quarta-feira, maio 10, 2017

O DISCURSO SOCIAL DE FAIRCLOUGHT, ITALIANI & GRAZIA CUCINOTTA, EDWIN IJPEIJ & PALAVRA, PALAVRINHA & PALAVRÃO

PALAVRA, PALAVRINHA & PALAVRÃO! - Lembro-me bem, aos dez anos de idade, montando num precoce bigodinho ralo embaixo da venta, quando fui promovido de carimbador ad hoc a copista, habilitado ao exclusivíssimo universo do Tombo do Registro de Sentenças. Lá estava eu com meus garranchos registrando a lavratura das sentenças cíveis e penais. Por conta das garatujas disgráficas e cacográficas, fui obrigado ao exercício permanente no caderno de caligrafia. Quando mais ou menos quase aprumei os rabiscos, surgiu um outro problema: precisava de um dicionário. Havia muitos lá em casa, até coleções com volumes com todo tipo de sinônimos, antônimos e vocábulos acentuados, flexão e classificação das palavras, conjugação de verbos, substantivos e pronomes, funções da palavra “que”, coletivos, bem como noções de redação, fonética, morfologia, radicais gregos e latinos, sintaxe, estilística, semântica, até de ideias afins e termos literários, dos provérbios, locuções e ditos curiosos, afora os poliglotas com os significados dos termos em espanhol, inglês, italiano, francês e alemão. A-rá! Sempre estive bem servido, pena não conseguir amarrar as coisas direito no quengo. Não desistia e quando intrigado com a descoberta do significado que era mais estranho que a própria busca, recorria às enciclopédias, tudo pra me abonar à conformidade das etiquetas, como mandava o figurino. Só fazia distinção entre palavras, palavrinhas e palavrões, desde as monossilábicas, dissilábicas, trissilábicas e polissilábicas, até o exagero daquela extravagante “insconstitucionalissimamente”, ou outros vocábulos pra satisfação dos doutores marca-bosta, oriundas do juridiquês, do economês e outras porranês que, às vezes, nem aparecem nos usuais dicionários ou são catadas a dedo nos glossários especializados só pra impressionar o freguês, hem? Avalie o cientificismo com cada palavra estrambólica, eita! Isso sim, verdadeiros palavrões no pior sentido, atentando contra os iletrados de anel no dedo, os intelectuais de sovaco que nem eu e o decoro público. De pé, pá, cu, cá, para casa, mesa, tapa, ou cavalo, furico, ou relâmpago, calabouço, clarividência, arregimentação ou Alagoinhanduba, ou o caralho a quatro, palavra é tanto palavrinha, como palavrão, considerando a sua extensão. Não é bem assim não, entendi que havia duas línguas numa só: a da norma culta, carrancuda e caga-raio, toda engravatada pra solenidade, e a das ruas, alegre, viva, coloquial, despudorada e chula, cheia de gírias e formas contractas que se diferenciam de região pra região desse imenso Brasilzão! Além dessa, tem aquela que é pros maiores de dezoito ou dezesseis anos, tanto faz, das piadas cabeludas e todo tipo de licenciosidade, recomendável só para maiores; enquanto outra, pras crianças e virgens donzelas, eita! Coitadas, eufemista e embusteira pra manutenção do faz-de-conta e do respeito que não sabia bem lá como é que era. Só via: tirem as crianças e as moças da sala. Era a hora da risadagem e eu que não era besta coisa nenhuma, me escondia, sacando pra repetir tudo que diziam, até praticava, principalmente quando descobria revistas pornográficas, coisas que diziam do baixo calão. Havia hora que eu não entendia direito a relação entre o Alto do Lenhador e o baixo meretrício, hem? Sim um é alto e outro baixo, como é que podem ser a mesma coisa? Cabeça de dez anos, ora, vá entender os adultos: faça o que eu digo, não faça o que faço. Tanto fazia eu no meio duma conversa formal ou jogando pilhéria, soltando frases doctilóquias pinçadas das decisões judiciais e sapecar petulante um chiste, ou um cara de priquito ou boba-torreiro, desmoralizado no mais impertinente vanilóquio de cara lisa. As reprimendas me levaram a quase entender os diversos sentidos conotativos ou denotativos, afora os figurados com as metáforas hiperbólicas que findam em maiores interrogações. Como é que é mesmo? Vamos organizar as ideias, doido! Era exatamente isso que eu não sabia, conteúdos soltos ministrados de qualquer jeito na sala de aula, tive de correr atrás pra entender o quebra-cabeça, enquanto o juízo só martelava palavras, palavrinhas e palavrões. Como é mesmo? Por conta disso, quando terminei o colegial ainda adolescente, não deu outra: fui cursar Letras, latim, língua, literatura, linguística, Saussure, Jakobson, Chomsky, semiologia, até o verbivocovisual e o escambau adentro tampão afora. Olhava pros outros: quanta hipocrisia! Uma coisa os recursos linguísticos da riqueza vocabular, outra é a masturbação intelectual do pedante pseudobeletrista que tudo que sabe só dá pra si mesmo. Parece mais que não serviu pra nada tanto estudo. Mesmo assim, administrava mais ou menos as ideias e os intentos. Fui então pro Jornalismo, quatro períodos tentando aprender a redigir, aí no meio do curso, para ironia de tudo, passei em Direito, o sonho da família de um dia ser gente, fui atrapalhado e, o pior, a minha perdição. Mas que papo é esse, maluco? Aonde quer chegar, afinal? O desejo de ser escrito nessa, já era, só na outra, só aprendiz punheteiro das caramilholas para não morrer de tédio. Admito que minha competência para lidar com as palavras, palavrinhas e palavrões seja de satisfatório para sofrível, prova disso meus recorrentes solecismos e anfibologias tantas, afora desplantes atentatórios ao léxico e à gramática, além de outros tropicões etimológicos desabonando minha capacidade de domínio da língua pátria, isso porque irresponsável qual Policarpo Quaresma, lá vou eu: cadê o Tupi-Guarani? Coisa de irresponsável, maior molecagem. Duma coisa fiquei certo: a gente é que tem uma cabecinha tola e maldosa, sobrecarregada de preconceitos e hipocrisia desde nascença, porque, tudo que foi ensinado pela família, escola e a vida, no frigir dos ovos e no calor da intimidade, só foi uma coisa: a gente é porca até a alma, mas só com coragem de fazer às escondidas, ora. E ainda tem quem nem descobriu isso, achando tudo divino e maravilhoso no nosso lamaçal ético, achando tudo certo na moral das tantas ideologias desaprumadas. A gente aprendeu disso tudo mesmo foi a pintar de pudico, timorato e falso-moralista, só pra falar bonito, se amostrar e mangar dos bestas! © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

