por causa do fato de que a
Psicologia Cognitiva, em seus primórdios, se voltava para o funcionamento
cognitivo dos seres humanos por meio das metáforas computacionais. Contudo, nas
últimas décadas ocorreram crescentes interesses sobre o assunto em função dos
avanços das Neurociências. Essas mudanças permitiram o desenvolvimento de
teorias sobre o esquecimento.
O esquecimento,
conforme Hipona (1984) é a privação da memória. Enquanto Bergson (1999) entende como sendo uma condição indispensável de
aprendizagem nova, adquirindo sentido estratégico conceitual tendo em vista que
se realiza por um novo armazenamento informativo. Dessa forma, seria um
fenômeno paralelo ao que se mostra no domínio perceptivo.
Já no dizer de Felinto (2013), o esquecimento
tradicionalmente constituiu a contraparte perversa da memória, a destruição que
ocorre por força do tempo e das distorções imprevisíveis da mente humana.
Para Pollak
(2013), o esquecimento ocorre por diferentes
razões por sua inerência e constância às diversas culturas.
As teorias do
esquecimento, segundo Pollak (2013) compreendem o desuso, o recalcamento, a
inibição retroativa, a consolidação, a repressão e a tese do esquecimento
ativo.
A teoria do
desuso, para Pollak (2013) está centrada na importância concedida ao fator
tempo, como variável erosiva, se reduzindo à teoria da inibição retroativa.
A teoria do
recalcamento foi desenvolvida por Freud (2013), como sendo o processo dinâmico
que exige determinado dispêndio de energia para efetuar um contra-investimento
na manutenção do recalque, tendo em vista que o desejo inconsciente se mantém
forçando o regresso da consciência e da motilidade. Assim, o recalque é
identificado como um tipo de defesa que se constitui de um mecanismo universal
e necessário que consiste no afastamento de determinados elementos que se
encontram no campo da consciência e mantidos na esfera do inconsciente. Esses
conteúdos são inacessíveis ao domínio consciente sob a forma de uma negação.
A teoria da
inibição retroativa, no dizer de Felinto (2013), traduz que a experiência
comprova que certo aprendizado pode sofrer obstrução por outro que,
imediatamente, se procure realiza.
A teoria da
consolidação, segundo Paixão (2013), se desenvolve por meio da transferência
dos engramas temporários do hipocampo que estabiliza os arquivos corticais da
memória para outras regiões do neocórtex para serem consolidados e duradouros,
tornando-os independentes e possibilitando a sua recuperação.
A teoria da
repressão é a teoria do esquecimento ativo que, segundo Freud (2013) e Felinto
(2013), resulta do exame de material clinico. Assim, conforme Felinto (201’3),
essa tese do esquecimento ativo evidencia que se trata de um fenômeno
essencialmente negativo devido à deficiência. Tal tese está baseada na
afirmação de Nietzsche (2001): ”Fui eu quem fiz isto, diz minha memória; é
impossível que o tenha feito, diz meu orgulho e fica irredutível. Afinal é a
memória quem cede”.
Galera e
Oliveira (2004) acrescenta a teoria da deterioração desenvolvida por Ebbinghaus
e que, segundo Pergher e Stein
(2013) trata do desaparecimento dos traços de
memória, identificando-se a curva de esquecimento que demonstra que a maior
parte do esquecimento se produz nos primeiros momentos logo após a
aprendizagem.
Já a teoria da
falha na recuperação, segundo Pergher e Stein (2013), propõe
que o fato desse fenômeno ocorre em função de uma falha na recuperação das
mesmas.
Middleton e
Brown (2006) e Pergher e Stein
(2013) trazem a teoria dos esquemas como um modelo de esquecimento desenvolvido
por Frederic Bartlett baseado no fato de
que a memória não poderia se dar por meio de restritos experimentos de
laboratório, propondo mudanças em termos de procedimentos experimentais. Por
essa teoria, verificou-se que geralmente uma recordação acurada era a exceção,
e não a regra, tendo-se a certidão de que as informações não lembradas fazem
parte do o processo de compreensão de uma situação gerando distorções e perdas
de informações originais e gerador uma nova estrutura. Assim, no processo pode
ocorrer perda ou distorção de informações já armazenadas, ou seja, esquecimento.
