sexta-feira, maio 04, 2012

ADA NEGRI, ORHAN PAMUK, ANDREW KEEN, O TRABALHO & FILHAS DA DOR


A arte a arte de da pintora italiana Lavinia Fontana (1552-1614). Veja mais aqui e aqui.

 

AS DORES DA FUGITIVA – À memória de Ieda Santos Delgado (1945-1974) – Pela primeira vez na universidade. Ela era carioca e estudava Direito. Era muito alegre como o céu de Brasília, apesar de reservada e discreta. O seu ar de estudiosa fora logo detectado: estava sempre envolta com leituras. Também os esportes, o judô. Diziam que era namoradeira. Logo soube envolvida com as mobilizações estudantis. Era quase poliglota, dominava bem o francês, o inglês, o italiano e o espanhol. Formou-se advogada e tornou-se funcionária pública federal. Transferiu-se para o Rio de Janeiro de quase não mais saber dela, apenas que fez diversas pós-graduações, acompnhando seus passos no suplemento literário da Tribuna da Imprensa. Alguém me dissera que ela caiu na militância e conseguiu se manter na legalidade. Soube que na quinta feira às vésperas das comemorações da Semana Santa, era 11 de abril de 1974, ela foi apanhar os passaportes de um casal amigo que precisava deixar o país. E não mais a vi, sabendo-se apenas que por um telefonema anônimo a família fora avisada de que fora presa em São Paulo. Nunca mais foi vista. A mãe desesperou-se em buscas por seu paradeiro, um amigo general disse-lhe que ela foi presa em Campinas e, por conta disso, foi hospitalizada por conta das torturas e que se encontra em Piquete. A família impetrou diversos habeas-corpus  que foram negados. Só um mes depois da prisão dela apareceram cartas de Ieda. Eram apenas cinco linhas que foram postadas em Belo Horizonte: dizia que estava bem. Outro mês decorrido, outra carta agora do Uruguai: um manuscrito breve e tremido. Informações desencontradas, chantagens, enfim, ela desapareceu desde então, seu corpo jamais encontrado. Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Os principais relacionamentos no futuro não serão entre as pessoas, mas entre máquinas e pessoas. Para muitas dessas pessoas, o social é apenas um espelho de si mesmos. Eu não sou contra o social, mas quero algo genuinamente social, não algo que tenha sido fetichizado como social para que um grupo de pessoas possa se sentir melhor sobre si mesmos. Pensamento do escritor estadunidense Andrew Keen, autor da obra The Cult of the Amateur (Doubleday, 2008), em que desfere críticas ao fenômeno da Web 2.0.

 

ALGUÉM FALOU: Se você fica neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor. Não somos amados por sermos bons. Somos bons porque somos amados. Quando se recusa a partilhar alguma coisa corre-se o risco de perder tudo. Numa discussão nunca altere a voz, melhore os argumentos. Pensamento do religioso Prêmio Nobel da Paz de 1984, Desmond Tutu (1931-2021).

 

O INGÊNUO & O ROMANCISTA SENTIMENTAL – [...] Ao contemplar uma pintura de grandes proporções, sentimo-nos empolgados por estar na presença de tudo ao mesmo tempo e queremos entrar no quadro. Quando estamos no meio de um volumoso romance, sentimos o estonteante prazer de estar num mundo que não conseguimos ver em sua inteireza. Para ver tudo temos de constantemente transformar os momentos separados em quadros mentais. É esse processo de transformação que torna a leitura de um romance uma tarefa mais pessoal, mais colaborativa que a contemplação de um quadro... [...]. Trecho extraído da obra The Naive and the Sentimental Novelist: Understanding What Happens When We Write and Read Novels (Paperback, 2011), do escritor e professor turco Orhan Pamuk, prêmio Nobel de Literatura de 2006. Veja mais aqui.

