VOU DANADO COM ASCENSO COM VONTADE DE VOAR! -
Vou danado com Ascenso com vontade de voar de onde vim, pra onde vou, pra
cá e pralí, ôôôô, da Rua do Rio no sonho iluminado da linda terra onde eu nasci,
até subir o Alto do Lenhador! Boca de forno? Forno! Tiraram o bolo? Bolo. Farão
tudo que seu mestre mandar? Vamos simbora, que só quem é corno é que vai ficar!
É que o mestre Carlos, o rei dos mestres, aprendeu sem se ensinar. Ah, vida boa
na beira do Una: devagar, senão eu me ferro. E a gente só na filosofia: comer,
dormir e vadiar que ninguém é de ferro. Ô de casa, ô de fora, quem vem lá? É a
Cumade Fulôsinha, a danada Caipora? Seu padre, cadê o santo? Tá falando com
ele, tá falando com ele! Destá, Catimbó, quando tem folia, aparece nego até de
um olho só! E é de janeiro a dezembro, até o Natal quando Papai Noel botar uma
bomba atômica no meio dos seus brinquedos! Teibei, maior bafafá! Não se avexe,
nem se agonie, não bote pra fora seus medos! É de tororó! Ô-lelê, Ô-lalá! Os
engenhos até o terreiro da casa-grande, lá onde o Zé-estribeiro vai buscar
leite pros meninos do coronel. E faz de tudo, até tirar da abelha o mel. Do
terraço do Barão: como é grande o canavial, cadê ele? Foi atrás de Susana pra
apanhar o lenço no chão, ah negra sem vergonha, emprenhou filho banta, a pulada
de cerca do patrão. Isso é de muito a muitão! Tem coragem de morrer na bala,
cambada? Só a gente vendo, patrão! Então vamos pescar que quero comer carito, traíra,
camorim, sabararu! Inda ontem, coronel, chegou um bocado de belezura de
Caruaru! Menino, isso é mesmo que mel de urucu! Hoje de noite eu vou lá, destá!
E o boato corria que ele roubou na coletoria! Roubar, roubei não; mas se disser
que eu chupei uma boceta, nisso sou campeão! Adorava chibiu e outras coisas
mais, uma virada de copo, carambola, manga, sapoti, a rosa de todos os jardins,
a flor do bogari. Ah, lugar bom, lá tem o mondé dos homens com seu deus de
carne e osso, onde os guerreiros já nascem feitos, outros imprestáveis carne de
pescoço e a mulatinha chocolate é o gênio da raça que endoida e embaça a vida dos
cachaceiros de fim de feira: uma bicada pra esquentar o frio, outra pra baixar
o calor. Ah, a branquinha, o suco da cana, que pouquinha é rainha e muitão é
tirana, do cabra ficar riscado de comer cobra verde ou estourar bomba na mão. A
bicha incendeia mesmo qualquer cristão. Lá a guerra é de verdade, a bala mata
tudo que do contra for. Ainda por cima se manga: Hiroshima virou nirvana,
Nagasaki virou “alcanfor”. Quando a coisa desarruma, fica pior que purgante de
manipuera! Só se sabe da coisa depois que baixa a poeira. Pra se curar, só com
mãe de santo com as ervas esquisitas. Cachete? Tá doido, ah, isso nunca, parece
coisa de comunista! Vai pra lá, assombração! Quando não tiver mais jeito, vá
logo, acenda a vela! Senão o doente, coitado, morre na escuridão! Se assunte
direito, não vá cochilar, aqui todo mundo aprendeu sem se ensinar! E blábláblá,
blábláblá. Na boca da noite a formiga-de-roça adoeceu de uma dor de cabeça que
lhe deu e no meio das mandingas e assombros a Zefinha o juízo perdeu! Mas logo
ela que era tão frochosa? Ah, a Zefinha-cheia-de-graça, reboculosa perdição, caiu
na boca dos profetas das desgraças, coisa da maior maldição: olha o macaco,
penera as asas gavião! O sol é vermelho como tição e blão, blão, blão! Meu
Deus, o que é? Toré! O que é que é? E blém, blém, blém, é missa de sétimo dia,
amém. E a Cana caiana tirada na hora, ô caldo bão, não dá pra quem quer. O que
é que é? É a dança de solado no chão, o maior trupé! A quadrilha de Caetano
Norato: damas por cima, cavaleiros por baixo! Damas por baixo, cavaleiros por
cima. Pronto, seu mestre chegou! E aprendeu sem se ensinar. Aos seus lugares,
dancê. E os casais batem coxa até amanhecer. Quem vem lá? É o compadre que
acabou de chegar: Mas Dona Nina, aquilo é o tal de cinema? Vixe, coisa do pior
dilema. Mamãe, o mundo vai se acabar? Sai-te, menino, vai pra cama te deitar,
senão o boi cara preta vem pra te pegar! Inté mais, compadre, tenho que me
