OS VENTOS &
AS AMIZADES NEM SEMPRE SOPRAM A FAVOR – Imagens: arte
do artista plástico e visual holandês Corné
Akkers. - Um menino caçula se sentia sozinho e pedia por um irmãozinho.
Como os pais haviam fechado a fatura da filharada, reduziram a família apenas
ao casal de filhos. A menina era mais velha, não queria se misturar com o
mindinho, por se achar já uma mocinha, embora tivesse não mais que seis anos.
Destá. Depois de tanto pedir e nada dos pais atenderem, o infeliz solitário
encontra, enfim, um amigo. Ah, que amizade! Fizeram pacto de sangue, brincaram
de espada, fizeram de tudo, até cheirar os dedos indicadores com o odor da
dedada no frosquete um do outro. Cheira aqui! Um acudia o outro, no bom
sentido, é claro, viadagem de pirralhos. Ou então ao se estranharem, cara dum,
cara doutro, murros, apertos, tapas e caneladas, até caírem bambos numa intriga
da hora. Pois é. Dia menos dia lá estavam: um cheirando o cu do outro. Nisso,
ia tudo bem, até o dia em que a irmã que nunca se interessara por nada pras
bandas do irmão fedelho, achou de chamar o amigo para um particular. No outro
dia, de novo; e no seguinte, mais uma vez. Que confidências são essas? O irmão
de mutuca. Foi então que o solitário levantando as orelhas, achou de por bem
deixar os pais a par das coisas: botaram o amigo pra fora! Como? Mexer com a
irmãzinha do coração, tá doido, tá? Arriba! E ele ficou de novo solitário. A
irmã, só lhe olhava de soslaio: Viu o que você fez, palerma? Você não tem com
quem brincar, nem eu tenho em quem mandar! Mas ele estava se enxerindo pra
você! Pra mim? Ah, bicho toleima és tu, bestão! Ele só estava fazendo o que eu
mandava, mais nada. Eu estava com ciúme dele com você. Tu és um porqueira
mesmo, hem? Ele estava fazendo os meus deveres da escola e o que mais eu
quisesse, só isso. Ah, se é assim, vou pedir pro papai deixá-lo voltar. Já devia
ter feito isso, seu molenga! E lá vai o menino desfazer o mal-entendido. Para isso
teve que contar com o aval da irmã, o que foi um santo remédio pros pais, já
que ela era do contra sempre, botando caroço no angu dele. Como se tratava de
um bem que atendia aos dois, não havia razão pra impedir. E lá foi buscar do
amigo que nem sabia mais por onde andaria, caçando pelos cantos, perguntando a
um e a outro, quem viu-lo? Ninguém dava conta do paradeiro. Teve que esperar
pela tarde para ver na escola. Foi justo lá que se encontraram, refizeram
amizade e lá ia ele de novo reatando a amizade, dessa vez durando até a
adolescência – eita, quase que num acaba mais de tão duradoura -, ao se
desafiarem pelo amor de Genicilinda, a moça mais linda da época, ferro, sangue
e ódio entre os amigos. E como ela tinha umas quedas pelo amigo, provocou ciúmes,
por tabela, nos dois irmãos. A irmã agora estava privada de usar e abusar dele,
enquanto o amigo entrava em conflito: era ela que ele queria, mas ele era seu
amigo. Pra desatar esse nó que quase finda em morte matada, o amigo
surpreendeu: apresentou a Genicilinda ao amigo para namorarem. Como? Surpresa dupla.
Isso mesmo! Pronto, resolvido! Os irmãos voltavam às pazes, cada qual com sua
paquera. Mas como nem tudo caminha sempre lá pelas rodas das mil maravilhas o
tempo todo, ânimos e conflitos sempre enredam corações aos tédios e angústias, o
amigo, de novo, se viu em palpos de aranha, por conta de ardis tramados pelas
duas, sem que uma soubesse da armação da outra: a namorada queixou-se que ele estava
dando em cima dela. Como? E a irmã delatou que ele andava forçando a barra com
intimidades ameaçando estuprá-la, já quase em vias de fato de tanto abusá-la. Ele
tá doido, é? O pai partiu com mais de mil e duas de quinhentos para agarrá-lo
pelo cangote, não fosse a providente intervenção da filha em despachá-lo antes
da fúria paterna. Quando o irmão soube das duas coisas: Como é que é? Que safado!