 

SEM NOME - Eu sou sem nome.— Eu sou a tosca filha / Do úmido pardieiro; / Plebe triste e danada por família, / Mas indômito é o fogo companheiro. / Segue meus passos maligno um duende / E ora um anjo adiante. / Galopa meu pensar e sobe e pende, / Como Mazeppa no cavalo arfante. / Enigma sou de amor e de sadismo, / De força e de doçura; / Atrai-me a treva do abismo, / Comove-me a criança e sua candura. / Se pela porta da água-furtada / O infortúnio entra, rio; / Rio se atacada ou enjeitada, / Sem alegrias e sem confortos, rio. / Mas pelos velhos tremendo fatigados, / Pelos sem pão, eu choro; / Pelo menino magro e esfomeado, / Por mil desconhecidas dores, choro. / E quando o pranto do peito me transborda, / Num canto estranho e ardente / A alma toda arranco corda a corda / Na melodia que à boca vem fremente. / De quem ouve não cuido e se covarde / Palor me fere e cinge, / Peito o destino de vez que não me atarde, / E o viperino fel já não me atinge. Poema da escritora italiana Ada Negri (1870-1945). Veja mais aqui.

 



O TRABALHO – O Doro sempre desconfiara que o trabalho não era lá essas coisas não. Sempre se achou escravizado. Mesmo quando ouvia que o trabalho dignificava o homem, desconfiava da hipocrisia escravocrata camuflada na cara lisa dos sabidos. Invariavelmente ele resmungava:

- Só trabaia quem é burro, pois quem trabaia não tem tempo de ganhá dinhero.

Eis que ele me achegou todo arisco e abufelado perguntou:

- Meu sinhô, me diga na vera da mais certa das verdades, o que o sinhô acha do trabaio, já que vive amuntado aí nos seus afazeres de madrugada a madrugada!

E vi que o sujeito agudou as sobrancelhas, cofiou o cavanhaque e ficou atento: O trabalho: escravidão, subordinação e desemprego.


