A arte da artista multimídia polonesa Barbara
Konopka,
que participou de exposições, fotogramas, vídeo-instalações, performances e
festivais, é autora musical e músico-instrumentista, formada em produção
televisiva e especialista em Comunicação Visual-Realização TV. Veja mais
abaixo.
A DOR DA TORTURA – À memória de Helenira Resende de Souza Nazareth (1944-1972) – Era ela uma destacada atleta de basquete e
se tornou uma das fundadoras do grêmio de representação do alunado. Mudou-se para
a capital com o objetivo de cursar Letras, tornando-se presidente do Centro
Acadêmico da faculdade e daí passou a ser uma importante liderança estudantil,
apelidada de Preta, a oradora da turma. Depois cursou Filosofia na mesma USP, quando
foi flagrada escrevendo no muro da Mackenzie: Abaixo as leis da ditadura! Era 1967, a sua primeira prisão. Presa novamente
por convocar estudantes para uma passeata, em 1968. Tornou-se vice-presidente da
UNE e delegada do Congresso promovido pela entidade, sendo presa pela terceira
vez. Desta vez, no ônibus dos presos, ela conseguiu entregar a um transeunte um
bilhete para a família. Foi transferida para o presídio feminino do Carandiru,
onde ficou por dois meses. Libertada às vésperas do AI-5, caiu na clandestinidade
e mudou-se para o Araguaia, adotando o codinome de Fátima, integrando
destacamento da guerrilha. Estava jurada de morte pelo delegado Fleury e inscrita
no Livro Negro do exército. Foi emboscada por fuzileiros navais, em 29 de
setembro de 1972. Ferida no tiroteio e metralhada nas pernas, recusou-se a
entregar a localização de militantes. Por conta disso, foi torturada até a
morte a golpes de baioneta. Diz-se que foi enterrada nas proximidades do
igarapé Tauarizinho, em Oito Barracas. No local, havia uma poça de sangue. É considerada
desaparecida desde então pela família e foragida para as Forças Armadas: seus
restos mortais jamais encontrados. O que se passou com ela está registrado no
livro A lei da selva (Geração, 2006),
do jornalista, historiador e professor Hugo
Studart, e no Relatório Arroyo - Relatório sobre a
luta no Araguaia (1974), escrito por Ângelo
Arroyo. Veja mais abaixo e aqui, aqui e aqui.
A arte da artista multimídia polonesa Barbara
Konopka.
DITOS & DESDITOS - A voz da consciência e da honra é bem fraca
quando as tripas gritam. A ignorância não fica tão distante da verdade quanto o
preconceito. Pensamento do escritor e filósofo francês Denis Diderot (1713-1784). Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: É errado
dizer: eu acho. Deve-se dizer: as pessoas pensam em mim. Pensamento do poeta
Arthur Rimbaud (1854-1891). Veja mais aqui.
HIPOCRITAS
- A Verdade estaria aparentemente nua, o que
causou revolta em parte da plateia mais moralista e alguns conselhos de censura
do governo americano, porém, o dado mais significativo não reside na suposta e
ousada nudez da atriz (historiadores ainda discutem se ela usava ou não um
collant nas cenas, podendo ser assim o primeiro nu frontal do cinema), e sim,
na crítica social aguda que o filme propõe. Expressão da cineasta
estadunidense Lois Weber (1879-1939)
sobre o seu filme drama Hypocrites - The Naked Truth (1915), inspirado
na pintura de Adolphe Faugeron e que
contém várias cenas de nudez e inclui a primeira aparição de nudez frontal em
um filme não pornográfico, da atriz estadunidense Margaret Edwards. O filme considerado anticlerical, segue as
histórias paralelas de um asceta cristão primitivo e um ministro moderno, com a
maioria dos atores em papéis duplos. É a história de um monge medieval que se
dedica à estátua da Verdade, na qual uma mulher nua está expressa e ele é
assassinado pela multidão, demonstrando a hipocrisia da congregação. O filme
foi considerado chocante e polêmico, cujo lançamento foi atrasado por muitos
meses pela dificuldade de distribuição, afora tumultos e ter sido proibido e
censurado em diversas localidades. A cineasta é considerada uma das diretoras
mais importantes do cinema estadunidense e foi a primeira mulher a dirigir um
longa-metragem, O Mercador de Veneza, em
1914. Ela também foi a primeira diretora mulher a ter o próprio estúdio, o Lois
Weber Productions. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
TORTURADA, CONHECI A BESTA HUMANA - Fui levada para o Dops, onde me submeteram a torturas como cadeira do
dragão e pau de arara. No pau de arara, davam choques em varias partes do
corpo, inclusive nos genitais. De violência sexual, só não houve cópula, mas
metiam os dedos na minha vagina, enfiavam cassetetes no ânus. Isso, além das
obscenidades que falavam. Havia muita humilhação. Eles tiraram sarro ao mesmo
tempo que nos batiam. E eu fui muito torturada, juntamente com o Gustavo,
porque descobriram que era meu companheiro. E ele fazia parte da direção da
VAR-Palmares. A pior coisa que existe é ver um companheiro ser torturado. Uma vez,
eles sumulariam que iam me degolar. Pegaram uma facona, saíram comigo e
disseram para o Gustavo: “É a última vez que você vai vê-la”. Aí, eles saíram comigo
com aquela faca na garganta e me botaram numa Kombi. Depois, pararam o carro e
ficaram discutindo o que fazer comigo. Acabaram me deixando de volta no
presidio. Foi uma encenação, mas achei que estava indo ser morta. Isso me
deixou com trauma durante muitos anos. Eu não conseguia sequer mexer com faca
grande na cozinha... No total, fiquei presa durante um ano e meio. Depoimento
da médica veterinária, Ignez Maria Serpa
Ramminger, de 70 anos, relembra as sessões de espancamento que sofreu no
Dops em 1970, durante a ditadura militar: Sou
médica veterinária da prefeitura de Porto Alegre, tenho 70 anos, sou mãe de
três filhos e tenho três netas. Aos 21 anos , fui presa pela ditadura militar e
sofri diversos tipos de tortura durante o ano em que fiquei presa sem
julgamento. Durante o parto dos meus primeiros filhos, a dor das contrações me
faziam recordar do terror da sala de tortura: Nos dois primeiros partos, a dor
das contrações faziam eu lembrar das sessões de tortura. Veja mais aqui,
aqui e aqui.
