DITOS & DESDITOS - Nada
acontece como a gente acha que vai acontecer... Mas as coisas vão acontecendo…
as pessoas se vão, ou deixam de nos amar, ou não nos entendem, ou nós não as
entendemos… E nós perdemos, erramos, magoamos uns aos outros... Você não se
lembra do que aconteceu. O que você lembra se torna o que aconteceu... Não dá
para escolher se você vai ou não vai se ferir neste mundo, meu velho, mas é
possível escolher quem vai feri-lo... Pensamentos do escritor estadunidense John Green, autor das obras
infanto-juvenis Quem é você, Alaska (2005), O teorema Katherine (2006), Deixe a
neve cair (2008), Cidades de papel (2008), Will e Will – um nome, um destino
(2010) e a Culpa é das estrelas (2012).
ALGUÉM FALOU: Onde se
queimam livros, acaba-se queimando pessoas. Nunca vi um asno falante, mas
encontrei muitos humanos a falar como asnos. Pensamento do poeta
romântico alemão Heinrich Heine (1797 – 1856). Veja mais aqui e aqui.
AS MULHERES, O CASAMENTO E AS PENAS ENTRE OS MEDIEVOS
HISPANOS-MOUROS – Por ocasião da derrocada do império bizantino, entre os
escravos dos tempos hispanos e mouros, estavam mulheres que eram selecionadas para
comercialização. Eram denominadas de grosseiras e distintas, negras das
brancas, uma negociação angustiante para as cativas. Eram feitas descrições
detalhadas de cada uma delas, tanto com os sinais de beleza como os defeitos
físicos. Essas escravas eram apreciadas como concubinas e elas se integravam
rapidamente na célula familiar, sobretudo se dão à luz crianças do sexo
masculino. Já no casamento, as festas matrimoniais duram uma semana e durante
as refeições os poetas declamam versos em louvor ao Profeta. Exemplo disso é o
que narra o cronista Dabbi, em que durante o cortejo nupcial em que o tocador
de trompa, Nakuri, achava-se no meio, bem seguro sobre sua sela: ele usava um
alto turbante de fazenda estampada em ramagens, vestido com uma túnica de seda
crua, chamada ubaidie; seu próprio cavalo estava magnificamente arreado e era
levado pela mão do eunuco. Há também um relato efetuado pela poeta Zamab sobre
uma sessão do hammam, para ela a mais dura prova de sua vida. Conta ela que a
noiva fica num salão deserto, enfeitada como uma deusa, em frente de um
precioso espelho e o Corão pousado sobre a cabeça. Os convidados conversam em
um salão vizinho a meia voz aguardando a chegada do noivo: sem o dote pagável
em espécie não poderá haver casamento. Tem de haver o consentimento da noiva
que deve responder por três vezes se aceita. Ao noivo, o mesmo: confirmando o
dote e assinando o contrato para as festividades. Durante os festejos
matrimoniais as dançarinas munidas de liras e tamborins entram acompanhando uma
cantora que celebra a beleza e a graça da recém-casada que está vestida com um
suntuoso vestido, adornada por uma coroa de flores de laranjeiras e de jasmim,
envolta por um véu de gaze branca ou de cor viva. Ela senta-se no meio do
salão, imóvel como uma estátua, escutando os cantos do himeneu. Recebe os
cumprimentos e as felicitações e depois todos se precipitam sobre o buffet guarnecido por centenas de pratos com
confeito, pastas de frutas e bolos. Com relação às festas, conta o escritor
oriental Shriwani que um intelectual de Málaga, acamado, sofrendo de insônia,
incomodado, uma noite, pelo barulho ensurdecedor de uma festa noturna em uma
casa vizinha. Súbito, o barulho cessa e dá lugar a uma música maravilhosa que
mergulha o doente no arrebatamento. O intelectual salta, então, de sua cama e,
de seu balcão que dá para a casa em festa, ele assiste a um espetáculo que
descreve: Havia lá, em meio a uma vasta propriedade, um grande jardim, no
centro do qual 20 convivas estavam espalhados, taças de vinho e frutas ao
