terça-feira, setembro 02, 2008

HENRY JAMES, LEANDRO GOMES DE BARROS, CÂMARA CASCUDO, LUNÁRIO PERPÉTUO, ARDÊNCIA & BIG SHIT BOBRAS!!!



ARDÊNCIA - Que seja como for: a chama desse fogo ardendo o nosso amor. No vício do prazer me deixe exangue e lânguido a te querer, a te querer demais. E desfaleço com o tempo que o vento isento me traz o tormento, a hostil solidão a te procurar. E vem teu corpo e revigora a pureza do tom do teu dom de tocar se acercar dos meus sonhos, meu corpo, desejos, lampejo seduz meu afã, minha estrela manhã, amuleto de luz, meu talismã, esperança de vida que traz escondida no teu olhar. E a tua voz a me embalar nos segredos vadios das nuvens lençois com furor, nos mistérios sedentos que invadem ardentes e saciam o amor. É novo dia, é a mais rara poesia que descubro a cada via do teu corpo a me roçar. Vem num átimo de um novo beijo e eu recolho o teu sobejo e revejo a fantasia cada nervo é uma folia a cada perna a se enroscar. Ritual do tempo e o firmamento a confundir-se em céus, em gemidos sensuais, luas, ânsias tão iguas, refazem o nosso amor. (Música e letra LAM – Primeira Reunião: Bagaço, 1992). © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.


LUNÁRIO PERPÉTUO: O NON PLUS ULTRA DO LUNÁRIO E PROGNOSTICO PERPETUO, GERAL E PARTICULAR PARA TODOS OS REINOS E PROVÍNCIAS - Durante dois séculos, foi o livro mais lido nos sertões do Nordeste, que trazia informações de astrologia, horoscopos, rudimentos de fisica, remedios estupefacientes e velhismos. Aos olhos dos fazendeiros, não existia autoridade maior, e os prognosticos meteorologicos, mesmo sem maiores exames pela diferença dos hemisferios, eram acatados como sentença. Foi um dos livros mestres para os cantadores populares, na parte que eles denominavam ciência ou cantar teoria, gramática, história, doutrina cristã, países da Europa, capitais, mitologia. Decoravam letra por letra. É o volume responsável por muita frase curiosa, dita pelo sertanejo, e que provém de clássicos dos séculos XVI e XVIII. A primeira edição é de Lisboa, em 1703, na caa de Miguel Menescal. O título inteiro depois amputado dos volumes editados na última década do século XIX, denuncia o plano da ciência popular: o Non Plus Ultra do Lunário e Prognóstico Perpétuo, Geral e Particular para Todos os Reinos e Províncias, composto por Jerônimo Cortez, valenciano, emendado conforme o Expurgatório da Santa Inquisição, e traduzido em português. Registra um pouco de tudo, incluindo astrologia, receitas médicas, calendários, vidas de santos, biohrafia de papas, conhecimentos agrícolas, generalidades, processo para construir um relógio de sol, conhecer a hora pela posição das estrelas, conselhos de veterinária. Extraído do Dicionário do folclore brasileiro (Global, 2001), do historiador, antropólogo, advogado e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986). Veja mais aqui, aqui & aqui.

O ALTAR DOS MORTOS – [...] A revelação pareceu atingir nosso amigo no rosto e ele caiu numa cadeira e ficou em silência. Rapidamente deu-se conta de que ela estava chocada com a visão do choque dele, mas quando afundou no sofá ao lado dele e poucou a mão em seu braço, ele percebeu quase de imediato que ela não era capaz de abalar-se com aquilo tanto quanto gostaria. [....]. Pensamento do escritor estadunidense Henry James (1843-1916). Veja mais aqui e aqui.