A MORTE FALA SOBRE A
VIDA – [...] A vida, e não me parece que seja o primeiro a
fazer esta comparação, é uma doença: transmitida sexualmente e invariavelmente
fatal. [...]. Trecho extraído da obra Death talks about life (DC/Vertigo, 1994),
do escritor, roteirista e quadrinista britânico Neil Gaiman, autor da frase: As ideias surgem quando sonhamos acordados. As ideias surgem quando
estamos aborrecidas. As ideias estão sempre a surgir. A única diferença entre
os escritores e as outras pessoas é que nós reparamos quando o fazemos. É também
atribuída a ele a frase: Cometam erros
interessantes, cometam erros incríveis, cometam erros gloriosos e fantásticos.
Desobedeçam às regras. Façam o mundo mais interessante por estarem aqui.
Veja mais aqui.
UM POEMA & UMA PROSA POÉTICA – ELEGIA: Eu agora escrevo em preconcepções / Aquelas de sexo e cordas/ Muitos
frêmitos violentos ocorrem à carne da / imaginação/ E a imaginação tem em
verdade carne a destruir / E a carne tem imaginação a lacerar / A boca é apenas
um corpo preenchido de imaginação / Você pode imaginar seus conteúdos? / O
gotejar a um balde / E seus atos / As elipses e encadeamento à parte / A pluma
/ O espectador / A imaginação, vazia, nada possui que a confirme / Há apenas o
cantar dos pássaros / Os sons do grito original / Estranho exemplo / A
imaginação deseja ser abraçada pela liberdade / É esvaziada para poder ser
objeto de desejo / Mas a imaginação precisa da observância à carne / em
resposta – seus incrementos de vigilância – uma / progressão vagarosa / Precisa
ser bela e não consegue libertar-se. MY LIFE: Nenhum filhote, nenhum cão será
capaz disso, e certamente papagaio nenhum. Ninguém pode perguntar a outro uma questão
retórica. Podemos somente ler rochas desgarradas e precisamos primeiro aprender
seus nomes. Tal registro, projetado em uma tela, soprando o desértico passado,
tomaria dezesseis dias e quatro horas. Ele descansa ao sol para aumentar seu
horrível bronzeado. Nos pequenos potes, comida para um Bebê Gerber. Através das janelas de Chartres, sem vista, a
luz transmite a cor como uma cena. O que é, então, uma janela. Entre arar e
arpar. Uma pausa, uma rosa, alguma coisa no papel, das verdadeiras espirais
orgânicas não temos falta. Na manhã tudo é malva, próximo ao avermelhado. O
simbolismo da rosa depende da sua pureza de cor. Agora que ela é idosa e
famosa, intelecto em vez de beleza, ela continua a usar a moda daquela época
antiga. Ela perguntou quais eram alguns dos outros nomes que nós tínhamos
pensado em lhe dar quando ela nascesse e que nome teria se nascesse menino. Nós
queríamos um tópico próprio para as ocasiões em que os homens conversassem
sobre esportes. A rosa vermelha, em seu vermelho, não deixa vazar nenhum
amarelo. Em outras palavras, ele desenvolve o argumento. Nós estamos “numa
viagem” como se a viagem em si fosse um meio-de-transporte. Então, eu quis
visitar Giverny e os jardins de Monet. Eu posso fazer ainda o som de galope nas
minhas coxas. Ao alcance do grau em que ver e ouvir são atividades mais do que
receptividades. A analogia óbvia é com a música. O concerto de cantos
gregorianos teve lugar na ala medieval do museu, onde a música balançava as
paredes. Os funcionários de vendas aglomeravam-se na porta, trabalhando de
comissão. Uma criança tola aterrorizada. Para pôr seus ovos o mosquito precisa
de um banquete completo de sangue. E, completamente, de novo, nunca a política
se retira. Você não pode assumir “nenhum remorso”, meramente porque o não-envolvimento
das superfluidades é descrito como “sem o menor remorso”. O simbolismo da rosa
depende de seus espinhos. É mais ou menos factual e difícil de perder. Numa
noite, fiz o trabalho de escrita de toda a semana. Não tínhamos de pensar em
cozinhar pois tínhamos sido convidados. Eu me rebelei, então, contra os mundos construídos
por mim mesma e me retirei para o empírico mundo em volta. O cachorro estava
estirado na luz do sol, não o sol. O número de pernas não importa, não mais do
que o número de rodas de um carro. Aquelas partículas no ar são micróbios
dentro do espectro. A entomologia das coisas na página. Pensando lá na
infância, eu me lembro dos outros mais claramente do que de mim, mas, quando
penso em épocas mais recentes, eu começo a presenciar minhas memórias. Eu me
encontro lá, à toa, pontual, antecipadamente. É duro fazer um coração ir par a
par pá pá pá com a descrição, mas com aquela música pesada na maior pisada eu
vou pela batida beat, e, a contração, crispo. No tempo seco, tenho
olhos enxutos. O vento sopra onde o pássaro começa o vôo. Horizonte
inteiramente livre onde o céu encontra o mar. Embalam-se na luz, o leviatã e a
égua, cujas ondulações são rebentos, cavalinhas. Imagine: nunca ser
incompreensível. Poemas extraídos da obra My Life (Green Integer, 2002), da poetam ensaísta e tradutora
estadunidense Lyn Hejinian.
EDUCAÇÃO,
INTERDISCIPLINARIDADE, TRANSVERSALIDADE & ORIENTAÇÃO SEXUAL - A interdisciplinaridade, como questão gnosiológica,
surgiu no final do século passado, pela necessidade de dar uma resposta à
fragmentação causada por uma epistemologia de cunho positivista. As ciências
haviam-se dividido em muitas disciplinas e a interdisciplinaridade
restabelecia, pelo menos, um diálogo entre elas, embora não resgatasse ainda a
unidade e a totalidade do saber. Desde então, o conceito de
interdisciplinaridade vem se desenvolvendo também nas ciências da educação.
