terça-feira, maio 09, 2017

ASCENSO FERREIRA & A ESCOLA, EDUARDO GALEANO, OSCAR NIEMEYER & ILONA SHEVCHISHINA

VOU DANADO COM ASCENSO COM VONTADE DE VOAR! - Vou danado com Ascenso com vontade de voar de onde vim, pra onde vou, pra cá e pralí, ôôôô, da Rua do Rio no sonho iluminado da linda terra onde eu nasci, até subir o Alto do Lenhador! Boca de forno? Forno! Tiraram o bolo? Bolo. Farão tudo que seu mestre mandar? Vamos simbora, que só quem é corno é que vai ficar! É que o mestre Carlos, o rei dos mestres, aprendeu sem se ensinar. Ah, vida boa na beira do Una: devagar, senão eu me ferro. E a gente só na filosofia: comer, dormir e vadiar que ninguém é de ferro. Ô de casa, ô de fora, quem vem lá? É a Cumade Fulôsinha, a danada Caipora? Seu padre, cadê o santo? Tá falando com ele, tá falando com ele! Destá, Catimbó, quando tem folia, aparece nego até de um olho só! E é de janeiro a dezembro, até o Natal quando Papai Noel botar uma bomba atômica no meio dos seus brinquedos! Teibei, maior bafafá! Não se avexe, nem se agonie, não bote pra fora seus medos! É de tororó! Ô-lelê, Ô-lalá! Os engenhos até o terreiro da casa-grande, lá onde o Zé-estribeiro vai buscar leite pros meninos do coronel. E faz de tudo, até tirar da abelha o mel. Do terraço do Barão: como é grande o canavial, cadê ele? Foi atrás de Susana pra apanhar o lenço no chão, ah negra sem vergonha, emprenhou filho banta, a pulada de cerca do patrão. Isso é de muito a muitão! Tem coragem de morrer na bala, cambada? Só a gente vendo, patrão! Então vamos pescar que quero comer carito, traíra, camorim, sabararu! Inda ontem, coronel, chegou um bocado de belezura de Caruaru! Menino, isso é mesmo que mel de urucu! Hoje de noite eu vou lá, destá! E o boato corria que ele roubou na coletoria! Roubar, roubei não; mas se disser que eu chupei uma boceta, nisso sou campeão! Adorava chibiu e outras coisas mais, uma virada de copo, carambola, manga, sapoti, a rosa de todos os jardins, a flor do bogari. Ah, lugar bom, lá tem o mondé dos homens com seu deus de carne e osso, onde os guerreiros já nascem feitos, outros imprestáveis carne de pescoço e a mulatinha chocolate é o gênio da raça que endoida e embaça a vida dos cachaceiros de fim de feira: uma bicada pra esquentar o frio, outra pra baixar o calor. Ah, a branquinha, o suco da cana, que pouquinha é rainha e muitão é tirana, do cabra ficar riscado de comer cobra verde ou estourar bomba na mão. A bicha incendeia mesmo qualquer cristão. Lá a guerra é de verdade, a bala mata tudo que do contra for. Ainda por cima se manga: Hiroshima virou nirvana, Nagasaki virou “alcanfor”. Quando a coisa desarruma, fica pior que purgante de manipuera! Só se sabe da coisa depois que baixa a poeira. Pra se curar, só com mãe de santo com as ervas esquisitas. Cachete? Tá doido, ah, isso nunca, parece coisa de comunista! Vai pra lá, assombração! Quando não tiver mais jeito, vá logo, acenda a vela! Senão o doente, coitado, morre na escuridão! Se assunte direito, não vá cochilar, aqui todo mundo aprendeu sem se ensinar! E blábláblá, blábláblá. Na boca da noite a formiga-de-roça adoeceu de uma dor de cabeça que lhe deu e no meio das mandingas e assombros a Zefinha o juízo perdeu! Mas logo ela que era tão frochosa? Ah, a Zefinha-cheia-de-graça, reboculosa perdição, caiu na boca dos profetas das desgraças, coisa da maior maldição: olha o macaco, penera as asas gavião! O sol é vermelho como tição e blão, blão, blão! Meu Deus, o que é? Toré! O que é que é? E blém, blém, blém, é missa de sétimo dia, amém. E a Cana caiana tirada na hora, ô caldo bão, não dá pra quem quer. O que é que é? É a dança de solado no chão, o maior trupé! A quadrilha de Caetano Norato: damas por cima, cavaleiros por baixo! Damas por baixo, cavaleiros por cima. Pronto, seu mestre chegou! E aprendeu sem se ensinar. Aos seus lugares, dancê. E os casais batem coxa até amanhecer. Quem vem lá? É o compadre que acabou de chegar: Mas Dona Nina, aquilo é o tal de cinema? Vixe, coisa do pior dilema. Mamãe, o mundo vai se acabar? Sai-te, menino, vai pra cama te deitar, senão o boi cara preta vem pra te pegar! Inté mais, compadre, tenho que me retirar do recinto! Oxente, mulher! Tais pensando que o compadre é pinto? A essa hora só no poleiro o galo é que dá chau! E a cachorrinha Laika latindo com ironia: au! Au! Au! Vamos organizar a coisa na maior das harmonias, pra saber das novidades das terras de Oropa, França e Bahia! Tá dormindo ou acordado, compadre? Depende, pro que é que é? Me empresta cinco mirreis? Ronronronronron, hehehehehe! E assim vai-se o dia, mais outra noitada. Se aperrear, pra quê? Pra nada. Eu quero é virar baiano! Se a coisa engrossar, quero é ver quem é que entra pelo cano. O que é que é? É o forró pro esquenta-mulher! Eu, hem! Xenhenhém! Coisa gostosa é a gente querer bem! E vamos dançar até a saideira, o corpo dela quando baila mais parece parafuso de poeira! Oh, mulata sarará, madeira que cupim não roi! Amo tanto essa nega, chega o coração dói. E ela há de me amar, há de ser tão certo como que este mundo tem de se acabar e blim, blim, blim e ratatá. Aumenta o festim, xô bacurau! É o carnaval do Recife e os cabaços na vara, o maior catatau. Maracatu, bumba-meu-boi, será que ela foi? O boi Boiato, a mula do padre, cadê a comadre? A cabra cabriola, o xangô, atrás dela eu já vou! O rolete da cana e a fogueira de São João! É zoada de trovão! Não é não, W Z G Q A, Z Q P X A, Graf Zeppelin! Que droga é esse bregeçim, hem? Isso é coisa do cão! Danou-se, vou é me mandar nesse term, a-rá! Falta muito? Paquevira chega já! Entra pra dentro, Chiquinha! Do jeito que vai, tu finda perdida. Deus te ouça, minha mãe, quero ser musa querida! E ela há de me amar, como a coruja ama a treva e o bacurau ama o luar. E blom, blom,blom e lheguelhé. Vamos que isso tá muito bom! O que é que é? É forró que vai solto no maior rastapé! Ó, Xenhenhém! Coisa gostosa é a gente querer bem! Quanta mulher bonita, tudo parece florido, chega a vida se arrebita! Mulheres brancas como polpa de ingá maduro, caboclas viçosas de bocas pitangas, mulatas dengosas caju e cajá, peitinhos miudinho tão bons de chupar! Na minha boca vem se desmanchar! Ô Nana, chega me esquentar! Nana, cadê você? Onde é que tu tá, desgrama? Chega, vamos comer a lua frita com pimenta e azeite dendê! É de endoidar essa nega fulana! Que bom que seria. Ah, a força da lua cheia, ó Maria! Dá vontade da gente se aninhar nessa tua freguesia. Isso é que é! Ah Salomé, chega pra cá, por favor! Venha ver como é que é, venha senão eu vou, o Brasil ganhou a copa, vamos fazer nosso gol, meu amor! Eita, nega danada, peraí que eu já vou! O cabra caiu da boleia? Vote! Deus salve a nossa coréia, das putas mais lindas que há! Macaco me lamba se eu nunca mais amar! De tudo que há e que é, a coisa mais melhor do mundo, doutor, é bicho mulher! Larga de ser vagabundo, Ascenso! Vambora, Maria! Se eu perder o senso, Maria, é por ti que endoideço! Tei bei, bum! E blum, blum, blum. Ah, como era boa a coisa que era e a chuva nas carícias da noite, eu voltarei ao sol da primavera. E juntou gente, todo mundo, de calunga a cheleleu, Ascenso morreu e, com certeza, foi poetar no céu! Não havia mais choro, nem o menor berro, a gente vivia todo dia a filosofia de comer, dormir e vadiar, tudo de pernas pro ar que ninguém é de ferro. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