UMA VIAGEM AO CÉU - Uma vez, eu era pobre, / Vivia sempre atrasado, / Botei um negócio bom / Porém vendi-o fiado / Um dia até emprestei / O livro do apurado. / Dei a balança de esmola / E fiz lenha do balcão, / Desmanchei as prateleiras, / Fiz delas um marquezão, / Porém, roubaram-me a cama / Fique dormindo no chão. / Estava pensando na vida / Como havia de passar, / Não tinha mais um vintém, / Nem jeito pra trabalhar. / O marinheiro da venda / Não queria mais fiar. / Pus a mão sobre a cabeça / Fiquei pensando na vida / Quando do lado do Céu / Chegou uma alma perdida, / Perguntou: - Era o senhor, / Que aí vendia bebida? / Eu disse que era eu mesmo / E a venda estava quebrada, / Mas se queria um pouquinho / Ainda tinha guardada, / Obra de uns dois garrafões / De aguardente imaculada. / Me disse a alma: - Eu aceito / E lhe agradeço eternamente, / Pois moro no Céu, mas lá / Inda não entra aguardente. / São Pedro inda plantou cana, / Porém perdeu a semente. / Bebeu obra de três contos, / Ficou muito satisfeita / Disse: - Aguardente correta, / Imaculada direita, / Isso é que eu chamo bebida, / Essa aqui, ninguém enjeita! / Perguntei-lhe: - Alma, quem és? / Disse ela: - Tua amiga, / Vim te dizer que te mude, / Aqui não dá nem intriga. / Quer ir para o Céu comigo? / Lá é que se bota barriga! / Eu lá subi com a alma / Num automóvel de vento / Então a alma me mostrava / Todo aquele movimento, / As maravilhas mais lindas / Que existem no firmamento. / Passamos no Purgatório, / Tinha um pedreiro caiando, / Mas adiante era o Inferno, / Tinha um diabo cantando / E a alma de um ateu / Presa num tronco, apanhando. / Afinal, cheguei no Céu / A alma bateu na porta, / Como pouco chegou São Pedro / Que estava pela horta, / Perguntou-lhe: - Esta pessoa / Ainda é viva, ou é morta? / Então a alma respondeu:- É viva, estava no mundo. / Não tinha de que viver, / Está feito um vagabundo, / Lá quem não for bem sabido / Passa fome, vive imundo! / São Pedro aí perguntou:- O mundo lá, como vai? / Eu aí disse: - Meu Santo, / Lá filho rouba do pai, / Está se vendo que o mundo / Por cima do povo cai... / Eu ainda levava um pouco / Da gostosa imaculada, / Dei a ele e ele disse:- Aguardente raciada! / E aí me disse: - Entre, / Aqui não lhe falta nada! / Arrastou uma cadeira / E mandou eu me sentar, / Chamou um criado dele / Disse: - Cuide em se arrumar. / Vá lá dentro e diga à ama / Que bote um grande jantar. / Quando acabei de jantar, / O Santo me convidou, / Disse: - Vamos lá na horta. / Fui, ele então me mostrou / Coisas que me admiraram / E tudo me embelezou. / Vi na horta de São Pedro / Arvoredos bem criados, / Tinha pés de plantações / Que estavam carregados, / Pés de libras esterlinas / Que já estavam deitados. / Vi cerca de queijo e prata, / E lagoa de coalhada. / Atoleiro de manteiga, / Mata de carne guisada, / Riacho de vinho do porto, / Só não tinha imaculada! / Prata de quinhentos réis, / Eles lá chamam caipora, / Botavam trabalhadores / Para jogar tudo fora, / Esses níqueis de cruzado / Lá nascem de hora em hora. / Então São Pedro me disse:- Quero fazer-lhe um presente. / Quando você for embora, / Vou lhe dar uma semente, / Você mesmo vai escolher / Aquela mais excelente! / Deu-me dez pés de dinheiro, / Alguns querendo botar, / Filhos de queijo do reino / Já querendo safrejar, / Uns caroços de brilhante / Para eu na terra plantar. / Galhos de libra esterlina / Deu-me cento e vinte pés, / Deu-me um saco de semente, / De cédulas de cem mil réis, / Deu-me maniva de prata, / De diamante, umas dez. / Aí chamou Santa Bárbara, / Esta veio com atenção. / São Pedro aí disse a ela: / Eu quero uma arrumação. / Este moço quer voltar, / Arranje-lhe uma condução. / - Bote cangalha num raio, / E a sela num trovão, / Veja se arranja um corisco, / Para ele levar na mão, / Porque daqui para Terra / Existe muito ladrão! / Eu desci do Céu alegre, / Comigo não foi ninguém. / Passei pelo Purgatório, / Ouvi um barulho além / –Era a velha minha sogra, / Que dizia: - Eu vou também! / Eu lhe disse: - Minha sogra, / Eu não posso a conduzir. / Ela me disse: - Eu lhe mostro / Porque razão hei de ir. / E se não for apago o raio, / Quero ver você seguir! / Nisso o raio se apagou, / Desmantelou-se o trovão, / O corisco que eu trazia / Escapuliu-se da mão, / E tudo quanto eu trazia / Caiu desta vez no chão. / Aí a velha voltou / Rogando praga e uivando. / Quando entrou no Purgatório, / Foi se mordendo e babando, / Dizendo tudo de mim / Lançando fogo e falando. / Bem dizia o meu avô:- Sogra, nem depois de morta / Fede a carniça de corpo, / A língua da alma corta, / Não diz assim quem não viu / Uma sogra em sua porta. / Eu vinha com isso tudo / Que o santo tinha me dado, / Mas minha sogra apanhou / O diabo descuidado. / Fiquei pior do que estava, / Perdi o que tinha achado. / E quando cheguei em casa / A mulher quase me come, / Ainda pegou um cacete / E me chamou tanto nome, / Disse que eu casei com ela / Para matá-la de fome... / Se não fosse minha sogra, / Eu hoje estava arrumado, / Mas ela no Purgatório / Achou tudo descuidado, / Abriu a porta e danou-se, / Veio deixar-me encaiporado. / Nunca mais voltei ao Céu / Para falar com São Pedro, / E ainda mesmo que possa, / Não vou porque tenho medo: / Posso encontrar minha sogra / E vai de novo outro enredo. Poema do poeta, editor e cordelista paraibano Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Veja mais aqui e aqui.