Ah, vai me pagar! Não cumpriu a ameaça porque os pais providentes transferiram
os filhos do colégio, o que acarretou que antes menino agora adolescente
solitário ficasse sem amigo e sem namorada, por certo emendariam lá os dois os
seus destinos pra azar dele. E a irmã, ah, a irmã, pra ela tanto faz como tanto
fez, ela vivia trancada mesmo solitária com sua vidinha voltada só pro umbigo. E
nunca mais eles se deram as caras, mudaram de cidade, de roupa, de jeito e
pantins, foram cada qual pra faculdade – ele começou engenharia civil e
terminou informática; ela foi fazer fisioterapia e findou secretária de um
amigo besta que a queria por perto -, e cada um suas dores e vexames, umbigos
pra que te quero. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais
aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com a música do compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959): Suite Popular Brasileira, Bachianinha nº 5
com a Filarmonica de Berlim & Prelúdios, estudos & Modinha; ; da
pianista e compositora polonesa Felicja
Blumental (1908-1991): Piano
Português/Espanhol, Concerto nº 5 de Villa-Lobos & Valsas completas de
Chopin; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] A
luta espiritual é tão brutal quanto a batalha dos homens; mas a justiça é
prazer só de Deus. [...] eu vi o
inferno das mulheres lá – e me será permitido possuir a verdade numa alma e num
corpo. Trecho extrado da obra Uma
temporada no inferno & iluminações (Francisco Alves, 1982), do poeta Arthur
Rimbaud (1854-1891). Veja mais aqui, aqui e aqui.
COMPLEXIDADE AMBIENTAL - [...] Aprender
a complexidade ambiental é uma pedagogia política de aprendizagens dialógicas,
multiculturais e significativas para a construçãoplural de sujeitos e atores
sociais capazes de abrir as possibilidades para a criação de mundos
alternatitivos, guiados pelos valores da democracia e os princípios da
sustentabilidade. [...]. trecho extraído da obra A complexidade ambiental (Cortez, 2003), coordenado pelo sociólogo ambiental
mexicano Enrique Leff. Veja mais aqui.
COMO SUPORTAR O OLHAR DE QUEM SERÁ MORTO? – [...]
parei de ler o texto e fiquei embargado,
estava dificil. É o momento em que o pelotão de fuzilamento ergue as armas para
matá-la e Hannah Senesh, com apenas vinte e três anos, recusa venda, para olhar
nos olhos daqueles que iam tirar sua vida. Que força a mantinha! A crebça em
seus país, a resistência ao nazismo que estava dizimando seu povo... [...] Alguns deles, por segundos, tornou-se humano
e desviou os olhos, depois levou para a casa e para a vida aquele brilho que
Jannah manteve com coragem e dignidade? Algum sobreviveu e carregou essa
lembrança para sempre ou eram apenas assassinos frios e profissionais, agindo
em nome da ideologia mais perversa que já houve sobre a terra? Algum suportou
aquele olhar ou desmoronou? Algum entendeu que aquela jovem estava dizendo que
os judeus não eram acomodados, nem o elhas, mas dotados de imensa força interior?
[...] Os verdadeiros heróis não possuem
poderes extraordinários, nem são imortais, imbativeis, indestrutíveis.
[...] Há na multidão de rostos comuns
pessoas dispostas a se imolar por nós, sem misticismos fraudulentos, sem vozes
interiores inexplicáveis e sobrenaturais. [...] Posfácio de Ignácio de Loyola Brandão para a obra Hannah Senesh: diários, poesias, cartas
(Tordesilhas, 2011), organizado e traduzido por Frida Milgrom. Veja mais aqui.
