TRÍPTICO DQC: UMA ÚNICA VEZ &ALGUNS DIAS –
Ao som de Saudade, do compositor Bruno
Kiefer (1923-1987), na interpretação da pianista Liliane Kans e do clarinetista Diego
Grendene, no Encontro Brasileiro de Clarinetistas e Claronista, recolhida do
álbum O clarinete na obra de Bruno Kiefer
(Tratore, 2020). – Aterrissei - aeronave com motor
ligado: só para reabastecer, matar um taquinho da imensa saudade e cair no
mundo, muito ainda a desenrolar por aí. Não dá para esperar o desfecho do
desgoverno genocida – cuido cá de mim e de quem mais no braço elástico por aí.
Lamentavelmente tem muita gente que não está nem aí. E a prova é tanta que
apenas 25% decidiram e mandam ver se segurando de todo jeito no grito – também,
pudera, só: a covardia oportunista e deixa ver como é que fica. Ora, ora. Outros
25% esperneiam titubeando a cama de gato e o contrapé da topada. E os 50% restantes
ou roncam ou ignoram. Pode? Pois é. Fazer a minha parte é o que me resta. Confesso
estar ainda naquela: umúnica vez & alguns dias. Nada não. Sei que tenho
sete vidas e não é a primeira vez, nem a última; se encontrei, reencontrarei,
oxalá; só não sei quando. Ainda me surpreendo com a Corín Tellado: Acho que
somos muito parecidos. As mulheres param e os homens urinam na parede, só isso.
Eu sou homens maravilhosos e sensíveis. Mais ainda
com o escritor alemão Kurt Vonnegut
(1922-2007): Temos
que pular de penhascos continuamente e desenvolver nossas asas durante a queda.
Cuidado com o que você finge ser, pois você é o que finge ser. Pois é,
ainda muito me surpreendo e me espanto sempre, sigo ressurreto das encruzilhadas, cantarolando do Chico: Vida, minha vida, olha o que é que eu fiz...
DOIS: SOU UM BONECO DO
MAMULENGO - Ao som de La cesta de flores, op. 9, da compositora e maestrina venezuelana María
Teresa Carreño García de Sena (1853-1917), na interpretação da pianista venezuelana Clara
Rodríguez, professora do Royal College
of Music, de Londres. – Nas minhas andanças, paisagens e indiferença.
Encarei meu alter ego e eu que era o
boneco do mamulengo – o Tião de Hermilo -, não me reconheci: eu tenho vida, os outros são iguais. Foi o Mestre Solón quem advertiu: Antes de existir o homem, existiu o boneco.
E mais Schopenhauer: Às vezes converso com os homens do mesmo
modo como as crianças conversam com seus bonecos: embora ele saiba que o boneco
não a compreende, usando uma visão agradável e consciente, consegue divertir-se
com a comunicação. Então, abri os olhos e a vida às minhas mãos, ventríloquo
da Lindanor Celina: Evidente que a
vida é tudo entremeado, sal de lágrimas, mel de riso e as amarguras dos
desesperos, dos ciúmes... Meu medo é
que sigas sempre desse jeito, atraindo abismos. De porta fechada e piso em falso,
muito equilibrei, sou não-eu: fiz do
outro o que sou.
TRÊS: REENCONTRO MARCADO - Imagem: Veiled
Woman (1907), do pintor e compositor lituano Mikalojus Konstantinas Čiurlionis (1875-1911), também autor da
música Miške (In The Forest/Five Preludes – Marco-Polo, 1990), na interpretação
da Slovak Philharmonic Orchestra, maestro Juozas Domarkas. - A solidão dói: talho que não
mata. Para quem sabe, criativa: reinvento a mim mesmo e o mundo. A chuva
torrencial e invento pouso ensolarado; se calorão, concebo aragem à sombra
pitombeira e um poema de Teresa Wilms Montt: Diante da minha janela fechada, pergunto ao
tempo quanto mais terei de viver. Sombras inundam minhas cortinas, e a
claridade mal marca uma linha tênue. O relógio está hesitando de um coração
doente. Em um gesto convulsivo, minhas mãos se contraem no papel. Eles buscam o
apoio da terra. E sou encontro e muitos
desencontros: aprendi muito – a maior parte desse aprendizado restou inútil,
valha-me! Muito mais para aprender e a minha vida é pouca. Se em cima da hora, pronto
para outra viagem, um reencontro, o reencontro marcado. Até mais ver.
A LITERATURA DE GILVAN LEMOS
Os aventureiros, oportunistas, desonestos, macomunados com o poder
conseguem o que pleiteiam; os honestos, classificados de bestas, prosseguem
inconformados, em sua vidinha obscura.
A
literatura de Gilvan Lemos (1928-2015),
autor de obra como Noturno sem música
(Nordeste, 1958), Jutaí menino (Cruzeiro,
1968), Emissários do diabo
(Civilização Brasileira, 1968), Os olhos
da treva (Civilização Brasileira, 1975), O anjo do quarto dia (Globo, 1976), Os pardais estão voltando (Guararapes, 1983), Espaço terrestre (Civilização Brasileira, 1983), Cecília entre os leões (Bagaço, 1994), A lenda dos cem (Civilização Brasileira,
1995), Morcego cego (Record, 1998),
entre outros. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.