A PRAGA DO VOTO VENDIDO



ZÉ-BILOLA NO DESESPERO: VENDE VOTO!!! - Zé-bilola anda desencantado com a sua candidatura a vereador. Como ela não decola nem com pé-de-cabra na alavancagem, o negócio enfeiou pra banda do bocó, dele endoidar no desespero e partir para vender o voto. O dele e o dos outros.




MAMÃO ENZONZOU DE NOVO: TÁ VENDENDO O VOTO! - Apois tá. Depois que Mamão viu o discurso endoidado do Zé-bilola num comício relâmpago em cima dum tamborete na barbearia do Ocride, também começou a oferecer o voto para venda. E sai gritando: Quem dá mais? Quem dá mais?




OCRIDE ENTRA NA ZONA: VENDER O VOTO É O MAIOR NEGÓCIO DA PARÓQUIA!!! - Ocride viu logo com seus olhos de $ifrões os lucro$ que a venda do seu, dos filhos e da tuia de mulher que ele banca com sua priáprica devoção, também abriu uma tabuleta arretada na porta da barbearia. O negócio tá pegando mesmo. Danou-se!


PESQUISA É CONVERSA PRA BOI DORMIR!!! - Gente, como já dizia o cantor e compositor mineiro Beto Guedes: “Politica pra mim é um prato cheio de merda”. Também acho. E nada é pior e mais tendencioso que essas pesquisas eleitorais. Vixe, é cada uma! Desde que a Vox Populis andou fazendo aquelas de Collor dando uma lavagem de 100x0 na campanha presidencial de 1989, que eu desconfio. Agora vem a GAPE dizendo que o prefeito Ciuço Almeida, de Maceió, emplaca de chapa já com 80% de dianteira sobre os adversários. Eita, gota! Se mentira pega, vai deixar a pinóia da GAPE virar GAPINÓQUIA!


