DE NOTICIÁRIOS, BOATOS E, AFINAL, O QUE É QUE
É, HEM? - Imagem: Passagre de
le Nuit, da pintura cubana Gina
Pellón (1926-2014). - O movimento do blábláblá não tem fim, oh língua
ferina! A Rádio Povo ganha nas estatísticas: pior que o boca-a-boca não há. Diz
o riscado: caiu na roda ou foi, ou é, ou está pra ser! Todo dia Fulano diz que
foi assim, Beltrano diz que foi assado e, ainda, Sicrano diz que não foi nada
disso e começa embolando o meio de campo. Que coisa! Foi, não foi, cada um, uma
versão. Uns dizem disso, outros daquilo, entender, que bom, ah, ninguém é
normal. Tem quem goste de beber água na orelha dos outros e vice-versa. Bisbilhotar
a vida alheia é uma prática perniciosa, já costumeira. Tem gente que não dorme
antes de saber das últimas da fofocagem. Pois é, tem quem se preste para cada
coisa! A calúnia mesmo já virou moda, a boataria já ganhou status de plantão, e
como o levantamento de falso arrombou com o Direito brasileiro, agora é só
dizer o que quer e bem entender, e se preparar para ouvir o que não quer. Ôpa! Basta
cruzar na rua: Quais as novidades? Saber mesmo pra quê! Diz o ditado: a
curiosidade matou o gato. Ah, mas quem acumula mais informação sobre um e
outro, senão todos, é sabido, fica por dentro de tudo, não corre tantos riscos,
livra-se da esparrela. Tem gente que já vive de vender leva-e-traz, ora. Afora os
voluntários que adoram ver o circo pegar fogo. Sabia que aquele outro dia
escorregou? Foi mesmo? Ah, nem te conto: aquelazinha ali já era. É mesmo!?!
Também faliu Zé dos grudes! Nossa! A mulher dele, depois de duas de quinhentos,
se mandou! Num diga! Sabe da última? E ainda tem? Nem é tão atual assim. Aí é só
o repeteco: deitam amiudada a queimação de filme de quem caiu em desgraça. Tintim
por tintim. Você não sabia? Você está por fora meeeesmo! E eu que não sei nem a
diferença da repimboca da parafuseta da tarraqueta de Itapipoca? Desliguei.
Ora, ora. Não é a mesma coisa? A mesma coisa é um caminhão carregado de japonês
com um guará no volante da boleia pensando que é cana-de-açúcar! Aí, sim. Vixe!
Ah, por que japonês não fotografa outro? Ué, porque só sai flash! Já dizia
Millôr: Deus não existe; se existisse, os japoneses já tinham fotografado.
Valha-me! O que é que é? Pronto, virou adivinha. E tem quem dê um doce pra quem
matar a charada. E isso estampado em revista popular, nos canais de tevês e nas
redes sociais. O povo gosta é de fofoca mesmo, hem? Voyeurismo puro. Onde é que
tem um buraquinho pra brechar? Bem, os incomodados mandam logo procurar o da
mãe – a dele -, né não? E queimam o próprio rabo: língua falou, cu pagou! Eu,
hem! Por bem ou por mal confundiram tudo: comunicação é fuxico, senão
difamação, especulação, falatório. Olhe lá onde vai botar esse focinho
enxerido, viu? A vida dos outros não é brincadeira! Eu que livre meu espinhaço
das más línguas, ô-rô! Tiro o meu da reta e fui! ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do maestro e compositor Cláudio Santoro (1919-1989): Sinfonia nº 5, Sinfonia nº 7 & Ponteio;
da cantora estadunidense de jazz Sarah Vaughan (1924-1990): Live in the Michael Fowler Center, Berliner
Jazztage & com Duke Ellington Live at the Berlim; & muito mais nos mais
de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – À
medida que a esfera do trabalho se alarga, a do riso diminui. Tornar-se homem é
aprender a trabalhar, a se mostrar sério. Mas se o trabalho humaniza a natureza, desumaniza o homem. Pensamento do escritor
e diplomata mexicano Octavio Paz (1914-1998). Veja mais aqui e aqui.
ALTERIDADE - [...] As necessidades elevam as coisas,
simplesmente dadas, ao nível de valores. Admiravelmente retas e impacientes na
sua visada, as necessidades não se concedem múltiplas possibilidades de
significação senão para escolher a via única ao ser, não ao celebrá-lo, mas ao
trabalhá-lo. [...] O Desejo do Outro, que nós vivemos na mais banal experiência social, é
o movimento fundamental, o elã puro, a orientação absoluta, o sentido [...]
O Outro que se manifesta no Rosto perpassa,
de alguma forma, sua própria essência plástica, como um ser que abrisse a
janela onde sua figura, no entanto já se desenhava. Sua presença consiste em se
despir da forma que, entrementes, já a manifestava. Sua manifestação é um
excedente (surplus) sobre a paralisia inevitável da manifestação. É
precisamente isto que nós descrevemos pela fórmula: o Rosto fala. [...]. A passividade pura que precede a liberdade é
responsabilidade. Mas a responsabilidade que não deve nada à minha liberdade é
minha responsabilidade pela liberdade dos outros. Lá onde eu teria podido
permanecer como espectador, eu sou responsável, em outros termos, tomo a
palavra [...]. Trechos extraídos da obra O humanismo do outro homem (Vozes, 2009), do
filósofo francês Emmanuel Lévinas (1906-1995). Veja mais aqui, aqui e
aqui.