A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO – As mudanças ocorridas nos últimos tempos provocaram transformações nas relações de trabalho entre pessoas e organizações. À medida que as mudanças ambientais atingem as organizações, elas interferem nas estruturas existentes e nos processos de tomada de decisão. Com isso, o sucesso da organização, além da adaptação às mudanças, inovação, padrões de qualidade e produtividade, dentre outras, também depende da cooperação e satisfação das necessidades dos funcionários. Todos estes aspectos vêm sendo estudados sob diversos enfoques, caracterizando as formas de organização ao longo do tempo. Dentre os diversos enfoques, destaca-se a diferenciação cultural, em função do tipo de formação profissional, e do patamar tecnológico entre os diversos setores industriais, como por exemplo a Indústria da Construção Civil, um dos importantes setores da economia, em função, principalmente, de empregar um grande contingente de mão-de-obra, tanto direta como indireta (Grandi, 1985; Kanitz, 1994). As peculiaridades que diferenciam a indústria da construção civil dos demais setores industriais, refletem uma estrutura complexa e dinâmica, onde as condições de trabalho ainda são precárias. A atividade produtiva do setor em questão é desenvolvida nos canteiros de obras, longe da sede administrativa das empresas. A organização e o controle do trabalho são difíceis de serem mantidos nesse setor da construção civil, pelo fato de que a mão-de-obra empregada, que se movimenta ao redor de um produto fixo, é pouco qualificada, oriunda de vários outros setores industriais e da lavoura. Isto influencia na rotatividade e conseqüentemente nas chances de promoções, o que repercute na própria motivação do trabalhador e na qualidade do produto gerado. Além disto, existe um grande contingente de pessoas envolvidas durante todo o processo produtivo, o que o torna mais complexo (Kanitz, 1994; Mascaro, 1982; Vargas, 1984). A qualidade, de um modo geral, é um importante fator de competitividade na Construção Civil. O planejamento para a qualidade se torna problemático, principalmente em função dos altos níveis de rotatividade e absenteísmo da mão-de-obra no setor. Desta forma, pode-se dizer que a busca pela qualidade só terá êxito se os empresários criarem novos mecanismos para preservarem seu pessoal mais qualificado e, também, se forem melhor avaliados os métodos utilizados na produção e, principalmente, as formas de organização e de relacionamento no trabalho (Kanitz, 1994). Por outro lado, a engenharia brasileira, além de ter problemas como a falta de higiene e a ausência de segurança nos canteiros de obras, e até mesmo a falta de planejamento e programação das construções, ainda conserva características de uma atividade manufatureira de produção (Mascaró, 1982; Farah, 1988; Vargas, 1988). Uma das maneiras de se atuar com vistas a melhorar as condições de trabalho é minimizar, na medida do possível, os esforços físicos necessários para a realização das tarefas, principalmente por se considerar o trabalho repetitivo e alienante que, conseqüentemente, pela necessidade de sobrevivência do trabalhador, influenciam no seu desempenho (Grandi, 1985; Vargas, 1984). Com isso, o desempenho profissional de qualquer indivíduo, especificamente dos operários envolvidos na construção civil, notadamente na aplicação de revestimentos cerâmicos externos é influenciado por condições ambientais de trabalho, tais como iluminação, temperatura, ruído, dentre outras, além das condições climáticas. Neste sentido, observa Chiavenato (1997:447), que: "Uma das condições ambientais relevantes é a temperatura. Existem cargos cujo local de trabalho se caracteriza por elevadas temperaturas (...) nos quais o ocupante precisa vestir roupas adequadas para proteger sua saúde. (...) Nestes casos extremos, a insalubridade constitui a característica principal destes ambientes de trabalho". Assim, são consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. Chiavenato (1997:448) ainda observa que "Segurança do trabalho é o conjunto de medidas técnicas, educacionais, médicas e psicológicas, empregadas para prevenir acidentes, quer eliminando as condições inseguras do ambiente, quer instruindo ou convencendo as pessoas da implantação de práticas preventivas" e que, por outro lado, a higiene do trabalho enfatiza mais as condições ambientais, pois é o ambiente físico que envolve o empregado, enquanto ele desempenha sua função (Chiavenato, 1997; Bergamini, 1993). Assim sendo, a saúde e a segurança dos empregados constituem uma das principais bases para a preservação da força de trabalho adequada. Segundo o conceito emitido pela Organização Mundial de Saúde, a saúde é um estado completo de bem-estar físico, mental e social e que não consiste somente na ausência de doença ou de enfermidade (Bergamini, 1990). Desta forma, aumentar a produção com menos esforço humano tem sido por longo tempo um objetivo da indústria. Kazarian (1989) e Kotschevar (1985) têm escrito extensivamente sobre produtividade e ambos advertem que o melhor caminho para alcançar a produtividade é planejar áreas de trabalho de forma que os trabalhadores não tenham que alcançar objetos e se deslocar além de certos limites, pois se as limitações e capacidades do homem, forem respeitadas na sua atividade de trabalho, isso proporcionará uma performance mais criativa, mais inteligente e portanto mais eficiente. A partir disso, entende-se que a análise do trabalho tem como objetivo produzir dados que permitam reduzir a distância entre as concepções formuladas do trabalho (as prescrições, as regras, os procedimentos oficiais e explícitos) e a atividade real do operador (os aspectos informais, implícitos, imprevistos das condutas de trabalho). Esta distância é a fonte essencial dos disfuncionamento do sistema de produção. Segundo Wisner (1987), esta metodologia estuda o conjunto formado pelo trabalhador e seu posto de trabalho ou, às vezes, vários trabalhadores e o dispositivo técnico e, utiliza dentro de certos limites, a noção do sistema homem-máquina. Sua aplicabilidade não se restrinje somente ao sistema homem-máquina; o sistema homens-homens, que pode envolver poucas ou nenhuma máquina, também é estudado. Neste caso, mantém-se o conceito do sistema e considera-se o indivíduo como um subsistema de um sistema num nível hierárquico superior, que sofre influências culturais, sociais, políticas e econômicas. Para ser eficaz no quadro de estudo do sistema homem-máquina, é preciso considerar, exclusivamente, as trocas de informação (as comunicações) entre o homem e a máquina e tomar como critério as entradas e saídas desse sistema. Dentro desta nova abordagem, não mais se considera o homem de um lado e o dispositivo de trabalho de um outro, mas sim sua inter-relação, não deixando de considerar que o sistema homem-máquina está ligado, de um modo determinante, a conjuntos mais vastos, em diversos níveis (Wisner, 1987). É possível através da análise do trabalho entender a atividade dos trabalhadores (incluindo, por exemplo, postura, esforços, busca de informação, tomada de decisão, comunicações) como uma resposta pessoal a uma série de determinantes, algumas das quais relacionadas à empresa (organização do trabalho formal, restrições de tempo, etc.) e outras relacionadas ao operário (idade, características pessoais, experiência, etc.). Uma das maneiras de se atuar com vistas a melhorar as condições de trabalho é minimizar, na medida do possível, os esforços físicos necessários para a realização das tarefas. Em outras palavras, lançar mão dos conceitos e aplicações da Ergonomia que, em resumo, busca proporcionar ao trabalhador saúde, segurança e conforto na execução do trabalho (Guérin, 2001; Dul & Weerdmeester, 1991). Avellan Paniagua (1995) aponta que na Construção Civil a aplicação da Ergonomia assume grande importância devido à forte demanda de atividades manuais, que submetem os operários a trabalhos com alto grau de penosidade. É previsível, portanto, que os trabalhadores experimentem fadiga ao final das jornadas caso não sejam tomadas providências no sentido de otimizar o esforço produtivo. Por esta razão faz-se necessário tratar acerca do processo ergonômico, uma vez que, conforme observa Franco (1995), as contribuições da ergonomia à melhoria da condições de trabalho têm ocorrido no nível físico, através do reprojeto de ferramentas, de modificações do layout do local de trabalho, das melhorias do ambiente físico (iluminação, vibração e ruído) e dos aspectos antropométricos e biomecânicos da atividade. Os conhecimentos que estão concentrados na Ergonomia que, de acordo com Sell (1990), atua na adaptação do trabalho, da técnica, do meio ambiente às pessoas e também contribui na adaptação das mesmas ao trabalho. Stuebbe & Houshmand (1995), mencionam que o objetivo primário da Ergonomia é balancear as exigências do trabalho com as capacidades do trabalhador. Já Franco & Santos (1996), complementam destacando que, ao se considerar o homem como apenas mais um elemento do sistema de produção, ele tem que se adaptar às mudanças do processo, muitas vezes inadequadas. E que e Ergonomia desponta com uma nova proposta: a adequação deste sistema ao homem. Abordando a partir desta ótica, convém ressaltar que a melhoria da segurança e saúde no trabalho nas organizações é frequentemente difícil de ser alcançada porque a maioria das organizações têm ainda uma visão muito limitada da interrelação dos problemas organizacionais. Os resultados organizacionais (segurança, produtividade, lucros) não são vistos como parte de um processo contínuo e sim, como efeito da interação de fatores múltiplos. Acidentes e lesões, por exemplo, são ainda sempre relacionados à causas simples, como o erro humano (Nagamachi & Imada, apud Franco, 1995). Com isto, surge a Macroergonomia, onde se reconhece que os problemas de trabalho ocorrem como resultado da interação entre pessoas e sistemas técnicos, tanto no nível físico como no nível cognitivo. Essa interação ocorre dentro de um contexto: a organização. Este contexto pode ampliar, limitar ou anular as intervenções dos fatores humanos com mudanças nas condições de trabalho (Nagamachi & Imada, apud Franco, 1995). A análise ergonômica, baseada na escola francesa, procura fazer uma análise da atividade, tendo como pressuposto que a atividade, o que o trabalhador faz concretamente, é o elo entre o trabalhador e as formas próprias de organizações. Para Moutmollin (apud Proença, 1993), a análise ergonômica do trabalho permite não somente categorizar as atividades dos trabalhadores como também estabelecer a narração dessas atividades permitindo, consequentemente, modificá-las. Quanto a estrutura da Análise Ergonômica do Trabalho, a metodologia se propõe, à partir da análise da demanda, passando pela análise da tarefa e das atividades (determinando os componentes da situação de trabalho que deverão ser analisados e medidos), a elaborar um conjunto de resultados que, interpretados, constituem um modelo operativo da situação de trabalho. Esta abordagem que retorna a origem do problema, colocado quando da demanda, permite a cada nível da análise, recolher os dados, formular as hipóteses, para aprofundar o conhecimento da situção de trabalho. Assim cada fase leva a posterior e completa a anterior (Santos, 1993). Resumindo pode-se afirmar que a metodologia compreende as seguintes fases: Análise da Demanda; Análise da Tarefa; Análise das Atividades;  Resultado da Análise Ergonômica do Trabalho e Recomendações. Segundo Wisner (1987), a análise da demanda é uma fase sempre importante do estudo ou da pesquisa: deve-se analisar a representatividade do autor da demanda, a origem da demanda (demanda real e demanda formal), os problemas (aparentes e fundamentais), as perspectivas de ação e os meios disponíveis. Já segundo Santos (1993), a demanda pode ter origem de pessoas ou de grupos diversos da empresa. Ela pode se originar diretamente dos trabalhadores, das organizações sindicais ou mesmo da direção da empresa. Observado a origem da demanda um segundo passo seria estabelecer o objetivo da demanda, de forma a delimitar a direção que o estudo seguirá, quais os meios necessários e disponíveis para coleta de informações, bem como questionar a revelância do problema apresentado (o problema apresentado pode ser somente o início de problemas ergonômicos mais sérios ou mesmo pode estar mascarando-os). Nesta fase procura-se também avaliar se a demanda é consistente e está de acordo com os princípios ergonômicos. Santos (1993) afirma ainda que, é necessário esclarecer a todos os interessados os objetivos do estudo, assim como, divulgar as informações em todas as fases do estudo para que haja, desta forma, um envolvimento dos diversos atores ou parceiros sociais do processo (Santos, 1993). A intervenção ergonômica começa no campo que se chama de análise do posto. Diferentes técnicas são utilizadas para este efeito: observação direta do especialista, observação clínica, registro das diversas variáveis fisiológicas do operador, medidas do ambiente físico (ruído, iluminação, vibração, temperatura, umidade, etc.) e coleta de dados relacionados à informações gerais do posto em estudo. Num segundo momento, são reconhecidas e classificadas as principais exigências do posto de trabalho, que são seguidas por sugestões de modificações com a finalidade de aliviar os males detectados. Nesta