terça-feira, março 13, 2018

SHAW, ERICH FROMM, KARL GJELLERUP, ELVIRA DE LAMARTINE, SÁNCHEZ VÁZQUEZ, CHORO DAS TRÊS & PIANORQUESTRA

O POETA & A MUSA - Imagem: art by Catherine La Rose. - O poeta viu a musa na esquina do tempo e com ela sonhou todos os sonhos possíveis & impossíveis, coisas do mais profundo coração. Dela zis poemas do amor maior. Todavia, uma coisa era sonhar, outra era tê-la em suas mãos. E para tê-la, teria de enfrentar luta renhida com outros pretendentes, muitos. E entre eles, um mais forte que o outro, músculos, golpes, posses e soberba. O poeta, coração na mão, só sabia cantar, não sabia nada mais que isso. Revestiu-se de Quixote e, no primeiro combate, o que nem esperava: findou estirado no chão, feridas na carne e na alma. Orgulho aos cacos, baixo semblante, era difícil sorrir, muito menos sonhar. Foi admoestado a desistir, principalmente porque a sua Penélope se engraçava por um dos campeões e vidrava com a exposição dos que se exibiam, não lhe restava nada mais que renunciar a esse amor e seguir sua vida de encantar as pessoas com a sua poesia. Saiu juntando, abatumado, todos os seus muafos e decidiu-se: de que servia viver ou ter uma vida de glórias se ela não estava na sua vida. Esforço além das próprias forças, partiu pro enfrentamento, um a um dos pretendentes da sua Penélope, todos desafiados por sua louca quimera. Veio, então, o segundo combate, quase perdeu a vida. Quase nada restou de seu amor próprio, só ela valia a pena. Refeito, tomou fôlego e foi ao terceiro, nocauteado. Exangue, quase um trapo, não se rendeu e foi ao ringue pro quarto combate. Estendido agonizante, nova derrota de quase perder a voz e a poesia. Nada mais restava. O desconforto das dores, capenga, um trapo de gente mais morto que vivo, apenas um alento e quase sem ânimo algum, reagiu, invadiu as dependências qual cocho miserável por todo campeonato, misturou-se entre os anônimos e conseguiu se aproximar o máximo que pôde da sua musa. Lá estava ela, exultante, aplaudindo os vitoriosos pretendentes, esmagando seus desafiadores. Ela sequer lhe viu, nunca veria. Contudo, a presença dela revigora seu ser, a ponto de esquecer as lesões que lhe condoíam. Ali, fitando sua amada, alguém que lhe conhecia, admirou-se de sua persistência e foi ter com ela: Penélope, eis aqui um grande poeta, ele tem uma canção para você. Ela admirou a deferência e se pôs a ouvir a canção exaltada do amor maior. Ele reuniu toda força que porventura lhe restasse, para saudar a ventura de estar diante da mulher amada. Todos se comoveram, a multidão voltou-se para ser sua plateia, a ponto de suspender a competição. Encantada, ela aplaudiu efusivamente. O público inteiro o aplaudiu de pé. Com o término de sal canção, jogou o violão às costas e saiu solfejando a sua canção, cabisbaixo, abandonando o seu sonho e a si próprio além da cidade, para se perder por estradas sem fim. Das lutas, ninguém mais sabe; a sua Penélope morrera há muito tempo, não havia mais nada, tudo perdido no tempo, apenas o poema de amor do poeta restou como história contada até hoje. (baseada na fábula Chagrin D’Amour, do Livro das Fábulas, de Hermann Hesse). © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do conjunto musical instrumental Choro das Três, criado em 2202 e formado pela irmãs, a flautista Corina, a pianista, bandolinista e clarinetista Elisa e a violonista Lia Meyer Ferreira, juntamente com o pai Eduardo Ferreira no pandeiro e percussão: Live at Colorado Brazilfest, Live in Bellinghan & Europe Tour Concert Italia; o grupo instrumental PianOrquestra, criado em 2003 e formado pela percussionista Massako Tanaka e pelos pianistas Marina Spoladore, Priscila Azevedo, Anne Amberget & Cláudio Dauelsberg: Pagode preparado, Lucy & Todas as Bossas; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Por realização da moral entendemos a encarnação dos princípios, valores e normas numa dada sociedade não só como tarefa individual, mas coletiva, isto é, como processo social no qual as diferentes relações, organizações e instituições sociais desempenham um papel decisivo. [...] Pensamento extraído da obra Ética (Civilização Brasileira, 1970), do filósofo, professor e escritor espanhol Adolfo Sánchez Vázquez (1915-2011). Veja mais aqui.

ARTE DE AMAR – [...] O homem é dotado de razão; é a vida consciente de si mesma; tem consciência de si, de seus semelhantes, de seu passado e das possibilidades de seu futuro. Essa consciência de si mesmo como entidade separada, a consciência de seu próprio e curto período de vida, do fato de haver nascido sem ser por vontade própria e de ter de morrer contra sua vontade, de ter de morrer antes daqueles que ama, ou estes antes dele, a consciência de sua solidão e separação, de sua impotência ante as forças da natureza e da sociedade, tudo isso faz de sua existência apartada e desunida uma prisão insuportável. Ele ficaria louco se não pudesse libertar-se de tal prisão e alcançar os homens, unir-se de uma forma ou de outra com eles, com o mundo exterior. [...]. Trecho extraído da obra A arte de amar: o amor como força vital (Pergaminho, 2008), do filósofo, sociólogo e psicanalista alemão Erich Fromm (1900-1980). Veja mais aqui e aqui.