PROMETEU & EPIMETEU - [...] E
Sofia estava em pé diante do irmão, na pedra extrema do penhasco, o rosto
animado pela vibração do mar, transfigurado, e os ventos brincavam com as suas
negras madeixas [...] E novamete,
após alguns instantes, não lhe bastou isso à temeridade do seu desejo, e então
ela se desinteressou do espetáculo do mar agitado e lançou o olhar para a outra
margem, que tranqüila e silenciosa, com um ar de felicidade, repousava acima de
todo aquele bulício de espumas. Verde e dourada apresentava-se ela, como uma
reminiscência numa festa de bodas, como um coração moço pinta o mundo com as
tintas de sua própria alegria, e a viração daquela margem era feita de graça,
um suave clarão ljhe aureolava a fronte, à volta de seus virgens quadris
brilhava um cinto bordado de ricas cores, saturadas de luz. E diferentes eram
estas cores das muitas que inundam o mundo inteiro com seu liquido fluxo,
escurecidas por um ar espesso, manchadas pelo uso terrestre, exauridas pelo
dilatado trajetyo, com olhos vazios de pensamento e semblante doente. Pois
estas eram esperemidas dos raios mais puros do sol, condensavam em si suco
sobre suco, luzindo com o ardor da brasa, acumulando ousadamente luz sobre luz,
zombando alegremente de todo juízo pusilânime; como quando no ar puro do sul o
papagaio se balançava na arvore pejada de flores, e como quando a borboleta
estende as asas sobre a corola de um lírio, assim em felicidade e delicia
irradiava a região magnífica, e iguais ao azul do céu ritilavam o ouro e o
verde em sua cintura. E enquanto seu corpo se banhava assim na luz e no
deleite, montanhas graves e tranqüilas erguiam-se ao céu a modo de pensamentos,
à maneira da intuição, que, do alto de uma alma sublime, contempla meditativa o
universo – e nos flancos das montanhas cresciam as florestas mudando de
aspecto, e dos cimos numerosos as rochgas se despegavam, se esmigalhavam,
rolando incessantemente como areia até às profundezas do mar convulsionado pela
tormenta [...]. Trechos extraídos da obra Prometeu & Epimeteu (Delta, 1963), do escritor suíço Carl Spitteler (1845-1924), Prêmio
Nobel de Literatura de 1919.
EL DESDICHADO – Eu
sou o tenebroso, - o viúvo, - o inconsolado / príncipe d’Aquitânia, em triste
rebeldia: / é morta a minha estrela, - e no meu constelado / ataúde há o
negror, o sol da melancolia. / Na noite tumular, em que me hás consolado, / o
pausilipo, a Itália, o mar, a onda bravia, / dá-me outra vez, - e dá-me a flor
do meu agrado / e a ramada em que a rosa ao pâmpano se alia... / Sou Byron?
Lusignan? Febo? O amor? Adivinha! / As faces me esbraseia o beijo da rainha: / cismo
e sonho na gruta em que a sereia nada... / Duas vezes o Aqueronte, - é o grande
feito meu, - / transpus a modular, nesta lira de Orfeu, / os suspiros da santa
e os clamores da fada... Poema do poeta francês Gérard de Nerval (1808-1855).
HOMENAGEM AO TEATRO
[...] Depois de ouvir sua emocionada descrição das
dificuldades de uma trupe pobre que não consegue sobreviver no Rio de Janeiro e
viaja pelo país afora, apresentando-se onde acha espaço, Laudelina, atriz
amadora convidada a integrar a companhia, comenta: “Deve ser uma vida
dolorosa!”. A resposta de Frazão é este eloqüente discurso: “Enganas-te, filha.
O teatro antigo principiou assim, com Téspis, que viveu no século VI antes de
Jesus, e o teatro moderno tem também o seu mambembeiro no divino, no imortal
Molière, que o fundou. Basta isso para amenizar na alma de um artista inteligente
quanto possa haver de doloroso nesse vagabundear constante. E, a par dos
incômodos e contrariedades, há o prazer do imprevisto, o esforço, a luta, a
vitória! Se aqui o artista é mal recebido, ali é carinhosamente acolhido. Se
aqui não sabe como tirar a mala de um hotel, empenhada para pagamento da
hospedagem, mais adiante encontra todas as portas abertas diante de si. Todos
os artistas do mambembe, ligados entre si pelas mesmas alegrias e pelo mesmo
sofrimento, acabam por formar uma só família, onde, embora às vezes não o
pareça, todos se amam uns aos outros, e vive-se, bem ou mal, mas vive-se! [...].
Trecho de
cena do Ato I, quadro 1, Cena V de O
Mambembe (M&M, 2002), do dramaturgo,
escritor e jornalista Artur Azevedo
(2855-1908). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
&
O
doce voo no sangue das andorinhas invisíveis do canavial, A cana do Brasil de Maria
Dione Carvalho de Moraes, o pensamento de Padre Antônio Vieira, a música de Silvério
Pessoa & Jacinto Silva, o balé de Ekaterina Krysanova, a
pintura de Iryna Yermolova, a arte de Arthur Brouthers & a poesia de
Vera Salbego aqui.