VIXE, AINDA DIZEM QUE NÃO TEM TERREMOTO NO BRASIL! É? ENTÃO VÁ NO FÓRUM DE MACEIÓ - Gente, num é que um terremoto andou abalando as estruturas do Fórum de Maceió? Apois, foi. Não foi arranca-rabo de poderosos, não. Nem foi abalo duma decisão contra nepotismo, morosidade, altas custas, excesso de funcionários, nada disso. Foi terremoto de abalar as estruturas de verdade. Um negócio brabo mesmo! Como lá dentro tem de tudo, convem precaução das bem prevenidas. Pode ser que dentro dum litígio daquele saia o furacão Gustav e arrombe com tudo. Aí, fodeu-Maria-preá. Vai ser a maior meleca. Cuidado! Você que precisa recorrer da justiça alagoana, tenha cuidado: ao invés de reclamar seu direito, você pode findar soterrado, viu? Quem avisa amigo é, né? Falei.


CLASSIFICADAS: ARRETOU-SE! VENDO CABAÇO - Eita que a Vera indignou-se com o liseu da porra que anda assolando todo mundo da banda mais fraca da corda do meu Brasil véio, arrevirado e de porteira escancarada. Mas foi mesmo. Ela arretou-se e botou um anúncio que passou direto com letras garrafais: Vendo cabaço. Acompanhante 100% fêmea e fogosa. Seja homem e agüente firme! Atendo em domicilio. Assinado: Vera, a indignada. PS – só tem um detalhe: que cabaço? Do ouvido? Do umbigo? De onde?


CLASSIFICADAS II: MANDÚS EM LIQUIDAÇÃO - Mas num é que o Afredo Bocoió resolveu entrar também na arrumação das coisas que andam periclitante com a volta da inflação e a bronca da carestia comendo no centro! Apois foi, também. Ele inventou de ser empreendedor com um ferro-velho. Menino, ferro-velho dá lucro dos montes. Aí ele resolveu fazer dois cartazes: um pra caixa dos peitos, outro para encangar nas costas. No da frente tá assim: Liquidação de mandús, lorés e fubicas. Tudo em suaves prestações. Fale comigo. E, nas costas, consta: Compramos tranqueiras, brebotes e coisas imprestáveis. Fale comigo. Ih! Sei não.


PREVISÃO METEOROLÓGICA - Bem, como a coisa tá empenada demais para alinhar os planetas, o Doro anuncia a previsão meteorológica da semana. É o seguinte: se num chover, vai fazer sol. Se não pipocar um escândalo raçudo, vai passar incógnito e incólume por aí. E se a bronca não agoniar mais, a inflação vai continuar subindo. Quer ver? Vá no supermercado e confira a remarcação de instante em instante. Tá vendo? Então, vamos aprumar a conversa & tataritaritatá!!!! Tudo isso e muito mais no Big Shit Bôbras!!! Confira aqui.





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Proezas do Biritoaldo: Quando o bicho é sonso tira fino até na beira do abismo aqui
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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segunda-feira, setembro 01, 2008

SADE, GERTRUDE STEIN, DIDI-HUBERMAN, BHABHA, CARLO CARRÀ, VIVIANE MOSÉ, THOMAS BAK, CORDEL DO GETÚLIO & COISO REI

Arte do pintor italiano Carlo Carrà (1881-1966)