Elas aparecem com clareza em 1912 com a fundação do Instituto Jean-Jacques
Rousseau, em Genebra, por Edward Claparède, mestre de Piaget. Toda uma
discussão foi travada sobre a relação entre as ciências mães e as ciências
aplicadas à educação: por exemplo, a sociologia (da educação), a psicologia (da
educação) etc. e noções correlatas foram surgindo, como intradisciplinaridade,
pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade. A intradisciplinaridade‚
entendida, nas ciências da educação, como a relação interna entre a disciplina
"mãe" e a disciplina "aplicada". O termo
interdisciplinaridade, na educação, já não oferece problema, pois, ao tratar do
mesmo objeto de ciência, uma ciência da educação "complementa" outra.
Diga-se o mesmo quanto à pluridisciplinaridade. É a natureza do próprio
fato/ato educativo, isto é, a sua complexidade, que exige uma explicação e uma
compreensão pluridisciplinar. A interdisciplinaridade é uma forma de pensar.
Piaget (1980) sustentava que a interdisciplinaridade seria uma forma de se
chegar à transdisciplinaridade, etapa que não ficaria na interação e
reciprocidade entre as ciências, mas alcançaria um estágio onde não haveria
mais fronteiras entre as disciplinas. Após a 2ª Guerra Mundial, a
interdisciplinaridade aparece como preocupação humanista além da preocupação
com as ciências. Desde então, parece que todas as correntes de pensamento se
ocuparam com a questão da interdisciplinaridade. O projeto de interdisciplinaridade
nas ciências passou de uma fase filosófica (humanista) de definição e
explicitação terminológica, na década de 70, para uma segunda fase (mais
científica) de discussão do seu lugar nas ciências humanas e na educação, na
década de 80. Atualmente, no plano teórico, busca-se fundar a
interdisciplinaridade na ética e na antropologia, ao mesmo tempo que, no plano
prático, surgem projetos que reivindicam uma visão interdisciplinar. A
interdisciplinaridade visa a garantir a construção de um conhecimento
globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas. Para isso, integrar
conteúdos não seria suficiente. Seria preciso uma atitude e postura
interdisciplinar. Atitude de busca, envolvimento, compromisso, reciprocidade
diante do conhecimento. A interdisciplinaridade se desenvolveu em diversos
campos. Na educação ela teve um desenvolvimento particular. Nos projetos
educacionais a interdisciplinaridade se baseia em alguns princípios, entre
eles: Na noção de tempo: o aluno não tem tempo certo para aprender. Não existe
data marcada para aprender. Ele aprende a toda hora e não apenas na sala de
aula. Na crença de que é o indivíduo que aprende. Então, é preciso ensinar a
aprender, a estudar etc. ao indivíduo e não a um coletivo amorfo. Portanto, uma
relação direta e pessoal com a aquisição do saber. Embora apreendido
individualmente, o conhecimento é uma totalidade. O todo é formado pelas
partes, mas não é apenas a soma das partes. É maior que as partes. A criança, o
jovem e o adulto aprendem quando têm um projeto de vida e o conteúdo do ensino
é significativo para eles no interior desse projeto. Aprende-se quando se
envolve com emoção e razão no processo de reprodução e criação do conhecimento.
A biografia do aluno é, portanto, a base do seu projeto de vida e de aquisição
do conhecimento e de atitudes novas. A metodologia do trabalho interdisciplinar
implica em: integração de conteúdos; passar de uma concepção fragmentária para
uma concepção unitária do conhecimento; superar a dicotomia entre ensino e pesquisa,
considerando o estudo e a pesquisa, a partir da contribuição das diversas
ciências; e ensino-aprendizagem centrado numa visão de que aprendemos ao longo
de toda a vida. O conceito chegou ao final desse século com a mesma conotação
positiva do início do século passado, isto é, como forma (método) de buscar,
nas ciências, um conhecimento integral e totalizante do mundo frente à
fragmentação do saber, e na educação, como forma cooperativa de trabalho para
substituir procedimentos individualistas. A ação pedagógica através da
interdisciplinaridade aponta para a construção de uma escola participativa e
decisiva na formação do sujeito social. O seu objetivo tornou-se a
experimentação da vivência de uma realidade global, que se insere nas
experiências cotidianas do aluno, do professor e do povo e que, na teoria
positivista era compartimentada e fragmentada. Articular saber, conhecimento,
vivência, escola comunidade, meio-ambiente etc. tornou-se, nos últimos anos, o
objetivo da interdisciplinaridade que se traduz, na prática, por um trabalho
coletivo e solidário na organização da escola. Assim sendo, um projeto
interdisciplinar de educação deverá ser marcado por uma visão geral da
educação, num sentido progressista e libertador. A interdisciplinaridade deve
ser entendida como conceito correlato ao de autonomia intelectual e moral.
Nesse sentido a interdisciplinaridade serve-se mais do construtivismo que é uma
teoria da aprendizagem que entende o conhecimento como fruto da interação entre
o sujeito e o meio. Nessa teoria o papel do sujeito é primordial na construção
do conhecimento. Portanto, o construtivismo tem tudo a ver com a
interdisciplinaridade. A relação entre autonomia intelectual e
interdisciplinaridade é imediata. Na teoria do conhecimento de Piaget (1978) o
sujeito não é alguém que espera que o conhecimento seja transmitido a ele por
um ato de benevolência. É o sujeito que aprende através de suas próprias ações
sobre os objetos do mundo. É ele, enquanto sujeito autônomo, que constrói suas
próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo que organiza seu mundo.
INTERDISCIPLINARIDADE & TRANSVERSALIDADE - A
interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de
conhecimento produzida por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação
e a influência entre eles - questiona a visão compartimentada da realidade
sobre qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu.
