terça-feira, maio 02, 2017

BELCHIOR, VIRGILIO EDWARD ONSLOW FORD & QUEM ABRE OS BRAÇOS SOU EU!

QUEM ABRE OS BRAÇOS SOU EU – O primeiro contato que eu tive com a obra musical de Belchior foi o álbum Alucinação (Polygram, 1976), repleto de canções que viraram sucesso e serviram de temas indispensáveis pras rodinhas de violão da minha turma: Como nossos pais – que foi gravada pela inesquecível Elis Regina -, Velha roupa colorida, Alucinação, A palo seco, Fotografia 3x4, Apenas um rapaz latino-americano, entre outras inesquecíveis. Qualquer repertório que a gente montasse pras nossas travessuras musicais, era impossível não ter quase todas essas canções na ponta língua afiada e viola ao peito. No ano seguinte ele emplacou o álbum Coração selvagem (WEA, 1977), tanto eu como uma penca de gente fazíamos coro pelas estradas do canavial: “Quando eu não tinha o olhar lacrimoso que hoje eu trago e tenho, quando adoçava o meu pranto e o meu sono no bagaço de cana de engenho”, ou “No corcovado quem abre os braços sou eu, Copacabana esta semana o mar sou eu”, Todo sujo de batom e as demais. Aí fui ver o show com o lançamento do álbum Todos os sentidos (Warner, 1978), eu saí cantando “Até amanhã, se o homem quiser – mesmo se chover volto pra viver mulher. Até à manhã, se houver amanhã. – se eu vir a manhã  mando alguém dizer como é. Acorda amor, o sono acabou Maria Bonita vem fazer o café. O homem comum inda nem levantou, mas a polícia já está de pé”, afora maravilhado com “Como se fosse pecado”, a regravação de “Na hora do almoço”, “Ter ou não ter”, as Frenéticas em “Humano hum” e todas as demais que eu fazia questão de ouvir e cantar. Aí vem o álbum Era uma vez um homem e seu tempo (Warner, 1979), e eu fazia de minha “Era uma vez um homem e o seu tempo, botas de sangue nas roupas de Lorca, olho de frente a cara do presente e sei que vou ouvir a mesma história porca! Não há motivo para festa: Ora esta! Eu não sei rir à toa!...”, fora o Medo de avião, a Retórica sentimental, Brasileiramente linda, as parcerias com Toquinho, Pequeno perfil de um cidadão comum & Meu cordial brasileiro, Outra vez e todas mais que viravam hinos no meu coração. Depois Objeto direto (Warner, 1980), Paraíso (Warner, 1982), Cenas do próximo capítulo (Paraíso/Odeon, 1984) e Um show: 10 anos de sucesso (Continental, 1986), este último me fez realizar uma entrevista com ele, pro Destaque do meu programa dominical na Quilombo FM, Panorama, ao lado do parceiramigo Santanna, o Cantador. O papo foi regado às baforadas de charuto cubano e doses de gin, falando que foi seminarista por muitos anos, daí sua leitura constante de Filosofia, Poesia, Literatura de Cordel, sua inclinação pro rock primitivo, música nordestina dos cantadores e repentistas, as colagens e epígrafes de suas letras poéticas, a geração Beatnick, o “precisamos todos rejuvenescer”, o “passado é uma roupa colorida que não nos serve mais”, política e, sobretudo, seus grandes sucessos. Saí de lá extasiado e pronto para editar o programa que foi ao ar no domingo estourando horário e tudo, porque para selecionar em 1 hora e meia o melhor de sua obra, não deu, findou tomando o programa todo, 3 horas no total, com audiência pesada e pedido de bis, até encerrar na marra e atendendo aos pedidos, com a gravação de Roberto Carlos, Mucuripe, parceria dele com Raimundo Fagner. Por conta disso tive que reprisar o programa diversas vezes, até receber posteriormente, o agradecimento do próprio pela feitura e sucesso do programa, em fita gravada de viva voz e acompanhada de bilhete manuscrito de próprio punho. Fiquei superfeliz e comemorei bastante. Daí dizer que a obra musical dele me influenciou de forma substancial, já seria redundância, afinal passei a repetir as frases de efeito de suas canções no meu dia a dia com peito inflado e carregado de emoção. Sempre que me trazem um violão, invariavelmente trastejo e mando ver na desafinação e dedilhado algumas de suas músicas, impossível não usar suas canções nesses momentos. Sim, para manter a chama acesa e dizer: Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não, eu canto. E vamos aprumar a conversa, Belchior (1946-2017), eternamente vivo em nossos corações. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

A PALO SECO
Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos lhe direi
Amigo eu me desesperava
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 76
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português
Tenho 25 anos de sonho, de sangue
E de América do Sul
Por força deste destino
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 76
E eu quero é que esse canto torto feito faca
Corte a carne de vocês.
A palo seco, música do álbum Alucinação (Polygram, 1976), do cantor e compositor Belchior (1946-2017). Veja mais aqui, aqui e aqui.

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