COISO REI, O AUTO DO COISONÁRIO – ATO 1 – CENA 1: ZÉ COISO VÊ A COISA – Lá ia Zé Coiso aos assobios numa tarde ensolarada, puxando da sua inseparável jumentinha Bisquí e o que restou do seu idílio com o abastado Crisipo, uma paixão proibida e da qual teve que fugir acusado de assassinato. Estava desenganado da vida e do amor, deixando-se levar noitedias sem paradeiro certo. Ao avistar a Coisa, vixe! Que estrupício! Pense num desmatelo! O seu coração ficou num vaivém medonho: Não, não era mais Crisipo; para ele, era a formosa Jocasta! A Coisa desconfiada: Quem Crisipo? Quem é Jocasta? E ele enamorado, cego de paixão. Para quem foi contrabandeado pelos irmãos e vitimado não só por uma, mas duas paixões avassaladoras: a proibida e amaldiçoada pelo mais belo e melhor dos seus amigos, o Crisipo; e a platônica pela mais graciosa e abastada das jovens da sua terra, a Jocasta. Não era pro bico dele nenhum dos dois, por isso fugia. Aquela que acabara de descobrir, era definitivamente para ele. E tudo fez. Ela, a Coisa, na retranca, só no canto dos olhos. Ele endoidecido, pelejando para tirar uma casquinha, pretendeu atacá-la para conseguir seus intentos. Assim o fez, só nos ajeitados, tomando umas e outras, altas horas da noite, resolve arrancá-la à força. Sequestra e sacode em cima da Bisquí já pronta colaborativa. E ali mesmo, completamente embriagado e fora de si, estupra Coisa. Foi uma contenda, ela o repugnava, aos gritos e chutes. Ele insaciável alcança seu objetivo e livre da repulsa, consegue copular depois de horas em arremetidas insistentes e gozo demorado. No dia seguinte, cadê Coisa? Lugar mais limpo. Saiu à sua caça dias, meses. Como não tirava Coisa da cabeça no afã de encontrá-la a qualquer momento e concretizar a sua felicidade, nem deu conta que Bisquí ficava roliça. Oxe! Será que essa jumenta está prenha? Muito menos percebeu que já doze meses se passaram, mas na cabeça dele só contava nove e foi aí que nasceu Coisinha, seu primogênito: o Coiso Júnior. Como é que pode? Quem emprenhou Bisquí? A jumenta de olho na fuça dele, como se dissesse: Destá, bestão! Foi assim. Finalmente podia se passar por pai pela primeira vez na vida, depois do malogro com Crisipo e Jocasta. Tomou na conta de seu, todo feliz. E falou carinhosamente para Bisqui: Será como se fosse meu, viu? Bisquí fechou a cara e falou: Não será como se fosse! Oxe, você fala? No dia que você quis estuprar aquela vadia e corre o mundo atrás dela, não foi nela que você esporrou de gozo, viu? O quê? Foi nimim e esse filho é seu. Como? Eu embuchei de você, seu lerdo. E desde quando você fala? Sempre, você que nunca viu que canto para você dormir, embalo suas noites e afago seu coração perdido por aquele safado do Crisipo, pela quenga da Jocasta e agora dessa fuleira Coisa; sou eu que nas horas de precisão você se alivia, seu traste! Como é que pode? Na hora do rala-e-rola, sou a melhor do mundo; quando é para levá-lo na cacunda para qualquer lugar, sou a única; quando é para distrair sua solidão, só a mim na face da terra. Já notou? Não pode ser. Mas é, ponto final. Depois da rusga, vem as pazes e um mar de rosas. Mas a vida nunca tem final feliz. Então, com o Cosinha também vieram outras broncas e a principal foi um presságio anunciado pelo Oráculo: ele seria assassinado por seu próprio filho que se casaria com sua mulher, a mãe dele. Cuma? Como é que pode? Basta um segundo de felicidade e logo tudo desmorona? Vou tirar isso a limpo com esse Oráculo! Bisquí ali ficou cuidando do seu rebento mais que amado. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.


DITOS & DESDITOSNão há outro inferno para o homem além da estupidez ou da maldade dos seus semelhantes. A beneficência é sobretudo um vício do orgulho e não uma virtude da alma. As paixões humanas não passam dos meios que a natureza utiliza para atingir os seus fins. Antes ser um homem da sociedade, sou-o da natureza. Quem sabe se não teremos de ultrapassar muito a natureza para perceber o que ela nos quer dizer? A minha maneira de pensar, você diz, não pode ser aprovada. E que me importa? Bem idiota é aquele que adota uma maneira de pensar para os outros! Não foi a minha maneira de pensar que provocou a minha desgraça. Foi a maneira de pensar dos outros. Só me dirijo às pessoas capazes de me entender, e essas poderão ler-me sem perigo. Pensamento do escritor libertino francês Donatien Alphonse François de Sade, mais conhecido como Marquês de Sade (1740-1814). Veja mais aqui & aqui.