Enquanto isso a transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer
na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos teoricamente
sistematizados e as questões da vida real e de sua transformação. Uma e outra,
pedagogicamente, alimentam-se mutuamente, pois o tratamento das questões
sociais dos temas transversais expõem as inter-relações entre os objetivos de
conhecimento, de forma que não é possível fazer um trabalho pautado na
transversalidade tomando-se uma perspectiva rígida (Brasil, 1998). O princípio
da interdisciplinaridade permitiu um grande avanço na idéia de integração
curricular. Mas ainda a idéia central era trabalhar com disciplinas. Na
interdisciplinaridade os interesses próprios de cada disciplina são
preservados. Já o princípio da transversalidade e de transdisciplinaridade
busca superar o conceito de disciplina. Aqui, busca-se uma intercomunicação
entre as disciplinas, tratando efetivamente de um tema/objetivo comum
(transversal). Assim, não tem sentido trabalhar os temas transversais através
de uma nova disciplina, mas através de projetos que integrem as diversas
disciplinas. Mello (1998:69) reitera nossa propositura: Tais conteúdos, mais
diversificados e específicos, podem e devem ser tratados, integrando-os aos
conteúdos básicos, sem necessidade de fragmentar o tempo escolar em um grande
número de disciplinas estanques. Da mesma forma, conteúdos voltados para a
realidade sociocultural local seriam incorporados à estrutura curricular
permeando os conteúdos básicos, numa forma inovadora e transdisciplinar. Daí,
entende-se que a transversalidade promove uma compreensão abrangente dos
diferentes objetos do conhecimento, bem como a percepção da implicação do
sujeito de conhecimento na sua produção, superando a dicotomia entre ambas. Hernández
(1998:61/4) que trata especificamente da "organização do currículo por projetos de trabalho" vinculada à
perspectiva do conhecimento globalizado e relacional: Essa modalidade de
articulação dos conhecimentos escolares é uma forma de organizar a atividade de
ensino e aprendizagem, que implica considerar que tais conhecimentos não se
ordenam para sua compreensão de uma forma rígida, nem em função de algumas
referências disciplinares preestabelecidas ou de uma homogeneização dos alunos.
A função do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos
conhecimentos escolares em relação a: 1) o tratamento da informação, e 2) a
relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que
facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos, a transformação da
informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimentos
próprios (...) Globalização e significatividade são, pois, dois aspectos
essenciais que se plasmam nos Projetos. É necessário destacar o fato de que as
diferentes fases e atividades que se devam desenvolver num Projeto ajudam os
alunos a serem conscientes de seu processo de aprendizagem e exige do
professorado responder aos desafios que estabelece uma estruturação muito mais
aberta e flexível dos conteúdos escolares. Por essa mesma via, a
transversalidade abre espaço para a inclusão de saberes extra-escolares,
possibilitando a referência a sistemas de significado construídos na realidade
dos alunos.
A TRANSVERSALIZAÇÃO: A ORIENTAÇÃO SEXUAL – Os temas
transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN´s, incluem Ética, Meio
ambiente, Saúde, Pluralidade Cultural e Orientação sexual. Estes temas
expressam conceitos e valores fundamentais à democracia e à cidadania e
correspondem a questões importantes e urgentes para a sociedade brasileira de
hoje, presentes sob várias formas na vida cotidiana. Por esta razão, são amplos
o bastante para traduzir preocupações de todo país porque são questões em
debate na sociedade através dos quais, o dissenso, o confronto de opiniões se
coloca (Brasil, 1998). Por serem questões sociais, os Temas Transversais têm
natureza diferente das áreas convencionais. Tratam de processos que estão sendo
intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos
alunos e educadores em seu cotidiano. São debatidos em diferentes espaços
sociais, em busca de soluções e de alternativas, confrontando posicionamentos
diversos tanto em relação à intervenção no âmbito social mais amplo quanto à
atuação pessoal. São questões urgentes que interrogam sobre a vida humana,
sobre a realidade que está sendo construída e que demandam transformações
macrossociais e também de atitudes pessoais, exigindo, portanto, ensino e
aprendizagem de conteúdos relativos a essas duas dimensões. Nas várias áreas do
currículo escolar existem, implícita ou explicitamente, ensinamentos a respeito
dos temas transversais, isto é, todas educam em relação a questões sociais por
meio de suas concepções e dos valores que veiculam nos conteúdos, no que elegem
como critério de avaliação, na metodologia de trabalho que adotam, nas
situações didáticas que propõem aos alunos. Por outro lado, sua complexidade
faz com que nenhuma das áreas, isoladamente, seja suficiente para explicá-los;
ao contrário, a problemática dos temas transversais atravessa os diferentes
campos do conhecimento. As áreas convencionais devem acolher as questões dos
Temas Transversais de forma que seus conteúdos as explicitem e que seus
objetivos sejam contemplados. Por exemplo, a área de Ciências Naturais inclui a
comparação entre os principais órgãos e funções do aparelho reprodutor
masculino e feminino, relacionando seu amadurecimento às mudanças no corpo e no
comportamento de meninos e meninas durante a puberdade e respeitando as
diferenças individuais. Dessa forma, o estudo do corpo humano não se restringe
à dimensão biológica, mas coloca esse conhecimento a serviço da compreensão da
diferença de gênero (conteúdo de Orientação Sexual ) e do respeito à diferença
(conteúdo de Ética). Assim sendo, através da Ética, o aluno poderá entender o
conceito de justiça baseado na equidade e sensibilizar-se pela necessidade de
construção de uma sociedade justa, adotar atitudes de solidariedade, cooperação
e repúdio às injustiças sociais, discutindo a moral vigente e tentando
compreender os valores presentes na sociedade atual e em que medida eles devem
ou podem ser mudados (Brasil, 1998). Através do tema Meio ambiente o aluno
poderá compreender as noções básicas sobre o tema, perceber relações que
condicionam a vida para posicionar-se de forma crítica diante do mundo, dominar
