quinta-feira, novembro 03, 2016

MARCEL PROUST, CARRACI, JOSEPHINE WALL & NINQUEM VEM PRA VIDA DE GRAÇA


NINQUEM VEM PRA VIDA DE GRAÇA - Imagem: Caricature heads (1590), do pintor e gravador do Barroco italiano Annibale Carraci (1560-1609) - Descobri-me uma coisa entre tantas outras que nem me dizem respeito na precipitação de tudo. O desconforto daquilo que perdeu a graça, o tom, a massa, a fala, nada diante da iminência do agora no espalhafato de um mundo portátil e descartável, a me deixar inquieto diante de insignificâncias espalhadas pelo desinteresse alheio no flagra do espelho em que sou nada nas vidraças com tantas imagens de desconhecidos que nem sei se vivos ou não mais, fantasmas de alguma alegoria perdida na memória. A impressão que tenho é que a história do Brasil é uma corda de guaiamum, cada qual pro seu lado a estraçalhar cada entranha do que sou esboroado na manhã de novembro e que já antevê a tarde dilacerada pelo tanto de corruptos pendurados nos colhões dos corruptores, na festa das fisgadas que retalham minha carne esquartejando meus sentidos e alma! Ah, o que há de excludências e malversações por esse Brasilzão de todos os deuses e demônios que se misturam com semideuses e apócrifos boçais de beiços virados, todos correm atrás duma molezazinha, a se aproveitar do primeiro pato morto que sou como todos e levam vantagem em tudo na cartilha daquela do chapéu de otário é marreta! Tudo avilta na voga da carteirada, da dinheirama e no conluio do compadrio das viradas de casaca no jogo escuso das conveniências. Ah, isso vai de mal a pior: lamúrias, insônias, engodos, uma servidão interminável. Tem gente com o karma tão pesado – como dizem aqui: a ficha pregressa do sujeito está tão carregada que pocou a serasa dos pecados! -, que nada dá certo. Por mais que faça, desfaça, refaça, não tem jeito: aprende e desaprende tão instantaneamente que não dá tempo nem pra reaprender. Ainda por cima,, acha que o mundo todo está errado e até Deus é injusto com a sua causa. Até acha normal ou natural o sofrimento e a penúria alheias, nem se compadece, mas chama pra si toda comiseração. Os outros que se danem! O bloco do eu sozinho é assim e em coro: eu que me salve, os outros que se virem! Sou lá besta de carregar filho barbado ou sustentar quem só quer viver de caridade, bando de esmoler, xô pra lá! E depois nem sabe a razão de tanto desazo, desventuras, desrespeito. Afinal, quem não deve, não teme – a recíproca é verdadeira: quem tem cu, tem medo! E dê tempo pra entender que ninguém vem pra vida de graça. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.

Veja mais sobre:
De segunda pra terça, Herbert de Souza – Betinho, Carlos Byington, Hesíodo, William Etty, Jaques Morelenbaum, Luiz Nogueira, Meca Moreno, &Armando Lemos aqui.

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As máximas do Sexus de Henry Miller aqui.
A primavera de Ginsberg aqui.
A arte musical de Irah Caldeira aqui.
O cordel O assassino da honra, de Caetano Cosme da Silva aqui.
A organização, a psicologia e o comportamento humano aqui.

DESTAQUE: NO CAMINHO DE SWANN
[...] Decerto já estou muito velho – mas não fui feito para um mundo onde as mulheres se entravam em vestidos que nem sequer são de fazenda. Para que vir aqui à sombra dessas árvores, se nada mais existe do que se reunia sob estas delicadas folhagens amarelas, se a vulgaridade e a loucura substituíram o que elas enquadravam de fineza? Que horror! Meu consolo é pensar nas mulheres que conheci, agora que não já mais elegância. [...] Aliás, não me bastaria que as toilettes fossem as mesmas que naqueles anos. Devido à solidariedade que guardam entre-si as diferentes partes de uma recordação e que nossa memória mantém em equilíbrio num conjunto a que não é permitido tirar nem recusar coisa alguma, eu desejaria ir terminar o dia em casa de uma daquelas mulheres, diante de uma taça de chá, num apartamento de paredes de cor sombria, como ainda era o da sra. Swann (no ano seguinte àquele em que termina a primeira parte desta narrativa), e onde brilharia o fogo alaranjado, a rubra combustão, a flama rósea e branca dos crisântemos no crepúsculo de novembro,m um instante iguais àqueles em que eu (como se verá mais tarde) não soubera descobrir os prazeres que desejava. Mas agora, mesmo não me conduzindo a nada, aqueles instantes me pareciam ter tido em si mesmos um encanto considerável. Eu desejaria encontrá-los tais como os recordava. [...].
Trecho extraído da obra No caminho de Swann (Zahar, 2003), do escritor francês Marcel Proust (1871 - 1922). Veja mais aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: Sleeping Venus (Sono Vênus com Putti, 1603), do pintor e gravador do Barroco italiano Annibale Carraci (1560-1609)
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: Tree of Peace, da artista visual britânica Josephine Wall.
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.


KARIMA ZIALI, ANA JAKA, AMIN MAALOUF & JOÃO PERNAMBUCO

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