A teoria da
interferência, conforme Pergher e Stein (2013), foi desenvolvida por J. A. McGeoch, ao postular que o
esquecimento das informações se dá em virtude da influência de algumas memórias
sobre outras, além de predizer que as informações mais antigas serão lembradas
com mais dificuldade do que as informações mais recentes.
OS TIPOS DE ESQUECIMENTO – Segundo
Davidoff (2001), os tipos de esquecimento são falhas na codificação, no
armazenamento e na recuperação.
As falhas na
codificação, segundo Davidoff (2001), considera que o esquecimento ocorre
porque originalmente os materiais deixam de ser representados por completo,
tendo em vista que o ser humano tende a codificar somente os detalhes de que
necessita para finalidades práticas.
As falhas no armazenamento,
conforme Davidoff (2001) se dá por conta da teoria da deterioração, ou seja,
enquanto o tempo passa, a memória desintegra-se mais completamente, até não
restar nada para recupera.
As falhas na
recuperação, no dizer de Davidoff (2001), ocorrem por considerar-se a
interferência uma importante influencia exercida na recuperação das MS, MCP e
MLP. Isso quer dizer que as falhas de recuperação podem depender de problemas
com os indícios ou indicadores, assim, para ter significado, os conceitos precisam
ser conectados a informações na memória.
Já a amnésia
ou perda da memória, conforme Davidoff (2001), pode decorrer de vários
incidentes ocorridos no cérebro, uma vez que ela varia em função de uma série
de dimensões. Esse distúrbio pode ser temporário ou essencialmente
irreversível. A amnésia pode ser retrógrada quando ocorre a perda da memória de
eventos ocorridos antes do trauma. Também será retrógrada grave quando se
manifestar como anterógrada, ou seja, o esquecimento de eventos ocorridos após
o acidente. Assim, a amnésia retrógrada ocorre quando nenhuma evocação se
produz em relação aos fatos que se desenrolam depois de um acidente. Em vista disso, as formas de
esquecimento são extinção, repressão, não persistência das memórias de curta
duração e o esquecimento real.
A extinção,
segundo Pergher e Stein (2013), é
o processo condicionado ou incondicionado que ocorre entre um estimulo e a sua
lembrança, sendo, também, um comportamento adaptativo. É utilizada no
tratamento de medos e fobias, bem como para afastar traumas.
A repressão,
para Pergher e Stein (2013),
é um postulado freudiano que se identifica pelo processo voluntário ou
involuntário do cérebro de reprimir determinada memória.
A não
persistência das MCP, segundo Pergher
e Stein (2013), é a ausência de memorização de um fato.
O esquecimento
real, conforme Pergher e Stein
(2013), é o fato que se dá pela perda da memória.
Gazzaniga e Heatherton (2005) chamam atenção para a
transitoriedade, bloqueio, desatenção e interferência que são identificados
como os sete pecados da memória que possibilitam o esquecimento.
A transitoriedade da memória, segundo Gazzaniga e
Heatherton (2005), faz referência ao padrão do esquecimento com o passar do
tempo.
O bloqueio, segundo Gazzaniga e Heatherton (2005),
ocorre por ocasião da incapacidade temporária da lembrança de alguma coisa que
se sabe, a exemplo do fenômeno na ponta da língua quando ocorrem frustrações de
lembranças.
A desatenção, conforme Gazzaniga e Heatherton
(2005), ocorre por meio da codificação superficial ou desatenta de eventos,
causada por falta de atenção suficiente.
A interferência, segundo Morris e Maisto (2004) é a
aprendizagem inadequada provocando falhas de memória, quando as informações se
misturam ou são postas de lado por outras informações. Esse tipo de
esquecimento se dá de duas formas: proativa e retroativa.
Na interferência proativa, segundo Gazzaniga e
Heatherton (2005), as informações anteriores inibem a capacidade de se lembrar
de novas informações.
Já a interferência retroativa, conforme Gazzaniga e
Heatherton (2005), as novas informações inibem a capacidade de lembrar antigas
informações.