métodos de manejo e conservação ambiental (Brasil, 1998). A Saúde é um direito
de todos. Por esse tema o aluno compreenderá que saúde é produzida nas relações
com o meio físico e social, identificando fatores de risco aos indivíduos
necessitando adotar hábitos de auto-cuidado (Brasil, 1998). A Pluralidade
Cultural tratará da diversidade do patrimônio cultural brasileiro, reconhecendo
a diversidade como um direito dos povos e dos indivíduos e repudiando toda
forma de discriminação por raça, classe, crença religiosa e sexo. A orientação
sexual, numa perspectiva social, deverá ensinar o aluno a respeitar a
diversidade de comportamento relativo à sexualidade, desde que seja garantida a
integridade e a dignidade do ser humano, conhecer seu corpo e expressar seus
sentimentos, respeitando os seus afetos e do outro. Infere-se a crença no fato
de que a sexualidade e a Orientação Sexual constituem uma disciplina a ser
ministrada por um profissional específico dentro da escola. Neste sentido
Werebe (1981) assevera que a concepção da sexualidade como um processo isolado
e independente falseia a visão que se deveria ter sobre ela. Já Foucault
(1999:36), lembra que a disciplina é uma das formas de interdição ao discurso
por delimitar seus poderes e os sujeitos que dela podem falar, definindo,
então disciplina: "(...) por um domínio de objetos, um conjunto de
métodos, um corpus de proposições consideradas verdadeiras, um jogo de regras e
de definições, de técnicas e de instrumentos". Foucault faz entender
que talvez o processo de "disciplinarização" da sexualidade seja uma
maneira anônima e discreta de censurá-la, pois a disciplina constitui-se num
"princípio de limitação". Ressalta também, que, no interior de seus
limites, a disciplina define o que é verdade ou não e repele para fora de si
toda uma teratologia do saber. Isso significa que, através da disciplina,
delimitam-se para o discurso o que pode e o que não pode ser dito como verdade,
quem pode e quem não pode enunciar esse discurso. Enfim, essa é mais uma
maneira de enquadrar a sexualidade dentro de certos limites, pois como diz
Foucault (1999:36), "A disciplina é
um princípio de controle da produção do discurso. Ela lhe fixa os limites pelo
jogo de uma identidade que tem a forma de uma reatualização permanente das
regras". Nesse entendimento, a sexualidade, ao ser considerada uma
disciplina, torna-se refém dos limites desta. Talvez essa visão da Orientação
Sexual ou da sexualidade como uma disciplina seja um legado dos paradigmas de
cientificidade que, apoiados nos pilares do certo/errado e do falso/verdadeiro,
regeram o pensamento ocidental nos últimos dois séculos. É mais uma forma de
interdição à sexualidade, conduzindo-a ao discurso disciplinar e privando-a da
liberdade que gozaria fora dele. Nessa perspectiva, a percepção da sexualidade
como um tema transversal e interdisciplinar anularia todas as limitações
impostas pela disciplina. Pelo contrário, ao ser vista como disciplina, a
sexualidade será encarada como uma verdade a ser repassada juntamente com suas
regras, limites e definições. Nesse sentido, no momento em que ela deixasse de
ser "a" disciplina e seu conteúdo passasse a diluir-se em
"todas" as disciplinas como um tema "transversal", ela
estaria escapando do campo de domínio disciplinar. A proposta de estudo da
sexualidade como tema transversal, apresentada nos PCN (Brasil, 1998), é busca
considerara sexualidade como algo inerente à vida e à saúde que se expressa no
ser humano, do nascimento até morrer, relacionando-se com o direito ao prazer e
ao exercício da sexualidade com responsabilidade. Também engloba as relações de
gênero, o respeito a si mesmo e ao outro e à diversidade de crenças, valores e
expressões culturais existentes na sociedade democrática e pluralista. Inclui,
ainda, a importância da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis/Aids e
da gravidez indesejada na adolescência, entre outras questões polêmicas,
pretendendo contribuir para a superação de tabus e preconceitos ainda
arreigados no contexto sociocultural brasileiro. Por um viés mais holístico que
busca um redimensionamento dos aspectos cognitivos, afetivos e sociais com suas
inter-relações, os novos paradigmas político-pedagógicos tentam resgatar a
dimensão integral do cidadão. O projeto de transversalidade situa a sexualidade
como um tema que atravessa todas as áreas do saber, contextualizando-a e
problematizando-a em seus aspectos biológicos, psicológicos, sociais,
políticos, religiosos, éticos e culturais. Reduzir a sexualidade ao biológico,
segundo Souza (1993), é um legado secular que trouxe conseqüências marcantes em
toda a história da humanidade. Já o oposto, ou seja, a capacidade de associar a
cultura ao biológico, é um traço que caracteriza a existência humana,
diferindo-a de outras espécies animais. No entanto, defende-se que qualquer
proposta de transversalidade deve ser precedida de uma avaliação abrangente dos
valores, conceitos e visões de mundo que rondam as representações dos
educadores. O trabalho de Orientação Sexual na escola é entendido como problematizar,
levantar questionamentos e ampliar o leque de conhecimentos e de opções para
que o aluno ele próprio escolha o seu caminho. Isto quer dizer que em relação
às questões de gênero, por exemplo, o professor deve transmitir, pela sua
conduta, a equidade entre os gêneros e a dignidade de cada um individualmente
Já no diálogo entre escola e família deverá se dar de todas as formas
pertinentes a essa relação. Optou-se por integrar a Orientação Sexual nos
Parâmetros Curriculares Nacionais por meio da transversalidade, o que significa
que tanto a concepção quanto os objetivos e conteúdos propostos por Orientação
Sexual encontram-se contemplados pelas diversas áreas do conhecimento (Brasil,
1998). Com isso, vê-se que as questões referentes à sexualidade não se
restringem ao âmbito individual. Pelo contrário, muitas vezes, para compreender
comportamentos e valores pessoais, é necessário contextualizá-los social e
culturalmente. É nas relações sociais que se definem, por exemplo, os padrões
de relação de gênero, o que homens e mulheres podem e devem fazer por serem
homens e mulheres, e, principalmente, quais são e quais deverão ser os direitos
de cidadania ligados a sexualidade e à reprodução. O índice de gravidez
indesejada na adolescência, abuso sexual e prostituição infantil, o crescimento
da epidemia de AIDS, a discriminação salarial das mulheres no mercado de