DISCURSO & MUDANÇA SOCIAL
[...] Alguns textos (entrevistas oficiais, grandes poemas) são registrados, transcritos, preservados, relidos [...]; alguns textos (discursos políticos, livros-texto) são transformados em outros textos. As instituições possuem rotinas específicas para o “processamento” de textos: uma consulta médica é transformada em um registro médico que pode ser usado para compilar estatísticas médicas. Além disso, os textos apresentam resultados variáveis de natureza extradiscusiva, como também discursiva. Alguns textos conduzem a guerra ou à destruição de armas nucleares; outros levam as pessoas a perder o emprego ou a obtê-lo; outros ainda modificam as atitudes, as crenças ou as práticas das pessoas. [...]
Trecho extraído da obra Discurso e mudança social (UnB, 2001), do professor de lingüística e fundador da análise crítica do discurso (ACD), Norman Fairclought.

Veja mais sobre:
À procura da paternidade, A trombeta do anjo vingador de Dalton Trevisan, Vivendo com as estrelas de Duília de Mello, Lenda & Arte de Ernst Kris & Otto Kurz, a música de Cristina Braga & a pintura de Ernest Descals aqui.

E mais:
Brincarte do Nitolino, a literatura de Hermilo Borba Filho, Estética da criação verbal de Mikhail Bakhtin, Estado de sítio de Albert Camus, a música de Luis Gonzaga & Guerra Peixe, a poesia de Stella Leonardos, o cinema de Ettore Scola & Sophia Loren, a arte de Léon Bakst & a pintura de Patrice Murciano aqui.
A música de Nando Lauria aqui.
Sonetos de Meditação de John Donne, Justine de Marquês de Sade, Ética a Nicomaco de Aristóteles, Casa de bonecas de Henrik Ibsen, a música de Antonio Carlos Nóbrega, O anjo exterminador de Luis Buñuel, a pintura de Darel Valença Lins & Hieronymus Bosch, Ética & A maneira de ser de Marilene Alagia Azevedo aqui.
O amor de Naipi & Tarobá, Arte e percepção visual de Rudolf Arnheim, a literatura de Luiz Ruffato.Improvisação para o teatro de Viola Spolin, a música de Vivaldi & Max Richter, a fotografia de Fernand Fonssagrives, a pintura de Fernand Léger, a arte de Regina Kotaka & Eugénia Silva aqui.
Penedo, às margens do São Francisco, O princípio da hipocrisia de Georges Bataille, a literatura de Adonias Filho, História da formação social do Brasil de Manoel Maurício de Albuquerque, a música de Bach & Rachel Podger, a arte de Marcel Duchamp, a pintura de Jaroslav Zamazal, a fotografia de Karin van der Broocke Zine Vanguard,& a arte de Kéfera Buchmann aqui.
Ela, marés de sizígia, Tratado da argumentação de Chaïm Perelman & Lucie Olbrechts-Tyteca, a poesia de Yone Giannetti Fonseca, Pensamento crítico de Walter Carnielli & Richard Epstein, Privatte Coletion de James Halperin, a música de Guilherme Arantes, Derek Van Barham & Vaudezilla, a pintura de Tom Pks Malucelli & Luciah Lopez aqui.
As olimpíadas do Big Shit Bôbras – O Big Bode, Os dragões do éden de Carl Sagan, A arte de furtar de Affonso Ávila, a música de Peter Machajdik, Microbiologia dos alimentos, Casa do Contador de História, a pintura de Brian Keeler & Gray Artus aqui.
Só a poesia torna a vida suportável, Vanguarda nordestina de Anchieta Fernandes, A arte poética de Walmir Ayala, Vanguarda e subdesenvolvimento de Ferreira Gullar, a música de Ira Losco, o cinema de Anna Muylaert, a arte de Michael Mapes, a pintura de Károly Lotz & Jean Dubuffet aqui.
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ITALIANI & MARIA-GRAZIA CUCINOTTA
Um belíssimo drama/comédia, Italiani (1996), dirigido por Maurizio Ponzi, contra a história que se passa em um trem que se dirige para o norte da Itália, levando muitos personagens e histórias, entre eles uma mãe de família que precisa escolher entre dois pretendentes, um homem de negócios que tenta esconder do filho a amante, uma mulher desiludida que encontra consolo nos braços de um romancista, entre outras, tudo observado por Ulisses, que é um guarda a bordo, contando o triste estado da Itália moderna. O destaque fica por conta da bela atriz e produtora italiana Maria Grazia Cucinotta.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: arte do pintor e artista visual holandês Edwin IJpeij.
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
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