Os fatores situacionais, conforme Morris e Maisto
(2004) consideram que a capacidade de recordar são influenciadas por detalhes
do ambiente e são afetadas por fatores internos, ocorrendo o fenômeno de
memória dependente do estado relacionado à descoberta de aprendizagens quando
se encontram em determinado estado fisiológico para se lembrar melhor de certas
informações. Além disso, observam Morris e Maisto (2004) que o esquecimento
ocorre em razão da natureza reconstrutiva da lembrança. Esse processo
reconstrutivo pode levar a enormes equívocos ao se realizar autodefesa social e
pessoal.
Observou-se com a revisão da literatura efetuada que
o esquecimento é compreendido sob determinadas perspectivas, entre elas, a da
falha no acesso ao material percebido e retido, produto da interferência
ocorrida entre as mais diferentes informações armazenadas e resultado das
distorções mnemônicas ocorridas pelas influencias ativas oriundas dos
conhecimentos esquematizados.
Nesse sentido, Morris e Maisto (2004) apresentam
técnicas para melhoria da memória por meio do desenvolvimento da motivação, de
exercícios de habilidades da memória, da confiança na capacidade de se lembrar
das coisas, da minimização das distrações, da manutenção da concentração, do
estabelecimento de conexões entre novas informações e outras que já estejam
armazenadas na memória de longo prazo, utilização da imagética mental,
utilização das pistas de recuperação, ativação por contação de algo além da
memória e consciência do esquema pessoal para distorcer a recordação dos
acontecimentos.
Com todo o exposto, passa-se às considerações finais
do presente trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS – O presente
trabalho de pesquisa teve por objetivo efetuar uma abordagem acerca da memória
e do esquecimento. Para tanto, tratou inicialmente da fundamentação conceitual,
abordando as estruturas, processos e medidas para se ter uma dimensão
aprofundada acerca dos mecanismos da memória. Em seguida procurou-se evidenciar
as causas e tipos de esquecimento, procurando por meio da revisão da literatura
identificar as formas de ativação da memória evitando-se esse fenômeno.
Procurou-se,
portanto, fazer uma breve síntese das teorias que fazem parte dos modelos de
entendimento acerca dos fenômenos identificados nos processos da memória e do
esquecimento.
Por resultado
deste estudo, observou-se que a memória é um processo psicológico básico que
apesar de ser considerada deficiente ou limitada, possui a capacidade de
acumulação de quantidades de informações e conhecimentos. Ela possui processos,
medidas e estruturas que organizam o entendimento do ser humano acerca do mundo
ao seu redor.
Já o
esquecimento é uma forma de perda de memória que ocorre pela diminuição ou
perda da faculdade de recordação ou de reprodução de aprendizagem, causada por
alguma dificuldade do cérebro em resgatar as memórias, seja por lesões,
enfermidades, tratamentos ou mesmo de mau funcionamento de áreas ligadas a esse
setor. Por outro lado, a amnésia ocorre apenas no tocante a eventos que possuem
certas especificidades, envolvendo inclusive o aprendizado e a memorização.
Revelaram-se
com a realização da pesquisa as vantagens e desvantagens do esquecimento. Entre
as vantagens detectou-se a função autoprotetora da memória na seleção dos
estímulos captados do meio externo, para melhor desenvolvimento da atividade
cognitiva, eliminando-se as informações de eventos de pouca relevância que são
dispensáveis e inúteis para codificação e armazenamento. Essa função
autoprotetora faz parte do processo adaptativo que distingue as informações
relevantes que devem fazer parte do arcabouço da memória individual.
Tem-se, portanto, que o esquecimento é um fenômeno
complexo, representando o fato de que são mantidas as informações que auxiliam
o desenvolvimento humano, sendo descartadas por esse fenômeno aquelas que não
cumprem a função de auxilio. Com isso, observou-se que o fenômeno do
esquecimento é um procedimento natural e comum ao próprio processo de
memorização.
Tal condução
encontra-se amparada na teoria pós-moderna acerca da memória e do esquecimento
defendida por Felinto (2013), explicitada a partir da observação da realidade
transitória e do fluxo interminável da atualidade, tendo sua manifestação na
repetição exaustiva, na preferência pela parodia e até pelo jogo do
esquecimento intencional, fruto da grande capacidade da mente de adaptar a
prospecção e desenvolvimento das informações e conhecimentos adquiridos.
Por conclusão,
encontrou-se no presente estudo técnicas e procedimentos para prevenção e
promoção da atividade de memorização, evitando-se o esquecimento.
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