ALGUÉM FALOU: O homem precisa de algum conhecimento pra sobreviver, mas pra viver precisa da arte. A dor da alma nada mais é do que seus limites se rasgando para caber mais mundo. É porque sentimos dor que valorizamos tanto a alegria. Além do mais, não há um ser humano que não tenha vivido a dor. E se houvesse, ele não saberia também o que é alegria. A solidão é a base da dignidade. O homem é um ser que cria valores, e a consciência da morte instaura o primeiro valor: a vida. Tudo que nasce tende a morrer para que a vida continue. É porque sabemos que vamos morrer que temos urgência de viver. Se o homem é o único animal que sabe que vai morrer, ele também é o único que incessantemente cria, interfere, produz. Liberdade é saber lidar com os limites. Pensamento da poeta, filósofa, psicóloga e psicanalista capixaba, Viviane Mosé. Veja mais aqui.

O QUE VEMOS, O QUE NOS OLHA - [...] devemos fechar os olhos para ver quando o ato de ‘ver’ nos remete, nos abre um ‘vazio’ que nos olha, nos concerne e, em certo sentido, nos constitui [...]. Trecho extraído da obra O que vemos, o que nos olha (34, 1998), do filósofo, historiador, crítico de arte e professor francês Georges Didi-Huberman. Veja mais aqui.

LOCAL DA CULTURA – [...] A enunciação problemática da diferença cultural torna-se no discurso do relativismo, o problema perspectivo da distância espacial e temporal. A ameaça da “perda” de sentido na interpretação transcultural, que é tanto um problema da estrutura do significante como uma questão de códigos culturais (a experiência de outras culturas), torna-se então um projeto hermenêutico para a restauração da “essência” cultural ou da autenticidade. [...]. Trecho extraído da obra O local da cultura. (EdUFMG, 1998), do professor e crítico indiano Homi Bhabha.

A VIDA - Temos sempre a mesma idade por dentro. Quando estão sozinhos querem estar acompanhados, e quando estão acompanhados querem estar sozinhos. Isso faz parte de ser humano. A única coisa que torna possível a identidade é a ausência de mudança, mas ninguém acredita de fato que se seja semelhante àquilo de que se lembra. As pessoas que acreditam na inteligência, no progresso e no entendimento, são as que tiveram uma infância infeliz. Todos temem a morte e questionam seu lugar no universo. A função do artista, não é sucumbir ao desespero, mas sim encontrar antídotos para o vazio da existência. É preciso muito tempo para ser um gênio, você tem que ficar sentado sem fazer nada, realmente sem fazer nada. Pensamento da escritora e feminista estadunidense Gertrude Stein (1874-1946). Veja mais aqui.


O MISTERIO DO COISO – A obra O mistério do Coiso e outras histórias (Boca, 2010), do contador de história Thomas Bak, é um audiolivro em que histórias são contadas pelo próprio autor que narra e interpreta várias personagens, utilizando o Teatro e a Música, num espetáculo despojado e bem-humorado, grandes temas da existência, o estilo é brejeiro, inspirado na literatura tradicional e simultaneamente fruto de uma veia original e moderna. Os mais hilariantes contos jocosos, da fábula ao realismo fantástico, que levará o público do riso às lágrimas, conta com arranjo musical de Nuno Morão e ilustração de Nuno Saraiva.

COISO REI, O AUTO DO COISONÁRIO



A CHEGADA DE GETULIO VARGAS NO CÉU E O SEU JULGAMENTO

Rodolfo Coelho Cavalcante

Quando Getulio morreu
O manto da natureza
Tingiu-se todo de luto
Mostrando maior tristeza
Soluçando pelo astro
Que brilhou com mais grandeza.

De manhã o sol não quis
Demonstrar o seu fulgor
O mar sereno gemia
Num espetáculo de dor
E a lua no espaço
Perdeu toda a sua cor.

Os homens aqui da terra
Perderam suas razões
Em desespero gritavam
Como se fossem leões
Pela perda de seu líder
Amado pelas nações.

Os operários diziam:
- morreu o meu protetor
Um outro Getulio Vargas
Não nos manda o criador
Rolavam em todas as faces
O pranto do seu amor.