MINHA ESCOLA, DE ASCENSO FERREIRA
A escola que eu frequentava era cheia de grades como as prisões.
E o meu Mestre, carrancudo como um dicionário;
Complicado como as Matemáticas;
Inacessível como Os Lusíadas de Camões!
À sua porta eu estava sempre hesitante...
De um lado a vida... – A minha adorável vida de criança:
Pinhões... papagaios... carreiras ao sol...
Voos de trapézio à sombra da mangueira!
Saltos da ingazeira pra dentro do rio...
Jogos de castanhas...
- O meu engenho de barro de fazer mel!
Do outro lado, aquela tortura:
“Armas e os barões assinalados!”
- Quantas orações?
- Qual é o maior rio da China?
- A 2 + 2 A B= quanto?
- Que é curvilíneo, convexo?
- Menino, venha dar sua lição de retórica!
- “Eu começo, atenienses, invocando
a proteção dos deus do Olimpo
para os destinos da Grécia!”
- Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
- Agora, a de francês:
- “Quand Le christianisme avait apparu sur la terre...”
- Basta.
- Hoje temos sabatina...
- O argumento é a bolo!
- Qual é a distância da Terra ao Sol?
- ? !!
- Não sabe? Passe a mão à palmatória!
- Bem, amanhã quero isso de cor...
Felizmente, à boca da noite,
Eu tinha uma velha que me contava histórias...
Lindas histórias do reino da Mãe-d’Água...
E me ensinava a tomar a benção à lua nova.
Minha escola, poema do livro Catimbó, extraído da obra Poemas de Ascenso Ferreira (Nordestal, 1981), do poeta Ascenso Ferreira (1895-1965). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