fase devem ser apresentadas e discutidas a viabilidade das medidas corretivas com a direção da empresa, com o objetivo de se firmar um compromisso que constituirá a base dos trabalhos de mudanças do posto. Deve ser ressaltada a importância da participação dos trabalhadores. Sua participação não deve ser limitada à uma simples coleta de opiniões, mas deve servir de grande auxílio na descrição da realidade do trabalho, das atividades perceptivas, cognitivas e motoras dos mesmos, sendo esta uma forma de validar as informações obtidas na primeira fase (Wisner, 1987). Inúmeros são os fatores que influenciam as relações entre o homem e sua tarefa, modificando a carga de trabalho. Constituem-se alguns deles no campo de ação da Ergonomia, como: o meio ambiente físico (ruído, iluminação, vibrações, ambiente térmico); a duração, os horários e as pausas de trabalho;  o modelo de aprendizagem, as ordens dadas. Enquanto a tarefa consiste naquilo que deve ser realizado e que meios estão disponíveis para esta realização, a atividade significa o que realmente é realizado pelo trabalhador com os meio disponíveis. É o trabalho real, enquanto a tarefa é o trabalho formal. Assim, do ponto de vista da ergonomia, as atividades do homem no trabalho podem ser modeladas sob a forma de um sistema fechado, compreendendo os elementos principais, de um lado o homem e do outro lado, a tarefa que ele deve efetuar (Santos, 1993). Pode-se distinguir as atividades físicas ou musculares das atividades mentais. Entretanto, não é possível separar estes dois tipos de atividades em classes independentes. Deve-se levantar, respectivamente, as atividades mentais e a atividades físicas, exigidas para execução do trabalho, sabendo-se que ambas existem simultaneamente e que elas estão ligadas por relações funcionais (Santos,1993). A atividade física no trabalho aparece de imediato ao observador, mesmo inadvertido, já a atividade sensorial e mental não é aparente; todavia, praticamente em toda as tarefas, mesmo as mais simples, essa atividade existe, mais ou menos importante, mais ou menos complexa. A atividade do trabalhador implica em uma coleta permanente de informações sobre o estado momentâneo do processo. Contudo, cabe ao organismo informar ao operador a respeito do seu próprio estado (colocação dos segmentos corporais, níveis de contração muscular, etc.). Já as funções mentais exercem a função de detectação (papel dos receptores sensoriais), de identificação (distribuir o que é informação útil ou não) e de interpretação (dar um significado a essas informações), tendo como auxílio a memória, onde armazena as experiências passadas. Mas, nem sempre as informações que lhe são úteis são fornecidas por dispositivo técnico - por exemplo, manuais, procedimentos escritos, informações visuais, etc.- e sim, construídas à partir da sua experiência pessoal ou da sua profissão. A tomada de decisão a partir dessas diferentes operações mentais pode se manifestar de várias maneiras: movimentos, esforço, ordem, espera, etc. Desse modo pode-se concluir que a atividade mental prepara e comanda a atividade física. A preocupação em encontrar a melhor maneira de realizar o trabalho na construção civil já é antiga, inicia-se com os precursores da Ergonomia. Frank B. Gilbreth, ainda no início do século passado, em seus estudos de movimentos e gerência de oficinas quando realizou uma pesquisa sobre assentamento de tijolos pelos pedreiros de alvenaria de tijolos, reduzindo os 18 (dezoito) movimentos primitivos para apenas 5 (cinco) movimentos (Taylor, 1978). Atualmente existe nas empresas de construção uma busca pela qualidade. Segundo Bodroff apud Picchi (1993), identifica-se dois grandes enfoques nas ações das empresas de construção, no que se refere a qualidade: um enfoque técnico, implementando mais especificamente nas obras e orientando para processos de gerenciamento e de controle;  e um enfoque organizacional, tentando transformar toda a estrutura da empresa (política da qualidade total), consistindo em um projeto completo para a empresa. Na área acadêmica existem vários estudos na construção civil, voltados para a organização, melhorias das condições de trabalho e treinamento da mão-de-obra. Esses estudos podem ser classificados segundo duas abordagens, uma delas enfoca apenas os dispositivos técnicos: os materiais, produtos e processos utilizados, controle de custos, padronização de serviços, produtividade e os métodos de medição e utilização de novas tecnologias