Enquanto isso o espaço
Turbado na escuridão
De marte, saturno e Vênus
Netuno, Capri, plutão
Sentia a grande tragédia
De Getulio nosso irmão.

Estava Jesus na corte
Do celeste paraíso
Quando o anjo São Miguel
Deu-lhe o doloroso aviso:
- Matou-se Getulio Vargas
As vossas ordens preciso!

- Eu mandei-te Miguel
Livrá-lo da tirania
Do deputado Lacerda
De Gregorio e companhia
Por que o deixaste sozinho
Sofrendo tanta agonia?

- Senhor eu mandei os vossos
Mais sublimes mensageiros
Porem o ódio crescia
Pelos falsos brasileiros
Para intrigarem Getulio
Com os planos traiçoeiros!

De qualquer maneira eu quero
Getulio no paraíso
Pois um sério julgamento
Com ele fazer preciso
Corra, vá ligeiro à terra
Com São Jorge e São Narciso.

Vinte e quatro de agosto
Daquele tristonho dia
Com São Narciso e São Jorge
São Miguel à terra descia
E no Catete chegaram
Numa hora mais sombria...

A esposa de Getulio
Chorava dilacerada
Dona Alzira como filha
Dizia penalizada:
- Morreste papai porém
Tua memória é honrada.

Osvaldo Aranha gritava:
- Getulio Vargas morreu!
Mataram meu grande amigo
Que pelo povo sofreu
Lutero também chorava
São Miguel entristeceu.

Enquanto o corpo estendido
Se achava no caixão
O espírito de Getulio
Estava em perturbação
Vagando no infinito
No vácuo da imensidão.

São Miguel chamou Getulio
Que estava tão aflito
Como se estivesse em sonho
Deu ele um tristonho grito
E ao ver os mensageiros
Ajoelhou-se contrito.

- Por que roubaste a vida
Que o Criador te deu?
Perguntou-lhe São Miguel
Getulio respondeu:
- Matei-me pelo meu povo
Que um dia me elegeu!

- Mas não sabias que era
Um crime muito maior
Para salvar o teu povo
Fazendo um ato pior
Disse Getúlio: - Porém
Foi o que achei melhor!

- deixemos de discussão
Que isto não adianta
Se prepare para ir
À Mansão Celeste Santa
Onde Jesus lhe ouvirá
Você ai se garanta!

Nos braços do anjo foi
Getulio Vargas levado
Quando por marte passaram
Foi ele homenageado
Em Vênus quarenta deuses
Cantaram: “Meu doce amado”.

Em jupiter vinte segundos
Getulio Vargas ficou
Para receber a faixa:
“Maior astro que brilhou”
Em saturno um grande almoço
A caravana aceitou.

Em plutão disse Getulio
Que ali não demorava
Recusou todos os convites
Porque Hitler ali estava
Trabalhando de mineiro
Pelo crime que pagava.

Em capela um ramalhete
De flores celestiais
Recebeu Getulio Vargas
Por dois grandes marechais
Deodoro e Floriano
Que se tornaram imortais.

Na região do amor
Foi Getulio recebido
Pelo grande Castro Alves
Onde é muito querido
No reino de Salomão
Também foi muito aplaudido!

Estava a Águia de Haia
Ao lado de Salomão
Com Sócrates e Aristófanes
Hermes, Pitágoras, Platão
Fizeram uma ode a Getulio
Numa alegre saudação.

Na lua entraram Adão
Moisés, David e Elias
Daniel e o rei Saul
Com Abraão e Isaías
recebeu Getulio Vargas
o diploma de Messias.

Duas horas mais ou menos
Viajou a caravana
Enquanto a terra sofria
Essa passagem tirana
Getulio chegou ao céu
Pela ajuda soberana.

Deixemos agora a terra
Num clima de confusão
Para falar de Getulio
Na celestial mansão
Como foi seu julgamento
Vamos dar a descrição.

Estava Jesus no trono
Já pronto para julgá-lo
São Libório, o promotor
Começou a acusá-lo
Enquanto a Virgem Santíssima
Chegou para advogá-lo.