alcance da mão. Jovens mulheres, munidas de alaúdes, tamborins e flautas,
estavam em pé, sem tocar. De um lado, uma musicista estava sentada, seu alaúde
sobre os joelhos: a assistência tinha os olhos fixos sobre ela e ouviam com
interesse - tocando seu instrumento, ela cantava versos. Quando ocorre a
gravidez e a esposa está para dar a luz, conforme as regras prescritas pelo
Corão, a parteira é chamada para o parto e a mãe é retirada para um cômodo
especial que, depois disso, esconde a criança se for do sexo masculino, para
evitar um olhar de inveja das presentes. Ao ser separado de sua mãe por 40
dias, porque ela é considerada suja: Ela não pode pôr os pés sobre o limiar da
casa, nem olhar a montanha porque secaria suas águas, nem aproximar-se do fogo
ou tocar objetos de madeira e de barro cozido. Durante esta quarentena, a
criança é confiada a uma ama de lei. Os meninos serão vestidos como o pai. Já
as meninas usam o véu desde a idade de nove anos e são maquiladas e enfeitadas
de joias como a sua mãe. Encontra-se também o relato de uma andaluza que foi vendida
a preço de ouro a um inexperiente morador de Elvira – a Córdova judaica, perto
de Granada. Pelo preço supunha ser uma nobre cristã e que falasse a língua
romana. Durante o percurso ela interpela um mercador seu conhecido em árabe. O
comprador logo se apercebeu que fora enganado. Não se fez de rogado e utilizou
o mesmo subterfúgio para revender sua escrava e com lucro! Conforme era vigente
nos lupanares da Andaluzia, o consumo de álcool era terminantemente proibido
pelo Corão, embora os andaluzes bebiam vinhos nas lojas e cabarés, autorizados
ou clandestinos, até se embriagarem totalmente. Os homens ali não só apreciavam
mulheres, como inclinados para homossexualidade. Há um relato a respeito dando
conta de que Ibn Haiyan antes de subir ao trono, Al Hakam é homossexual e, uma
vez califa, quer ter um filho. A pederastia é a razão de sua tardia paternidade,
mas declara seu louco amor pela concubina Subh. Também o gramático e poeta
cordovês, Ahmad in Kulaib apaixona-se por um burguês da cidade, que lhe recusa
obstinadamente as investidas, o que o faz morrer de desgosto. Havia também
envolvimentos entre os eunucos e os adolescentes esclavões. As prostitutas se
mantinham em hospedarias e lupanares, sujeitas a um imposto, o kharadj. Há o reato acerca de um certo cidadão,
chamado de Abu I-Khair que bêbado blasfemou e invectivou publicamente o regime.
Insultara os Companheiros do Profeta, pretendendo que a maior parte do Corão
não passava de pura fábula e que, mesmo que o resto fosse aceitável, ele se
julgava capaz de fazer uma redação melhor: Se eu pudesse dispor de 5 mil
cavaleiros, eu entraria à força em Madinat al-Zahra, mataria todos os que aí se
encontrassem e proclamaria o regime de Abu Tamim o pior inimigo dos Omíadas da
Espanha. Se houvesse nove saberes erguidos para derrubar o califa, seria eu
quem brandiria o décimo. A polícia prendeu o blasfemador que foi condenado à morte
e executado no mesmo dia. A pena mais comum era a pena da morte por
estrangulação, degolação ou crucificação de cabeça para baixo. Antes de ser
levado à morte, o condenado era submetido a uma “caminhada aviltante” (o tash hiz), em geral montado de trás para frente
sobre um burro, através das ruas da cidade. Após a execução, os corpos dos
supliciados podem ficar longos meses expostos aos insultos da plebe sobre a
calçada do Guadalquivir, às margens e abaixo da muralha do Alcazar, para fazer
lembrar aos cordoveses que não se brinca com a lei corânica e com autoridade do
soberano. Essas histórias foram contadas pelo historiador andaluz Al-Sakati e recolhidas
da obra A civilização hispano-moura (Ferni, 1977), do jornalista e escritor
tunisiano Philippe Aziz (1943-2001).
