BRASIL A SÉRIO, NÃO RIA! – Imagem:
sobre arte de Andrey Kuzmin. - Patriamada,
salve, salve! Ouviram dizer que o Brasil não é um país sério. Que coisa!
Pudera, ensinaram a gente escrever com “s”, enquanto o mundo todo grafa com
“z”. Por que? Já expliquei isso tintim por tintim no Fecamepa. À guisa de ilustração: o com “s” foi construído pela
sujeira, rapinagem e corrupção; o do “z”, sempre existiu desdantigamente no
ideal humano. Trocando em miúdos: um pro nativo e, o outro, pro mundo ver, se
admirar e mangar. Não bastasse isso, entre tantos papelões e presepadas, veio a
cana para adoçar com o sangue escravo, ouro do muito que sumiu no estalar de
dedos, maravilhas profanadas como cu-de-mãe-Joana, afora piadas que viraram uma
independência comprada a peso de libra esterlina, uma república de gatos
pingados e bananas, quando a dita andou dura com golpes até hoje e só deu numa
coisa cantiga de grilo: salafrários no poder comandando o Estado e todos os
poderes, enquanto eu e meu irmãos e irmãs à margem de tudo, com a cabeça nos
ventos desde que Pindorama começou a ser saqueada pra virar a calamidade de um povo
heróico o brado retumbante que as balas acham como inimigas da felicidade,
porque todo mundo quer um milhão embolsado por um centavo pra comprar posses e
autoridades, acreditando no milagre de cair uma bolada do céu, afinal Deus é
brasileiro e protege os doidos, os bêbados e as criancinhas. Enquanto o gigante
eternamente em berço esplêndido para poucos, gerações são imoladas pra sobrar Macunaímas
que fazem e acontecem na base do jeitinho e findam em palpos de aranha que
arranha o sarro com carteiradas e dribles, rebolados e felicidade 0800, em arranha-céus
suntuosos pra miséria humana dos que são menores que seu próprio tamanho,
contando cédulas e moedas pra destilar veneno sobre quem nada tem, pedindo pra
chover por causa da seca e pra chuva parar pela inundação de tudo. Na verdade,
confundem até Deus com uma bandeira de cores desbotadas, aos farrapos e
descolorida pelos exploradores afortunados que devastam as matas e tornam o céu
antes anil agora escuro sem estrela alguma pro negrume de uma gente ociosa como
espantalho de olheiras e sacos vazios pelo desconsolo, acossada pelas
dificuldades e imobilizada pela catatonia, ciosos apenas por se arrumar e
gastar o que tem e o que não tem, afeiçoando-se pela fauna de todas as feras e
mansas enquanto execra o semelhante e aposta na desgraça alheia, e que não
brinca em serviço ao soltar seus coprólitos afora com as ventosidades
catingosas enquanto samba no carnaval do futebol e, com perdão da má palavra, formam
uma grandicíssima putaria como filhos de uma mesmíssima putada! Salve, salve!
Ah, lembranças rondam, houve um tempo não muito longe, em que eu e os da minha
laia, solidários aos miseráveis de todos os cantos do país, saíamos da
faculdade para fazer revolução. Reuníamos em motins nos botecos, protestos
inflamados nos copos, contestações revoltosas nos goles, lágrimas embriagadas
por liberdade e justiça, com a fé no nosso povo e contra o vitupério da
injustiça nossa de cada dia, até que um dia um raio fulminou e a gente pôde
sentir o gostinho da liberdade e coisa se encaminhando para se endireitar e
ficar no sério o que antes era só piada, e lavamos a alma ao eleger o que seria
nosso próprio destino no meio das nossas contradições e quase seguíamos adiante
pra ver o enterro hoje voltar e tudo sucumbir ao dissabor das ideologias,
quando rebelados entoam a velha paródia do Hino
do Soldado em concerto desafinado, tudo cheio dos quequéos da festança: Arroz comemos com feijão. A pinga tomamos
com limão. Porém, se a patriamada precisar da macacada, puta merda, tá lascada.
