DITOS & DESDITOS - Há
um mar de som no búzio do meu canto. Pensamento extraído da obra Da profissão do poeta (IOERJ, 2002), do
escritor, jornalista e tradutor Geir Campos (1924-1999), autor de obras
como Rosa dos rumos (1950), Arquipélago (1952), Coroa de
Sonetos (1953), Da Profissão do Poeta (1956), Canto Claro e
Poemas Anteriores (1957), Operário do Canto (1959), Canto
Provisório (1960), Cantigas de Acordar Mulher (1964), Canto ao
Homem da ONU (1968), A Meus Filhos (1969), Metanáutica (1970),
Canto de Peixe e Outros Cantos (1977), Cantos do Rio (1982), Cantar
de Amigo ao Outro Homem da Mulher Amada (1983), entre outros. Do poema
Operário do Canto destaco o trecho: Operário
do canto, me apresento / sem marca ou cicatriz, limpas as mãos, / minha alma
limpa, a face descoberta, / aberto o peito, e – expresso documento – / a
palavra conforme o pensamento. Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Estou
quase convencido de que certas situações em que me encontrei têm semelhança com
alguma porventura enfrentada por essa ou aquela criança. Outras, admito, talvez
que riam de si mesmas, vendo-se pelo menos em parte retratadas em algumas das
minhas doidices, necessárias e compreensíveis em crianças. Pensamento do
escritor e artista plástico Luís Jardim
(Luís Inácio de Miranda Jardim, 1901-1987), autor de obas como Maria
Perigosa (1938), O Boi Aruá (1940), O Tatu e o Macaco (1940),
As Confissões do Meu Tio Gonzaga (romance, 1949), Isabel do Sertão
(teatro, 1959), Proezas do Menino Jesus (1968), Aventuras do Menino
Chico de Assis (1971), Meu Pequeno Mundo (1977, memórias), Façanhas
do Cavalo Voador (1978), Outras Façanhas do Cavalo Voador (1978) e O
Ajudante de Mentiroso (1980, romance).
UM ANO DE ESTUDANTE – [...] Na saída do restaurante, ele passou o braço sob o
meu. Foi natural para ele, para mim, perambular assim junto um do outro pelas
ruas daquela cidadezinha próxima a Avignon. Será que parecíamos um casal para
aqueles com quem cruzávamos? Eu não sabia, nem me fazia nenhuma pergunta. Só
pensava em saborear o prazer que experimentava, sentindo-o contra mim,
escutando-o falar, porque ele falava, falava... [...] Em uma loja de discos, ele comprou para mim
quartetos de Mozart; em uma livraria, Nadja,
de André Breton. E ele teria me dado outros presentes se eu não tivesse
implorado para que parasse, de repente constrangida com a generosidade
excessiva. [...]. Trecho extraídos da obra Une anné
estudieuse (Galimmard, 2012), da atriz, diretora de cinema e
escritora francesa Anne Wiazemsky (1947-2017).
UM AMOR PROIBIDO – [...] Luz
da Minha Vida Diz uma antiga lenda que os Sidhe são espíritos celtas, criaturas
egoístas que levam uma vida superficial, marcada por irresponsabilidades e excessos.
Sendo uma Sidhe, Lasair nunca se interessou por amar alguém, até o dia em que
fica conhecendo Cormac Casey... Cormac é um artista itinerante, um desenhista
que observa locais místicos para reproduzi-los em ilustrações para um livro,
quando é repentinamente atingido pela flecha do amor ao deparar com a
deslumbrante Lasair, uma jovem com a beleza de uma fada... Mas Lasair corre um
sério risco se entregar seu coração a Cormac, um perigo que provém não só de
sua própria gente como do simples fato de amar um homem que não faça parte de
seu povo, pois assim como uma fada pode extrair forças de um humano, um humano
pode ceifar a vida de uma fada... Será o amor de Cormac e Lasair
suficientemente poderoso para vencer as forças inclinadas a destruí-lo?... [...]
Dizem que as fadas não são imortais. Elas
vivem muito, mas também conhecem a morte. E quando uma delas morre, a melodia
de seu pesar é o som mais doce e triste do mundo. [...] Conforme a luz se enfraquecia, tão
insubstâncial quanto os sonhos, Lasair flutuava pelos ares. Vez ou outra parava
para sentir o perfume de uma rosa silvestre, ou para observar a inusitada luta
da luz do sol e das sombras das nuvens na tentativa de cobrir a maior extensão
das montanhas verdejantes. De vez em quando ela suspirava melancólica. Não que
estivesse triste, mas sentia uma lacuna dentro do peito que nem a beleza
resplandecente dos verdes campos irlandeses no verão conseguia suprir. Ela
havia identificado aquilo como uma sensação de espera, embora não soubesse
exatamente o que aguardava. Se voltasse para casa com aquele humor, seu povo
com certeza iria rir dela. — Venha dançar conosco! Seja feliz! — clamariam em
uníssono. — Você não faz o gênero da melancolia. Lasair era freqüentemente
criticada por ser diferente dos demais de sua espécie em diversos aspectos.
Embora eles jamais ficassem bravos ou entrassem em conflito com ela. Pois ela
era de uma beleza inebriante. Passeando e sonhando, ela parou diante de um lago
para admirar seu reflexo na água espelhada. [...]. Para melhorar os movimentos dos braços, ele tirou o casaco, jogando-o
no chão. Os músculos bem definidos dos braços ficaram mais evidentes através
da camisa de linho branco, bem como os ombros largos. As calças de uma lã fina
marcavam também as pernas musculosas. Lasair concentrou-se na mão dele, que
moviam-se rapidamente, os dedos ágeis pareciam dançar ao dar mais forma ao
desenho. — Você gosta de dançar? — perguntou ela. — Dançar? — ele indagou,
levantando os olhos do papel. — Não me sobra... [...]. Trechos extraídos da
obra Um amor proibido (Nova Cultural,
2010), da escritora estadunidense Morgan
Llyweelyn. Veja mais aqui, aqui e aqui.
MINHA CANÇÃO, MEU SILÊNCIO - Meu coração é um
tempo triste, / Num tique-taque emudecido. / Minha mãe tinha asas douradas, / Que
não encontravam mundo. / Ouçam, ela se pôsa minha procura, / Com seus dedos de
luz e pés de sonho errante. / E o tempo bom que brisa azul / Sempre aquece meu
sono / Nas noites, / Cujos dias usama coroa de minha mãe. / Bêbada lua o vinho
tranquilo, / Quando a noite cai só. / Minhas canções tinham do verão os azuis /
E voltavam sombrias para casa. / De meu lábio vocês debochavam, / Mas ainda
falam com ele. / Sim, tentei segurar suas mãos, / Pois meu amor é uma criança e
quer brincar. / O primeiro, tomei-o de vocês, / E também o segundo, beijei-o, /
Mas meus olhares se voltam para trás / Na direção de minha alma. / Tornei-me
pobre / De seus favores mendicantes. / Ignorava o estar doente, / E agora estou
doente de vocês, / E nada é mais furtivo que a doença, / Que da vida quebra os
pés, / Rouba a luz ao caminho da cova. Poema da poeta alemã Else Lasker-Schuler (1869-1945). Veja
mais aqui.