EQUÍVOCOS DOS FILHOS DE CAIM – Imagem: Silêncio, de Pedro Moreira - Haja luz. E houve e tudo era harmonia, até que veio o homem e começou a
confusão. Não sabia Deus que criara à sua imagem e semelhança, um produto que
viera com alguns defeitos de fabricação. Pudera, vez que o absoluto, por ser
brasileiro da gema, acordou de tédio numa segunda-feira, com uma ressaca das
brabas, brincando de inventar as coisas. Não sabia ele, coitado, a zona e o
desrespeito que lhes cuspiriam na sua face e nos meteria, pela insolência, numa
enrascada sem solução. Pois é, o homem, produto de sua criação,
empanturrando-se de deificação - já que era à imagem e semelhança do
todo-poderoso -, tomara ao pé da letra o que lhe fora dito e, possuidor daquela
soberba que lhe seria peculiar ao longo dos anos, dono do próprio nariz,
maluvido que só, abocanhou logo o fruto proibido e copulou. Fora logo expulso
do paraíso, sinal de sua insubordinação (também, pudera, deve ser chato à beça
ficar naquela monotonia da boa. Tem que ter uma quiziliazinha para animar). Vieram,
então, os filhos e, numa daquelas arengas infantis levadas pela inveja, cobiça
e outros tantos pecados abominados nos mandamentos, um deles, o lavrador, achou
por bem dar fim à discriminação sofrida: matou o pastor de ovelhas, acumulando
para si só o lucro de tudo isso: as posses do irmão. Estava rico e impune.
Ninguém lhe meteria o bedelho nos negócios. Com isso havia dado início aos
princípios da acumulação demovendo obstáculos e a desastrosa odisséia torpe e
sórdida do ser humano. Mais de dois mil anos de vícios se passaram e o replay
deste crime já é costumeiro e nos leva a encará-lo de forma natural e até
jocosa, visto que o homem é o único animal que ri de sua própria desgraça. E
rimos até hoje, por exemplo, da loucura obsessiva dos soberanos do Império
Romano; do holocausto dos nazistas alemães; da matança indiscriminada dos
índios do continente americano; das escravizações dos africanos; do massacre
dos estudantes na Praça da Paz Celestial de Pequim; das bombas de Hiroshima e
Nagasaki; dos golpistas do Brasil em 64, etc., etc., etc. Nos interessamos
mesmo quando o congresso dos que-nos-USA se achou no direito de invadir
unilateralmente qualquer país do continente americano ou do planeta em defesa
de não sei quem (sabe-se lá, meu Deus!!). Tem que botar moral, falam os
atrevidos! Por isso os ianques gastam mais de 30 bilhões de dólares por ano
para manutenção de armas e que, dizem, na verdade seriam 4 toneladas de
dinamite na cabeça de cada pessoa. Só? É pouco! É pouca munição para ser tão insignificante.
Também com uma bagatela dessas daria para saciar a fome de bilhões de bocas
famintas em vários continentes do nosso combalido planeta. Isso não é nada,
avalie. Veja o lado bom da coisa: e os lucros bélicos? Quantos impostos não são
recolhidos para a saúde, educação, segurança, etc., só que deles, né? Na
verdade, parece que a gente gosta mesmo é de ver a careta do sofrimento, não
existe nada mais engraçado. E o negócio melhorou mesmo agora que inventaram as
armas químicas, cada uma mais fuderosa que a outra e são mais baratas, e com
efeitos mais eficazes. É, tem uma com gases de tabum, outra de sarin, e, ainda,
as bacteriológicas, uma delas criada a partir do bacilo de antraz que dá aquela
sensação de armagedon, só que lá longe, aqui não. A gente podia fazer um teste
na sogra da gente, num é não? Seria divertido. Bonito de se ver. Ai a gente
senta naquela poltrona da sala, confortavelmente instalado e fica vendo aquela
encrenca na região do Oriente Médio, onde estão em pé-de-guerra há séculos, levados
pela tolice estapafúrdia do fundamentalismo religioso, pelo petróleo e pela
hegemonia de uns sobre os outros. É de encher os olhos de satisfação. E ainda,
por cima, um estúpido que carrega a herança secular da dominação planetária,
cansado de ficar coçando o saco ou com as mãos abanando no meio do onanismo da
maior potência mundial, ainda querer pingar fogo naquela fábrica de pólvora,
provando que nada aprendeu da lição do World Trade Center. Parece mesmo que tem
que correr muito sangue para ser bom, justificando os enlatados violentíssimos
na nossa telinha. Ora gente, que cúmulo de sordidez que nada! A terra é redonda
e ainda cagam pelos quatro cantos do mundo! Isso é nada, milênios e milênios
passados e não aprendemos a lascar a pedra direito! Temos o privilégio
exclusivo de sermos os únicos em toda galáxia, uma hegemonia que vai até
Plutão! E não duvide que a gente pode ir bem mais longe, além disso. Desde Adão
que aprendemos: "pois ao que tem mais se lhe dará, e terá em abundância;
mas o que não tem, até o que tem, lhe será tomado"( Mateus, 13:12). Que
abismo que nada! Nem temos a impressão de que somos cobaias nem figurantes
inexpressivos nos equilibrando sobre uma corda pronta para arrebentar numa
profundeza abissal. Sei não, meu, ou Deus está arrependido desde o dia que
brincou de inventar as coisas ou está mangando da nossa vida de paspalhos. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Avançar
com o machado agudo da razão. Sem olhar nem para a direita nem para a esquerda,
para não sucumbir ao horror que acena das profundezas da floresta virgem; a
razão deve tornar transitáveis todos os terrenos, limpando-os dos arbustos da
demência e do mito. Pensamento do filósofo alemão Walter
Benjamin (1892-1940). Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: [...] Conheci
muitos atores amadores que se julgavam profissionais. Que eu saiba, Charles
Laughton foi o único ator profissional a se ter na conta de amador.