no processo produtivo; e uma segunda linha de pesquisa, mais sociológica que se traduz no conteúdo e na organização geral das atividades do trabalho e se preocupa com os efeitos dos dispositivos técnicos sobre o trabalhador. Desta forma, pode-se considerar que, os estudos desenvolvidos sobre o processo de trabalho na construção, a nível nacional, segundo pesquisa realizadas, dentro de uma abordagem técnica, podem ser classificado segundo os seguintes temas: filosofia gerenciais aplicadas ao trabalho em obras; produtividade e sua medição;  ensino de gerenciamento da construção;  treinamento de mão de obra e manuais de procedimentos para a realização de serviços de construção. E os temas que enfocam os aspectos sociológicos:  estudo dos fatores que afetam a produtividade (segurança do trabalho, rotatividade e absenteísmo);  sindicalismo, custos e leis sociais na construção;  histórico do emprego da mão de obra e das características dos trabalhadores (perfil dos trabalhadores na atualidade, geração de empregos na construção civil, qualidade do emprego oferecido, função do emprego na construção civil);  evolução tecnológicas e seus reflexos sobre os trabalhadores;  e aspectos da ergonomia do trabalho. Com relação aos estudos de Ergonomia, pode-se dizer que são bastante recentes na construção civil, e ainda estão limitados à Ergonomia num nível físico. Tais trabalhos se preocupam, em geral, com as condutas assumidas pelo trabalhador para desenvolver sua tarefa, com dados antropométricos, que são utilizados para reprojetos de ferramentas, ou com aspectos relacionados a segurança no trabalho. Poucos trabalhos fazem análises num nível cognitivo: aprendizado, tratamento de informação e motivação. Dentro deste contexto, é importante utilizar o enfoque ergonômico na organização do trabalho, mostrando tanto o nível físico quanto o cognitivo do trabalho, tentando, desta forma, juntar os aspectos sociológicos e tecnológicos numa única abordagem, à partir de uma visão sociotécnica da organização. Assim sendo, a partir da utilização da bibliografia disponível, da avaliação e análise do dispêndio de trabalho no canteiro de obras, é que se pretende verificar a exposição dos trabalhadores à sobrecarga térmica quando da aplicação de revestimentos cerâmicos em edificações verticais, fazendo uso da metodologia disponível para encontrar os aspectos que afetam o rendimento e a produtividade da comunidade laboral. Veja mais aqui.
REFERÊNCIAS
AVELLÁN PANIAGUA, Tamara. Avaliação da carga física de trabalho do pedreiro na execução de paredes de alvenaria de blocos cerâmicos. Porto Alegre: UFRS, 1995
FARAH, M. Alterações na organização do trabalho na construção habitacional: tendências da racionalização. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, XII, 1988, Águas de São Pedro. Águas de São Pedro: ANPOCS, 1988.
___________. Tecnologia, processo de trabalho e construção habitacional. São Paulo: USP, 1992
__________ . Estratégias empresariais e mudanças no processo de trabalho na construção habitacional no Brasil. In: ENTAC 93 - Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 1993, São Paulo: EPUSP, nov. 1993. v. 2,
p. 581-590.
FRANCO, Eliete M. & SANTOS, Neri. Ergonomia na construção civil: análise do mestre de obras. In: Congresso Técnico-Científico de Engenharia Civil, 1996, Florianópolis: UFSC, abr. 1996. v. 2, p. 196-207.
GRANDI L., S. Desenvolvimento da indústria da construção no Brasil: mobilidade e acumulação do capital e da força de trabalho. São Paulo: USP, 1985
KANITZ, S. O Brasil que dá certo: o novo ciclo de crescimento 1994-2005, São Paulo: Makrow Book, 1994.
KAZARIAN, E. A. Foodservice facilities planning. New York: Van Nostrand Reinhold, 1989.
KOTCHESVAR, L. M. & TERREL, M. E. Foodservice planning: layout and equipment. New York: John Wiley and Sons, 1985.
MASCARÓ, L.R. As condições de vida e de trabalho dos operários da construção no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: UFRS, 1982
SELL, Ingeborg. A contribuição da ergonomia na segurança do trabalho. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, n. 70, v. 18, abr./jun. 1990. p. 44-49.
STUEBBE, Philip A. &, HOUSHMAND, Ali A. Quality and ergonomics. QMJ, Winter 95.
p. 52-64.
VARGAS, N. et al. A prática da fraqueza e da "discordância": a participação dos trabalhadores na gestão de uma construtora. Rio de Janeiro: UFRJ/COOPE, 1984. Veja mais sobre esse assunto aqui e aqui.  



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