NHEENGARÊÇAUA – Homem
do Sul, você conhece a geada e o frio, / você que jpa viu primavera, / inverno,
outono como na Europa, / você não sabe o que é o sol! / Você não imagina / o
que é céu sem nuvens por meses seguidos; / o que é o sol bater de chapa na
terra fulva / trezentos dias encarrilhados!... / Ao meio-dia / nos tempos de fogo
em que o sol é rei, / o ar é tão fino e tão frágil, / que treme.... / o sol
fura-o de luz, igualzinho á rendeira / pinicando de espinhos a trama dos
bilros... / Você nunca veio até cá... / “-Ceará!... / Retirante, sol quente,
miséria...” / O sol do Nordeste foi feito somente / pra os olhos com medo dos
filhos da terra.... / o filho da terra, pequeno e feioso, / que é como o
mandacaru: / quando a tragédia seca escorraça a vida e absorve as seivas, / só
ele, isolado / no meio da caatinga que se apinha / e estende para o céu a
lamúria em cinza dos galhos secos / luta, verdeja, encontra seiva e vive /
macambúzio e eriçado... / E, entanto, essa gente que mora tão longe / é a mesma
que mora nas terras do Norte... / Se o sangue do Sul caldeou-se com o branco imigrante
/ numa fecunda mistura, / ainda existe em suas veias mestiças / esta seiva que
o Norte tem pura... / E, se somos irmãos, / por que um laço mais forte de amor
não nos prende? / Irmão longínquo, senhor das fábricas, / dos cafeeiros, das
minas, do ouro, / eu quero que o meu poema / faça as vezes de um vidro esfumado
/ através do qual seu olhar deslumbrado / possa ver esta terra candente do
Norte... / Irmão longínquo, detentor da riqueza da Pátria, / que uero que as
folhas abertas de meu poema / sejam mãos estendidas / para um abraço de
fraternidade! Poema extraído da obra Mandacaru
(Instituto Moreira Salles, 2010), da escritora, jornalista, dramaturga e
tradutora Rachel de Queiroz (1910-2003). Veja mais aqui.
AS LOUCAS DA MATA SUL
[...] É muito gratificante pra mim, mostrar e ver
no rosto das pessoas, que estávamos passando essas mensagens contra a
violência, o racismo, etc., a elas que temos nossos direitos. Alguns se
identificavam com alguma cena, porque já tinham passado por essa situação. E
agora viu que tem as leis e seus direitos. As pessoas parabenizando todo o
grupo, pelo trabalho feito. Eu me sinto muito feliz em lutar pelo fim da
violência principalmente, de uma forma diferente: teatro! Kelly. [...]
Depoimento
de Loucuras contra a violência na Mata
Sul, de Janikelle Maria da Silva e Theóphila Lucena, extraído da obra Cirandas feministas na Zona da Mata: uma
luta em movimento (SOS Corpo, 2018), tratando sobre o grupo teatral As Loucas da Mata Sul, antes Loucas de
Pedra Lilás, formada pelas mulheres Janikelle, Érica, Ítala e Anarcélia de Joaquim
Nabuco; de Palmares, Mauriceia e Cilene; de Água Preta, Nayara, Nikka, Vanessa,
Theóphila e Alda. Veja mais aqui.
Veja mais:
História
da Mulher, O amor no salto das sete
quedas, a música de Taiguara & a arte
de Luciah Lopez aqui.
O sonho do sequestro malogrado, a música de Juca Chaves, História do Cinema,
História da Mulher, a fotografia de Étienne-Jules Marey & a arte de Leonid Afremov aqui.
História da mulher: da antiguidade ao
século XXI aqui.
A carta do barbeiro & Leda Catunda aqui.
Fandango do vai quase num torna & Cícero Dias aqui.
Piotr Ouspensky, Marcio Souza, Antonio
Vivaldi, Ronald Searle, Adryan Lyne, Ademilde Fonseca & Inezita Barroso,
Kim Basinger, A mulher que reina & O Lobisomem Zonzo aqui.
Patativa do Assaré, Heitor Villa-Lobos,
Pier Paolo Pasolini, Turíbio Santos, Rosa Luxemburg, Cicero Dias, Rubem Braga
& José Geraldo Batista, Bárbara Sukowa & Primeira Reunião aqui.
A cidade das torres & Antônio Cândido
aqui.
Cordel na escola aqui.
Democracia aqui.
A cidade de Deus de Agostinho e a
Psicologia do Turismo e Hotelaria aqui.
Incêndio das paixões & Programa
Tataritaritatá aqui.