trabalho, o preconceito contra homossexuais, são algumas das questões sociais
que demandam posicionamento em favor de transformações que garantam a todos a
dignidade e a qualidade de vida previstas pela Constituição brasileira. Por
outro lado, os valores que se atribui à sexualidade e aquilo que se valoriza
são também produtos socioculturais. Como nos demais Temas Transversais,
diferentes códigos de valores se contrapõem e disputam espaço. A exploração
comercial, a propaganda e a mídia em geral têm feito um uso abusivo da
sexualidade, impondo valores discutíveis e transformando-a em objeto de
consumo. Assim, como indicam inúmeras experiências pedagógicas, a abordagem da
sexualidade no âmbito da educação precisa ser explícita, para que seja tratada
de forma simples e direta; ampla, para não reduzir sua complexidade; flexível,
para permitir o atendimento a conteúdos e situações diversas; e sistemática, para
possibilitar uma aprendizagem e um desenvolvimento crescentes. A proposta de
Orientação Sexual caracteriza-se por trabalhar o esclarecimento e a
problematização de questões que favoreçam a reflexão e a ressignificação das
informações, emoções e valores recebidos e vividos no decorrer da história de
cada um e que tantas vezes prejudicam o desenvolvimento de suas
potencialidades. Ressalta-se a importância de se abordar a sexualidade da
criança e do adolescente não somente no que tange aos aspectos biológicos, mas
também e principalmente aos aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos
e psíquicos dessa sexualidade. No trabalho de Orientação Sexual são muitas as
questões às quais se deve estar atento. Em primeiro lugar, trata-se de temática
muito associada a preconceitos, tabus, crenças ou valores singulares. Para que
o trabalho de Orientação Sexual possa se efetivar de forma coerente com a visão
pluralista de sexualidade proposta, é necessário que as diferentes crenças e
valores, as dúvidas e os questionamentos sobre os diversos aspectos ligados à
sexualidade encontrem espaço para se expressar. Será através do diálogo, da
reflexão e da possibilidade de reconstruir as informações, pautando-se sempre
pelo respeito a si próprio e ao outro, que o aluno conseguirá transformar e/ou
reafirmar concepções e princípios, construindo de maneira significativa seu
próprio código de valores. Para isso, optou-se por integrar a Orientação Sexual
nos Parâmetros Curriculares Nacionais, através da transversalidade, o que
significa que tanto a concepção quanto os objetivos e conteúdos propostos por
Orientação Sexual encontram-se contemplados pelas diversas áreas do
conhecimento. Dessa forma, o posicionamento proposto pelo tema de Orientação
Sexual, assim como acontece com todos os Temas Transversais, estará impregnando
toda a prática educativa. Cada uma das áreas tratará da temática da sexualidade
através da sua própria proposta de trabalho. Ao se apresentar os conteúdos de
Orientação Sexual, serão explicitadas as articulações mais evidentes de cada
bloco de conteúdo com as diversas áreas. Além disso, o trabalho de Orientação
Sexual implica o tratamento de questões que nem sempre estarão articuladas com
as diversas áreas do currículo — seja porque se tratam de questões singulares e
que necessitam, então, de um tratamento específico, seja porque permeiam o
dia-a-dia na escola das mais diferentes formas, surgindo de maneira emergente e
exigindo, do professor, flexibilidade, disponibilidade e abertura para
trabalhar essas questões. As manifestações da sexualidade, diferentes em cada
etapa do desenvolvimento, são um exemplo disso. E, muitas vezes, o professor
encontrará aí excelente oportunidade para desenvolver um trabalho
extraprogramação. A sexualidade provoca nas crianças uma grande variedade de
sentimentos, sensações, dúvidas, dentre outras. Todas essas manifestações são
objetos de trabalho do tema Orientação Sexual. Embora não sejam passíveis de
serem programadas, elas acontecem inevitavelmente e, para isso, o professor
deverá estar preparado: deverá se planejar para trabalhar essas situações no
momento em que elas acontecerem. A atitude do professor de acolhimento a essas
expressões e de disponibilidade para ouvir e responder a questões é fundamental
para o trabalho que se propõe. O trabalho de Orientação Sexual deverá,
portanto, se dar de duas formas: dentro da programação, através dos conteúdos
já transversalizados nas diferentes áreas do currículo, e extraprogramação,
sempre que surgirem questões relacionadas ao tema, tais como aborto,
virgindade, homossexualidade, pornografia, prostituição e outras. O trabalho de
Orientação Sexual pode ser planejado com maior detalhamento tendo como ponto de
partida a montagem do programa feita por cada turma. Cabe então ao educador
responsável a organização dos temas (a partir das questões trazidas pelos
alunos), a inclusão de tópicos essenciais por vezes não levantados pelos jovens
(prevenção às doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo) e o
estabelecimento de regras necessárias para o trabalho. Essas regras devem
garantir a privacidade de cada um, o respeito às posições divergentes, a
construção de um clima de grupo amistoso e acolhedor onde possa ocorrer o
diálogo. Ao questionar e criticar os tabus e preconceitos ligados à sexualidade
e trabalhar com conhecimentos e informações que visam a promoção do bem-estar e
da saúde, esse trabalho se entrelaça com objetivos e conteúdos contemplados
também em outros temas, principalmente Ética e Saúde. Segundo Lima (1996), as escolas têm o papel de trabalhar as informações
biológicas da sexualidade, algumas vezes usadas como pano de fundo para
discussões psicológicas. A escola, assim, apresenta-se como local privilegiado
para trabalhos preventivos; porém, de acordo com Focesi (1990), ela somente
estará educando em saúde, se levar em consideração à realidade do indivíduo,
desenvolvendo suas percepções e sensações, orientando-o para comparar e
analisar sua realidade e refletir sobre ela. A eficácia de um projeto de
orientação sexual nas escolas tem sido, tema de permanente debate. Do ponto de
vista de Lima (1996), o primeiro passo para qualificar um projeto como eficaz,
é preciso que haja objetivos claros a serem alcançados, uma vez que a
eficiência não é um parâmetro solto e isento. Portanto, ela propõe que, para
começar, a escola trace uma metodologia competente para abarcar dois níveis de
trabalho, que, a seu ver, são necessários: o biológico/informações e o