retirar do recinto! Oxente, mulher! Tais pensando que o compadre é pinto? A
essa hora só no poleiro o galo é que dá chau! E a cachorrinha Laika latindo com
ironia: au! Au! Au! Vamos organizar a coisa na maior das harmonias, pra saber
das novidades das terras de Oropa, França e Bahia! Tá dormindo ou acordado,
compadre? Depende, pro que é que é? Me empresta cinco mirreis? Ronronronronron,
hehehehehe! E assim vai-se o dia, mais outra noitada. Se aperrear, pra quê? Pra
nada. Eu quero é virar baiano! Se a coisa engrossar, quero é ver quem é que entra
pelo cano. O que é que é? É o forró pro esquenta-mulher! Eu, hem! Xenhenhém! Coisa
gostosa é a gente querer bem! E vamos dançar até a saideira, o corpo dela
quando baila mais parece parafuso de poeira! Oh, mulata sarará, madeira que
cupim não roi! Amo tanto essa nega, chega o coração dói. E ela há de me amar,
há de ser tão certo como que este mundo tem de se acabar e blim, blim, blim e
ratatá. Aumenta o festim, xô bacurau! É o carnaval do Recife e os cabaços na
vara, o maior catatau. Maracatu, bumba-meu-boi, será que ela foi? O boi Boiato,
a mula do padre, cadê a comadre? A cabra cabriola, o xangô, atrás dela eu já
vou! O rolete da cana e a fogueira de São João! É zoada de trovão! Não é não, W
Z G Q A, Z Q P X A, Graf Zeppelin! Que droga é esse bregeçim, hem? Isso é coisa
do cão! Danou-se, vou é me mandar nesse term, a-rá! Falta muito? Paquevira
chega já! Entra pra dentro, Chiquinha! Do jeito que vai, tu finda perdida. Deus
te ouça, minha mãe, quero ser musa querida! E ela há de me amar, como a coruja
ama a treva e o bacurau ama o luar. E blom, blom,blom e lheguelhé. Vamos que
isso tá muito bom! O que é que é? É forró que vai solto no maior rastapé! Ó, Xenhenhém!
Coisa gostosa é a gente querer bem! Quanta mulher bonita, tudo parece florido,
chega a vida se arrebita! Mulheres brancas como polpa de ingá maduro, caboclas
viçosas de bocas pitangas, mulatas dengosas caju e cajá, peitinhos miudinho tão
bons de chupar! Na minha boca vem se desmanchar! Ô Nana, chega me esquentar!
Nana, cadê você? Onde é que tu tá, desgrama? Chega, vamos comer a lua frita com
pimenta e azeite dendê! É de endoidar essa nega fulana! Que bom que seria. Ah,
a força da lua cheia, ó Maria! Dá vontade da gente se aninhar nessa tua
freguesia. Isso é que é! Ah Salomé, chega pra cá, por favor! Venha ver como é
que é, venha senão eu vou, o Brasil ganhou a copa, vamos fazer nosso gol, meu
amor! Eita, nega danada, peraí que eu já vou! O cabra caiu da boleia? Vote! Deus
salve a nossa coréia, das putas mais lindas que há! Macaco me lamba se eu nunca
mais amar! De tudo que há e que é, a coisa mais melhor do mundo, doutor, é
bicho mulher! Larga de ser vagabundo, Ascenso! Vambora, Maria! Se eu perder o
senso, Maria, é por ti que endoideço! Tei bei, bum! E blum, blum, blum. Ah,
como era boa a coisa que era e a chuva nas carícias da noite, eu voltarei ao
sol da primavera. E juntou gente, todo mundo, de calunga a cheleleu, Ascenso
morreu e, com certeza, foi poetar no céu! Não havia mais choro, nem o menor
berro, a gente vivia todo dia a filosofia de comer, dormir e vadiar, tudo de
pernas pro ar que ninguém é de ferro. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
MINHA ESCOLA, DE ASCENSO FERREIRA
A escola que eu frequentava era cheia de
grades como as prisões.
E o meu Mestre, carrancudo como um
dicionário;
Complicado como as Matemáticas;
Inacessível como Os Lusíadas de Camões!
À sua porta eu estava sempre hesitante...
De um lado a vida... – A minha adorável vida
de criança:
Pinhões... papagaios... carreiras ao sol...
Voos de trapézio à sombra da mangueira!
Saltos da ingazeira pra dentro do rio...
Jogos de castanhas...
- O meu engenho de barro de fazer mel!
Do outro lado, aquela tortura:
“Armas e os barões assinalados!”
- Quantas orações?
- Qual é o maior rio da China?
- A 2 + 2 A B= quanto?
- Que é curvilíneo, convexo?
- Menino, venha dar sua lição de retórica!
- “Eu começo, atenienses, invocando
a proteção dos deus do Olimpo
para os destinos da Grécia!”
- Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
- Agora, a de francês:
- “Quand Le christianisme avait apparu sur la
terre...”
- Basta.
- Hoje temos sabatina...
- O argumento é a bolo!
- Qual é a distância da Terra ao Sol?
- ? !!
- Não sabe? Passe a mão à palmatória!
- Bem, amanhã quero isso de cor...
Felizmente, à boca da noite,
Eu tinha uma velha que me contava
histórias...
Lindas histórias do reino da Mãe-d’Água...
E me ensinava a tomar a benção à lua nova.
Minha escola, poema
do livro Catimbó, extraído da obra Poemas de Ascenso Ferreira (Nordestal,
1981), do poeta Ascenso Ferreira
(1895-1965). Veja mais aqui, aqui, aqui
e aqui.
Veja
mais sobre:
Maria Esperantina,
orgasmo de uma noite & nunca mais, a poesia de Ascenso
Ferreira, O sexo na história de Reay
Tannahill, a literatura de Ulrike Marie Meinhof, Oropa, França &
Bahia de Alceu Valença, Trem das Alagoas de Guazzelli
& a arte de Xenia Hausner aqui.
E mais:
A função
do orgasmo de Wilhelm Reich, La
rebelión de las masas de José
Ortega y Gasset, a poesia de Ascenso Ferreira, a música de Alexander Scriabin, a pintura de
Renato Alarcão, a arte de Pablo Garat,
Orgazmo & O orgasmo de Esperantina aqui.
O
suicídio de Karl Marx, As caçarolas de Tolinho & Bestinha, A primavera de
Ginsberg & Padre Bidião aqui.
Salmo da
Cana, Os doze trabalhos de Peisândro de Rodes, Os trabalhos e os dias de Hesíodo, Germinal de Émile Zola, O operário
em construção de Vinicius de Moraes, a gravura de Cândido Portinari, O informe
de Brodie de Jorge Luis Borges, a escultura de Auguste Rodin, a música de Chico Buarque, o teatro de Nelson Rodrigues,
Tempos modernos de Chaplin, a arte de Magda Mraz & Infância, Imagem e Literatura: uma experiência psicossocial na comunidade
do Jacaré – AL aqui.
Quando
ela dança tangará no céu azul do amor, A condição pós-moderna de Jean-François Lyotard, A estética da
desaparição de Paul Virilio, a música
de Anna-Sophia Mutter, a pintura
de Eloir Junior & Alex Alemany, David Peterson, Luciah Lopez, a arte de Carlos Zemek
& Magnum Opus de Isabel Furini aqui.
Elucubrações
das horas corrida, O pensamento comunicacional de Bernard Miège, O outro por si mesmo de Jean Baudrillard, a pintura de Vicente Romero Redondo & Edilson
Viriato, a coreografia de Doris
Uhlich, a arte de Efigênia Rolim,
Meu delírio de Érica Christieh, a música de Sarah
Brasil, a arte de David Lynch & Sandra Hiromoto aqui.
Se não
vai de um jeito, vai de outro, A marcha da insensatez de Barbara Tuchman, A
educação com carinho de Lidia Natalia Dobrianskyj Weber, a música de Kyung-Wha Chung, a pintura de Joan Miró & Eugène Leroy, a arte de Anna Dart & Eugene J. Martin, Remando
no éden de Bárbara Lia, a fotografia de Faisal Iskandar, Revista Poética Brasileira
& Mhario Lincoln aqui.
Palco da
vida, A terceira mulher de Gilles Lipovetsky, A vida mística de Jesus de Harvey Spencer Lewis,
Toda palavra de Viviane Mosé, a música
de Andersen Viana, a pintura
de Maria Szantho & Maxime des Touches, a arte de
Katia Kimieck & Vavá Diehl, Roseli
Rodrigues & Balé Teatro
Guaíra aqui.
Do raiar
do dia aos naufrágios crepusculares, A metafísica da realidade
virtual de Michael
R. Heim, História dos hebreus de Flavio Josefo, a música de Milton
Nascimento & Fernando Brant, a poesia de Helena Kolody, a
fotografia de André Brito, a arte de Rollandry Silvério, a pintura de George
Grosz & Fernando Rosa, Estilhaços da catarse de Carla Torrini aqui.
&
A UTOPIA DE EDUARDO GALEANO
A utopia está no horizonte. Me aproximo dois
passos, se distancia dois passos. Caminho dez passos, horizonte corre dez
passos mais. Por mais que eu caminhe, nunca o alcançarei. Para que serve a
Utopia? Para isso, para caminhar.
A Utopia, do jornalista e escritor
uruguaio Eduardo Galeano
(1940-2015). Imagem: escultura de Oscar
Niemeyer. Veja mais aqui, aqui e aqui.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: a arte da fotógrafa Ilona
Shevchishina.
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.