Declarava-se orgulhoso por ser um amador no sentido etimologico da palavra:
aquele que ama. O que faz as coisas por amor. E concuia essa profissão de fé
nos seguintes termos: - Um profissional, é uma prostituta. [...]. Extraído
da obra Hollywood, Années folles
(Preeses de la Cité, 1975), de Garson Kanin (24 de
novembro de 1912 - 13 de março de 1999) foi um escritor e diretor americano de
peças e filmes.
POLÍTICA & ESPETÁCULO - [...] De início,
a mediocridade atrai e transmite seguranã. Depois cansa, dá náuseas. O
eleitor-espectador se volta então para outro esperáculo, mais gratificante,
mais divertido [...] Quando tudo se
está degradando e pervertendo, quando tudo se avilya e se corrope, a virtude
decisiva está por vezes em dizer não. É o que o público começa a fazer. Ouçam o
rumor profundo, o rumor subterrâneo que vai crescendo para arrebatá-lo. Ouçam a
indignação que bem oprimindo esses espectadores involuntários. Trapaceados,
enganados, logrados. Ouçam o despertar e o estremecimento daqueles que o Estado
espetáculo tem iludido. Ouçam o seu grito. Ele cabe numa palavra: chega!
[...]. Trechos extraídos da obra O Estado espetáculo: ensaio sobre e contra o
Star System em política (Difel, 1978), do professor e político francês Roger-Gérard
Schwartzenberg.
SOBRE ESPAÇO E TEMPO – [...] O tempo
é a expressão da nossa ignorância do microestado completo [...].
Extraída do ensaio Esqueça o tempo
(2008) do físico e cosmologista italiano Carlo Rovelli, logo é
alimentada com uma outra: A paisagem é
mágica, a viagem está longe de acabar, do seu livro Quantum gravity ( Cambridge University, 2007) e aprofundada na obra The Order of Time ( Allen Lane; 2018),
na qual recolhi os seguintes trechos: [...] As
crianças crescem e descobrem que o mundo não é o que parecia entre as quatro
paredes de suas casas. A humanidade como um todo faz o mesmo. [...] A diferença entre passado e futuro ... causa
e efeito ... memória e esperança ... arrependimento e intenção ... nas leis
elementares que descrevem os mecanismos do mundo, não existe essa diferença.
[...] O mundo é feito de eventos, não de
coisas. Do autor a frase mais curiosa é a que o tornou bastante famoso
entre os estudantes do planeta: Não
confie em seus professores.
AS DOZE CORES DO VERMELHO – [...] Existir é juntar pedaços que
permanecem e coexistem em dimensão una e mútipla. Extraído da obra As
doze cores do vermelho (Espaço e Tempo/UFRJ, 1988), da escritora Helena Parente Cunha.
UMA NOVA CANÇÃO - Ah, não
me culpe, Catcott, se da maneira certa / Minhas noções e ações vão longe. / Como
minhas idéias podem fazer outra coisa senão se desviar, / Privadas de seu
regente Estrela do Norte? / Não me culpe, Broderip, se montado no alto,
tagarelo / e estrago o ar opaco; / Como posso imaginar tua fofura suave, / Quando
a discórdia é a voz da minha bela? / Se Turner perdoasse minha fanfarronice e
rimas, / Se Hardind fosse infantil e frio, / Se nunca um olhar de cobiça fosse
obtido da Srta. Grimes, / Se Flavia fosse desgraçada e velha; / Escolhi sem
gostar, e saí sem dor, / Nem dei boas-vindas à carranca com um suspiro; / Desprezei,
como um macaco, balançar minha corrente, / E pintar esses novos encantos com
uma mentira. / Uma vez que Cotton era bonito; Eu flam'd e eu queimei, / eu
morri para obter a rainha brilhante; / Mas quando vi minha epístola devolvida, /
Por Jesus, ela alterou a cena. / Ela é terrivelmente feia, minha vaidade
gritou, / Você mente, diz minha Consciência, você mente; / Resolvendo seguir os
ditames do Orgulho, / eu a veria como uma bruxa aos meus olhos. / Mas ela
deveria recuperar seu brilho novamente, / E brilhar em seus encantos naturais, /
'Tis apenas aceitar as obras de minha pena, / E me permitir usar meus próprios
braços. Poema do poeta britânico Thomas Chatterton (1752-1770).
FECAMEPA – Nesse Brasilzão véio, arrevirado e de
porteira escancadara pro Fecamepa e pro Big Shit Bôbras, a gente só tem uma
certeza: de cagada em cagada, quem sabe, um dia a coisa num der certo por aqui,
hem?! Veja mais Fecamepa! E mais aqui.
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