Veja mais sobre:
Maria Esperantina, orgasmo de uma noite & nunca mais, a poesia de Ascenso Ferreira, O sexo na história de Reay Tannahill, a literatura de Ulrike Marie Meinhof, Oropa, França & Bahia de Alceu Valença, Trem das Alagoas de Guazzelli & a arte de Xenia Hausner aqui.

E mais:
A função do orgasmo de Wilhelm Reich, La rebelión de las masas de José Ortega y Gasset, a poesia de Ascenso Ferreira, a música de Alexander Scriabin, a pintura de Renato Alarcão, a arte de Pablo Garat, Orgazmo & O orgasmo de Esperantina aqui.
O suicídio de Karl Marx, As caçarolas de Tolinho & Bestinha, A primavera de Ginsberg & Padre Bidião aqui.
Salmo da Cana, Os doze trabalhos de Peisândro de Rodes, Os trabalhos e os dias de Hesíodo, Germinal de Émile Zola, O operário em construção de Vinicius de Moraes, a gravura de Cândido Portinari, O informe de Brodie de Jorge Luis Borges, a escultura de Auguste Rodin, a música de Chico Buarque, o teatro de Nelson Rodrigues, Tempos modernos de Chaplin, a arte de Magda Mraz & Infância, Imagem e Literatura: uma experiência psicossocial na comunidade do Jacaré – AL aqui.
Quando ela dança tangará no céu azul do amor, A condição pós-moderna de Jean-François Lyotard, A estética da desaparição de Paul Virilio, a música de Anna-Sophia Mutter, a pintura de Eloir Junior & Alex Alemany, David Peterson, Luciah Lopez, a arte de Carlos Zemek & Magnum Opus de Isabel Furini aqui.
Elucubrações das horas corrida, O pensamento comunicacional de Bernard Miège, O outro por si mesmo de Jean Baudrillard, a pintura de Vicente Romero Redondo & Edilson Viriato, a coreografia de Doris Uhlich, a arte de Efigênia Rolim, Meu delírio de Érica Christieh, a música de Sarah Brasil, a arte de David Lynch & Sandra Hiromoto aqui.
Se não vai de um jeito, vai de outro, A marcha da insensatez de Barbara Tuchman, A educação com carinho de Lidia Natalia Dobrianskyj Weber, a música de Kyung-Wha Chung, a pintura de Joan Miró & Eugène Leroy, a arte de Anna Dart & Eugene J. Martin, Remando no éden de Bárbara Lia, a fotografia de Faisal Iskandar, Revista Poética Brasileira & Mhario Lincoln aqui.
Palco da vida, A terceira mulher de Gilles Lipovetsky, A vida mística de Jesus de Harvey Spencer Lewis, Toda palavra de Viviane Mosé, a música de Andersen Viana, a pintura de Maria Szantho & Maxime des Touches, a arte de Katia Kimieck & Vavá Diehl, Roseli Rodrigues & Balé Teatro Guaíra aqui.
Do raiar do dia aos naufrágios crepusculares, A metafísica da realidade virtual de Michael R. Heim, História dos hebreus de Flavio Josefo, a música de Milton Nascimento & Fernando Brant, a poesia de Helena Kolody, a fotografia de André Brito, a arte de Rollandry Silvério, a pintura de George Grosz & Fernando Rosa, Estilhaços da catarse de Carla Torrini aqui.
Palestras: Psicologia, Direito & Educação aqui.
A croniqueta de antemão aqui.
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A UTOPIA DE EDUARDO GALEANO
A utopia está no horizonte. Me aproximo dois passos, se distancia dois passos. Caminho dez passos, horizonte corre dez passos mais. Por mais que eu caminhe, nunca o alcançarei. Para que serve a Utopia? Para isso, para caminhar.
A Utopia, do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015). Imagem: escultura de Oscar Niemeyer. Veja mais aqui, aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: a arte da fotógrafa Ilona Shevchishina.
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
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