MINNA – [...] Passei o dia, ora lendo ora me entregando à fantasmagoria das lembranças ou fazendo variações sobre os seguintes temas: “Agora ela já deve ter recebido minha carta... deve haver ainda um trem em Meissen (para ter certeza pedira um jornal à senhorita) e ela só tem um quilômetro a andar, até à estação. Talvez, sim, muito provavelmente, ela chegará esta noite, e é possível, sim, é quase certo que eu a encontrarei em casa de Hertz, para onde deve imediatamente ir. Ela ficará emocionada, a maternal Sra. Hertz a tratará como se fôssemos noivos, e talvez o velho esteja consciente e se alegre por ver-nos reunidos. Quando ficar tarde, ela deverá voltar para casa. Acompanhá-la-ei evidentemente – será, por assim dizer, necessário – e tudo se passará como deve ser, naturalmente, tal como se jamais tivesse existido um Stephensen. Por duas vezes – à passagem do carteiro – fiquei inquieto; jamais apaixonado algum aguardou carta com maior impaciência do que eu naquele dia. Mas passavam-se as horas sem nenhum resultado e, após a última distribuição, senti uma espécie de alivio. O quarto estava completamente às escuras, e eu me preparava para ir à casa de Hertz. Súbito, entreabriram a porta: “Aqui está uma carta para o senhor” – disse a empregada, entregando-me um papel branco. O medo me imobilizou. Naquela hora? Não era possível! O envelope era muito grande e rijo, o que me tranqüilizou. Acendi um fósforo e dei um grito: era a letra de Minna! [...]. Trecho extraído da obra Minna (Delta, 1963), do dramaturgo e novelista dinamarquês Karl Gjellerup (1857-1919), Prêmio Nobel de Literatura de 1917.

À ELVIRA - Quando, comtigo a sós, as mãos unidas, / Tu, pensativa e muda; e eu, namorado, / Ás volupias do amor a alma entregando, / Deixo correr as horas fugidias; / Ou quando ás solidões de umbrosa selva / Comigo te arrebato; ou quando escuto / — Tão só eu, — teus ternissimos suspiros; / E de meus labios solto / Eternas juras de constancia eterna; / Ou quando, emfim, tua adorada fronte / Nos meus joelhos tremulos descansa, / E eu suspendo meus olhos em teus olhos, / Como ás folhas da rosa avida abelha; / Ai, quanta vez então dentro em meu peito / Vago terror penetra, como um raio! / Empallideço, tremo; / E no seio da gloria em que me exalto, / Lagrimas verto que a minha alma assombrão! / Tu, carinhosa e tremula, / Nos teus braços me cinges, — e assustada, / Interrogando em vão, comigo choras! / Que dôr secreta o coração te opprime? / Dizes tu, Vem, confia os teus pezares.... / Falla! eu abrandarei as penas tuas! / Falla! eu consolarei tua alma afflicta! / Vida do meu viver, não me interrogues! / Quando enlaçado em teus niveos braços / A confissão de amor te ouço, e levanto / Languidos olhos para ver teu rosto, / Mais ditoso mortal o céo não cobre! / Se eu tremo, é porque n'essas esquecidas / Afortunadas horas, / Não sei que voz do enleio me desperta, / E me persegue e lembra / Que a ventura co' o tempo se esvaece, / E o nosso amor é facho que se extingue! / De um lance, espavorida, / Minha alma vôa ás sombras do futuro, / E eu penso então: Ventura que se acaba / Um sonho vale apenas. Poema do escritor francês Alphonse de Lamartine (1790-1869).

PIGMALIÃO DE SHAW
Elisa (desafiando-o, sem opor resistência) – Pode estrangular-me! Não tem importância. Eu tinha a certeza de um dia você acabaria me batendo (ele larga-a, furioso por ter descido à violência, e recua tão precipitadamente que troça e cai sentado no canapé) – Ah! Ah! Agora sei lidar com você. Como fui boba! Deveria ter pensado nisso há mais tempo! Agora você já não poderá tirar o que me ensinou! E você mesmo afirmou que tenho ouvido melhor do que o seu! E depois eu sei ser amável com as pessoas, coisa que você não sabe. Ah! Ah! Professor Mascarenhas! Agora, eu já não me incomode nem isto com a sua brutalidade nem com o seu palavreado. Vou pôr um anuncio nos jornais dizendo que a famosa dama que você apresentou à alta sociedade não passa de uma florista de rua, e que essa florista ensinará a quem quiser tudo o que aprendeu com você! Tenho certeza de que dentro de pouco tempo estarei rica e independente! E dizer que durante meses e meses andei rastejando a seus pés, sofrendo injurias, humilhações, espezinhamentos, quando podia ter dito apenas isto para ficar no mesmo nível que você! Eu merecia apanhar por ter sido tão burra! [...] Elisa – Ah! Agora está todo mansinho porque já não tenho mais medo, porque posso perfeitamente passar sem a sua ajuda! [...].
Trecho do Ato V da comédia em cinco atos Pigmalião (1913), do dramaturgo, escritor e jornalista irlandês Bernard Shaw (1856-1950). Veja mais aqui e aqui.


Recepcionando o cantor, compositor e poeta Zé Ripe, o artista plástico e gráfico Jamilton Barbosa Correia e o radialista e compositor Atonmirio de Barros na Biblioteca Fenelon Barreto & muito mais na Agenda aqui.
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Todo dia o primeiro passo, a poesia de Gilberto Mendonça Teles, a música de José Orlando Alves, a fotografia de David Ngo, Núbia Vítor de Souza, a arte de Lia Rodrigues & Belle Chere aqui.