Veja mais a respeito da história do casamento e da mulher aqui, aqui e aqui.
MOCHILEIRO DAS GALÁXIAS – [...] Há uma teoria que indica que se alguém
descobrir exatamente para que e porque o universo está aqui, o mesmo
desaparecerá e será substituído imediatamente por algo ainda mais bizarro e inexplicável…
Há uma outra teoria que indica que isto já aconteceu. […] A história de todas as grandes civilizações
galácticas tende a passar por três fases distintas e identificáveis: a da
Sobrevivência, a da Interrogação e a da Sofisticação, também conhecidas pelas
fases Como, Porquê e Onde. Por exemplo, a primeira fase é caracterizada pela
pergunta "Como vamos comer?", a segunda pela pergunta "Por que
comemos?" e a terceira pela pergunta "Onde vamos almoçar?".
[...] Não é o bastante ver que um jardim
é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele? [...].
Trechos extraídos da obra O Guia do
Mochileiro das Galáxias (5 Vols – Sextante, 2010) -
Vol. 1 – O guia do mochileiro das galáxias; Vol. 2 – O restaurante no
fim do universo; Vol. 3 – A vida, o universo e tudo mais; Vol. 4 – Até mais e
obrigado pelos peixes! Vol. 5 – Praticamente inofensiva, do escritor e
comediante britânico Douglas Adams
(1952-2001), famoso por ter escrito esquetes para as séries Monty Python's Flying Circus e The Hitchhiker's Guide to the Galaxy
(1978-1980).
DOIS POEMAS – I - Vejo
que os verdadeiros amantes buscam conforto / em lágrimas e pranto quando o amor
os atormenta. / Ayyub, porém, quando seu coração o lembra / daquela cujo nome
não direi, toma providência: / Ele pede um tinteiro e um chumaço de algodão, / escreve
o nome dela na mão e toca punheta. / Se os amantes se contentassem com o que / te
contenta, ninguém que ama jamais teria queixas. II - Se algum dia fores dormir com Abu Riyah, / dorme com a mão na espada
segurando o cabo, / Pois ele tem umas mulheres que, / ao anoitecer, roubam as
pontas dos dardos; / Uma vez, quando dormi com ele, elas roubaram meu caralho /
que só peguei de volta após o sol ter raiado; / Ele voltou todo cheio de
arranhões / e gemendo pelos seus machucados… Poemas do poeta árabe Abu-Nuwas
(Abu-Nuwas al-Hasan ben Hani al-Hakami,
756-814), que se tornou personagem do livro As mil e uma noites com sua poesia
sobre pederastia que o fez um dos mais importantes poetas homossexuais do mundo
islâmico e um dos maiores poetas persas da língua árabe. Durante sua existência
ele foi forçado a se exilar no Egito por conta de um poema escrito em louvor
aos Barmecidas, família poderosa que fora massacrada pelo califa. Retornou a
Bagdá, contudo, com a morte do califa e ascensão do seu filho ao poder, que
fora aluno do poeta, determinando a sua sorte, por ter desenterrado os mais
profundos significados dos pensamentos. Por conta disso, durante uma façanha
libidinosa e embriagada, foi preso por haver escrito uma sátira contra o genro
do Profeta. Da sua morte existem duas versões: a de que morreu na prisão, ou
foi envenenado. Desde então sua obra é submetida aos padrões dos censores,
tendo sido proibida no Cairo, em 1932. Inclusive, o Ministério da Cultura do
Egito, em 2001, determinou a queima de 600 livros de sua poesia homoerótica. Seu
nome, contudo, tem relevante sucesso na cultura suaíli do leste africano,
tornando-se popular como Abunuwasi e relacionado com relatos do Nasreddin, Guba
ou Mulá, na lenda popular das sociedades islâmicas. Veja mais aqui e aqui.