psicológico/atitudes. De acordo com Lima (1996), o modelo de prevenção a ser utilizado,
em primeiro lugar, deve excluir as "palestras", muito utilizadas e,
segundo ela, superadas. Defende ainda, que trabalhar com os próprios
adolescentes a sua maneira de entender a sexualidade, o homossexualismo, as
drogas e a violência, capacitando o adolescente a interagir com os colegas da
mesma idade ou mais novos, os projetos têm maior eficácia, permitindo autonomia
da escola e uma reflexão contínua, dentro da realidade específica daquele
grupo. Dentro dessa ótica, Lima (1996) considera que a introdução da orientação
sexual nas atividades já existentes das escolas deve ser tratada como um
problema individual. Cada escola tem um tipo de disponibilidade, uma carga
horária a cumprir. Se a escola for tradicional, tanto mais complexo, porque a
valorização do conteúdo pedagógico muitas vezes supera a compreensão e o
interesse pelo tema. Numa escola mais moderna, a ênfase à formação pessoal
permite abertura de espaços e inserção do tema na programação. A importância da
Orientação Sexual na escola e da sua inclusão no currículo escolar é uma
questão que vem sendo discutida há muito tempo. Segundo Rosa (2001), a
orientação sexual, nos moldes em que está sendo proposto para as escolas, em
muito se aproxima de características relacionadas dos Programas de Saúde,
especialmente no que se refere a transdiciplinaridade e ao despreparo dos
educadores frente a essa nova temática. Isso porque a transdiciplinaridade não
implica obrigatoriedade, o que acaba servindo como justificativa para que o
educador não trabalhe na sua disciplina, os temas de sexualidade. Todavia,
esses temas não se relacionam diretamente com os conteúdos a que está
habituado, exigindo um tempo de preparo e de dedicação do educador para o qual
nem sempre está disposto ou não tem oportunidade. Quando da falta de outra
alternativa para esse trabalho, a preferência recai sobre um professor que
tenha mais facilidade para falar de sexo ou de profissionais diante de uma
multidão de alunos, das mais diferentes idades e interesses, com um discurso,
que ao contrário, de esclarecer alguma dúvida, aumenta, ainda mais ansiedade
dos alunos. As dúvidas dos alunos em relação ao tema sexo, segundo Rosa (2001),
acabam por gerar uma reação nos professores, que pode variar desde o fingir que
não as estão vendo e que não é problema deles, ao reprimir as manifestações de
sexualidade e, finalmente passar o problema adiante. Os professores (e as
demais pessoas), mesmo sem perceber, transmitem valores com relação à
sexualidade no seu trabalho cotidiano, inclusive na forma de responder ou não
às questões mais simples trazidas pelos alunos. Neste sentido, os PCN’s
(Brasil, 1998) complementam: É necessário que os professores possam reconhecer
os valores que regem seus próprios comportamentos e orientam sua visão de
mundo, assim como reconhecer a legitimidade de valores e comportamentos
diversos dos seus. Tal postura cria condições mais favoráveis para o
esclarecimento, a informação e o debate sem a imposição de valores específicos.
Faz-se necessário, portanto, que o professor tenha uma certa impessoalidade
quando estiver tratando de algum tema, buscando não ter preconceitos e
discriminações e sim mediar, mostrando aos alunos verdades e mentiras do tema
proposto fazendo-os refletir, analisar e criar suas próprias opiniões (Brasil,
1998). Dessa forma, não é de admirar que os estudantes, não tendo quem os oriente
adequadamente em casa e na escola, tenham a sua educação sexual forjada por
preconceitos e tabus colhidos, via de regra, com os amigos na rua e pelos
modelos de comportamento sexual demonstrados pela família e pela sociedade
sobre os quais não lhes é oportunizado nenhum tipo de reflexão crítica.
Conseqüentemente, observa-se a repetição dos comportamentos preconceituosos e
discriminatórios entre os adolescentes através de estatísticas que comprovam o
preconceito com homossexuais, a gravidez na adolescência, casos de Aids e
outros. O processo de inclusão da Orientação Sexual no currículo, segundo Rosa
(2001) , não consiste, de modo algum, em listar num papel uma quantidade
infinita de temas e distribuí-los pelas séries ou pelos bimestres escolares. É
preciso que a coordenação junto com os professores, decidam quais temas
trabalharão, em quais disciplinas, o tempo da aula, os conhecimentos prévios
dos alunos, objetivos a alcançar, melhores técnicas e por fim avaliação. As
atividades devem privilegiar o diálogo, num clima de abertura, valorização da
diferença e das trajetórias pessoais, partindo dos relatos que os adolescentes
já sabem ou já praticam. A partir daí com a orientação segura de um
coordenador, acrescentam-se informações, estudam-se temas, propiciam-se debates
acerca de questões éticas e morais, recomendam-se livros, filmes, palestrantes
e especialistas. É bom ressaltar que, experiência não é o que aconteceu com uma
pessoa, mas o que esta pessoa fez com o que lhe aconteceu. O clima de trabalho
deve ser de franqueza e acolhimento, para que os adolescentes apresentem
abertamente suas opiniões e práticas. A partir de seus relatos, pode-se
auxiliar a constituir experiências de vida, que talvez sirvam de parâmetro para
suas ações por muitos anos. Conforme o pensamento de Seffner (2000:45) que diz:
A metodologia de trabalho envolve confrontá-los com seus conhecimentos e suas
práticas, buscando perceber ambigüidades, contradições, preconceitos, no
sentido de realizar duas tarefas: faze-los falar acerca da distância entre as
intenções e princípios de vida declarados e as práticas em andamento; leva-los
a estabelecer um conjunto de princípios de acordo com suas crenças e valores
(...) O professor deve estar ciente de que, mesmo quando se executa um trabalho
bem elaborado na Orientação Sexual, com discussões e atividades que permitam
aos alunos entenderem os diferentes aspectos de um tema, uma das conseqüências
previsíveis é a de que, ao invés de mudarem de opinião os alunos acabem por
fortificar seus posicionamentos frente ao tema. Assim sendo, o objetivo de uma discussão, não é fazer com
que os alunos mudem necessariamente de opinião sobre um tema, ou adquiram o
pensamento da maioria, ou do professor. O que se espera é que o aluno mude a
forma como passa a entender a sua sexualidade, que adquira uma consciência
crítica que lhe permita sustentar seus posicionamentos diante da sexualidade, a
partir de suas próprias reflexões e sentimentos. Quanto à contribuição das