Thomas Kuhn, Alagoando, Sistema Nervoso
& Neuroplasticidade aqui.
Jacinta Passos, Poeta Bárbara
Inconfidente, Egornov, Ten & Programa Tataritaritatá aqui.
Quando a gente vai à luta não adianta
trastejar: ou vai ou racha aqui.
Gregory Bateson, Leontiev, Pinel, Doro,
Óleo de peroba & o horário puto eleitoral da silva aqui.
Eros & civilização de Herbet Marcuse
& O condor voa de Cornejo Polar aqui.
Ela desprevenida & Programa
Tataritaritatá aqui.
O lamentável expediente da guerra aqui.
Jorge Amado, Gonçalves Dias, Claudionor
Germano, Al-Chaer, Dany Reis & Nina Kozoriz aqui.
Ismael Nery, Tomás Antônio Gonzaga,
Juliana Impaléa & Keyler Simões aqui.
Miguel Torga, Alfred Gilbert, Pat
Metheny, Luciene Lemos, Antonio Cabral Filho & Programa Tataritaritatá aqui.
Michel Foucault, John Coltrane, T. S.
Eliot, Edina Sikora, Wender Nascimento & Programa Tataritaritatá aqui.
Nelson Rodrigues, Gauvreau, Antonio
Menezes, Luiza Silva Oliveira, Luiz Fernando Prôa & Bárbara Lia aqui.
Jorge Luis Borges, Paulo Leminski,
Jean-Michel Jarre, Jeanne Mas, Donizete Galvão, Fabio Weintraub & Regiane
Litzkow aqui.
A refém do amor & Programa
Tataritaritatá aqui.
Fritjof Capra, Instinto & Ismael
Condição Humana aqui.
aqui.
aqui.
Marilena Chauí, aqui. Nise da Silveira, Guimar Namo de Mello & Arriete
Vilela
O presente na festa do amor aqui.
Tanatologia aqui.
Ricardo Alfaya,
Direito de Família & Alimentos aqui.
A mulher na
História aqui.
BANDO DE MÔNADAS, DE VITAL CORRÊA DE ARAÚJO
NÓMINA DESSAS NOTAS: Ao conjunto, nomino-as nuamente Inexplicação
ao Leitor, e dedico à Hipócrita Leitora de minha parca ou pobre obra. Porque
são notas inexplícitas de um fazedor de poemas, que visam atordoar, ou melhor,
clarear a treva textual, abrir caminhos sem rumo à selva significante, em que
possíveis (mas improváveis) leitores se arrisquem tentar imiscuir-se ou
inutilmente explorar.
RAZÃO DO POEMA: Escrevi esses poemas extremos porque vi o
extremo numa viagem a bordo do abismo para o confim de mim mesmo. Fui além da
alma, depois do corpo, quando os comecei. Não evitei os tiques estilísticos
próprios de minha lavra poética nem a mania de montar sintagmas oximóricos,
insensatos (para os sentidos comuns), esdrúxulos, não recomendáveis, para quem
escreve em beneficio do leitor, o que não é meu caso, absolutamente. Escrevo
poema para total desconforto do leitor (que se dane se quiser entender). Se o
poeta entrega de mão beijada, numa bandeja dourada, o tal sentido do poema (tão
ou mais procurado do que um malfeitor do velho oeste ianque), tão esperado que
desespera o leitor, quando este não lhe é dado, de imediato, na primeira linha
ou golpe de leitura; caso seja assim, assado não é, e poesia não o é também. O
poema não deve ser uma resposta, uma lição, mas um questionamento, uma
interrogação. Nada de resultados prosaicos, mas investimento literário. Escrevo
poemas, portanto, para o desconforto extremo de quem casualmente me leia. Se
fosse uma reforma de um prédio, a placa séria seria: desculpe o transtorno da
leitura, estamos trabalhando ara desconforto total do seu entendimento.
Poemas extraídos da obra Bando de mônadas (Bagaço,
2011), do escritor, jornalista, advogado, professor, conferencista e tradutor Vital
Corrêa de Araújo. Veja mais aqui.
A ARTE DE CORNÉ AKKERS
A arte do artista plástico e visual holandês Corné Akkers.