O POETA & A MUSA - Imagem: art by Catherine
La Rose. - O poeta viu a musa na esquina do tempo e com ela sonhou todos os
sonhos possíveis & impossíveis, coisas do mais profundo coração. Dela zis
poemas do amor maior. Todavia, uma coisa era sonhar, outra era tê-la em suas
mãos. E para tê-la, teria de enfrentar luta renhida com outros pretendentes,
muitos. E entre eles, um mais forte que o outro, músculos, golpes, posses e
soberba. O poeta, coração na mão, só sabia cantar, não sabia nada mais que
isso. Revestiu-se de Quixote e, no primeiro combate, o que nem esperava: findou
estirado no chão, feridas na carne e na alma. Orgulho aos cacos, baixo
semblante, era difícil sorrir, muito menos sonhar. Foi admoestado a desistir,
principalmente porque a sua Penélope se engraçava por um dos campeões e vidrava
com a exposição dos que se exibiam, não lhe restava nada mais que renunciar a
esse amor e seguir sua vida de encantar as pessoas com a sua poesia. Saiu
juntando, abatumado, todos os seus muafos e decidiu-se: de que servia viver ou
ter uma vida de glórias se ela não estava na sua vida. Esforço além das
próprias forças, partiu pro enfrentamento, um a um dos pretendentes da sua
Penélope, todos desafiados por sua louca quimera. Veio, então, o segundo
combate, quase perdeu a vida. Quase nada restou de seu amor próprio, só ela
valia a pena. Refeito, tomou fôlego e foi ao terceiro, nocauteado. Exangue,
quase um trapo, não se rendeu e foi ao ringue pro quarto combate. Estendido
agonizante, nova derrota de quase perder a voz e a poesia. Nada mais restava. O
desconforto das dores, capenga, um trapo de gente mais morto que vivo, apenas
um alento e quase sem ânimo algum, reagiu, invadiu as dependências qual cocho
miserável por todo campeonato, misturou-se entre os anônimos e conseguiu se
aproximar o máximo que pôde da sua musa. Lá estava ela, exultante, aplaudindo
os vitoriosos pretendentes, esmagando seus desafiadores. Ela sequer lhe viu,
nunca veria. Contudo, a presença dela revigora seu ser, a ponto de esquecer as
lesões que lhe condoíam. Ali, fitando sua amada, alguém que lhe conhecia,
admirou-se de sua persistência e foi ter com ela: Penélope, eis aqui um grande
poeta, ele tem uma canção para você. Ela admirou a deferência e se pôs a ouvir
a canção exaltada do amor maior. Ele reuniu toda força que porventura lhe
restasse, para saudar a ventura de estar diante da mulher amada. Todos se
comoveram, a multidão voltou-se para ser sua plateia, a ponto de suspender a
competição. Encantada, ela aplaudiu efusivamente. O público inteiro o aplaudiu
de pé. Com o término de sal canção, jogou o violão às costas e saiu solfejando
a sua canção, cabisbaixo, abandonando o seu sonho e a si próprio além da
cidade, para se perder por estradas sem fim. Das lutas, ninguém mais sabe; a
sua Penélope morrera há muito tempo, não havia mais nada, tudo perdido no
tempo, apenas o poema de amor do poeta restou como história contada até hoje. (baseada
na fábula Chagrin D’Amour, do Livro
das Fábulas, de Hermann Hesse). © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do conjunto musical instrumental Choro das Três, criado em 2202 e formado pela irmãs, a flautista Corina,
a pianista, bandolinista e clarinetista Elisa e a violonista Lia Meyer
Ferreira, juntamente com o pai Eduardo Ferreira no pandeiro e percussão: Live
at Colorado Brazilfest, Live in Bellinghan & Europe Tour Concert Italia; o
grupo instrumental PianOrquestra, criado em 2003 e formado pela percussionista Massako
Tanaka e pelos pianistas Marina Spoladore, Priscila Azevedo, Anne Amberget
& Cláudio Dauelsberg: Pagode preparado, Lucy & Todas as Bossas; &
muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Por
realização da moral entendemos a encarnação dos princípios, valores e normas
numa dada sociedade não só como tarefa individual, mas coletiva, isto é, como
processo social no qual as diferentes relações, organizações e instituições
sociais desempenham um papel decisivo. [...] Pensamento extraído da obra Ética (Civilização Brasileira, 1970), do
filósofo, professor e escritor espanhol Adolfo
Sánchez Vázquez (1915-2011). Veja mais aqui.
ARTE DE AMAR – [...] O
homem é dotado de razão; é a vida consciente de si mesma; tem consciência de
si, de seus semelhantes, de seu passado e das possibilidades de seu futuro.
Essa consciência de si mesmo como entidade separada, a consciência de seu
próprio e curto período de vida, do fato de haver nascido sem ser por vontade
própria e de ter de morrer contra sua vontade, de ter de morrer antes daqueles
que ama, ou estes antes dele, a consciência de sua solidão e separação, de sua
impotência ante as forças da natureza e da sociedade, tudo isso faz de sua
existência apartada e desunida uma prisão insuportável. Ele ficaria louco se
não pudesse libertar-se de tal prisão e alcançar os homens, unir-se de uma
forma ou de outra com eles, com o mundo exterior. [...]. Trecho extraído da
obra A arte de amar: o amor como força
vital (Pergaminho, 2008), do filósofo, sociólogo e psicanalista alemão Erich
Fromm (1900-1980). Veja mais aqui e aqui.