disciplinas para a Orientação Sexual dos alunos, é importante ressaltar que a
forma como eles serão trabalhados (metodologia) é consideravelmente mais
importante do que os conteúdos (teoria), posto que muitos deles são passageiros
e mudam com o maior ou menor grau de evolução cultural, moral e social de um
povo. As disciplinas de Português e Inglês, habitualmente se ocupam com as
questões da linguagem, podendo contribuir através de práticas pedagógicas
(leitura, elaboração de textos, dramatização, exposição de opiniões e de
sentimentos sobre temas atuais e polêmicos relacionados ou não, a sexualidade)
que visem ao desenvolvimento da capacidade de ser assertivo. A assertividade é
condição fundamental na construção de vínculos afetivos sadios e duradouros,
uma vez que, é através dela que os indivíduos, serão capazes de deixar claro
aquilo que esperam de uma relação afetiva com outros, vivendo assim, o melhor e
saudável que possam. Na Educação Física, que lida diretamente com o corpo e sua
representação social, pode-se incluir exercícios que contribuam para o
auto-conhecimento, a valorização da auto-estima e a cooperação entre as
pessoas, ao invés de atividades que só reforcem a competição, o egoísmo e a
imagem de um corpo esteticamente perfeito. Na Matemática e na Geografia,
algumas questões sobre o sexo e a sexualidade humana, podem ser facilmente
adaptados ao contexto da aula. Por exemplo: os efeitos da regulação da
reprodução humana (planejamento familiar, métodos contraceptivos); as
estatísticas demográficas (números de filhos por mulher, distribuição por idade
e sexo da população), bem como sobre as questões sociais e econômicas de um
país (sustento da família, serviços de saúde, educação, alimentação, nível de
emprego e salário, entre outros). Na disciplina de História, pode-se trabalhar
com a contextualização de fatos históricos, comportamentos e regras sociais.
Por exemplo: a trajetória dos papéis sexuais, especialmente o feminino que, ao
longo da história da civilização, foi o que passou pelas mudanças mais
significativas. Conforme a concepção de Seffner (2000:44): “(....) uma boa escola é aquela que se preocupa com
uma educação afetivo-sexual e não apenas uma educação sexual”. Neste
sentido, segundo ele, a educação afetivo-sexual valoriza o componente afetivo
como tão importante quanto a base orgânica da sexualidade. Assim, escola, segundo os PCN´s (Brasil, 1998), deve
se organizar para que os alunos, ao fim do ensino fundamental, sejam capazes
de: respeitar a diversidade de valores, crenças e comportamentos relativos à
sexualidade, reconhecendo e respeitando as diferentes formas de atração sexual
e o seu direito à expressão, garantida a dignidade do ser humano; compreender a
busca de prazer como um direito e uma dimensão da sexualidade humana; conhecer
seu corpo, valorizar e cuidar de sua saúde como condição necessária para
usufruir prazer sexual; identificar e repensar tabus e preconceitos referentes
à sexualidade, evitando comportamentos discriminatórios e intolerantes e
analisando criticamente os estereótipos; reconhecer como construções culturais
as características socialmente atribuídas ao masculino e ao feminino,
posicionando-se contra discriminações a eles associadas; identificar e
expressar seus sentimentos e desejos, respeitando os sentimentos e desejos do
outro; reconhecer o consentimento mútuo como necessário para usufruir prazer
numa relação a dois; proteger-se de relacionamentos sexuais coercitivos ou
exploradores; agir de modo solidário em relação aos portadores do HIV e de modo
proposital em ações públicas voltadas para prevenção e tratamento das doenças
sexualmente transmissíveis/Aids. O objetivo geral de um trabalho de orientação
sexual é permitir que crianças e adolescentes entendam a sexualidade como
aspecto positivo e natural da vida humana, propiciando-se livre discussão de normas
e padrões de comportamento em relação ao sexo e o debate das atitudes pessoais
frente à própria sexualidade. Considera-se que o trabalho de Orientação Sexual
na escola é de grande valia para os alunos, pois os possibilita um espaço para
conversar e entender as dúvidas que aparecem durante a fase da adolescência. É
nesse sentido que o professor de Orientação Sexual vem ajudar, levantando as
principais temáticas com os alunos e estimulando-os a refletir sobre o assunto
a fim de tirarem suas dúvidas e criarem uma opinião acerca dele. Todavia, ao
atuar como um profissional da educação, o professor deve ter discernimento para
não transmitir seus valores, crenças e opiniões como sendo princípios ou
verdades absolutas. Não se pode exigir do professor uma isenção absoluta no
tratamento das questões ligadas à sexualidade, mas a consciência de que sua
orientação não influencie na construção da opinião do seu educando. Pensa-se,
portanto, que um bom trabalho de Orientação Sexual é quando o professor
consegue a confiança de seus alunos, através de diálogos, respeitando seus
limites, valorizando suas opiniões e principalmente orientando-os sobre a
necessidade de cuidar da saúde física e mental. E sabe-se que a sexualidade dos
adolescentes é inerente a sua vida, e a família deve sempre intervir quando
necessário, sempre de acordo com os valores que norteiam a sua educação, tendo
como base o que conhecem e o que querem. Desta forma, os pais irão sentir-se
mais seguros e a vontade quando conversarem com seus filhos. A escola deve
auxiliar a família neste sentido, integrando atividades que motivem os alunos a
participarem, não apenas para cumprir atividades escolares, mas sim para que o
aluno sinta-se a vontade para perguntar e esclarecer as dúvidas a respeito do
sexo. A família também deve estar muito atenta no que se passa na mídia,
principalmente o grande veículo que “educa” em massa: a televisão. Esta veio
trazer para a população muitos benefícios, como o de saber o que ocorre no
mundo. No entanto os programas televisivos ganharam uma variedade muito grande,
com poucas restrições, mostrando o que querem sem a preocupação com o horário e
a idade. A melhor saída é conversar com os filhos sobre as cenas que a
televisão exibe, visando construir uma consciência crítica para aplicar na sua
vida. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
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acompanhados de Maria Luisa Russo e das Carochinhas Marize e Marcia Sarmento.
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