Vá se foder pelo Brasil, vá pra puta que pariu que meu cu não é fuzil. Uma
nova pinóia pra sisudo dizer que é sério com todo palavrório da charlatanice e
a gente só morrendo de rir quando não era pra isso, mas ficou sendo porque não
se percebeu o que estava acontecendo, nem se deu conta do flagelo no meio do
tiroteio de informações e contra-informações e disse-me-disse, boataria,
intriga e queimação de filme. Não se sabe ao certo quantos escaparam entre
mortos, tições e fulminados. Pros que não sabem, o Sol brilha no céu da pátria
a todo instante e paratodos. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
MACA ALBORNOZ DE MANUEL SCORZA
[...] E vi, caralho, pela primeira vez, aqueles
sóis verdes que tonteavam vindos do rosto da fêmea mais bela que avistei neste
puto mundo. Assim conheci Maca. [...] A
palavra beleza será sempre fraca para descrevê-la. Era tão bonita que nos
tonteou. [...] Então, pela primeira
vez, Maca sorriu pra mim, e juro que conheci o que provocou, caralho, a queda
dos anjos. O que provocaria, maldita a hora em que nasci, o desespero que está
me queimando. [...] A mulher que nos
melhorava ou piorava com sua presença, reconheçamos, como homens que somos , a
verdade, caralho, dançava sem parar desde o meio-dia. [...] a escuridão caluniava a beleza de Maca e que
a luz mostrava um rosto que jamais ninguém, caralho, tinha visto neste mundo
corno. [...] Soube aquela noite que
depois de ter dormido com centenas de mulheres eu era virgem. Conheci, maldita
hora em que meus pais se misturaram, conheci que o céu e o inferno têm a mesma
porta morna, e que se pode viver dentro de um relâmpago. [...]. Viveu entre seus irmãos vinte anos monteses,
criada como menino. E pensava que era menino [...] Curando-o descobriram aquilo que Maco, criado como homem, vestido como
homem, altivo como homem, tinha esquecido: que era mulher. [...] quando se divulgou que os Albornozes eram
mulheres, sacudiu Cerro de Pasco.[...] Na
porta do calabouço onde conhecera o opróbrio, Maca sorriu. – Já não tenho pai
nem mãe. Sou filha do ar! [...] Adeus,
irmãos queridíssimos, adeus filhos de uma grandicíssima puta! [...] Como desconfiar que o que aquele horroroso
Serafim desejava era demonstrar a insignificância dos homens! Eu sou, senhores,
o primeiro homem que a viu nesta província e repito que vê-la é se desgraçar. [...]
e ela humilha só para sorver a nata de
nossa humilhação. Seduz para poder vomitar aquilo que seduz. Se descesse dos
céus ou subisse dos internos uma mulher tão impiedosamente bela como essa (que
como todo o mal que causou, repito, é a única que verei em minha agonia no dia
que for embora deste planeta de merda que gira ao mesmo com os palermas e com
os filhos da puta [...].
Trechos
da obra Cantar de Agapito Robles
(Civilização Brasileira, 1979), do romancista e poeta peruano Manuel Scorza
(1928-1983). Imagem do pintor peruano Vitor
Loli. Veja mais aqui.
Veja
mais sobre:
Se não
deu e fedeu, só na outra, meu, Sentimento do mundo de Carlos Drummond de
Andrade, Contos de Juan Carlos Onetti, Literatura fantástica de Tzvetan Todorov, a
música de Yann Tiersen, a pintura
de Luiz Paulo Baravelli & Asha Carolyn Young, a fotografia de JR, a
xilogravura de MS, a arte de Tom Wesselman & Kenny Cole aqui.
E mais:
Desejo
& a arte da cantora Sônia Mello, Deus & o Estado de Mikhail Bakunin, Ouvindo insetos de Po Chu
Yi, Os museus & Bertha Lutz, Teatro Espontêaneo & Psicodrama, a
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Garoto, a dança de Mata Hari, a
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arte de Melinda Gebbie aqui.
Proezas
do Biritoaldo: Quando o cara num rega direito, o amanhã parece
mais o aperto do dia de ontem aqui.
O
recomeço a cada dia, o pensamento de Ibn el-Arabi & Indries
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humana, educação & meio ambiente, O Brasil e a telenovela
de Esther Hamburger, a pintura de Nina
Kozoriz & a arte de Niura Bellavinha aqui.
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vem pra vida de graça, O caminho de Swann de Marcel Proust, a pintura
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pedras se encontram nos mundos distantes, Pelos ares de Rafael
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Tudo
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Endecha:
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Antes que os nossos filhos denunciem o luto secular de seus abris aqui.
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LA NOTTE DE MICHELANGELO ANTONIONI
O drama La notte (A noite, 1961), do cineasta
italiano Michelangelo Antonioni
(1912-2007), é a segunda parte da trilogia sobre alienação, solidão e a
incomunicabilidade entre as pessoas na sociedade moderna, ao lado dos filmes A Aventura e L’eclipsse, contando um dia na vida de um casal – um escritor e sua
esposa -, ensaiando aventuras amorosas ao serem convidados para passar uma noite
em uma festa de amigos burgueses promovida por um milionário e, durante a
festa, o vazio e desgaste emocional existente entre o casal é intensificado. O
destaque fica por conta da atuação da atriz e cantora francesa Jeanne Moreau,
e da atriz italiana de teatro e cinema Monica Vitti. Veja mais aqui, aqui e aqui.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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