MINNA – [...] Passei o
dia, ora lendo ora me entregando à fantasmagoria das lembranças ou fazendo
variações sobre os seguintes temas: “Agora ela já deve ter recebido minha
carta... deve haver ainda um trem em Meissen (para ter certeza pedira um jornal
à senhorita) e ela só tem um quilômetro a andar, até à estação. Talvez, sim,
muito provavelmente, ela chegará esta noite, e é possível, sim, é quase certo
que eu a encontrarei em casa de Hertz, para onde deve imediatamente ir. Ela
ficará emocionada, a maternal Sra. Hertz a tratará como se fôssemos noivos, e
talvez o velho esteja consciente e se alegre por ver-nos reunidos. Quando ficar
tarde, ela deverá voltar para casa. Acompanhá-la-ei evidentemente – será, por
assim dizer, necessário – e tudo se passará como deve ser, naturalmente, tal
como se jamais tivesse existido um Stephensen. Por duas vezes – à passagem do
carteiro – fiquei inquieto; jamais apaixonado algum aguardou carta com maior
impaciência do que eu naquele dia. Mas passavam-se as horas sem nenhum
resultado e, após a última distribuição, senti uma espécie de alivio. O quarto
estava completamente às escuras, e eu me preparava para ir à casa de Hertz.
Súbito, entreabriram a porta: “Aqui está uma carta para o senhor” – disse a
empregada, entregando-me um papel branco. O medo me imobilizou. Naquela hora?
Não era possível! O envelope era muito grande e rijo, o que me tranqüilizou.
Acendi um fósforo e dei um grito: era a letra de Minna! [...]. Trecho extraído
da obra Minna (Delta, 1963), do
dramaturgo e novelista dinamarquês Karl
Gjellerup (1857-1919), Prêmio Nobel de Literatura de 1917.
À ELVIRA - Quando,
comtigo a sós, as mãos unidas, / Tu, pensativa e muda; e eu, namorado, / Ás
volupias do amor a alma entregando, / Deixo correr as horas fugidias; / Ou
quando ás solidões de umbrosa selva / Comigo te arrebato; ou quando escuto / —
Tão só eu, — teus ternissimos suspiros; / E de meus labios solto / Eternas
juras de constancia eterna; / Ou quando, emfim, tua adorada fronte / Nos meus
joelhos tremulos descansa, / E eu suspendo meus olhos em teus olhos, / Como ás
folhas da rosa avida abelha; / Ai, quanta vez então dentro em meu peito / Vago
terror penetra, como um raio! / Empallideço, tremo; / E no seio da gloria em
que me exalto, / Lagrimas verto que a minha alma assombrão! / Tu, carinhosa e
tremula, / Nos teus braços me cinges, — e assustada, / Interrogando em vão,
comigo choras! / Que dôr secreta o coração te opprime? / Dizes tu, Vem, confia
os teus pezares.... / Falla! eu abrandarei as penas tuas! / Falla! eu
consolarei tua alma afflicta! / Vida do meu viver, não me interrogues! / Quando
enlaçado em teus niveos braços / A confissão de amor te ouço, e levanto / Languidos
olhos para ver teu rosto, / Mais ditoso mortal o céo não cobre! / Se eu tremo,
é porque n'essas esquecidas / Afortunadas horas, / Não sei que voz do enleio me
desperta, / E me persegue e lembra / Que a ventura co' o tempo se esvaece, / E
o nosso amor é facho que se extingue! / De um lance, espavorida, / Minha alma
vôa ás sombras do futuro, / E eu penso então: Ventura que se acaba / Um sonho
vale apenas. Poema do escritor francês Alphonse
de Lamartine (1790-1869).
PIGMALIÃO DE SHAW
Elisa (desafiando-o, sem opor resistência) – Pode estrangular-me! Não
tem importância. Eu tinha a certeza de um dia você acabaria me batendo (ele
larga-a, furioso por ter descido à violência, e recua tão precipitadamente que
troça e cai sentado no canapé) – Ah! Ah! Agora sei lidar com você. Como fui
boba! Deveria ter pensado nisso há mais tempo! Agora você já não poderá tirar o
que me ensinou! E você mesmo afirmou que tenho ouvido melhor do que o seu! E
depois eu sei ser amável com as pessoas, coisa que você não sabe. Ah! Ah!
Professor Mascarenhas! Agora, eu já não me incomode nem isto com a sua
brutalidade nem com o seu palavreado. Vou pôr um anuncio nos jornais dizendo
que a famosa dama que você apresentou à alta sociedade não passa de uma
florista de rua, e que essa florista ensinará a quem quiser tudo o que aprendeu
com você! Tenho certeza de que dentro de pouco tempo estarei rica e
independente! E dizer que durante meses e meses andei rastejando a seus pés,
sofrendo injurias, humilhações, espezinhamentos, quando podia ter dito apenas
isto para ficar no mesmo nível que você! Eu merecia apanhar por ter sido tão
burra! [...] Elisa – Ah! Agora está todo mansinho porque já não tenho mais
medo, porque posso perfeitamente passar sem a sua ajuda! [...].
Trecho
do Ato V da comédia em cinco atos Pigmalião (1913), do dramaturgo,
escritor e jornalista irlandês Bernard Shaw (1856-1950). Veja mais aqui
e aqui.
Recepcionando o cantor, compositor e
poeta Zé Ripe, o artista plástico e
gráfico Jamilton Barbosa Correia e o
radialista e compositor Atonmirio de
Barros na Biblioteca Fenelon Barreto & muito mais na Agenda aqui.
&
Todo
dia o primeiro passo, a poesia de Gilberto
Mendonça Teles, a música de José Orlando Alves, a fotografia de David Ngo, Núbia Vítor de Souza, a arte de Lia
Rodrigues & Belle Chere aqui.