Disse Libório: - Senhor
Getulio zombou demais
No tempo da ditadura
Encarcerou generais
Prendeu gente e matou gente
Como se fossem animais.

Nossa Senhora sorriu
E disse: - Não acredito
Quem governa leva a fama
De tudo que é maldito
O que fizeram em seu nome
Jamais foi por ele escrito!

Libório continuou:
- Se Lacerda o condenava
Tinha razão para isso
Pois o Catete estava
Cercado de pistoleiros
Que Getulio contratava.

Defendeu Nossa Senhora
Dizendo: Nunca Libório
Getulio se confiava
Isto já está notório
De toda sua tragédia
O culpado foi Gregório!

- Mesmo assim, por que Getulio
De uma vez que não devia
Não aguardou o julgamento
Que a oposição queria?
Seu suicídio provou
Qu´ele culpado sentia.

- Não acuse desta forma
Libório que não convem
Getulio Vargas sofreu
Como meu filho também
Para salvar os humildes
Sem ter ódio de ninguém.

Nisto Jesus ordenou
Que Getulio demonstrasse
As razões do suicídio
Se de fato não provasse
Seria expulso do céu
Antes que o dia findasse.

Disse Getulio: - Senhor
Eu não sei vos descrever
A vergonha que sofri
Sem cousa alguma dever
Vos que desceste à terra
Devereis melhor saber.

- Não sabes que ninguém pode
Sua própria vida tirar?
Não vistes como sofri
Todo martírio sem par
Mas não roubei minha vida?
Tua devias me imitar.

- Eu reconheço senhor
Do erro que cometi
Mas uma maldade humana
Como essa nunca vi
Indo até os sacrifício
Pelo meu povo morri.

- Eu te perdôo Getulio
Porque foste generoso
Lembraste dos pequeninos
Com teu modo caridoso
Mas voltarás ao Brasil
Por ordem do poderoso.

Se não fosse o suicídio
Isto não acontecia
Hoje o povo brasileiro
Sofre a maior agonia
E só tu podes livra-lo
Com melhor sabedoria.

Assim Getulio foi salvo
Do seu gesto delirante
O breve virá à terra
Como um chege triunfante
Para ajudar o poeta
Rodolfo C. Cavalcante.

RODOLFO COELHO CAVALCANTE – o jornalista, poeta e trovador alagoano Rodolfo Coelho Cavalcante (1917-1986) foi palhaço e camelô fazendo propagandas nas portas das lojas, membro de várias associações literárias e fundou alguns periódicos como “A voz do trovador”, “O trovador” e “Brasil poético”. Criou as agremiações, contam-se a Associação Nacional de Trovadores e Violeiros (ANTV) e o Grêmio Brasileiro de Trovadores (GBT). Também participou e organizou congressos de poetas populares. Fixou-se em Salvador, Bahia, onde publicou e vendeu os seus folhetos. Viveu de biscates e trambiques quando foi capturado por Lampião, sendo liberado pela sua insignificância. É autor, entre outros, dos seguintes: “O barulho de Lampião no inferno”; “A chegada de Lampião no céu”; “A chegada de Lucas da Feira no inferno”; “O encontro de Guabiraba com Lampião”; “O encontro de Rodolfo Cavalcante com Lampião Virgulino”; “Lampião e seus cangaceiros”. Sua produção literária alcança número superior a 270 folhetos. Ele foi objeto de tese universitária na Universidade de Sorbonne, escrita por Martine Kunz, denominada Rodolfo Cavalcante poète populaire du Nord-Est Brésilien.

FONTES:
BATISTA, Sebastião Nunes. Antologia da literatura de cordel. Natal: Fundação José Augusto, 1977.
CAVALCANTE, Rodolfo Coelho. Cordel. São Paulo: Hedra, 2003.
CARDOSO, Tania Maria de Sousa; Elementos para uma biografia de José Pacheco e Rodolfo Coelho. Natal: UERN, s/d.
CURRAN, Mark. J. A presença de Rodolfo Coelho Cavalcante – cordel. Porto Alegre: Nova Fronteira, 1987.

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